I'm Crazy For You

James & os Kennedys


POV JAMES:

Sábado.

Hoje eu iria conhecer a família da minha namorada. Isso era um grande passo na nossa relação. Significava que estávamos em um relacionamento sério a partir de então.

Relembrando tudo que eu passei para conquistar Hanna, era até engraçado pensar que eu realmente consegui chegar até aqui. Às vezes, até eu mesmo duvidava disso.

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Hanna havia dito que seu irmão viria para Los Angeles apenas no próximo feriado. O que ainda estava muito longe. Felizmente, eu não precisei esperar tanto tempo.

Pelo que eu entendi, Ethan estava de folga da faculdade e resolveu visitar a família. Eu o conhecia apenas por fotos que vi no Instagram de Hanna. Eles eram bem parecidos. Com exceção, que ele não tinha a pele tão bronzeada como da irmã. Afinal, como conseguir ficar bronzeado morando em Nova York, onde é tão frio e neva?

Eu respondo: praticamente impossível. Claro, tem a possibilidade do bronzeamento artificial, mas nem sempre atinge o resultado esperado. E eu senti isso na pele. Literalmente.

Como um bom Nova Yorkino que sou, confesso que já apelei para vários métodos a fim de pegar uma “corzinha”. Como por exemplo: Bronzeador mangerina de Cuda. Em vez de ficar com um belo bronzeado dourado, eu fiquei laranja. Sim, laranja! A única pessoa que adorou toda essa situação foi Jade, que ficou me chamando de “maluco laranja” por semanas. O importante é que eu aprendi a lição. De uma maneira horrível e vergonhosa, mas aprendi.

Mas é melhor deixar isso para lá, tenho coisas mais importantes com que me preocupar. Hoje eu vou conhecer os Kennedys.

Eu aposto que os pais de Hanna vão me adorar. Todos os adultos me adoram.

Bem, com exceção do Gustavo que não ia muito com a minha cara no começo. Ele dizia que eu era muito egoísta e pensava apenas em mim mesmo.

Dá para acreditar nisso?

Mas hoje em dia, nós nos damos muito bem. Quer dizer, mais ou menos. Às vezes ele ainda me chama de egocêntrico, mas eu finjo que nem ouço. É melhor assim.

Nesse momento, estou subindo as escadarias do prédio onde Hanna mora. Entrei na portaria e fui até a mesinha onde o porteiro, um senhor de cabelo grisalho, estava.

— Boa noite — disse, gentilmente, esboçando um pequeno sorriso.

— Boa noite — ele respondeu, sorrindo também. — Em qual apartamento o senhor vai?

Droga, sabia que estava esquecendo de algo. Eu não perguntei para Hanna o número do apartamento dela!

— Bem — cocei a nuca —, não sei qual é. Mas é na residência dos Kennedys.

— Ah, claro ­ — ele assentiu, olhando algo no computador a sua frente. — 15ª andar, sr. Diamond.

O quê? Meu nome estava na lista? Nossa, que condomínio chique.

— Obrigado — agradecei. Comecei a andar, mas parei. — Espere... qual o número?

— 15A — ele riu.

Aquilo era para ter sido uma piada? Porque eu definitivamente não achei graça e também não entendi.

Dei um sorriso em resposta e puxei a porta do elevador. Apertei o número 15 no painel. Olhei meu reflexo no espelho do elevador, ainda tentando me acostumar com a minha nova aparência.

Hoje pela manhã, quando chegamos na Rocque Records, fomos surpreendidos por uma equipe de cabeleireiros que nos esperavam. Gustavo disse que precisávamos de um novo visual, algo que nos deixasse um pouco mais maduros. Em virtude disso, meu cabelo foi cortado e aquela franja, que usei por anos, já não existia mais. No lugar, havia um pequeno topete. E a barba que estava por fazer, foi mantida. Dimitry, o cabeleireiro que cuidou de mim, disse que eu havia ficado com um ar mais sério assim.

Ele estava certo. Eu parecia mais velho, responsável. E isso ajudaria muito a dar uma boa primeira impressão a família da minha namorada.

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Dei uma última olhada no meu cabelo, para ter certeza que não estava desarrumado. Eu estava incrível. Como sempre.

O elevador parou e a porta de segurança abriu. Empurrei a outra porta. Foi então que entendi a “piadinha” do porteiro.

Eu já estava dentro do apartamento dos Kennedys. Eles moravam na cobertura! Eu não me toquei que o prédio tinha apenas 15 andares quando apertei o botão no painel. Normalmente os prédios por aqui tem muito mais.

