I Knew You Were Trouble

Resolvendo alguns problemas e ganhando outros...


I remember years ago

Someone told me I should take

Caution when it comes to love, I did

And you were strong and I was not

My illusion, my mistake

I was careless, I forgot, I did

Eu me lembro de anos atrás

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Alguém me disse que eu deveria ter

Cuidado quando se trata de amor, eu tive

E você foi forte e eu não

Minha ilusão, meu erro

Eu fui descuidada, eu esqueci, eu esqueci

Impossible - James Arthur

Observo o céu e vejo como ele está lindo. Um céu azul claro com nuvens fofas de algodão bem branquinho. Rio mentalmente por ter um pensamento tão infantil como esse.

— Vamos, mamãe. – Abaixo meu olhar para a criança loira que puxa meu vestido florido e sorri abertamente para mim. Seu cabelo cai em seu rosto por causa dos cachinhos, as bochechas são rosadas e gordinhas, seus olhos são grandes e azuis; a pequena mãozinha continua a puxar meu vestido e me chamar – Vamos, mamãe! – Ele fala um pouco mais impaciente e resolvo o seguir. Vamos para um caminho de pedrinhas, no horizonte vejo a silhueta de alguém acenando, a criança se agita e puxa minha mão enquanto seus passos se apressam mas, com as perninhas gordinhas ele apenas se atrapalha, acabo o segurando com mais força pela mão para evitar possíveis tombos e, quando vamos nos aproximando, o céu que prometia dias melhores se fecha acima de nós e a criança se desespera.

— Espera, papai! – Diz o garotinho. – Papai! – Grita, mas a pessoa o ignora e se vira indo embora. O céu está totalmente escuro e parece nos engolir, vejo alguns trovões na direção que o homem seguiu, abaixo-me e abraço seu corpinho pequeno.

— Acalme-se, querido. – Falo para ele, buscando uma voz forte e segura mas encontrando uma voz rouca e arranhada. – Vamos ficar bem! - Digo, abraçando-o mais forte, mesmo que eu mesma não acredite em minhas palavras e tente disfarçar o tremor que abate meu corpo.”

Acordo meio sobressaltada por causa do pesadelo, olho ao redor e tento descobrir onde estou. Vejo paredes brancas com uma faixa azul claro no meio, uma poltrona ao meu lado esquerdo na maca e, do outro lado, um soro ligado ao meu corpo. Estou na enfermaria da faculdade, concluo. Tento me sentar mas minha cabeça lateja, fazendo-me voltar para a posição inicial. Percebo uma porta bem a minha frente e ouço vozes do lado de fora o que faz eu me concentrar para entender o que as pessoas estão falando.

— Sua amiga tem que tomar mais cuidado, Annie. - Reconheço a voz de Mags, a enfermeira, de imediato. Ela era uma senhora meiga e bondosa. – Isso pode fazer mal para o bebê, você sabe.

— Eu sei, Mags, ela só está estressada com tudo o que está acontecendo. - Annie responde, com a voz um pouco hesitante e preocupada.

Elas trocam mais algumas palavras que não consigo discernir e logo ouço passos, a porta range e fecho meus olhos.

— Annie...

— Agora não, Mellark. – Ela responde ríspida, acariciando meus cabelos.

— Por favor, Annie, o que está acontecendo? – Ele pede, em um quase sussurro.

— Ela está grávida, não entendeu? – Ela responde, seca afastando-se da cama. – E você nem deveria estar aqui, Mellark!

—Eu sei, eu sei… Mas é complicado.

— Complicado? Complicada é a situação da Katniss! – Ela faz uma pausa. – Complicado é nós duas mal termos dinheiro, uma criança a caminho e uma casa em péssimas condições. Pare de se colocar em posição de vítima aqui, Mellark, esse papel não lhe cabe! Hoje eu não estou disposta e muito menos tenho paciência. - Ela pausa e escuto a respiração pesada dos dois. - Eu realmente achava que você gostava dela mas, pelo visto, foi só mais uma na sua listinha.

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— Claro que não, Katniss é diferente das outras.

