I'm Never Changing Who I Am

Seus amigos são estranhos e os estranhos são seus amigos.


POV Jason

Não conseguia entender o que estava acontecendo. Aquilo não fazia o mínimo sentido. Como poderia? Todas aquelas pessoas, todos aqueles acontecimentos passavam em minha mente como um flash. Eu não conhecia nenhuma daquelas pessoas, não sabia seus nomes nem conhecia suas historias. Nunca as tinha visto, mas via em flash o que acontecia com elas. Seria possível? Seriam todos aqueles rostos reias? Pertenceriam a pessoas de verdade?

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Eu realmente espero que não, espero estar apenas ficando louco. Por que se alguma daquelas imagens for real, aquelas pessoas estavam muito, muito ferradas.

E o que eu tinha a ver com isso? Com pessoas que não me diziam respeito? Na verdade, tinha um sério problema em dizer o que de fato me dizia respeito.

Imagens dançavam em minha cabeça como um filme e nomes se gravavam em minha memória contra a minha vontade.

Um garoto de cabelos negros e olhos esverdeados sorri para a garota loira de olhos cinza como o céu nublado. Eles brigam, mas não há rancor em suas vozes infantis. Eles têm doze anos. O tempo parece passar, como um filme no modo acelerado. Agora ambos têm dezesseis. O garoto parece ter mudado mais, não apenas crescido. Algo antigo e um pesar dolorido ele agora carrega nos olhos. A garota tem os cabelos antes dourados, agora claros como palha, quase esbranquiçados. Aquilo não pode ser natural. O garoto segura algo sobre os ombros. Algo escuro e denso, não poderia dizer o que é. A menina parece fraca, semimorta ao lado do garoto. Doentes, fracos.

Torturados.

A palavra parece silibada em minha mente assim como seus nomes.

Percy Jackson. Annabeth Chase.

Como posso saber disso?

O garoto, Percy, implora por ajuda aos céus. A Deus? Com um “D” maiúsculo? Tenho a impressão que não. Não, definitivamente não. Como eu sei disso? Não poderia saber.

Mas sei.

Sei também que Annabeth parece morrer aos poucos, parece se apoiar em Percy para se manter sobre os próprios joelhos. Seus corpos e alma estão repletos de dor e culpa. E amor. Muito amor.

Uma garota observa o casal com um sorriso no rosto. Um sorriso maligno e doentio. Seus cabelos são vermelhos feito sangue, soltos e compridos até abaixo da clavícula. Eles são rebeldes e a garota não faz a mínima questão de ajeitá-los. Ela usa roupas pretas e botas altas. Tem uma espada da mesma com em mãos. A imagem tremeluz. Uma visão da garota com uma trança perfeita, mantendo os cabelos disciplinados aparece. Agora ela tem um olhar serio e focado, quase amedrontado, tímido e contido. Ela tem um arco e flecha em mãos, mas não aprece ter a intenção de usar a arma. De alguma forma sei que a menina contida é o passado da maligna. Quanto tempo? Parecem que anos se passaram de uma imagem para outra, mas sei que as imagens têm poucas semanas de diferença.

A menina mentia, só poderia.

Effy. O primeiro nome se fixa em minha mente. Filha de Eros. Não é necessário acrescentar um sobrenome, esse me basta.

A visão muda novamente. Um trio aparece diante de mim. Dois garotos e uma garota. A menina é bonita, tem olhos azuis elétricos. A imagem me mostra seu passado. Os olhos azuis estão cobertos por uma maquiagem negra, suas roupas são da mesma cor e seu cabelo e cortado a cima da orelha. Ela tem um olhar raivoso, cheio de magoas. Muda novamente. Os olhos azulados continuam lá, mas agora não tem a maquiagem. Seu cabelo desce até a altura do pescoço e ela sorri. Seu olhar carrega pesar e preocupação, mas ela aprece apreciar a companhia dos meninos a sua volta. Ela carrega um spray de tinta na mão, agora apenas sua blusa é negra, sua calça e camuflada. Seu olhar continua valente e perigoso, alguém com quem não se quer incomodar, mas não carrega o mesmo ódio de antes.