A sala era enorme e muito bem mobiliada. No lado esquerdo de onde eu estava, havia uma escada em formato de meia-lua que levava ao segundo andar. E na sua frente, uma porta de vidro que, certamente, levava até a varanda.

Acabei me lembrando daqueles séries cheias de pessoas ricas que Jade adorava assistir na TV. Oh, com certeza esse apartamento se daria muito em “Revenge”.

Antes que eu pudesse pensar o que tinha atrás da porta do meu lado direito, ouvi passos vindo da escada e me virei, vendo Hanna descer.

Ela acelerou o passo para chegar mais rapidamente até a mim. O que me surpreendeu foi a roupa que ela estava usando: vestido. Lembro de ela me dizer que detestava, e só usava quando realmente era preciso. Outra coisa que me chamou atenção foi a ausência daquele brilhinho que ela tinha no nariz. No lugar, havia um piercing de argola.

Eu gostava muito do outro. Mas posso confessar que esse de argola conseguia ficar ainda melhor nela.

— Oi, Kennedy — a cumprimentei.

— Oi, Diamond — ela sorriu. — Pontual, como sempre.

— Claro, essa é uma das minhas muitas qualidades — respondi, a puxando pela cintura e lhe dei um beijo rápido.

— Não podemos esquecer da sua humildade — ironizou, se distanciando de mim.

— Humildade é o meu nome do meio.

Ela gargalhou e deu uns tapinhas em mim de leve. Depois, passou a mão no meu cabelo.

— Cadê sua franja? Lavou o cabelo e encolheu? — perguntou, erguendo uma sobrancelha.

— Gustavo achou que precisávamos de um novo visual — revirei os olhos, me lembrando do discurso dele. — Os caras também deram um “tapinha no visual”. Mas é óbvio que eu continuo sendo o mais lindo do grupo — dei uma piscadinha.

— Claro, claro — ela riu.— Mas eu gostei assim, principalmente da barba. É sexy — ela passou a mão no meu rosto.

— Oh, baby, você que é sexy. Principalmente com esse seu piercing novo, que eu adorei. Ah, sem falar do seu...— comentei, arregalando os olhos e soltei um baixo assobio — vestidinho.

— Obrigada — ela sorriu timidamente e deu uma voltinha. — Eu só coloquei porque minha mãe insistiu. Você sabe que não faz o meu estilo.

— Sei. Mas não se preocupe, você consegue ficar linda de qualquer jeito.

— Não fale assim — ela balançou a cabeça, discordando — , você ainda não me viu quando acordo.

— Bem, quem sabe um dia eu veja... — respondi, tentando não ser indelicado.

Nós dois ainda não tínhamos... chegado lá.

Na verdade, nunca nem havíamos falado sobre isso. Mas quer saber? Eu não me importava tanto assim. Eu a amava. E por mais que ela nunca tenha dito o mesmo para mim em voz alta, eu sabia que ela sentia o mesmo por mim.

Hanna era o tipo de garota que não demonstrava seus sentimentos porque tinha medo de ser magoada. Mas se dependesse de mim, ela nunca mais seria.

Percebi que Hanna havia ficado desconfortável com a conversa. Resolvi mudar de assunto.

— Então — comecei —, cadê o resto da família Kennedy?

— Mamãe está na cozinha vendo os últimos detalhes para o jantar. Meu pai está no escritório, resolvendo algo da empresa ao telefone. E meu irmão já vai descer.

— Ah, finalmente vou conhecer o famoso Ethan — respondi.

Hanna falava tanto dele que eu chegava a sentir ciúmes. Não pelo fato de eu achar que ele iria roubá-la de mim, afinal, eles são irmãos. Mas sim por saber que ele a conhecia mais tempo do que eu. E certamente, muito melhor também. Queria tanto ter conhecido Hanna antes. Talvez se isso tivesse acontecido, eu nem teria namorado com Hillary.

— Famoso? Acho que não.

Eu e Hanna nos viramos a tempo de ver Ethan descer os últimos degraus da escada, e caminhar calmamente na nossa direção.

Porra, o cara era ainda mais bonito pessoalmente!

Quer dizer, não que eu seja de achar outros homens bonitos. Mas Ethan era e eu admitia isso. Ele tinha um sorriso simpático no rosto e parecia ser aquele tipo de cara que se dava bem com todo mundo.