— Bom, não parece, já que você mal saiu do encontro com ela e já está se agarrando com a queridíssima “Glitter” por ai. – Ela fala sarcástica, dando ênfase ao final da frase.

— Você não entende, Annie...

— Não entendo mesmo, Peeta. – Ela o corta. Escuto passos e logo sinto uma mão sua em meus cabelos e a outra mão vai de encontro com a minha mão, acariciando-a com o seu polegar. – E se você puder dar licença, quero ficar com minha amiga.

O silêncio se faz presente por um tempo e meu coração quer saltar pela boca. Ouço um suspiro sôfrego e passos se afastando.

— Annie… – A voz de Peeta ecoa pelo quarto.

— O que foi?

— Quem é o pai? - Então a pergunta de um bilhão de dólares foi feita. Meu coração, em poucos segundos, parece parar e acelerar, sinto ele pulsando praticamente na minha garganta. Eu quero morrer, ó céus!! Annie não pode contar, aperto sua mão levemente e torço para ela entender o recado. Ela suspira profundamente e retribui o aperto.

— Isso você terá que perguntar a ela.

Depois do que parece uma eternidade, ouço a porta do quarto bater e abro os olhos rápido, virando-me para encarar o par de olhos da minha amiga, que está com uma expressão estranha no rosto. Procuro minha voz, mas ela desaparece. Depois de alguns minutos em silêncio, ela solta:

— Eu não acredito que aquele cretino não sacou que ele é o pai! – Esbraveja ela, andando de um lado para o outro do quarto. – Meu Deus, é só ligar os pontinhos! Que burro! Como ele está cursando qualquer coisa nessa faculdade?

— Calma, Ann. – Peço, sentando-me e ignorando minha cabeça que parece que irá explodir a qualquer momento de tanta dor.

— Calma? Eu é que não sei como você consegue manter a calma, Katniss! Como ele consegue ser tão tapado? – Ela praticamente grita, jogando-se na poltrona ao meu lado. Ficamos em silêncio mas sei o quanto eu e Annie estamos com o pensamento a mil. Ela sussurra meu nome, como se não pudesse o falar mais alto que aquilo, mas já sei o que ela está pensando.

— Eu vou contar para ele, Annie. – Respondo sua pergunta silenciosa, sinto meu coração disparar e a porta se abre, revelando Mags com sua prancheta.

— Parece que nossa bela adormecida acordou. - Ela dá um sorriso afetuoso, calmo e meigo, tudo o que uma mãe deveria passar para um filho ao sorrir e sinto vontade de chorar, mas apenas me calo e sorrio de volta, colaborando com o exame e com o questionário que se sucedem.

*

Assim que Mags me libera, Annie me leva para casa mas estou com os pensamentos tão longe que nem ouço o que a mesma diz durante o trajeto, ela parece perceber e a conversa morre ali mesmo. Assim que chegamos em casa, dirijo-me pra o quarto e me jogo de bruços na cama. Annie nem questiona, apenas fala que vai sair para buscar comida e me deixa sozinha. Tento colocar meus pensamentos em ordem sobre o que está acontecendo nos últimos dias e logo lembro que não vai dar para esconder para sempre, que mais cedo ou mais tarde vou ter que contar para os meus pais, para Peeta, as pessoas veriam, comentariam. Viro-me para o teto e encaro o mesmo que está desbotado, sujo e manchado de mofo em alguns lugares. O desespero bate em minha porta, entra, senta no sofá e até bebe um pouco de café comigo.

O que eu irei fazer?

Minha respiração se altera, minhas mãos tremem, meus olhos pinicam.

Fecho os olhos com força e empenho-me em controlar a minha respiração.

Inspirar, segurar, expirar. Inspirar, segurar, expirar. Inspirar, segurar, expirar.

Quando me acalmo, racionalizo um pouco a situação. O que vai adiantar esconder dos meus pais? Não posso esconder dos meus pais, eles merecem saber. Pego o telefone e aperto o 1 da discagem rápida. Enquanto o telefone chama, parece que meu coração vai sair pela boca e todo o meu trabalho para controlar a minha respiração cai por terra.