Thalia Grace. Thalia Grace. Thalia Grace.

Aquele nome bate em minha mente. Algo muito familiar na garota e em seu nome. Mas tenho quase certeza não de não reconhecê-la. Mesmo assim, ela me é familiar.

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A imagem se foca em um dos garotos que a acompanham.

O menino parece ser mais novo que Thalia. Deve ter quinze anos. Seus cabelos e olhos são negros e sua pele e pálida. Ele tem a altura de Thalia e um corpo magro. Seu olhar é pesado e carrega rancor e frieza. Não crueldade, apenas sofrimento. Mas uma vez a imagem tremeluz e o vejo mais jovem, com 10 anos, talvez. Ele sorri e joga cartas com uma garota muito parecida com ele, só que mais velha. A imagem se volta para o presente. Me pergunto o que aconteceu com a garota.

Então o garoto muda. Agora ele carrega um sorriso fraco no canto dos lábios. Ele está com Thalia e um segundo garoto. Parece estar satisfeito, embora esteja claramente ferido, precisa de ajuda para se locomover.

Nico di Angelo. Mais um nome.

Muda novamente.

O garoto que ajuda Nico a andar é alguns centímetros maior que ele. É loiro e seus olhos se dividem entre o azul e o verde. Ele tem um sorriso radiante nos lábios, parece contente também. Ele carrega um arco e flecha dourado ao ombro, algo em diz que ele é bom com a arma.

Will Solace.

Então muda tão rapidamente, passando tantas imagens de tantos momentos que não consigo acompanhar. Vejo cães enormes atacando o trio, Nico Di Angelo sendo ferido. Will Solance o ajuda. Um raio acerta o animal, e tenho a impressão que aquilo foi feito por Thalia Grace. Eles são emboscados por Effy. Não consigo ver o que acontece, é rápido demais. Agora Nico caminha com dificuldade e é Thalia quem o ajuda. Will Solace tem um arco em mãos e caminha na frente.

Quem são essas pessoas? A dúvida roda em minha mente novamente. Então tudo para. Todas as imagens somem. E em tempo real, sem apagões e sem velocidade acelerada. Três pessoas aparecem a minha frente. Não são de um filme, não sou apenas um observador. Os três olham diretamente para mim, sabem da minha presença assim como sei das suas.

A primeira moça é extremamente bela. É alta, não passa dos dezoito, e tem cabelos negros compridos até a cintura. Seus olhos são escuros também e o formato de seu rosto e delicado. Por um momento seus olhos mudam, estão azulados, então estão novamente negros. Ela sorri.

O homem a seu lado também sorri, mas seus olhos aprecem cansados. Seus cabelos são loiros como o próprio sol e seus olhos são azuis como o seu diurno. Ele é alto e parece forçar o sorriso.

A terceira é uma garota, provavelmente com treze anos, talvez quatorze. Mas carrega muito mais seriedade nos olhos do que os outros a sua volta. Também parece cansada, estressada. Tem as mãos juntas a frente do corpo. Seu cabelo é negro feito à noite trançado com cuidado, como os de Effy estavam uma vez. Seus olhos eram prateados como a delicada tiara em seu cabelo. Ela não sorri.

–Eu sinto muito, querido. –a moça bela começa a falar, seu sorriso agora é triste. –mas é necessário.

Tento perguntar a eles quem são, o que a moça quer dizer com aquilo, mas minha voz não aprece querer sair.

–Will Solace, Thalia Grace e Nico Di Angelo precisam da ajuda de vocês. –a garota de tranças começa. –Algo terrível aconteceu e vocês precisam ajuda-los.

–E mesmo assim, isso será só o começo. –o homem explica. –não queríamos fazer isso garoto, mas as coisas vão mal. Nós precisamos de ajuda.

–Tememos que seja a única maneira. –a garotinha retona a falar. Um completando a fala do outro, como se se conhecem há milênios, como se cantassem uma velha sinfonia a muito conhecida. –não será simples, mas vocês descobrirão um jeito.

–E no fim, se conseguirem dar um fim em Eros, tudo dará certo. –a moça mais velha prosseguiu. –No fim, tudo irá valer a pena. Toda essa confusão.