Vendo o pessoalmente, a semelhança entre os dois era ainda mais visível. Não era a toa que Hanna era tão linda.

— E aí, cara — ele me cumprimentou.

Ele era apenas alguns centímetros mais baixo do que eu, e sua voz era grossa. Aposto que ele daria um bom narrador de filmes, se quisesse. Seu cabelo era do mesmo tom de Hanna, só que um pouco ondulado, e batia quase no pescoço. Já os olhos eram de um tom de castanho claro.

Ele vestia uma calça jeans um pouco surrada e, nos pés, um sapatênis. E eu tinha certeza que ele malhava. Dava para ver os seus braços bem definidos mesmo por baixo da camisa xadrez que ele usava.

De repente, me senti um pouco formal demais por ter ido de camisa social e gravata. Queria deixar uma boa impressão, mas talvez teria sido melhor ser eu mesmo. Como Ethan. Ele não parecia ser daquele mundo de luxo, assim como Hanna. Eles pareciam não se importar com a boa condição financeira que a família tinha. E eu gostava disso.

— É bom ter conhecer ­— respondi, por fim.

— Posso dizer o mesmo. Han falava tanto de você, que era como eu já te conhecesse. Na verdade, era só sobre isso que ela conversava comigo! — Ethan me contou.

Hanna arregalou os olhos e abriu um pouco a boca, perplexa.

— Mentiroso! Não é verdade — ela deu um tapa no ombro dele. Ethan fechou os olhos e soltou um “ai”.

— Caramba, maninha! Assim você vai deslocar o meu braço — zombou. Ela revirou os olhos e bufou, como se aquela cena já não fosse mais novidade para ela.

Acho que já sei com quem Hanna aprendeu a ser assim irônica.

— Bem — Hanna esfregou as mãos — , vou ver se mamãe precisa de ajuda na cozinha. Enquanto isso, aproveitem para conversar. Aposto que vocês vão ser dar muito bem.

— Está brincando? Nós vamos virar melhores amigos de infância! — ele se virou para mim. — Não é, cunhado?

Eu não sabia dizer se Ethan estava sendo irônico ou falando sério.

— Ah... acho que sim — respondi.

Hanna forçou um sorrisinho, parecendo estar um pouco desconfiada. Depois tomou o seu rumo para a cozinha.

Quando ela desapareceu de vista, Ethan me puxou para o sofá. Ele não estava brincando quando disse que iriamos virar melhores amigos de infância. Ele realmente queria que nos déssemos bem. Não só por Hanna, mas também porque ele disse que havia gostado do meu jeito.

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Ethan me contou que estava quase terminando a faculdade de Contabilidade, mas confessou que não gostava muito no começo. Queria ter feito História, mas seu pai o incentivou a entrar no mundo das finanças. E que hoje em dia, ele gostava do que fazia. Principalmente, porque encontrou Sophie, sua namorada, no mesmo curso.

Ele também me contou que os dois estavam juntos a quase três anos e que estava pensando em pedi-la em casamento. Quando perguntei o que a sua família achava sobre essa decisão, ele simplesmente deu de ombros e respondeu: ainda não contei a eles.

O que me levou a entender que Ethan era do tipo de pessoa que não se importava com a opinião dos outros, desde que ele estivesse feliz. E quer saber? Ele estava certo. Nós não podemos viver a nossa vida apenas pensando no que os outros vão achar. Não vivemos para agradar os outros, mas sim nós mesmos.

Quando chegou a hora de eu finalmente falar sobre mim, escutamos vozes femininas. Eu girei o meu corpo no sofá, e vi Hanna e uma mulher, um pouco mais baixa do que ela, vindo na nossa direção.

A mulher tinha um sorriso simpático no rosto. Seu cabelo era tingido de um tom de loiro escuro e tinha um corte bem curtinho, porém muito elegante. Seus olhos eram castanhos claros, como os de Ethan. Hanna se parecia com ela.

Eu me levantei do sofá e estendi a mão na sua direção.

— Sra. Kennedy, prazer em conhecê-la.

— Oh, o prazer é todo meu, rapaz — ela me cumprimentou. — James, certo?

— Sim, senhora — respondi.

— Vocês estavam conversando, não é mesmo? Desculpe-me, eu não queria atrapalhar — ela parecia um pouco envergonhada.

— Imagina, mãe! — Ethan disse. — A senhora chegou na hora certa. James ia começar a falar sobre ele nesse exato momento.

