Illusion

Capítulo Um - Os Legados de Krypton


ILLUSION, CAPÍTULO UM:

OS LEGADOS DE KRYPTON

Zara se lembrava do sonho como se ele tivesse sido real. Lembrava-se de ter acordado assustada, aos gritos, enquanto seu pai a abraçava fortemente, reforçando a única coisa que ela já sabia: havia sido apenas um sonho. Ou melhor, ela acreditava que havia sido apenas um sonho.

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Lembrava-se de ter continuado na cama após isso, assim como lembrava-se de não ter o menor interesse de levantar e ter que aguentar mais um dia na Faculdade, mas era necessário; tinha um trabalho de conclusão de curso mais do que importante para concluir naquela tarde e a palavra “falhar” não fazia parte de seu vasto vocabulário inglês. E foi então que, motivada por um simples trabalho de jornalismo, Zara levantou-se lentamente da cama, desejando não sair dela.

Desceu as escadas rapidamente – o pijama largo causando certa sensação de conforto – e parou na porta da cozinha ao ouvir seus pais rindo. Entrou na cozinha sorrateiramente e de cabeça baixa, o cabelo loiro-avermelhado tampando seu rosto, prevenindo-a de corar visivelmente ao encontrar o olhar confuso de seus pais, claramente desejando saber qual monstro a fez gritar dessa vez. E ela, como uma boa garota, mostrou perfeitamente em sua postura que não estava com a mínima vontade de falar sobre isso. Seus pais pareceram entender o recado imediatamente, já que não hesitaram em continuar o assunto que estavam antes.

— Seu irmão já foi — Clark avisou, os olhos fixos na filha mais jovem — Ele tinha combinado de jogar com os garotos ou algo assim. Pode usar a caminhonete, se quiser.

Zara sorriu para o pai e assentiu; no aniversário de dezesseis anos de Steve – seu irmão mais velho – Clark e Lois lhe deram um carro esportivo com a condição de que Zara, quando completasse dezesseis, também poderia usá-lo. Enquanto Steve achava isso a maior injustiça do mundo, Zara achou uma das melhores noticias de sua vida: seu primeiro carro – ainda que não fosse realmente seu – seria um carro esportivo incrivelmente caro; era, no mínimo, uma noticia maravilhosa. A verdadeira questão era que, por algum motivo, Steve não deixou Zara usar o carro dele para aprender a dirigir, o que obrigou Clark a deixá-la usar a caminhonete. O que nenhum deles esperava era que Zara iria preferir a caminhonete do pai e não o tal carro esportivo de Steve. Steve obviamente não reclamou, mas toda a noticia boa vem com um preço: devido ao fato de que Clark costumava usar a caminhonete com certa frequência, sempre que ele estivesse usando o veículo, Steve teria que levar Zara para a escola. Com o tempo os dois se acostumaram, mas isso não impedia Steve de sair antes de Zara algumas vezes, apenas para não ter que levá-la.

Dias como aquele, por exemplo.

— Obrigada, pai — Zara respondeu, mordendo mais um pedaço da maçã que comia — Por sinal, hoje eu vou pra casa do Tommy terminar o nosso trabalho de Jornalismo sobre a Obesidade nos Estados Unidos — olhou para Lois — Já te falei que o melhor trabalho...

— Pode sair no Planeta Diário? — Lois perguntou retoricamente — Já, você já falou isso quinhentas vezes, a única coisa que você ainda não nos falou é o sobrenome desse Tommy com quem você está fazendo seu trabalho.

Zara sorriu marotamente, os olhos se desviando para a tela brilhante de seu celular onde as horas apareciam, denunciando seu atraso. Levantou-se da cadeira rapidamente jogando a maçã na mão da mãe e dando um rápido beijo no rosto do pai, que parecia levemente confuso com a pressa da menina.

— Tenho que ir, estou atrasada! — gritou de algum lugar da casa — Conversamos mais tarde!

Zara bateu a porta, correndo até o carro o mais rápido que um humano poderia correr. Zara não era humana e alguns de seus vizinhos já haviam percebido isso; na verdade, Zara tentava correr em uma velocidade humana o suficiente para que os outros vizinhos não descobrissem.

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Acreditem, os vizinhos de Zara eram curiosos o suficiente para isso.

Zara.

Zara virou-se rapidamente, os olhos correndo por todos os lugares ao seu redor enquanto procurava a pessoa que a havia chamado. Pensou na voz, ponderando por um segundo na possibilidade de conhecer o dono da mesma e, ao perceber que não havia sequer a remota possibilidade, entrou na caminhonete, os olhos fixos no GPS que indicava o caminho que ela deveria fazer.

Aquele seria um dia longo.

***

— Tudo bem, eu admito, você venceu.