Ela sorri docemente.

–Quem são vocês? –só então minha voz conseguiu sair. E a moça sorriu novamente.

–Somos conhecidos por vários nomes. As pessoas que conhecerá nos entenderão por formas diferentes. –ela explica. –mas voce nos conhece por Venus. –ela aponta para si mesma. –Febo. –aponta ao homem, que me acenou com a cabeça. –E Diana. Eles são gêmeos.

Diana olha para Venus, como se silenciosamente se perguntasse a razão da informação. Não fazia sentido que fossem gêmeos pela diferença absurda de idades e pelas obvias diferenças físicas. Mas não disse nada. Nada ali fazia sentido, de qualquer forma.

Venus, Febo e Diana pareceram sorrir tristemente uns para os outros, como se os nomes não fossem usados há muito tempo. Como se fossem apenas pseudônimos de boas e antigas obras.

–Boa sorte, Jason. –Diana disse.

–É, acho que vão precisar. –ele recebeu uma cotovelada de quem dizia ser sua irmã. –ai! Mas é verdade!

Então tudo escureceu, e a imagem do trio sumiu de minha mente como se todos os outros.

...

Acordei com um solavanco. Meu corpo teria sido jogado para frente se eu não usasse um cinto de segurança, e se a garota a meu lado não tivesse me segurado pelo ombro. Ela sorriu quando me virei a ela. Tinha cabelos longos e morenos, havia uma pena presa em uma de suas mechas. Tinha um sorriso doce e olhos que pareciam mudar de cor de acordo com a luz que vinha do lado de fora do ônibus. No momento, estavam azuis. De alguma forma, lembravam a cor mutante dos olhos de Venus.

A menina segurava minha mão com afeição e me oferecia um sorriso. Soltei sua mão ao ver o contato. A garota pareceu ofendida, confusa. Senti um aperto no peito ao não saber seu nome.

–Jason, tudo bem? –ela pergunta.

–Deve ter tido um pesadelo com as aulas de trigonometria, Pipes. –o garoto do banco da frente se virou para nós, com um sorriso estampado no rosto. –Mas não sei se ele se lembraria de qualquer coisa para sonhar sobre. Tem dormido nas ultimas, não é Jason?

O garoto riu, e a menina forçou um sorriso ao amigo, mas ela ainda tinha uma preocupação evidente em seu rosto.

–Onde estamos? –pergunto.

–Não tenho ideia, mas falta pouco para chegarmos. –ela responde.

–Chegarmos aonde?

–No Grand Canyon, ué. –ela responde. –sério Jason, você está me deixando preocupada. Você está se sentindo bem?

Estranhamente, só respondi ao ser chamado de Jason por que era como Venus havia me chamado. Se não, eles poderiam estar se referindo a qualquer um. Eu não tinha a mínima ideia.

Ela tentou pegar minha mão novamente, mas eu a tirei.

–Desculpe, eu não conheço você. –a garota parecia dividida estar preocupada ou zangada com uma possível piada. –não conheço nenhum de vocês.

–Vish cara, se isso foi um fora, foi um dos ruins. –o garoto se virou totalmente de seu acento, olhando da garota para mim com um sorriso. Ele parecia levar a historia na piada.

A garota passou a me olhar preocupada.

–Leo, eu acho que ele está falando sério.

O garoto, Leo, aparentemente, levou as mãos ao ar, como se se rendesse.

–Claro, claro. Voce não conhece Piper, sua namorada, e não me conhece, seu melhor amigo desde que chegou nessa escola para adolescentes perturbados. Muito engraçado.

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–Eu não deveria estar aqui. –digo, lembrando-me da conversa com os jovens em meu sonho. Da confusão que disseram que entraria.

–Claro que não, nenhum de nos deveria. –o menino deu de ombros, ainda levando na brincadeira. –Piper não roubou uma BMW, eu não fugi de três vezes. Voce... Bem, seria um bom momento para voce dizer como veio parar aqui, amigo.

–Eu não sou seu amigo. –disse talvez duro demais. Só então Leo virou-se para mim, seu sorriso tinha morrido. –é serio, eu não conheço nenhum de vocês.