— Ah, é mesmo? — sra. Kennedy se sentou no outro sofá, Hanna logo tomou um lugar ao seu lado. Aproveitei a deixa, e sentei no meu lugar também. — Então, James, nos fale sobre você.

Eu não sabia por onde começar.

Na verdade, estava me sentindo um pouco desconfortável. Eu havia acabado de conhecer os dois, não me sentia tão a vontade de abrir a minha vida assim. Normalmente eu não tinha dificuldade de falar sobre mim para os outros. Mas com eles era diferente. Eu queria muito que eles gostassem de mim.

— Por que você não começa falando sobre a banda, Jay? — Hanna me incentivou.

— Uma banda? Que interessante — sra. Kennedy cruzou as pernas e olhou para mim atentamente.

—Han me mandou algumas músicas deles. Os caras são bons! — Ethan elogiou.

Era isso eu estava precisando para me soltar.

Dei um sorriso e comecei a contá-los. E logo depois, eu já estava me sentindo mais confortável. Acho que era só o nervosismo mesmo.

Falei sobre a banda, depois sobre a faculdade de Educação Física, minha família, dos meus hobbies. Ethan às vezes me interrompia para perguntar algo, enquanto que a sra. Kennedy apenas sorria, prestando atenção em tudo que eu dizia.

Após alguns minutos de conversa, eles pareciam já me adorar. Olhei para Hanna, pelo canto do olho, e o seu sorriso enorme me dava a entender que eu estava certo.

Eu estava começando a contar uma história, quando uma porta fechou com força. Todos pararam o que estavam fazendo e olharam fixamente para algo atrás de mim. Virei devagar no meu lugar, avistando um homem andando na nossa direção.

Ele tinha o cabelo quase todo grisalho, e um pequeno bigode branco. Estava de terno, mas sem a gravata.

Engoli em seco. Aquele era o pai de Hanna, só podia ser. Eu queria muito agradá-lo, mas só pela expressão dura em seu rosto, eu não tinha certeza se essa missão seria assim tão fácil.

Todos se levantaram, e eu resolvi fazer o mesmo.

— Boa noite ­— ele nos cumprimentou, sem expressar nem um misero sorriso.

Eu havia dito que a voz de Ethan era grossa? Oh, a voz dele era muito mais. Tão grossa, que chegava a dar medo.

— Boa noite ­ — responderam todos em uníssono. Eu me atrapalhei um pouco, e acabei terminando de responder uma fração de segundos depois.

Ele olhou fixamente para mim. Então achei que seria a hora certa para me apresentar. Dei um passo a frente.

— É um prazer conhecê-lo, sr. Kennedy – estendi a mão na sua direção. Ele olhou para a minha mão estendida, mas não se deu o trabalho de tirar as suas do bolso da sua calça de linho para me cumprimentar.

— Igualmente — respondeu apenas. Depois se virou para a esposa. — Darla, o jantar está pronto?

— Eu acho que sim, querido — ela respondeu. — Só vou perguntar ao Stuart e...

— Vamos logo — ele a interrompeu. Sra. Kennedy apenas assentiu.

Todos começaram a andar em direção a cozinha. Puxei Hanna discretamente pelo braço e ela diminuiu o passo.

— Quem é Stuart? — sussurrei, a fim que só ela ouvisse.

— Nosso mordomo — ela respondeu, como se fosse óbvio.

— O quê? Eu pensei... — tentei argumentar, mas percebi que não havia motivo. É claro que eles tinham um mordomo. Olha só para esse lugar! Eles devem ser podres de ricos. — Esquece.

Hanna concordou, dando de ombros.

Fomos para a cozinha. Quer dizer, sala de jantar.

Não havia uma sala de jantar na minha casa em Nova York. E isso porque a minha família tinha uma boa condição de vida. Não éramos ricos, mas também não éramos pobres. E, óbvio, também não tínhamos um mordomo. Minha mãe adorava cozinhar e fazer as tarefas de casa. Então, só tínhamos diaristas para fazer a limpeza mais pesada.

Havia um senhor um pouco acima do peso nos esperando. Deveria ser o tal do Stuart. Quando ele me viu, deu um sorriso simpático. Retribui o sorriso.

Ele nos saudou desejando uma boa noite e puxou a cadeira para sentarmos. Eu estava acostumado a puxar cadeiras para as garotas com quem eu saia, mas nunca, um homem havia feito isso para mim. Foi um pouco estranho, confesso.

