6 minutos...

360 segundos para o fim... e talvez, para o meu recomeço.

O mar está agitado, de olhos fechados sinto a leve brisa salgada bater em meu rosto. Por mais que eu seja grata por essa sensação, por mais que eu seja grata por ter a oportunidade de respirar, de ouvir, de sentir...de viver, eu recordo dele.

E em meio a felicidade, sinto uma pontada de tristeza, aquela brisa salgada que bate em meu rosto afasta uma lágrima teimosa que escapou do meu controle, e eu a deixo descer. Lembrando dele meus braços pesam ao lado do meu corpo, e a dor invade meu coração, fazendo todo meu ser tremer.

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Olho para a lua, o céu está tão bonito, o clima está tão gostoso, as pessoas estão tão alegres, parece uma ofensa a beleza que a noite de hoje exala e ele não está aqui, comigo. Nunca vou me acostumar com sua partida, nunca vou me acostumar com sua ausência, uma ausência que nunca mais será presença...Nunca vou me acostumar com sua morte.

E nesses 360 segundos restantes desse ano tão feliz que ao mesmo tempo foi tão doloroso, minha mente continua relembrando a maldita noite.

Flashback on

— Quem diria que essa biscate da Atena iria aparecer? – disse a víbora ruiva, rodeando o corpo desmaiado da minha mãe – Você Annabeth, teve a quem puxar, teimosa e burra igual a mãe.

Melissa e seu capanga tinham nos levado para uma casa abandonada no meio de uma floresta, Dylan havia nos encontrado, o que fez meu medo se intensificar. Estávamos em uma espécie de celeiro e já estava a noite.

— Pelo menos é corajosa – Dylan zombou, cutucando minha mãe com o pé. Eu queria levantar e socar sua cara até virar carne moída, mas estava fraca e a beira da morte praticamente – Mesmo sendo ameaçada, ainda teve a coragem de dar as caras.

A ruiva apenas revirou os olhos.

— Bom que já acabamos com o pacote completo – disse sorrindo cruelmente e caminhando em minha direção, seus saltos ecoavam naquele espaço – Ah! doce Annabeth, você teria me poupado esse trabalho todo se tivesse apenas feito sua parte, não haveria mortes e a essa hora já estaríamos longe, com nosso próximo alvo.

Ela se agachou perto de mim, passando a mão no meu corte perto dos lábios e o apertando, me fazendo gritar de dor. Cuspi em sua direção.

— Vá para o inferno – falei tão fraca, que foi até patético – Você teria os matado de qualquer jeito.

Ela riu diabolicamente, e empurrou minha cabeça ao chão, apenas com força para meu corpo tombar. A cobra estava brincando comigo.

— Verdade – concordou – Iria matá-los igual aconteceu com seu papaizinho.

Gritei tentando me levantar, mas em vão, ela apenas me empurrou novamente.

— Ele era um patético – disse rindo – Como foi mesmo Dylan? Conta pra gente como foi que matou aquele imbecil.

Dylan se aproximou, colocou os braços atrás do pescoço como se relembrar aquela cena o divertisse.

— Bom, a senhora quer a parte que ele implora pela vida por causa da sua garotinha ou a parte que eu atiro e ele cai todo ensanguentado, com o brilho indo embora?

Ambos riem e aquilo entra no meu ouvido com uma navalha, me cortando em pedaços sem anestesia. A dor que eu sentia não chegava nem aos pés da dor que essa sensação da navalha me trazia. Meu coração parou e eu desejei morrer ao ouvir aquele deboche com a morte do homem que mais amava na vida. Eu não tinha forças para reagir, então só fiquei parada, deixando essa dor tomar conta.

— Mas chega, agora me diz onde está a porcaria da pedra – Melissa gritou brincando com a arma na nossa direção. Percy que estava a minha frente de joelhos, cuspia sangue e estava visivelmente sem forças para suportar o peso do próprio corpo, pois o mesmo balançava de um lado para o outro, seus olhos estavam quase se fechando e eu rezava para isso não acontecer. Seus punhos estavam feridos pelo nó das cordas que fizeram para não escaparmos.

Melissa não precisaria me matar, eu já estava morta vendo aquela cena. Parecia que minha consciência estava em outro plano, eu escutava tudo porém as vozes, os gritos, os sons, estavam todos distantes e sumindo. Minha própria visão estava ficando escura e embaçada, sentia o gosto metálico de sangue na boca, devido os tapas que a víbora me deu. Meu corpo doía, eu queria reagir, mas estava paralisada, já não tinha mais forças nem para chorar.