–Sério cara, está começando a me assustar. –Leo disse. –eu sou o cara das piadas aqui, voce é o amigo chato. Essa inversão de papeis não foi autorizada.

–Leo, cala a boca. –a menina quem Leo chama de Piper disse. –eu acho que Jason está falando sério.

Eu concordo com a cabeça, agradecendo a Piper por me levar a sério.

–Deveríamos chamar a Sr. Doodle? –Piper pergunta, agora voltada a Leo.

–O que ela faria? O deixaria em detenção no Grand Canyon? Aquela mulher odeia a gente. Pode se irritar e tentar jogar nos três de lá de cima! Prefiro um amigo louco do que um amassado.

–Eu não estou louco!

Piper e Leo me olham com cuidado, como se tentassem decidir se deveriam ou não me contrariar. Mas de fato eu só poderia estar louco. Como consigo me lembrar das imagens, historias e nomes de cada uma das pessoas de meus sonhos, mas não sei nada das duas pessoas que me cercam? Que dizem ser meus melhores amigos? E, mais importante, como posso não saber nada sobre mim mesmo?

–Do que se lembra? –Piper pergunta, com a voz calma. –se lembra da escola, de seus pais...?

–Não. –respondo. –eu tive um sonho esquisito e então acordei. Aqui, agora. Não me lembro de nada fora isso.

–Que tipo de sonho? –Leo ergueu uma das sobrancelhas, e coçou os cabelos emaranhados. –compartilhe sua experiência com os amigos que você esqueceu.

Por mais que brincasse, Leo parecia triste por ser sido esquecido. Não poderia saber, não o conhecia o suficiente para saber. Mas sentia que deveria.

Então o ônibus parou. Olhei para janela onde o Grand Canyon se estendia. O lugar era feito em grandes proporções, é claro, mas nada daquilo me impressionou. Não saberia dizer o que, mas tinha impressão de já ter visto coisas maiores, coisas melhores.

–Venha. –Piper tocou seu pulso. –um pouco de ar vai lhe fazer bem.

Me levantei e puxei as mangas do casaco bege que usava até o meio dos braços, começava a me sentir com calor e sufocado. Deixei que Piper passasse primeiro, Leo seguia para fora do ônibus logo depois de mim.

A mulher que pelo visto estava nos supervisionando esperava do lado de fora no ônibus. Não pareceu se incomodar com nenhuma das outras crianças, mas seus olhos se cravaram em Piper quando ela passou, e então em mim, e logo depois em Leo. No entanto, voltou-se para mim. Éramos os últimos a sair, então ela me parou. Não disse uma palavra. Apenas me puxou pelo pulso, girando-o com tanta agressividade que temi que o quebrasse. Ela o virou, deixando a parte interna de meu antebraço a mostra, onde até eu mesmo me surpreendi ao ver uma tatuagem. Uma águia, quatro letras e dose linhas riscavam meu braço. A mulher pareceu rosnar para mim, e com unhas longas e afiadas arranhou meu braço, mostrando desprezo. Ela me olhava perigosamente, mas por algum motivo eu me recusei a desviar o olhar.

Piper e Leo me puxaram pelo outro braço, me livrando da senhora. Piper pegou meu antebraço e virou para si.

–Cara, desde quando você tem uma tatuagem? –Leo perguntou.

–Leo, ele não tinha isso antes de entrar no ônibus. –Piper em olhou, quase assombrada. –estou começando a ficar realmente assustada.

–O que significa SPQR? –a resposta veio em minha mente tão rápido que foi quase assustador.

Senātus Populusque Rōmānus. –Piper e Leo pareceram surpresos.

–E que merda isso significa?

–O senado e o povo romano. –novamente, a resposta me veio diretamente e automaticamente, sem que eu nem precisasse pensar a respeito. Era tão automático quanto responder meu nome. No entanto, eu não tinha certeza de meu próprio nome, mas tinha certeza daquilo.

–Isso é latim? –Piper questionou, espantada. –desde quando voce sabe latim?