Stuart pôs a comida na mesa. Ele serviu o sr. Kennedy e depois a sra. Kennedy. Ethan fez um sinal dizendo que se servia sozinho e quando Stuart fez menção em me servir, também sinalizei dizendo que não precisava. Ele não tentou servir Hanna, certamente já a conhecia bem o suficiente para saber que ela negaria. Afinal, ela até já tinha começado a se servir sozinha.

O jantar começou em silêncio e permaneceu assim por um bom tempo. Eu nem tive coragem de abrir a boca e falar nada. Pensei em elogiar a comida, que estava maravilhosa, mas o comentário poderia ser confundido com a tática de querer agradar.

O que não seria totalmente mentira, no fim das contas.

Mas o problema era o pai de Hanna. O sr. Kennedy... como posso explicar? Bem, ele não era o tipo de sogro que eu estava imaginando. Em nenhum sentido. Na verdade, ele me dava um pouco de medo. Não sei se era porque ele nunca sorria. Ou, por causa das sobrancelhas grossas e franzidas que o faziam ficar com mais cara de mau. Se é que isso era possível.

— Então... — sr. Kennedy começou. — Qual é mesmo o seu nome, rapaz?

Parei o garfo no meio do caminho, antes de chegar até a boca. O coloquei de volta no prato devagar e respirei fundo antes de responder.

— James, senhor — respondi.

— Quis dizer o sobrenome — ele suspirou, como se fosse óbvio.

— Ah! Diamond.

— Por acaso você conhece Jeremy Diamond, de Sacramento?

— Não, senhor. Minha família é toda de Nova York.

— E o que você está fazendo aqui em Los Angeles, então? — questionou, entrelaçando os dedos sobre a mesa.

Sua pergunta poderia parecer inofensiva, mas a expressão em seu rosto definitivamente dizia o contrário. Ele não gostava de mim, eu sentia isso.

— Bem, eu vim morar aqui alguns anos atrás. Consegui uma vaga para estudar na American Boy Academy — respondi.

Resolvi mencionar o nome da escola, pois ela é bem renomada por aqui. Talvez isso me ajudasse um pouquinho a ganhar pontos com ele. A essa altura, acho que qualquer coisa pode ajudar.

— É uma boa escola... Mas agora você já terminou o colegial, não é mesmo? — perguntou. Fiz que sim. — E por que continuou aqui?

Parecia que ele queria me empurrar de voltar para Nova York. Sabe, foi só uma pequena impressão.

— Eu gosto de morar na Califórnia e o clima é muito bom. Nova York é fria demais — expliquei. —Além disso, eu já faço faculdade por aqui e...

— Que curso? — ele me interrompeu.

— Educação Física.

— Você quer ser professor? — perguntou, parecendo enojado por não ser algo grande.

— Na verdade, eu pretendo ser personal trainer — dei um sorriso.

Eu me orgulhava da minha decisão, e não ia ser ninguém, muito menos o meu futuro sogrinho, que iria arruinar os meus sonhos por achar que eu não pensava grande.

— Interessante — respondeu, parecendo um pouco surpreso.

Então ele abaixou a cabeça e voltou a comer, como se nada tivesse acontecido. Olhei para Hanna e fiz um sinal com os olhos, apontando para o pai dela. Ela respondeu com um leve aceno de cabeça, que queria dizer: ele é assim mesmo.

Voltei a comer e mais nenhuma pergunta foi feita. Todos terminaram a refeição, e Stuart recolheu os pratos e talheres. Antes de sair, avisou que logo iria trazer a sobremesa.

Só que a sobremesa estava demorando. Olhei discretamente o relógio em meu pulso, e percebi que já havia passado quinze minutos.

— Pai, sabia que James tem uma banda? — Ethan disse, como se quisesse puxar assunto.

— Banda? — o tom do sr. Kennedy era de desaprovação. Permaneci quieto.

— Sim! — Ethan prosseguiu, parecendo não ter percebido. — É uma boyband. Eles até fazem coreografias. Eu ouvi as músicas deles, são realmente muitoooo boas.

— Ah, é mesmo? — sr. Kennedy perguntou olhando para o filho. Ethan fez que sim. Depois ele olhou para mim. — Qual o nome dessa banda?

— B-Big Time Rush, senhor — respondi, tentando controlar o nervosismo em minha voz.

— Nunca ouvi falar — respondeu.

— Eles começaram agora, pai. Mas tenho certeza que logo estarão fazendo muito sucesso — continuou Ethan, com um sorriso gigante no rosto. É, parece que ganhamos um novo fã.