— Alô. – E como uma gatilho, meu choro volta com força total.

— Ma… Ma… Mãe. – Gaguejo, em meio aos soluços.

— Katniss, querida, o que houve? – Ela questiona, visivelmente preocupada. – Katniss, o que aconteceu? Você está bem? Cadê a Annie? Katniss!

— Ah, mãe… Mãe, aconteceu uma coisa. – Hesito, enquanto entro e me encolho dentro do cobertor.

— O que foi? Você está bem?

— Mãe… Eu… Eu estou grávida. – Solto a bomba em meio aos soluços e o silêncio se instala no telefone mas eu me nego a falar alguma coisa todavia, mesmo que eu quisesse, não teria voz alguma para falar qualquer coisa.

— Oh meu Deus! – Ela exaspera.

— Desculpe-me, mãe, eu não queria te desapontar. - Falo, ainda chorando, mas um pouco mais calma.

— Não diga isso, querida, você nunca me desapontou. – Ela respira fundo várias vezes. – Parece que serei vovó, não é mesmo? – Ela solta uma risada forçada. – Quantos meses?

— Algumas semanas.

— Como você está, querida? Já foi ao médico?

— Eu estou com tanto medo, mãe, eu não sei o que fazer! Eu não sei se consigo...

— Não fale isso! Você é forte, é uma Everdeen, está no seu sangue, você consegue sim. Agora me conte, como isso aconteceu?

Conto para ela tudo, desde quando o maldito Mellark entrou em minha vida até quando aceitei seu convite para jantar. Ela fazia alguns comentários e a poupei dos detalhes sórdidos. Ela, então, explica o que fazer nos primeiros meses e como controlar os enjoos matinais. Saber que minha mãe apoia minha decisão de manter o filhos me deixa mais leve e confiante.

— Como vou contar isso para o papai? – Pergunto, sobressaltando-me e sentindo um nó se formar em minha garganta.

— Do seu pai cuido eu, não se preocupe com isso, não pode ficar se estressando por coisas bobas, todo cuidado é pouco com um bebê. - Ela pausa um pouco, hesitante. - Mas, conte-me, Katniss, já contou para esse tal de Peeta sobre a gravidez? – Sua pergunta me pega desprevenida, fazendo-me tossir.

— Não, ainda não... Acho que não irei contar, mãe.

— Como assim?

— Ah, mãe, acho melhor não contar, assim não atrapalho a vida dele.

— Katniss, pare de ser egoísta e pensar só em você. Não é porque você não se dá bem com ele e está toda essa confusão que você pode privar seu filho disso. Ele vai precisar de um pai e esse moço merece saber que vai ter um filho. Além do mais, é obrigação dele, você não fez isso sozinha, não é mesmo?! – Ela fala, irritada. – Não me faça ter que ir ai contar para o pai, Katniss!

— Tá bom, eu irei contar.

— É bom mesmo. Bom, minha querida, tenho que voltar para a loja mas me ligue sempre que precisar e vou te visitar ainda esse mês.

— Ok, te amo, mãe.

— Te amo, docinho.

Assim que ela desliga, sinto-me mais leve e calma. Sei que de pouquinho em pouquinho as coisas vão se ajeitar e ter um bebê não é o fim do mundo. Sinto que vou conseguir ter essa criança.

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Annie volta cheia de sacolas e se anima ao me ver na frente do computador pesquisando sobre gravidez e todas as medidas que devemos tomar, analisando todas as despesas que ter um bebê acarreta. Finalmente consigo falar mais abertamente sobre esse assunto com ela agora já que o aceitei por completo o fato consumado. Pensamos em como adaptar os cômodos, como comprar a mobília até a proteção que colocaremos na tomada para quando ele começar a engatinhar. Claro que ainda faltavam muitas coisas para cuidar de um bebê como o parto, as roupas, comidas, montar seu quarto, marcar pré-natal, conciliar isso com a faculdade e trabalho. Minha cabeça gira pensando em tantas coisas e responsabilidades de uma hora para outra mas tento me manter calma para não pirar de vez.

