In Jail

Macarrão... Nunca mais


- Como? Você quer saber mais sobre mim? Hum... Vejamos... - o travesti colocou a mão no queixo, pensativo, mas sem tirar o sorriso nojento da cara - Eu gosto de andar ao pôr-do-sol, dividir uma sobremesa com alguém, café-da-manhã na cama, tenho certa preferência por homens fortes, e também...

- EU NÃO PERGUNTEI NADA DISSO!!! - não consegui segurar o grito. Claro que logo depois eu lembrei que estava em uma cela e eu não estava nem um pouco a fim de ouvir bronca de nenhum guarda por estar fazendo barulho. Tentei me controlar um pouco antes de acrescentar, minha voz saindo ligeiramente tremida pelo esforço - Eu só perguntei há quanto tempo você está aqui.

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Ele fez que não lentamente com o dedo indicador e... Fazendo biquinho. Sério, e ainda duvidam da minha enorme paciência.

- Assim está errado. Deveríamos nos apresentar antes. E então, qual é o seu nome, loirinho? Pode me chamar de Paullete.

1... 2... 3... 4... 5... 6... 7... 8... 9... 10... 11... 12... 13... 14... Até qual eu tinha que contar mesmo? PORQUE NÃO ESTÁ FUNCIONANDO!!!

- Vamos, estou esperando.

- M-Mello... Meu nome é Mello - respirei fundo umas três vezes antes de conseguir falar alguma coisa.

- Mello! Que nome lindo! - ele exclamou sorrindo ainda mais - Então, Mellinho, do que você gosta?

De estrangular travestis sem amor à vida.

...

Levei um momento para processar exatamente do quê ele tinha me chamado. "Mellinho"?? Alguém por favor, me dê um tiro...

"Puxe assunto"... Por que raios eu fui seguir o meu próprio conselho??

Na hora do almoço...

Matt finalmente conseguiu cessar aquele ataque de risos vindo não faço ideia da onde, e pareceu ficar bem perturbado com a minha sugestão.

- Comece perguntando por que ele foi preso ou alguma coisa assim, sei lá. Puxe assunto.

- O quê?! Você viu o tamanho do cara... - ele choramingou. É claro que eu vi o tamanho do cara. Ele era do tamanho do meu guardarroupa!!

- Não reclama que eu também não quero fazer isso - fiz uma careta com o simples pensamento de tentar inciar uma conversa com aquele... Urgh...

E vou dizer uma coisa: encarar aquele prato de macarrão de aparência duvidosa não melhorava muito as coisas. Ahhh, eu quero chocolate...

Enfiei o garfo com toda a coragem que consegui reunir e levei o macarrão (que eu podia jurar tinha que algo verde no meio!) à minha boca.

...

- Mello?!

Eu engasguei com a comida e comecei a tossir sem parar. Só pude sentir Matt batendo nas minhas costas até eu conseguir respirar de novo.

- Prefiro passar fome... - falei quase sem voz, empurrando o prato para longe. Eu posso não entender muita coisa de culinária, mas mesmo sendo um completo amador na cozinha, eu posso dizer duas coisas com total certeza: primeiro, deve-se verificar a validade de alguma comida antes de fazê-la; e segundo, macarrão tem que ser no mínimo mastigável para ser ingerido! Isso aqui estava duro, caramba!!

- Acho que eu também então... - Matt também afastou o prato dele, com uma ligeira careta. Bom saber que ele confiava em mim.

A cada segundo eu me arrependo mais e mais por ter inventado de ser preso...

- Eu já disse o meu nome, agora responda minha pergunta - eu deveria ganhar um prêmio por ainda conseguir me manter no lugar, deveria mesmo.

- Está bem, está bem - ele estava sentado na cama de baixo do beliche e cruzou as pernas antes de responder - Eu vim parar aqui por "atrapalhar a ordem pública".

Isso normalmente significava: "fiquei bêbado, fiz merda e me pegaram". Conseguia imaginar perfeitamente isso acontecendo com ele...

- Mas não bastaria pagar um multa? Não é motivo para ficar mais do que algumas horas preso - ou será que ele não tinha dinheiro?

- Ahhh, mas eu não continuo preso por causa disso - ele falou, apoiando o queixo em uma das mãos - Um dos policiais não gostou muito da minha... Ahn, "aproximação" - então ele suspirou - É uma pena, ele era tão lindo...

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O pior é que eu conseguia imaginar isso também. Maldita imaginação!

- Mas tudo bem - ele levantou de um salto da cama, mas sem vir até mim - Valeu a pena perder o policial se assim eu pude te conhecer.

Eu senti o pouco da gororoba (que chamaram de macarrão) que eu me atrevi a engolir se remexendo no meu estômago.

Uma verdade: eu nunca mais vou comer macarrão na minha vida.