— E como você pretende conciliar a faculdade, a banda, e ainda namorar minha filha?

— Ah, eu já me acostumei — respondi, gesticulando com as mãos enquanto falava. — É um pouco puxado, mas eu consigo conciliar tud...

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E então a minha mão bateu na taça de vidro e caiu, fazendo barulho quando tocou o chão e se estilhaçou em vários pedacinhos.

— Oh, me desculpe... — pedi, começando a ficar nervoso.

— Não se preocupe, querido — tranquilizou a sra. Kennedy. — Acidentes acontecem. Ethan, peça para Stuart limpar isso antes que alguém se machuque.

— Claro, mãe — ele concordou e se levantou, entrando em uma portinha que deveria ser a cozinha.

Olhei para o sr. Kennedy. Ele já não parecia muito contente antes do ocorrido, agora ele estava dez vezes mais aterrorizante.

— Você arruinou o meu conjunto de taças favoritas.

— Foi um acidente — comecei a me defender. — Eu posso comprar outro.

— Você acha que é assim fácil? Acha mesmo? — perguntou, não respondi. — Eu e minha mulher ganhamos essas taças de casamento. Foi presente de um amigo muito próximo a família. As peças eram feitas manualmente e cada conjunto de taças era único. E o homem, cujas mãos fez essa magnifica obra de arte, faleceu a anos! Ou você acha que pode ressuscitá-lo e pedir outro idêntico a esse? Eu acho que não! — gritou a última parte.

— Tom, por favor... — sra. Kennedy pediu.

— Não se intrometa, Darla! — ele gritou para a mulher. Depois, se levantou e apontou o dedo na direção de Hanna — A culpa é toda sua!

— Minha? — Hanna perguntou, confusa. — Eu não fiz nada!

— Justamente. Você não fez nada, esse é o problema.

Hanna se levantou e seu rosto começou a ficar vermelho. Oh, não. Isso não ia acabar bem.

— Eu nunca faço nada bom o bastante para receber o merecimento do grande e importante Thomas Kennedy, não é?

— Claro que não! Você só sabe me dar enxaqueca com os seus problemas insignificantes, sempre me culpando por tudo que acontece na sua vidinha — explodiu. — Por que você não pode me dar orgulho igual seu irmão?

— Ah, claro... estava demorando para o senhor colocá-lo no meio do assunto. Por que não faz um altar para ele? Acho que vai ser bem mais fácil de venerar o Santo Ethan!

­ — Cale a boca agora, Hanna Michelle!

— Não! — ela bateu a mão na mesa com força.

Quando ele abriu a boca para responder, eu sabia que não viria coisa boa pela frente. Então, resolvi interferir.

— Não mande minha namorada calar a boca! — exclamei. Sai do meu lugar e caminhei até ficar em frente a ele. Eu não estava mais com medo dele, estava com raiva. ­— Quem o senhor pensa que é para falar assim com ela?

— Eu sou o pai dela, não sei se você percebeu.

— Pais não tratam os filhos assim! Você não tem respeito nenhum por ela! Hanna é uma garota incrível, só o senhor que ainda não percebeu isso.

— Você contou para ele, não foi? — sr. Kennedy perguntou, se dirigindo a Hanna.

— Contou o quê? — perguntei.

— Nada... — Hanna respondeu, abaixando a cabeça.

— Contou sim! — sr. Kennedy insistiu. — Se você não tivesse contado, ele não estaria te defendendo desse jeito.

— Ele está me defendendo porque se importa comigo! — Hanna disse. — Bem diferente de certas pessoas...

— E por que eu me importaria com você? Eu nem queria que você tivesse nascido! — ele gritou.

— O quê?

A pergunta não havia vindo de mim, mas sim de outra voz masculina.

Eu me virei e vi Ethan. Ele estava parado perto da porta, ao lado de Stuart que segurava um pá e uma vassoura. Sua expressão era um misto de surpresa e nojo.

— Você entendeu tudo errado. Eu não quis dizer isso... — sr. Kennedy caminhou na direção do filho.

­— Sim, o senhor quis. Só não consigo acreditar que você pode ser uma pessoa assim tão horrível, e eu nunca tinha percebido isso.

— Ethan... ­ — ele estendeu a mão para tocar no filho, mas Ethan se distanciou.

— Não toque em mim! Eu tenho nojo do senhor. Ouviu bem? No-jo! — falou mais alto a última parte.

— Ethan Patrick Kennedy! Não admito que você fale nesse tom de voz comigo! Você está debaixo do meu teto e tem que seguir as minhas regras!