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Minha mãe estava desacordada ao meu lado, também sangrava e tinha hematomas e eu não conseguia encará-la, pois tinha medo de encontrá-la morta, logo agora que nos resolvemos, que eu ganhei meu colo de mãe. Não podia estar acontecendo isso.

Pensei em Poseidon imóvel naquela poça de sangue, Melissa tinha planejado tudo para pensarem que tinha sido eu e Percy que o matou e logo em seguida fugimos e nos matamos, e ela pediu para um dos seus capachos darem um jeito nele, que segundo a cobra estava morto e meu coração partiu seu último pedaço e logo seríamos nós. Ela só não contava com o retorno de Atena, então ainda estava bolando um plano para sumir com seu corpo.

— Eu não sei onde está – Percy falou em um sussurro dolorido, sua respiração se agitou mais com esse mínimo esforço. Dylan que estava de cúmplice com Melissa, lhe socou mais uma vez, fazendo a cabeça do meu moreno se virar e seu corpo cair, vi o sangue espirrar na parede e gritei, me pondo de pé com esforço e cambaleando em sua direção, ter minhas mãos amarradas nas costas e ter levado uma surra só piorava o equilíbrio. Ouço a risada áspera de Dylan e sou surpreendida com um empurrão, me fazendo cair de costas ao lado de Percy. O impacto do meu corpo no chão, fez com que o ar me faltasse.

Virei minha cabeça para o lado, encontrando aqueles olhos verdes que tanto amava. Será que era a última vez que eu os veria? E se fosse? Eu não estava preparada, tinha tanta coisa para vivermos juntos, ele não podia me deixar. Tínhamos combinado de passar o ano novo na praia, tínhamos combinado de meia noite selarmos nosso recomeço com um beijo. Ele tinha que saber que eu o amava com uma intensidade fora do normal e que eu acredito na sua versão da história, ele tinha que saber que fui um jumento por não acreditar, que agir com imaturidade, que estava arrependida, que eu o queria e iria o incluir em todos os meus planos. Eu precisava contar pra ele sobre minha mãe, eu precisava ensinar ele a jogar basquete e andar de skate, assim como ele precisava me ensinar mais sobre o amor. Deuses, tínhamos uma vida pela frente, mas com dor no coração, eu me contento se ele sobreviver e viver tudo isso, eu estaria pronta para sacrificar minha vida por minha mãe e por ele. Tudo que eu desejo é que ficassem bem e felizes, só isso que me importa.

Uma lágrima desceu em seu rosto, assim como no meu.

— Me perdoe – sussurrei com dificuldade devido as dores – Eu estava voltando pra você, pra te pedir perdão por ter duvidado e...

Com o rosto inchado e cheio de sangue, ele ainda conseguiu sorrir fracamente e eu me derreti, queria beijar seus lábios, sentir seu cheiro, ficar no seu abraço. Deuses, eu o queria tanto.

— Guarda seu pedido de desculpa pra quando sairmos daqui Sabidinha – sua voz estava rouca e falhando, mais lágrimas mancharam meu rosto. Eu aguentava qualquer agressão, aguentava qualquer surra, mas não aguentava ver o cara que eu amava passando por isso. Eu apenas assenti, tentando sorrir, mas eu sabia que íamos morrer.

— Ah! Os pombinhos são tão lindos – Melissa debochou, se agachando ao meu lado e me puxando pelos cabelos, grunhir de dor. Percy tentou se levantar, mas Dylan o segurou colocando um pé em cima do seu peito – Pena que vão morrer se não me derem a pedra. Anda – gritou puxando meu cabelo mais ainda – Onde ela está, será que preciso matar um de vocês pra agilizarem? – falou entre os dentes apontando a arma para o Jackson.

— Não – tentei gritar em pânico, recebendo um olhar de desespero de Percy, ele também sabia que quando a gente falasse, íamos ser mortos no mesmo instante, mas eu estava ganhando tempo pra ele e pra Atena – Eu falo, mas antes quero saber o por que disso tudo? Por que não se contenta com o que tem? Quantos homens você já roubou Melissa? Quanto dinheiro você já não tem? Então qual o motivo pra sempre querer mais?

Melissa riu, soltando meu cabelo de forma brusca e se levantando, desfilando na nossa frente.

