Ich Liebe Dich.

Cap. 104: A mulher em ouro.


O trem, lustroso por dentro e apodrecido por fora, me deixava com ânsia de vômito.

Havia um cheiro de perfumes diversos de algumas pessoas. Na verdade, não havia muitas pessoas naquele trem, nem sei como podiam misturar-se tanto os perfumes...
As caras das únicas pessoas eram inexpressivas e isso me deixava um pouco irritada. Porque elas não percebiam o que havia? Será que tinham sido dopadas com algum tipo de droga?

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--- Charllottie e Frida, dirijam-se até a vagão 104 do trem. -A voz finíssima e irreconhecível começava a falar novamente. -Não esqueçam nada, para ser mais divertido!

Dito isso, olhei para as duas velhas e para os dois homens que estavam no nosso vagão inicial, que me olharam, apreensivos, eliminando a minha hipótese de estarem dopados.

Talvez, ele os tenha ameaçado para que ficassem como se não acontecesse nada. Senão eles também morreriam. Mas agora, que eu já havia caído na armadilha, eles não precisavam mais fingir que tudo estava bem. Eles pareciam me pedir socorro agora.

--- Vadia. –Frida disse, de súbito.

Olhei para ela com uma cara surpresa.

--- Que foi? Vivi por dois anos nos E.U.A. Embora fosse muito pequena. –Ela respondeu, sem tom de brincadeira. –Me acostumei um pouco com as coisas de lá...

--- Não, imagine... é que... eu estava apenas pensando, como pode você saber que é uma vadia? -Eu perguntei, enquanto nos dirigíamos até o vagão 104 do trem.

--- Essa voz de computador não poderia ter ficado tão fina, do contrário. -Frida me explicou, sem me olhar.

Seus orbes verdes percorriam cada espaço pelo qual nós passávamos. Eles parecia atenta a qualquer tipo de "sub-armadilha" que poderíamos sofrer.

--- Chegamos. -Disse, enquanto nós ficávamos em frente a porta principal do vagão 104.

--- Calma. -Frida sussurrou.

Eu peguei na maçaneta da porta antiga, mas nova e lustrada. Abri-a, com raiva.

Aquele vagão era mais lustroso do os outros e era muito grande. Era bem maior que os outros. Fiquei olhando em volta, antes de olhar para o fim do corredor. Era tudo dourado e vermelho. O papel da parede do vagão era de veludo, vermelho com umas decorações douradas. O chão era dourado, com um tapete de veludo, vermelho. As cadeiras eram de veludo vermelho com pequenos mantos dourados. Mas, onde eu havia visto aquilo? Senti um deja vú.

Frida puxou de leve o meu vestido, apontando para a nossa frente.

--- Olhe. –Ela disse, num tom baixo e espantado.

Olhei para o fim do corredor, onde havia um mulher, magra, com roupas de couro. Seu rosto não era bemvisível, mas também era escorrido. Usava uma jaqueta de couro vermelha reluzente e lustrosa que a deixava com uma aparência muito limpa e elegante. Sua calça era preta, de couro. Parecia uma motoqueira. Um cabelo loiro pendia, num rabo de cavalo muito grande. Parecia ouro, de tão brilhoso. Mesmo de longe, dava-se, para ver.

A moça loira, cujo rosto, eu desconhecia, de tão longe, pegou um pequeno objeto e falou, nele.

--- Não me reconhece, Charllottie? –A voz fininha ecoou. Uma risada solene também foi ouvida.

--- Não! -Gritei, pelo corredor. Minha voz saiu esganiçada, de raiva contida.

--- Ah, que interessante, sua cadela ladra. -A voz estava solene, mas amarga e cheia de ironia. -Deveria saber, -Ela andou, ainda não chegando perto de mim. -pois um ladrão, nunca esquece nada que roubou. Principalmente quando é uma grande coisa.

Eu quase me movia, para ficar mais próximo da maldita, que ainda não reconhecia, mas já tinha uma ideia de quem era. Mas não queria acreditar. Eu não tinha roubado nada dela. “Ah, Charllottie, para quê se preocupar com os pensamentos doentios de uma psicopata e tentar entendê-los”, pensei.