— Não, eu não tenho. E sabe por quê? Porque eu sou maior de idade! O senhor não manda mais em mim!

— Mas ainda sou seu pai!

— Só que não está agindo como um! Se tivesse, não teria tratado Hanna assim! – ele deu a volta pelo outro lado até chegar na irmã e a abraçou de lado. A essa altura, ela se segurava para não chorar. — Hanna é a coisa mais importante que eu tenho aqui em L.A. E eu a amo muito. Ela sempre vai ser a minha irmãzinha... e eu não admito que o senhor, e nem ninguém, fale assim com ela!

Sr. Kennedy não respondeu de imediato. Ele deu um longo suspiro e começou a andar em direção a saída.

— Faça o que você quiser, eu também não me importo mais.

— Ei, espere! Eu ainda não terminei! — Ethan exclamou, soltando Hanna e andou rapidamente atrás do pai.

Ouvi uma porta se fechando com força , e logo em seguida, uma segunda vez com muito mais força.

Stuart se abaixou e limpou os cacos de vidro em silêncio. Sra. Kennedy, que estava pálida, tomou seu copo de água com as mãos trêmulas.

— Hanna... — comecei, mas parei. Eu não sabia nem o que dizer para ela agora.

Então era esse o problema familiar dela? Ter um pai que a odiava e a culpava de ter nascido? Eu não achei que era algo tão grave. Mas era.

— Eu sinto muito pelo ocorrido, James. — sra. Kennedy se desculpou. — Eu realmente não queria que você tivesse essa má impressão justo na primeira vez que veio até nossa casa.

­— Tudo bem, sra. Kennedy. Essas coisas acontecem, até nas melhores famílias — respondi. Ela forçou um sorriso e concordou. — Acho melhor eu ir.

— Eu te acompanho — Hanna se ofereceu.

Me despedi da sra. Kennedy com um aceno. Saímos da sala de jantar e Hanna chamou o elevador. De onde estávamos, era possível ouvir a gritaria dentro do escritório entre Ethan e seu pai, mas não dava para entender o que eles tanto discutiam.

O elevador chegou e nós entramos. Hanna se encostou na parede, no lado oposto onde eu estava.

— Desculpe — pedi. — Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Se eu não tivesse derrubado a taça...

— A culpa não foi sua ­ — ela me interrompeu, sem olhar para mim.— Era só questão de tempo até meu pai surtar na frente de outras pessoas. E quer saber? Eu fico feliz que Ethan foi uma dessas pessoas. Já estava na hora dele descobrir que a sua adorável família não é nada perfeita.

— Você deveria ter contado a mim.

— Eu sei, mas eu não queria que você sentisse pena de mim.

— Hanna — dei um passo, encurtando nossa distância. Quando eu iria tocar seu ombro, o elevador chegou no térreo. Ela empurrou a porta e saiu. A segui.

Cumprimentei o porteiro com um aceno, mas Hanna passou direto. Ela andou rápido na minha frente, abriu o portão e saiu do prédio. Andou pela calçada, olhando para os lados, procurando meu carro. Apertei o alarme e farol piscou. Ela andou até ele e sentou no capô, abraçou suas pernas e abaixou a cabeça. Eu me encostei ao seu lado, mas sem fazer força no capô.

Ela não falou nada, mas vi seu corpo sacudindo devagar. Eu podia não ver o seu rosto, mas tinha certeza que ela estava chorando. Passei o meu braço em volta do seu ombro, tentando consolá-la. E foi então que ela se derramou em lágrimas.

Deixei ela chorar. Porque eu sabia que ela precisava disso. Eu nunca a tinha visto chorar desse jeito. Na verdade, não me lembro de vê-la chorar antes. Hanna parecia sempre tão forte e inabalável. Mas ela não era assim, ninguém é. As pessoas, por mais que digam que não se importam com nada, no fundo, sempre se importam com algo. É da nossa natureza, somos humanos, temos sentimentos e nem sempre conseguimos guardá-los apenas para nós mesmos.

Ela soltou as pernas e deslizou um pouco no capô, fazendo seus pés tocarem o chão. Ela levantou o rosto e não estava mais chorando, mas ainda havia algo de errado. Respirava pela boca como se estivesse sem ar.

Comecei a ficar preocupado.

— Hanna, você está bem? — desencostei do capô e fiquei na sua frente, segurando seu queixo, obrigando a olhar para mim.

