Minhas esperanças diminuem-Parte 1

6 meses depois...

Pov. Germán

Seis meses... Seis meses! Eu nem acredito, fazem seis meses! Seis meses desde aquele dia horrível e Angie não deu nenhum sinal de vida... Aquele pensamento de que “Amanhã ela vai acordar” já não estava mais me ajudando, mas ainda tinha um pouco de esperança a cada dia que ia lá.

Sabe o que é pior disso tudo? George completa um ano hoje! Angie não vai estar presente para o primeiro aniversário dele. Por mim nem daríamos festa por causa disso, sinceramente, não estava no clima, mas Violetta insistiu tanto que seria difícil convence-la do contrário. Acabei tento de fazer a festa.

Angie perdeu vários momentos da vida de George. A primeira vez que ele andou, a primeira palavra... Que foi “papai” e depois foi apenas uma questão de tempo para ele falar o nome dos outros que estavam na casa. Mas o que mais me dói é que até hoje não o escutei falar “mamãe”.

Angie também perdeu a formatura de Vilu no Studio, que foi há uma semana. Ela vai viajar amanhã para Madrid para fazer um show... Eu não irei pelo simples fato de que não quero sair de Buenos Aires e deixar Angie sozinha no hospital.

Depois da formatura Federico foi embora da mansão. Ele disse que iria começar uma carreira na Itália com o U-Mix.

Estava no meu quarto olhando umas fotos. Angie e eu de mãos dadas, aquela foto no quarto da Vilu e a foto que tiramos no hospital, estavam todos nessa foto, Olga, Ramalho, Vilu, Angélica, Angie, George e eu... A única foto que tiramos juntos, a única foto que parecíamos uma família. Deixei uma lágrima cair.

–Pai?- Escutei batidas na porta, com certeza era Violetta- Posso entrar?

–Claro Vilu! Entra- Disse limpando a lágrima e escondendo a foto. Ela entrou e estava com George no colo.

–Daqui a pouco alguns convidados chegam e eu preciso tomar banho... Não vou poder ficar com George- Ela diz.

–Claro, filha... Pode ir tomar seu banho-Digo e pego George no colo.

–Obrigada pai!- Ela deu um beijinho em George e saiu.

George estava no meu colo, evitava ao máximo olhar em seus olhos... Me lembravam muito os de Angie. Ele começou a observar o quarto e ficou inquieto no meu colo, percebi que ele queria descer.

–Ei! Calma pequeno! Já vai descer- Digo e o coloco no chão, mas segurando sua mão já que ele ainda não consegue andar sem algum apoio.

Ele começou a me puxar, acho que queria que eu levantasse, então eu sai da cama e ele começou a apontar para um ponto.

–O que você quer?-Digo e olho para onde ele está apontando, era a foto... Sentar em cima dela não foi a melhor maneira de escondê-la.

–Ali- Ele diz e continua apontando. Peguei a foto e mostrei á ele.

–Isso?-Pergunto e ele balança a cabeça - É só uma foto-Digo, mas ele insistiu em ver.

Acabei entregando a foto para ele, se bem que não tinha motivos para não mostrar, não é? Quero dizer, tirando o fato de que ele irá reconhecer todos naquela foto menos Angie, sua própria mãe. Ou então não, ele passou seis meses com Angie e em breve passará mais tempo, espero que seja mesmo breve, talvez ele a reconheça.

–Então, o que você queria ver nessa foto?- Pergunto o mais calmo possível. Sabia que ele não iria me responder, ele falava o nome das pessoas e algumas poucas palavras, nada além disso. Mas ele podia apontar ou fazer alguma outra coisa e foi exatamente o que ele fez. Ele apontou para Angie.

Pronto. O que eu faço agora? Eu posso explicar tudinho, mas e se ele cismar em querer vê-la? Espera! Como ele faria isso? Não tem como, não é? Ele ainda não fala direito, né? Ele não cismaria com isso... Ou cismaria? Eu não poderia o levar, não deixariam um bebê entrar. Fiquei pensando nisso até escutar George, ele parecia querer falar algo.

–M... Mamãe-Ele disse. Sim! Ele disse! Ele disse! Não acredito! Ele disse! Minha alegria foi imensa naquele momento, ele falou e nem precisou da minha ajuda.

–Sim, sua mãe... Angie-Minha alegria foi embora quando disse “Angie”, ela não estava ali para ver George dizendo “mamãe”.

Antes que eu ou George pudesse falar mais alguma coisa alguém abriu a porta. Olga.

–Senhor Germán, Pablo e Jade já chegaram-Ela disse.