–E essas barras cara? –Leo continuou. –Não sei se me preocupo mais com o fato de voce saber latim, de ter uma tatuagem do nada, ou em pensar que voce poderia ser reconhecido por um leitor de códigos de barra no supermercado.

Puxei meu braço para examina-la eu mesmo. Ao contrario do rosto e dos nomes de Piper e Leo, aquela tatuagem me parecia muito familiar. Corri mão pelas barras negras dela.

–Eu contei doze. –digo, mas não sabia se isso fazia alguma diferença.

–Faz diferença quantas são? A questão é que existem! –Piper olhou para mim e Leo. –Isso é estranho.

Ouço um apito ser assoprado com violência, o som faz meus ouvidos doerem e vejo Piper e Leo tamparem os ouvidos com força. Quando me viro, vejo Sra. Doodle sorrindo para mim, com o apito vermelho de plástico em mãos.

Soube que as coisas não estavam indo nada bem antes mesmo de ver os dois pontos negros no céu ainda da manha. Os pontos negros não apenas cruzavam o céu, eles iam a nossa direção.

–Mas o que...

Antes de Piper terminasse a frase, eu já sabia o que deveria fazer. Meus músculos e reflexos trabalharam antes de meu cérebro. Rolei para lado, empurrando Leo e Piper junto comigo bem no momento que Sra. Doodle pulou em cima de nos.

Na verdade, aquela não era mais a zangada professora, Sra. Doodle. Agora ela era uma criatura curvada, com ombros na altura das orelhas. Cabeça pequena demais para as enormes presas que saiam de sua boca. As unhas que arranharam meu braço agora eram enormes assim como seus dentes. Seu corpo era inteiro negro, assim como os pontos que voavam a nossa direção. Suas asas eram como as de morcego negras grandes e assustadoras.

E ela parecia muito, muito zangada em não ter atingido seu alvo.

–Puta merda! –ouvi Leo gritar, se pondo de pé assim como Piper, ao meu lado.

–Precisamos correr. –Piper disse.

Mas eu não estava afim de correr. Sabia que os pontos que agora se transformavam em siluetas acima de nos eram outras iguais a aquela. E sabia que fugir delas não era uma boa saída.

Corri minha mão ao bolso da jaqueta de onde tirei uma moeda dourada.

–Qual é, cara, não é hora de tirar cara ou coroa! –Leo parecia chateado. –nossa professora acabou de virar um morcego gigante!

Joguei a moeda para o alto, e quando voltou a minha mão, havia se transformado em uma espada dourada. Não me virei para ver os rostos espantados de Piper e Leo, por que nossa professora rosnava para nos.

Eu a ataquei, tentado duelar, mas ela levantou voo e me atacava de cima para baixo, como um pássaro ao tentar caçar minhocas na terra.

As duas outras criaturas pousaram entre Piper e Leo. Não pude nem se quer me virar para vê-los. O mostro a minha frente não me dava deixas.

Foi então que eu vi o reforço mais assustador do mundo chegar. Os três garotos saíram, literalmente, das sombras abaixo do monstro com quem duelava. E nenhuma visão poderia ter me preparado para esse susto. Era o trio que havia visto em meu sonho. A garota de olhos azuis e cabelos curtos, o menino loiro e o garoto pálido. Todos saíram de uma sombra.

Fiquei tão surpreso que fui atingido no rosto pelas garras da antiga Sra. Doodle, que tinha asas abertas emanando escuridão. Fui jogado para traz. E os adolescentes que acabaram de chegar e que eu conhecia melhor do que quem diziam ser meus amigos comaçaram a agir.

Thalia Grace tomou meu lugar, a lata de spray que vi com ela em meu sonho se transformou em uma lança assim como minha espada. Ela tocou o pulso e de lá surgiu um escudo. Will Solance segurou Nico Di Angelo quando esse ameaçou cair. Em minha ultima visão, o garoto não estava muito bem, mas sacou a espada e trincou os dentes. Foi à luta. Will sacou o arco e flecha e começou a atirar nos monstros que atacavam Piper e Leo.

