A campainha da casa de Mônica tocou às cinco e meia da tarde daquele dia. A garota correu do sofá até a porta e a abriu. Joaquim usava uma camisa branca simples, que, se olhasse bem, dava para ver pelos de gato espalhados pelo tecido, uma calça jeans rasgada, seu par de tênis preferidos e seus tradicionais fones de ouvido para fora da gola.

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—Pontual- Joaquim falou quando viu seu rosto. Ela tinha trocado de roupa e não usava mais sua usual jaqueta de couro com jeans rasgados, mas sim uma calça de moletom preta e uma blusa de manga curta de “Stranger Things” a peça era preta, com luzes de natal coloridas e letras de forma pintadas em cima. O garoto sorriu e apontou para a roupa- Adoro essa série.

—Oi- Mônica respondeu sorrindo. Provavelmente tinha sido uma péssima ideia chamá-lo para estudar lá. Era sua zona segura de conforto e estava chamando um estranho. Aliás, não apenas um estranho, um ex-melhor amigo que estivera sempre lá, o que só tornava as coisas mais estranhas.

—Eu trouxe um presente- Joaquim estendeu um pote transparente para ela, que pegou e abriu. Lá dentro tinha um bolo de chocolate com cobertura de brigadeiro.

—Muito obrigada- Sorriu- Entra. Desculpa a bagunça, meu irmão acabou de chegar do boxe.

Os dois adentraram a residência. Era exatamente como Joaquim se lembrava. A sala decorada com almofadas azul marinho, as cortinas que balançavam com o vento da rua, o tapete felpudo que fora palco de muitas brincadeiras em dias chuvosos. Na televisão, uma Netflix estava aguardando que algo fosse escolhido do catálogo.

—Não consegui decidir o que assistir- Falou vendo que ele observava as opções.

—Devia assistir Roubando Vidas- Sugeriu- É com a Angelina Jolie.

—Sua crush de infância?

—Mais ou menos isso- Riu da pergunta.

Mônica o guiou até a cozinha, onde pegou pratos e talheres. Mais uma vez, igual. A bancada sempre limpa e com frutas bonitas, as cadeiras com estofado que combinava com as almofadas da sala. A mãe da garota gostava muito dessas harmonias.

—Só um pouquinho- A garota falou saindo do local. Joaquim viu que entrou no corredor e abriu uma porta, de onde saiu um som alto de um jogo de zumbi. Mônica voltou logo em seguida acompanhada de um garoto. O rosto de Joaquim se iluminou aos poucos enquanto reconhecia o rapaz.

—Manoel?

—Joaquim?

—Quanto tempo!- Manoel abraçou o outro, que sorria. O garoto era dois anos mais novo que Mônica, mas pelo tamanho parecia até mais velho. Os cabelos cacheados como os da irmã caiam nos olhos idênticos aos dela.

—É mesmo, faz o que? Seis anos?

—Por ai.

—Eu trouxe um bolo- Falou. Começou a ficar nervoso por não ter assunto.

—A Mô me falou. Posso experimentar?

—Claro- Joaquim pegou a faca que Mônica tinha separado e cortou os pedaços do bolo- Estava jogando The Last Of Us?

—Tu gosta?- Manoel indagou.

—É meu preferido.

—O meu também.

—Nerds- Mônica comentou mordendo um pedaço do doce levado por Joaquim- E continua uma delicia.

—Obrigado, fiz antes de sair pro vôlei.

A garota ia implicar com ele por isso, mas achou o ato tão meigo que não teve coragem. Além de ir até a casa dela ensinar uma matéria sobre a qual ela não entendia bulhufas, ele ainda fez um bolo delicioso para levar. Joaquim era uma figura.

—O que aconteceu com seu rosto?- Manoel perguntou depois de elogiar a comida.

—Esse foi o pequeno incidente que eu te contei- Mônica resmungou.

—O seu pequeno incidente foi dar um soco no Joaquim? Eu não acredito nisso- Riu alto- Tu é um monstrinho!

—Tá, tá. A amiga dele que me incomodou. Ela avançou em mim, não foi?- Perguntou para Joaquim, pedindo reforços.

—Pior que foi.

—Bom, vocês tem que estudar e eu preciso jogar- Manoel disse levantando e enfiando todo o bolo na boca.

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—Deveria estudar um pouco também- Mônica recomendou.

—Não preciso disso, já sei tudo o que preciso saber.

Recebeu um tapa na orelha e riu indo para o quarto e fechando a porta.

—Vamos continuar de onde paramos?

—Pode ser. Onde foi isso?

—Bexiga natatória

—Eca.

Mônica o levou para seu quarto, para que pudessem começar. Entrando no local, Joaquim notou que as prateleiras de livros estavam lotadas com as mais diferenciadas obras de diversas cores. Lendo os títulos devagar foi lembrando-se de alguns que a mãe da garota lia para eles.

—Tu ainda tem “Diário de um banana”- Comentou.

—Eu leio sempre que sinto falta da minha mãe- Contou. Joaquim se virou confuso.

—O que aconteceu?

—Ela se mudou. Casou de novo e está morando no Paraná, liga pra nós uma vez por mês e finge que está tudo bem.

—E mora só tu, teu irmão e teu pai aqui?

—É, no final ainda é bastante gente.

—Quando isso aconteceu?

—Ela saiu oficialmente de casa há quatro anos- Falou e Joaquim se sentiu culpado por não estar lá. Deveria ter estado. Pensando nisso, lembrou que, na escola, fazia alguns anos que nunca via Mônica com amigos, ela conversava com algumas pessoas, mas não tinha um “grupinho” e nem parecia muito interessada. Sempre se mantinha ocupada.

Joaquim notou que ela não ficou muito confortável com o assunto, então rapidamente tentou mudar o foco:

—Uma máquina de costura?

—Ganhei do meu pai- Sorriu e ele se sentiu aliviado- O que eu estou vestindo nesse momento é tudo feito por mim.

—Uau- Bateu palmas enquanto ela fingia desfilar- Até a camiseta?

—Sim, né. Eu que desenhei as luzes coloridas- Apontou para as ilustrações.

—Impressionante.

—Obrigada, foi muito treino até ficar bom... Podemos estudar aqui- Indicou a cama, sentando no colchão macio. Os dois sentaram e, com cadernos, livros e exercícios, ficaram horas estudando, até que Mônica estivesse boa no assunto e sabendo fazer todos os exercícios.

—Ok, tu realmente é um bom professor- Constatou depois do décimo acerto.

—Obrigado, obrigado.

—Quer comer alguma coisa?- Mônica convidou.

—Não, obrigado. Estou sem fome.

—Uau, isso é novidade.

—Ei!- Riu ultrajado.

—Tu tá sempre comendo! Sempre que eu te olho ta com alguma coisa na boca.

—E tu me olha muito, é?

A resposta veio em formato de um travesseiro voador que acertou em cheio os óculos de Joaquim, que caiu de costas na cama rindo.

—Posso saber agora porque tu me odeia?