Steve sorriu por um segundo antes de dar um soco no braço do amigo, que imediatamente saiu de perto dele. Olhou ao redor em busca de sua prima e, ao não encontrá-la, limitou-se a andar até seu armário em busca de seu material antes que a primeira aula começasse.

Steve era o típico garoto popular da Universidade. Os clichês de sua vida iam desde Capitão do Time de Futebol – posto que ele havia ganho devido ao seus poderes – até ex-namorado da mais bela Capitã das Líderes de Torcida. Por muito tempo isso havia sido motivo o suficiente para que ele fosse aceito nas rodinhas de conversa do Time de Futebol, mas, com o tempo, isso virou uma coisa tão insignificante que nem mesmo Sarah – sua ex-namorada – fazia mais questão de lembrar, afinal, os dois haviam tido um término de relacionamento tão pacifico quanto qualquer término poderia ser.

— Olá.

Steve fechou o armário rapidamente, os olhos verdes fixos na garota que se encontrava ao seu lado; ele sabia que a conhecia – afinal, ela estava usando o uniforme das Líderes de Torcida – mas, por algum motivo, ele não conseguia, de forma alguma, lembrar o nome dela. Talvez tenha sido por isso que ele ficou quieto, apenas observando a garota e visivelmente confuso.

Infelizmente ela percebeu.

E, mais infelizmente ainda, ela parecia visivelmente chateada.

— Sou a Queenie — a loira estendeu a mão — Melhor amiga da sua ex-namorada.

Steve abriu a boca em claro sinal de compreensão segundos antes de perceber o que havia feito. Bateu com a mão fortemente na testa sentindo seu rosto ficar parcialmente vermelho e, quando levantou o olhar, permitiu-se observar mais a garota. O cabelo loiro – que deveria ser longo – estava preso em um rabo de cavalo e, diferente do que Sara costumava fazer, ela não usava uma maquiagem exagerada, usava apenas o suficiente para deixá-la ainda mais bonita do que ela já era.

Como Steve nunca havia reparado nela ainda era um mistério.

— Sou Steve — apertou a mão dela, sorrindo — Mas você já deve saber disso.

Queenie riu, os olhos fixos nos olhos de Steve; foi naquele momento que Steve constatou mais uma coisa: o sorriso dela era tão lindo quanto a própria garota. Steve teve a impressão de que ela diria algo, mas o doce som de seu nome sendo chamado atrapalhou tudo.

— Ah, você está aí! — Steve virou-se lentamente para Tara, apontando Queenie – que, por algum motivo ainda segurava sua mão – com a cabeça — Ah... Olá, Queenie... Desculpem-me interromper, mas você pediu para eu avisar quando a Zara chegasse e, bem, ela chegou.

Tara era a mais velha dos três Kryptonianos; na realidade, Tara era uma incógnita. Filha única de Kara Danvers e Mon-El – ou Lar Gand, como você quiser chamar – Tara era constantemente chamada de Daxamita já que os Daxamitas são descendentes dos Kryptonianos. Sendo assim, Steve e Zara são Kryptonianos e Tara é Daxamita.

Confuso, de toda forma.

A questão é que Tara sempre foi incrivelmente parecida com Kara e quase nada parecida com Mon-El, o que acabou por fazer que ela acabasse atribuindo alguns defeitos que já existiam em sua mãe. Como, por exemplo, a habilidade de interromper coisas importantes.

Como naquele momento, por exemplo.

— Tudo bem... — Steve respirou fundo, virando-se para Queenie — Bem... Tenho que ir. Podemos conversar depois?

— Claro — Queenie deu de ombros, os olhos brilhando — A gente se vê por aí.

— Na verdade, se você quiser eu posso te esperar após o fim do último período — Steve falou — Nos encontramos lá?

— Ah... — Queenie abraçou os livros que segurava — Claro. Até mais.

— Até.

Steve ficou observando enquanto a loira se afastava, os olhos acompanhando cada movimento feito por ela até ela virar um corredor, saindo do alcance de sua visão. Steve sentiu Tara tocar-lhe o ombro e virou o olhar para a prima, que parecia segurar a risada.

— Olha, priminho... Você mandou muito mal.

***

— Pesadelos, sério?

Zara olhou para o irmão, o olhar que lhe dirigia deixou bem claro que ela não estava de brincadeira. Steve desviou o olhar para o outro lado do Campus onde encontrou Queenie ao lado de Sarah. Zara seguiu o olhar do irmão e sorriu para ele, encorajando-o a ir até a loira.

Infelizmente, Steve não teve tempo de dar sequer um passo quando tudo aconteceu. Em um momento o céu estava azul, o sol brilhando majestosamente; no segundo seguinte tudo o que todos puderam ver foi a mensagem que havia tomado o lugar.

“Os cavalos estão vindo... É melhor correrem”

— Ah, bom... — Zara iniciou, os olhos fixos no céu — Mensagem visualizada.