Rolei no chão e levantei com um salto, para ajuda-los. Mas, aquela altura, Piper tinha arranjado sabe-se lá de onde um pedaço de madeira, e com ele batia em um dos monstros. Leo ajudava, tacando algumas pedras nesse. Will também se concentrava em ajuda-los, suas flechas pareciam fazer mais efeito que as pedras de Leo e as investidas de Piper. Nico lutava com o segundo, mas continuava fraco, se agarrava ao estomago, mas se desviava e atacava com habilidade. Me perguntei do que o garoto seria capaz com todas as suas forças.

Ataquei um dos monstros, me colocando ao lado de Nico. Me ponho as suas costas e lutamos em dupla. Cada um combatendo um dos monstros que nos cercava. Meus movimentos eram treinados, e eu nem se quer precisava pensar neles. Mas eram movimentos planejados, via em mim mesmo um ritmo perfeito, como uma musica tão bem ensaiada que não precisasse pensar. E notei também que Nico era tão bom lutador quanto eu, mas tinha táticas diferentes. Ele não parecia ter um ritmo, seus movimentos eram imprevisíveis e instintivos. Ele lutava ferozmente, assim como Thalia fazia.

Agora Piper e Leo mantinham mais distancia, acertando as bestas com pedaços de pau e pedras quando podiam. Nico e eu trocávamos de lugar, hora ou outra, mas de forma que não precisássemos nos preocupar com nossas retaguardas. Tentava poupar Nico de lutas mais difíceis, já que ele não parecia muito bem, mas o garoto persistia com uma coragem e bravura quase suicida.

Então ouvi um barulho estralar a nossas costas. Thalia tinha uma lança cravada na Sra. Doodle, e do céu caíra um raio que atingira o monstro. Nico tinha um sorriso satisfeito e orgulhoso nos lábios assim como Will. Assim como em minha visão, Thalia havia lançado aquele raio. Então notei que ela também não parecia muito saudável. Will a segurou pela cintura quando ela ameaçou tombar. Mas logo então ela pareceu se recuperar, e voltou a luta. Mas não sem receber um olhar irritado de Will.

Nessa distração, um dos monstros se virou para agarrar Piper e a levar para cima. Todos olharam em pânico, sem saber o que fazer. Will atirou no monstro, mas ele já estava alto.

Foi então que eu pulei.

Novamente meu corpo agiu antes que minha mente. O que poderia estar pensando? Que saltaria até Piper e alcançaria onde nem as flechas do arqueiro conseguiriam? Mas então aconteceu. Assim que subi, meu corpo não voltou a descer. A gravidade parecia me ignorar e os ventos me impulsionavam para cima. Eu estava voando.

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E quando alcancei o monstro, cortei-lhe a cabeça em um movimento de espada. Ele não esperava que algum de nós o seguiria pelas nuvens.

Piper parecia em pânico. Se era por ter sido atacada por sua professora e suas amigas meio morcego, por ter sido levada aos céus, pelo namorado que não se lembra dela ter decapitado um monstro e voar pelos ares ou por ela cair em queda livre no momento, eu não saberia dizer.

Então resolvi resolver um dos problemas.

A peguei pela cintura e Piper parou de cair, ela voava junto a mim. Seus olhos estavam esbugalhados e surpresos, e vi que, de fato, eles mudavam de cor. Eu a desci até o chão, onde encontrei Will e Nico terminando com o ultimo monstro.

Todos nos aguardavam. Thalia, Nico e Will com sorrisos satisfeitos, e até mesmo surpresos. Leo com um olhar assombrado, assim como Piper, quando a pus de volta ao chão.

Todas as crianças do ônibus haviam corrido da confusão, restavam apenas nos seis.

Nico foi o primeiro a agir. Ele agora voltara a se apoiar ao braço de Will, parecia sem fôlego, e uma de suas mãos ainda estava no estomago, mas ainda sim foi o primeiro a se manifestar.

–Algum de vocês tem a mínima ideia do que aconteceu aqui? –ele perguntou, vendo o olhar assustado de Piper e Leo, que negaram. Então seus olhos pousaram em mim. –voce lutou com eles. Tem uma espada. Lutou com um treinamento evidente. –eu concordei com a cabeça. –voce sabe quem são, o que são, certo?