— Simples minha querida – disse dando de ombros – Porque homens não prestam. A sorte nunca sorriu pra mim, eu também já morei na rua e já passei fome – disse ela parando e encarando a arma – Minha mãe, aquela vadia sempre gastava seu dinheiro com o desgraçado do seu marido, mesmo ele batendo nela – a ruiva fechou os olhos e soltou um suspiro infeliz – e em mim...

Meu rosto doeu pela expressão de surpresa que fiz. Então ela continuou caminhando e sorriu amargamente para um ponto fixo.

— Quando ela perdeu o emprego e virou alcóolatra, aquele homem teve a brilhante ideia de me transformar em uma mercadoria de aluguel para seus amigos ricos e imundos – surpresa, vi uma lágrima cair desmanchando sua expressão dura, mas não durou nem um segundo. Nesse momento toda raiva que eu sentia, transformou em pena. Uma garotinha que teve o corpo violado, eu sabia o que era ser silenciada e imaginava sua dor.

— Até que decidi sair de casa – Melissa riu de forma assustadora – Ah, querida! Nas ruas a situação consegue ser ainda pior – a mulher encarou as unhas dando de ombros, como se fosse uma situação normal – Eu tinha que matar a fome, então usei o que aprendi. Modéstia a parte, eu sou linda – a ruiva riu passando a mão nas suas curvas marcadas pelo vestido vermelho que usava – Tinha a beleza a meu favor, já sabia transar, era o pacote completo para atrair homens ricos e infiéis.

Melissa contava como se estivesse contando que foi fazer compras em um shopping, era inacreditável sua frieza, mas também era uma forma de autodefesa em meio a tanto sofrimento.

— Mas por que matá-los? – perguntei incrédula, cerrando os dentes pela dor que estava sentindo ao respirar. Anda, precisava chegar logo, eu não ia conseguir enrolar mais tempo.

— Porque faz parte da diversão querida – disse rindo – E também porque não prestavam.

— Esse era o padrão de escolha? Meu pai não era rico, Poseidon não era do tipo que trai – falei rezando aos deuses para que desse tempo.

Melissa revirou os olhos e deu de costas, voltando a caminhar. Deixou a arma em cima de um monte de pneus e passou a encarar as unhas.

— Seu pai me enganou – contou com a voz carregada de raiva – Aquele desgraçado me disse que estava prestes a receber uma herança bem gorda, mas essa merda era apenas livros de história.

Sorrir com dificuldade, cada mínimo movimento que eu fazia, era inundada de dor.

— Quando a Poseidon, era rico e estava de coração partido, o tornando um ponto vulnerável.

Ao meu lado, ouvi Percy praguejar e Dylan o apertou ainda mais com o pé.

— Chega de papinho – automaticamente seus olhos se escureceram – Agora me conta onde está a maldi...

E ela parou bruscamente, sua expressão foi de cruel para terror em poucos segundos. Rapidamente ela olhou para Dylan e para o outro homem que estava parado na porta, ambos tinham a mesma expressão.

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Era o som de sirenes e passos correndo. Sorrir, tinha dado certo. Melissa me encarou.

— O que você fez desgraçada – gritou. Dylan e o homem correram para o fundo do celeiro pulando uma janela que tinha lá.

— Xeque-Mate querida— consegui dizer caindo na gargalhada, talvez eu tenha enlouquecido, mas eu estava tão em êxtase que as dores faziam apenas cócegas.

No caminho a casa de Percy, mandei mensagem para Rafael falando o que estava indo fazer e que estava com um má pressentimento, então se eu não desse notícias em 2h, era pra ele acionar a polícia, passei meus dados de rastreio e coloquei o celular no silencioso dentro da calcinha. Só rezei para que o lugar que ela nos levasse, pegasse sinal.

— Aqueles idiotas não revistaram vocês? - gritou a cobra incrédula. Melissa estava paralisada de pavor, ouvíamos vozes chamando meu nome e de Percy se aproximando. Em um ato inesperado, a ruiva pega a arma e aponta para o Jackson, meu corpo reage no mesmo momento e pulo em cima dele ao escutar a arma ser disparada.

Por fim, eu só lembro do rosto de Luke se aproximando desesperado, as cores das sirenes no fundo, deixando minha visão embaçada e a voz fraca de Percy falando meu nome, enquanto sentia um líquido quente no meio de nós; sangue.

Mas embriagada pela adrenalina e desespero, não conseguir distinguir quem levou o tiro e apago, rezando para que eu fosse no lugar do meu Percy.