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O trem estava em alta velocidade, mas estava estável. Não havia perigo, ainda. Meus cabelos voavam, com o vento das janelas, enquanto meu rosto suava frio, com aquela situação pela qual nunca pensei ter de passar. Olhando para aquela mulher, com o ódio que estava sentindo, não percebi que minha mãe estava amarrada, mas com a boca descoberta, atrás dela. De súbito, me deu uma vontade de bater nela até que ela não pudesse mais falar, ou fazer qualquer movimento. E depois tocar fogo em cada parte doentia daquele ser desprezível. Mas meu senso maldito ainda estava presente.

Era Angel. Ela chegou bem perto de mim. Aquela mulher me lembrava... Ouro. Era elegante, solene, soberba, inspirava ambição.

--- O que vai fazer? -Meu tom era de ameaça.

--- Cale essa boca! -Ela voou para cima de mim, pegando meu pescoço, subitamente.

Encostada na parede, fiquei paralisada. Meu senso ainda sobressaia-se a minha raiva. Olhei para Frida, que estava atrás de Angel e ficou olhando nós duas, sem reação.

--- Angel... -Lutei para que minha voz saísse fraca e submissa.

Resolvi escolher a razão. Eu sempre havia confiado nela, e agora, ela não me abandonaria. Angel a opressora inteligente que havia feito tudo aquilo comigo, não seria idiota de ser agressiva, sem que tivesse várias defesas. Com certeza, ela teria muitas formas de me matar. Então, pensei em me mostrar como ela queria, submissa. Mas, quando eu a pegasse, ela sentiria pena de si mesma.

--- Não fale o meu sagrado e puro nome! –Ela cuspia as palavras. O rosto colérico, mas não deselegante. Seus olhos não se arregalavam, ela só falava com amargura e raiva. -Peter... ele... deveria ser meu. –Angel estava chorando.

Era uma cena muito estranha. De repente aquela mulher, sensata, crescida, e orgulhosa parecia um cãozinho choroso na chuva. A única diferença, é que eu jamais vira tamanho ódio.

Ela não expressava tristeza, mas seus olhos azuis eram cheios de rancor e lágrimas. Que escorriam, como uma cachoeira, sem freios.

--- Eu fiz tudo isso a você, porque eu queria que sentisse dor, a cada minuto que estivesse com ele. A cada minuto em que eu, longe, sentia dor. A cada minuto que eu era um nada para ele, enquanto você era tudo. Mas sofria, como eu. Não era diferente. Não era diferente em nada, por dentro! -Angel gritou, com a voz esganiçada.

Uma de suas mãos estava em meu pescoço, enquanto a outra estava no bolso de sua calça. Minhas mãos estavam na parede. Eu pensei em pegar algo em minha mochila, caso ela tentasse algo. Mas ela me veria.

--- Eu seqüestrei a sua irmã, primeiramente. Nessa época, o meu Peter já estava a amando. E foi daí que eu comecei... Mas eu ainda não sabia uma maneira brutal de te mandar para o quintos dos infernos! Então resolvi te deixar sofrer e amargar enquanto seu querido Joe estava longe. Mas então, recebi a notícia de que estava doente. Ai sim, eu me alegrei. Sua morte seria dolorosa, tanto física, quanto mentalmente. Porque eu te devolveria sua irmã, ainda sobre o meu controle, para te dizer que você não passava de um lixo insignificante, e ainda que saiu com o seu amorzinho, que é outro imbecil sem personalidade! Por isso que você quis o meu Peter, anh? Sim, é por isso que agarrou aquele anjo perfeito assim que viu que o maldito coração dele era seu! –Ela derramava mais lágrimas.

--- Maldita. –Sussurrei, tão baixo que ela não ouviu.