Eu não respondi. Ao em vez disso, Leo o fez.

–Ele é a ultima pessoa que se deve fazer perguntas. Perdeu a memória ainda no ônibus. –ele me olhou incrédulo. –não sabe quem é, mas sabe voar! Cara, isso é uma habilidade que você deveria ter mencionado!

–Voce não tem memória nenhuma? –Will perguntou com cautela. –nada mesmo?

–Na verdade tive um sonho antes de acordar. –respondi. –nele três jovens chamados Venus, Febo e Diana disseram que nós tinhamos uma missão.

–Nós? Quem seria esse nós? –Thalia perguntou.

–Não sei, talvez nós seis. Acho que Piper e Leo estão envolvidos.

–Piper e Leo estão envolvidos em que? –Piper questionou alarmada, com a voz entre o sarcasmo e o espanto. Suas feições seriam engraçadas se não fosse tão sério.

–Eu vi flesh de vocês em minha mente. –informo, ignorando Piper.

Agora, até mesmo o trio parecia desconfortável e surpreso.

–Voce... Sabe quem somos? –Nico perguntou com curiosidade.

–Nico Di Angelo, Thalia Grace e Will Solace.

Apontei um de cada vez, vendo seus rostos se encherem de surpresa.

–Mas de nos não lembra nadinha? Sério? –Piper parecia perdida em surpresas e desapontamento.

–Sinto muito. De verdade. –disse, por que era a única coisa que poderia dizer a ela.

Não mencionei a Thalia, Nico e Will que havia visto seu passado, não vinha ao caso agora.

–Bem, vocês acabaram de ver coisas muito estranhas, então talvez o que eu diga não soe assim tão lunático. Aquilo que vocês virão foi uma fúria, um monstro mitológico.

Thalia começou, se dirigindo mais a Piper e Leo, mas também olhava para mim, em duvida se eu saberia ou não o que estava prestes a dizer.

–Na verdade não era uma fúria normal. –Nico disse, ganhando olhares assustados. “existe uma fúria normal?” Leo parecia questionar mentalmente. –estavam a mando da noite, a mando da deusa Nxy.

–Depois de hoje nada mais me surpreende. –Piper resmungou.

–Ei, a fúria que atacou Percy também não era uma professora chamada Doodle? –Will perguntou.

–Eu acho que o nome dela era Doode. –Nico contestou.

–Não, tenho certeza que era Doodle.

–Enfim. –Thalia cortou os garotos, os ignorando e continuando seu discurso. -Voces são semideuses. Um de seus pais é um deus olimpiano, o outro é um mortal, assim como nas historias mitológicas. –ela explica, como se falasse com um bando de crianças. Ela aguardou nossas reações, mas ninguém disse nada. –os deuses estão aqui, e um deles é pais de vocês. Voces são meio sangues, e, geralmente, levaríamos vocês para o acampamento meio sangue, que é de onde viemos, um lugar onde vocês são treinados para sobreviver. Mas essa não é uma situação comum.

–Como isso poderia ser uma situação comum? –Leo perguntou, e pela primeira vez no dia, ele não parecia estar prestes a fazer uma piada.

–Nos viemos até aqui por que quem falou com voce, Jason, eram deuses. –Nico continuou. –Como eles se chamaram? Venus, Diana e Febo? São os nomes romanos deles, mas nos os conhecemos por seus nomes gregos. Afrodite, Artemis e Apolo, nessa ordem. E eles mandaram que nos os achassem. Eles nos mandaram achar vocês, por que vocês podem nos ajudar em uma missão, precisamos resgatar dois amigos nossos. Eles estão presos, provavelmente sendo torturados. Seus nomes são...

–Percy Jackson e Annabeth Chase? –sugeri, e mais uma vez ganhei suas atenções.

–Qual é, cara! E o seu sobrenome? Por um caso você sabe? –Leo indignou, e eu neguei com a cabeça e engoli a seco. Eu não sabia meu sobrenome. -É Grace, pro seu conhecimento. Prazer, Jason Grace. Sou Leo Valdez e essa é sua namorada Piper Mclean.