Ela não respondeu. Seu peito subia e descia em uma velocidade que não era normal. Ela começou a suar.

— Hanna, fale comigo — sacudi seus ombros, ela parecia não estar nem me ouvindo. — O que está acontecendo? Eu não sei o que fazer! Hanna!

­— Eu... eu... — ela tentou falar, mas parecia que sua falta de ar só piorava. Ela mexeu nos ombros, querendo dizer que eu a soltasse.

Fiz isso e me distanciei um pouco. Ela enfiou a mão direita dentro do bolso do casaco e pegou algo. Levou na altura da boca, apertando algo que soltou um spray. Aos poucos, sua respiração foi voltando ao normal e ela parecia melhor.

Hanna tentou guardar a tal coisa no bolso, mas eu a impedi, tirando de sua mão. Era uma bombinha. Daquela que pessoas usam quando... não, não pode ser.

— Você tem asma? — perguntei. Ela apenas acenou positivamente. — Por que você não me contou?

— Não é nada demais — ela tirou a bombinha da minha mão e colocou de volta no bolso.

—E se você não tivesse com a bombinha?

— Eu sempre carrego ela para todos os lados, por precaução. Além disso, fazia algum tempo que eu não tinha uma crise.

— Quando foi a última vez?

— Mais ou menos um ano atrás, quando eu... ­— ela não terminou a frase.

— Tem algo a ver com seu pai, não é? — perguntei. Ela apenas assentiu. — Ah, Hanna, eu não queria que nada disso estivesse acontecendo com você. Se eu pudesse, trocaria de lugar com você na mesma hora. Me doí muito te ver assim, sofrendo, e não poder fazer nada.

­ — Você pode sim ­ — respondeu. Antes que eu perguntasse o que era, ela me abraçou.

Afaguei os seus cabelos, enquanto ela descansava a cabeça no meu peito.

—Talvez eu seja um pouco mais complicada do que você imaginou ­— ela riu, sem humor. — E eu vou entender se você quiser me deixar.

— Eu não vou terminar com você. Nem agora e nem daqui a um milhão de anos. E você não é complicada, seu pai que é. Nada disso é culpa sua.

­ — Claro que é... — ela respondeu, se afastando de mim um pouco e me encarou. — Você ouviu o meu pai, tudo seria melhor se eu nem tivesse nascido.

— Nunca mais repita isso! — exigi. — Você é tão importante para mim, Hanna. Não sei o que seria da minha vida se você não estivesse nela — toquei sua bochecha.

— Você ia ficar bem — ela deu de ombros. — Nunca teria me conhecido, então nem ia sentir minha falta. E aposto que encontraria uma garota bem menos problemática do que eu. Talvez, ainda estivesse com a Hillary.

— Minha relação com ela não daria certo de qualquer jeito. Além disso, Hillary não chega aos seus pés. Ela não era a garota certa para mim, mas você é. Você é o meu par perfeito, Hanna Kennedy.

— Awn, James... — ela me abraçou novamente. — Você tem razão. Eu não sei o que seria de mim agora sem você.

— É melhor nem imaginar. Pode ser algo muito traumatizante não me ter por perto — respondi. E senti ela rindo, ainda grudada em mim.

— Viu? Você está rindo. Isso é um bom sinal.

— Sim — respondeu, se soltando dos meus braços. Depois, ela olhou fixamente para mim. — Eu te amo, James.

Meu rosto se curvou em um sorriso enorme. Talvez maior que o sorriso do gato de Alice no País das Maravilhas.

Ela havia falado aquelas três palavrinhas que eu tanto esperei. Ouvir isso saindo da sua boca era tão lindo, parecia música aos meus ouvidos.

— Repete, por favor... —­ pedi.

— Você está ficando surdo por acaso, Diamond? — ela colocou as mãos na cintura, me provocando. — Eu disse que te amo, seu tapado. Te amo!

A puxei pela cintura e a calei com um beijo. Suas mãos foram diretamente para o meu cabelo. Nosso beijo não foi lento e calmo. Pelo contrário, ele era rápido, feroz, quente. Quando eu percebi que Hanna diminuiu o ritmo, acabei parando. Não queria que ela tivesse outra crise de asma.

Segurei seu rosto em minhas mãos.

— Eu também te amo, Hanna.

Ela sorriu para mim, e aproximou os seus lábios dos meus, dando inicio a mais um beijo. E eu sabia que viria muito mais de onde veio esse.

Porque se dependesse de mim, Hanna não iria sair da minha vida nunca mais.