–Tudo bem Olga, vou descer agora mesmo-Disse e peguei George no colo.

Desci com George no colo. Violetta tinha feito realmente um bom trabalho com a decoração, igual quando arrumamos para o meu aniversário... Quando Angie me contou que estava grávida.

Jade veio correndo em minha direção e pegou George no colo. Por incrível que pareça, ela estava sendo uma ótima madrinha e Pablo também estava sendo um ótimo padrinho, acredito que eles também seriam ótimos pais.

–Então, como vocês estão?-Pergunto tentando criar um assunto.

–Estamos bem- Pablo respondeu, Jade não tirava a atenção de George.

–Tudo bem com o bebê?-Pergunto.

–Tudo ótimo com a nossa garota, ela vai nascer semana que vem- Pablo respondeu orgulhoso.

Eles teriam uma menininha. Nome? Maria Clara... Graças a mim. Eu insisti tanto- chegou um momento que achei que Pablo iria me bater de tanto que insisti-que eles acabaram aceitando. Era um dos nomes que Angie queria caso tivéssemos uma menina.

Conversamos um pouco, quero dizer, conversei com Pablo um pouco, Jade estava muito ocupada com George. Pablo me perguntou sobre Angie, geralmente ele também ia visita-la no hospital, mas agora com a Jade no final da gravidez estava ficando meio difícil para ele. Eu mudei de assunto, era sempre horrível me lembrar de como ela estava - Sempre pálida, gélida e seus lábios que antes eram rosados agora estavam quase brancos e o pior de tudo era que não podia ver seus olhos verdes que alegrava meu dia.

Um tempo depois chegaram mais alguns convidados, Antônio, Angélica e aquele povo todo do Studio. Eles chegavam, me entregavam um presente e iam fazer outra coisa, comer ou paparicar George.

Quando George não estava com algum convidado ele estava com Vilu, talvez ela quisesse aproveitar mais um tempo com ele antes de ir embora. Uma hora ela passava pela sala com George no colo ou então com uma filmadora na mão, mas não sabia exatamente o motivo e na outra ela simplesmente sumia.

Passou um tempo e chegou a hora dos parabéns, finalmente. Não é que eu não estava aproveitando a festa, era pelo simples fato de que eu não conseguia ficar George no seu aniversário, eu não estava sabendo de nada que acontecia na festa. Eu estava completamente desligado de tudo.

Fomos para a mesa do bolo e finalmente eu consegui segurar George no colo por mais de 5 minutos sem ninguém perturbar. Violetta tinha me chamado para cantar os parabéns, mas ela mesmo não estava lá. Ela sumiu de novo. Começamos a cantar o parabéns, aquela típica música sem graça que me traz mais e mais lembranças de Angie. Como eu odeio tudo isso que está acontecendo.

Queria poder fazer algo para voltar e impedir que Angie saísse de casa naquele dia ou então pelo menos para que eu fizesse algo quando estávamos naquela casa. Eu sou um idiota. Para que eu fui naquela reunião idiota? Por que eu não acompanhei Angie? Por que eu não fiz algo naquela casa? Por quê? O que adianta ficar pensando nisso agora, né? Agora que a burrada já foi feita, aliás, foi feita há muito tempo.

Sempre penso nisso. Toda vez que alguma lembrança de Angie vem eu penso nisso. E às vezes é nos piores momentos, tipo agora. No meio dos parabéns de George eu penso nisso. Só paro de pensar nisso quando alguém fala comigo ou me chama. Por sorte que me chamou dessa vez foi Violetta, que já estava acostumada com isso.

–Pai! Pai!-Violetta estava me segurando pelo braço. Percebi que já tinham cantado parabéns, eu não prestei atenção em nada, o que sempre acontecia se ninguém falasse comigo. Eu ficava horas e horas pensando caso ninguém me chamasse. Ela estava cortando o bolo.

–Sim, Vilu?-Disse balançando a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos, mas eu sei que eles voltariam uma hora ou outra.

–Angie de novo?-Violetta perguntou e eu apenas balancei a cabeça. Ela me entendia, ou pelo menos acho que entendia.

Depois de cortar o bolo Violetta sumiu de novo. George voltou a ser paparicado pelos convidados. Eu voltei a ser deixado de lado. Legal.