Thalia deu dois passos para trás, como se assombrada por um fantasma. Nico a segurou pelas costas, preocupado. Leo olhou em volta, se perguntando se havia dito alguma coisa de errado. Thalia tinha os olhos assombrados e seus lábios tremiam, sua mão tapava sua boca em um susto.

–Voce é... Jason Grace? –ela perguntou, com a voz afetada.

–Jason Grace tipo... Thalia Grace? –Nico perguntou, olhando de mim para Thalia, se perguntando quem poderia responder a pergunta. Mas eu não sabia do que ela estava falando.

Então a garota pulou ao meu pescoço, me sufocando em um abraço e enterrando a cabeça em meu ombro. Diferente de Piper, senti em Thalia uma lembrança muito familiar se formando em minha memória. Fechei os olhos e respirei fundo, tentando resgatar alguma coisa, mas nada veio. Ela parecia entre a felicidade e o rancor.

–Ela disse que você estava morto. Ela jurou que voce estava morto! –ela disse, com sua voz abafada pelo abraço. –voce tinha dois anos quando nossa mãe foi para um passeio pelo parque com voce, e quando voltou disse que voce estava morto. –finalmente ele me soltou, me olhava como se eu fosse seu pequeno milagre. –ela nunca me explicou. Pensava que ela estivesse me enganado, me punindo por algo que eu havia feito. Mas voce não voltou do dia seguinte nem na semana seguinte. Eu fugi de casa no mês seguinte. Encontrei o acampamento meio sangue aos doze.

–Voce é... minha irmã. –tentei afirmar ao em vez de perguntar.

–Isso não é possível. –Piper disse, sua voz estava incerta, como se não soubesse se devesse intervir naquele momento. –Voces parecem ter a mesma idade! Ambos parecem ter dezesseis!

Thalia sorriu para a menina.

–Passei alguns anos fugindo. Fugi de casa quando tinha nove. –ela conta, então sorriu de lado com tristeza. –fui um pinheiro por um tempo, o que me roubou alguns anos de vida. Longa historia. E agora sou uma caçadora de Artemis, sirvo a deusa que voce chamou de Diana. Eu deveria ter vinte e três ou vinte e dois. Sinceramente parei de contar a um tempo. Mas vou aparentar ter 16 eternamente.

–Voce é... imortal? –pergunto, e ela sorri.

–Mais ou menos. Contanto que eu sirva a Artemis não namore ou caia em batalha poderei viver para sempre.

–Então... voce não namora? –Leo perguntou distraidamente entrando chutava a poeira que um dia fora nossa professora. Não se preocupou em disfarçar a decepção em sua voz.

–Sério, Leo? –Piper foi a primeira.

–Sério, Leo? –eu a segui.

–Sério, cara? –Nico disse, fraternal.

Sério, cara? –Will parecia se dirigir mais a indignação de Nico do que a Leo. O garoto lhe deu uma cotovelada, como uma piada interna.

–Sério mesmo, garoto? –Thalia foi a ultima a dizer, com um olhar mortal.

Pobre Leo, não sabia onde se metera.

–Que foi? Foi só uma pergunta. –ele ergueu as mãos, como se se rendesse.

Nico revirou os olhos antes de continuar. Ele tocou o ombro de Thalia.

–Eu não quero mesmo interromper o momento... Mas precisamos agir. Nos precisamos...

Então Nico pareceu perder a cor. Ele caiu de joelhos agarrado ao estomago e vomitou o que parecia ser um punhado de escuridão aos pés de Will, que suspirou a bateu com calma nas costas do amigo.

–É, está na hora de trocar seu curativo Nico. –disse ele. –o seu também Thalia, não precisávamos daquele raio. –olhou feio para a menina, quanto explicava. –Nico ainda está meio mal.

–Acho que podemos passar uma noite aqui. Assim Nico se recupera, Will refaz curativos e podemos esclarecer tudo e digerir informações. O que acham?

Todos concordamos com um sim, e Nico fez um positivo com o polegar enquanto se senta no chão.

–Pode dizer, Nico, você ama vomitar no meu pé, não é? Já posso levar pro lado pessoal?

–Cala a boca, Solace.