--- Depois que meu Peter... –Ela limpou as lágrimas absolutamente amargas com as costas da mão que estava no bolso –Depois que ele resolveu me trair quebrou nosso laço de verdade, quando destruiu meus planos mandando aquela carta e te convencendo a aceitar o transplante... Foi a gota d’água. Eu resolvi acabar com um por um de vocês. Principalmente com ele e com você. Apesar de amá-lo, agora, mais que nunca. –Ela suspirou, doentiamente –Eu resolvi deixar que você se encantasse por ele. Eu resolvi deixar que vocês se casassem. Resolvi sumir enquanto eram felizes, porque quando eu tirasse a felicidade de vocês seria tão melhor. –Ela disse, deliciando-se pavorosamente –Oh! Esqueci-me... Não imaginava que seria tão bom... Você ainda está esperando um filho, não é mesmo? Isso é melhor ainda de se tirar... E eu te persegui. Ops! Eu não persegui... Mas passarinhos loiros de olhos azuis me contaram que você achava que eu estava te perseguindo. –Ela disse, soturna –Mas eu ia e vinha, deixei que você se sentisse só, ameaçada, triste, sempre em perigo. Eu fiz sua cabeça. Eu enleei-a em uma teia mortal. E você se acabava. E agora eu consegui o seu auge de ódio. E ainda não estou feliz. Mas estou satisfeita. Porque consegui ter a sua podridão dentro de você. A única coisa da qual me arrependo... É de ter deixado que vivesse ao lado de Peter depois de estar grávida. Eu poderia matá-lo... –Ela disse, aturdida com a idéia.

Era como se somente uma pessoa pudesse salvá-la. Era como se somente Peter pudesse fazê-la pensar duas vezes.

--- Eu te aterrorizei –Ela dizia, furando meus olhos com os dela. –Eu não deixei que vivesse. –Ela disse –Ah! E aquele sonífero que coloquei no leite era só pra te deixar pior. Paranóica.

Trinquei os dentes. E a minha cabeça doeu de pensar no estrago que eu faria a ela se conseguisse pegá-la.

--- Angel... Se fizer algo contra ela, você vai se arrepender. –Frida disse, entredentes. –Eu vou te caçar e vou te torturar. Eu vou te torturar todos os dias. Eu vou dedicar cada hora da minha existência a isso. E eu não vou te matar. Eu nunca vou te matar. A não ser que eu esteja satisfeita com o seu sofrimento. –Frida acabou.

--- Ah! Fridinha... Eu não subestimo você... Mas eu vou acabar com você aqui. Mas não se preocupe não vou comer seus órgãos... Só enviá-los ao mercado de canibalismo que está me dando muito dinheiro ultimamente. –A perversidade estava ali, falando.

--- Você sabe tudo o que te fiz... –Angel dirigiu-se a mim novamente, ignorando Frida. -Ah, sabe. Foi eu mesma quem mandei o Gustav te dizer. Eu fiz com que descobrisse aos poucos. Aos poucos corroendo seu coração. Nem sabe o prazer que me dá, te ter aqui, minha linda!

--- E agora eu matarei este seu bebê. -Angel disse, agora sorrindo com a ideia.

Segurei meu ímpeto forte de socá-la. Parecia que sentia o estalo em minha mente.

--- E Peter, ele viverá, sofrendo. -Ela falava as palavras com muito cuidado, como se quisesse que eu sentisse cada impacto causado por elas. -E você, sua bastardinha, vou matá-la! -Ela virou o rosto para Frida novamente, fazendo com que seus longos cabelos chicoteassem a minha cara, agora colérica novamente.

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Aproveitei, então, para pegar algo, rapidamente no bolso lateral da minha bolsa. O que viria, dependeria de minha sorte. Era um algo fino, comprido, que guardei, cuidadosamente no bolso lateral de meu vestido.

--- O que pretende? - Perguntei, antes que ela se virasse e se irritasse, com a minha voz.

--- Ainda bem que perguntou. -Ela sorriu, diabolicamente, enquanto minha mãe dava um grito de dor e eu fechava os olhos, fortemente, sem poder fazer nada. "Socorro" pensei, sem esperança.