Mais um tempo depois resolvemos abrir os presentes. Ao contrário do que seria para mim, os presentes eram bem legais. Bonecos, bolas, carrinhos e obvio que também tinham roupas. Podia perceber a felicidade dele quando via os brinquedos, mas quando via roupas... Ele jogava para o lado e pegava outro presente. Não era uma coisa muito educada, mas chegava a ser engraçado. Como o bom pai que sou chamei a atenção dele e ele parou de fazer isso. Angie iria achar engraçado, mas também iria chamar a atenção dele e... Para! Para! Vou acabar tendo aqueles pensamentos de novo.

Quando George terminou de abrir os presentes, a maioria dos convidados foi embora. Essa foi definitivamente a melhor parte da festa. Só restaram Pablo e Jade. Uma coisa estranha era que depois disso Violetta parou de sumir.

Ficamos conversando um pouco na sala, na verdade Pablo, Violetta e Jade ficavam conversando. Eu ficava brincando com George no chão da sala.

–Então Violetta-Pablo disse- Vai fazer o show amanhã, não é?

–Sim, eu vou- Ela respondeu.

–Que coisa boa, Vilu! Vai ser aonde?-Jade perguntou.

–Vai ser em Madrid. Ainda estou com o U-Mix. Vocês devem saber.

–Sabemos sim. Você vai viajar amanhã bem cedo, né?- Pablo perguntou.

–É, bem cedo- Ela respondeu.

–Vai ser bom para aliviar a cabeça de vocês de tudo isso-Pablo disse e olhou para mim.

–Ah! Papai não vai ao show não- Violetta disse um pouco cabisbaixa. Eu não podia e nem queria ir... Não com Angie no hospital.

–Por que não vai Germán?-Pablo perguntou.

–Eu não posso deixar Angie sozinha-Disse ainda brincando com George.

–Mas ela não vai ficar sozinha. Eu garanto! Eu vou lá todos os dias e te deixo a par de tudo- Ele tenta me convencer. Mas não, eu não vou de jeito algum.

–Não Pablo, eu preciso vê-la. Me desculpe, mas eu prefiro ficar-Disse.

–Mas é o show da sua filha, aposto que ela vai ficar chateada-Jade se intrometeu. É, não pensei na Violetta.

–Não, podem deixar. Eu vou ficar bem, afinal, é só um show. Terão vários outros-Vilu disse. Me senti melhor.

Pablo e Jade ficaram tentando me fazer ir, mas eu estava decidido. Eu vou ficar. Como Violetta mesmo disse, terão outros shows e nesses outros shows Angie estará lá.

–Então, nós temos que ir... Depois nós voltamos para ver esse garotão-Pablo disse se levantando do sofá e pegando George no colo.

–Tudo bem, espero vê-los em breve-Disse me despedindo deles.

Eles foram embora. Agora finalmente estávamos sozinhos. Uma coisa que me deixou definitivamente aliviado. Depois de tudo que aconteceu evitava ao máximo o contato com as pessoas, exceto Violetta e George. Evitei contato até com Olga e Ramalho. Mas isso não queria dizer que eu não tinha contato com as outras pessoas, isso apenas me deixava angustiado. Não entendo porque.

Violetta foi para seu quarto e eu fui levar George ao seu. Vesti um pijama nele e depois o coloquei no berço. O esperei dormir, o que não demorou muito. Antes de ir para o meu quarto fiquei o observando dormir. Uma das coisas que eu mais gostava de fazer era observa-lo dormir, ele me transmitia tranquilidade e além de tudo com os olhos fechados não me lembrava de Angie.

–Pai?-Violetta apareceu na porta tirando minha atenção de George.

–Sim?

–Tem certeza que não vai ao show amanhã?-Ela perguntou.

–Vilu, eu já disse... Não quero ir... Você sabe-Disse cabisbaixo.

–Tudo bem, então vou me despedir de uma vez... Vou acordar bem cedo amanhã e talvez você esteja dormindo-Ela disse e me abraçou.

–Está bem então, mas é uma pena que George dormiu-Disse me soltando do abraço e olhei para ele no berço.

–Sim, mas ele estava tão agitado hoje que devia estar morrendo de sono-Dei uma risada-Então, eu vou dormir. Boa noite-Ela me deu um beijo na bochecha e saiu.

Fiquei mais um tempo observando George dormir e fui para o meu quarto. Me direcionei ao guarda-roupa e vesti um pijama. Fui ao banheiro, escovei meus dentes e voltei ao meu quarto. Me deitei, mas obviamente não consegui dormir então fiquei olhando para o teto como fazia quase todas as noites.

–Amanhã. Amanhã vai tudo dar certo-Sussurrei para mim mesmo e tentei achar uma posição confortável na cama. Consegui dormir com a imagem de Angie na cabeça.