Conto para Annie sobre a ligação que fiz para minha mãe, detalho a conversa e ela fica feliz ao saber que minha mãe também apoia minha decisão. Quando terminamos o jantar, Annie junta-se a mim em frente ao computador para pesquisarmos mais. Planejamos as coisas na medida do possível e nunca pensei que iria ficar animada com tudo isso, são inúmeras coisas para pensar, comprar e mudar na casa mas estou confiante que irei conseguir. Sinto uma onda de boa vibração invadir meu ser e durmo tranquila comigo.

No outro dia trato de mandar uma mensagem para Prim contando sobre a gravidez. Ela reage muito bem, já se declarando a tia mais legal e que mimará o sobrinho até dizer chega. Conversamos durante algum tempo sobre o bebê e ela acaba me arrancando várias risadas. Quando mudamos de assunto e pergunto sobre seu namoro, ela fala que Rory é um inútil mas que o ama demais para terminar com ele, dando uma risadinha no final. Ela me conta que papai desmaiou quando a mamãe contou sobre a gravidez enquanto eles tiravam as coisas da mesa do jantar, resultanto em um pote de vidro quebrado e salada para todos os lados. Segundo Prim, mamãe não tinha conseguido contar antes, procurando coragem, mas os planos dela eram contar durante o jantar mesmo porém, por fim agradeçeu por ele não desmaiar e dar com a cara no prato de comida. Dou risada, mas no fundo fico preocupada com o que ele falará assim que conversarmos. Finalizamos a chamada e eu vou tomar banho.

Enquanto fazia algo para eu e e Annie comermos, meu pai me liga e fala que ainda vou continuar sendo sua menininha, mesmo que eu cresça e tenha trinta filhos. Meus olhos se enchem de lágrimas ao ouvi-lo dizer que vai me apoiar em todos os momentos da minha vida e agradeço aos céus pela família que eu tenho.

*

Resolvo marcar minha consulta para ver como o bebê está, indo até o consultório a pé, aproveitando a oportunidade para caminhar um pouco ao ar livre, sinto a brisa bater na minha face e uma paz tomar conta de mim. Ao sair da clínica, percebo que estou conseguindo dar um passo de cada vez, o que me deixa feliz mas, ao lembrar-me de que terei que passar no Trinket's um frio passa pela minha barriga, insegura por não saber se eles me demitiriam ou não contudo, ao explicar a Effie e Haymitch minha situação, ela me abraça e diz que vai me ajudar em tudo que precisar e Haymitch sorri afetuoso, passando-me calma. Eles tentam diminuir minha carga horária mas os convenço que consigo dar conta nos primeiros meses. Eles me fazem prometer que ficarei apenas no caixa e que os outros conseguiriam fazer minha parte. Recebo uma abraço de Tresh na saída, falando que posso contar com ele. Todo esse tratamento faz meu coração se encher de alegria porque vejo que não estou sozinha, meu bebê não está sozinho.

*

Chego em casa, tomo banho e tiro um cochilo, quando acordo, constato que são duas da tarde. Penso em qualquer coisa para fazer, tentando postergar ao máximo o momento de encontrar Peeta mas, após meia hora sem nenhum serviço ou necessidade vindo na minha cabeça, vejo que não tenho mais o que fazer, tenho que encontrar Peeta. Ele merece saber. Então resolvo ir até sua casa. Arrumo-me e aviso Annie da minha decisão, ela apenas assente com a cabeça e me abraça. Pego minha bolsa, dirijo-me a porta, respiro bem fundo e assim que abro a mesma dou, de cara com Peeta parado na frente dela.

— Oi, Katniss, podemos conversar? – Depois de um tempo estática no mesmo lugar pelo susto e pela coincidência, balanço a cabeça positivamente e abro passagem para adentrar meu pequeno apartamento. Sinalizo o sofá e nos sentamos, um de frente para o outro. Um silêncio mortal se faz presente até que somos interrompidos:

— Katniss, achei que fosse sai… - Annie entra na sala, despreocupada e, assim que percebe a presença de Peeta, para e se cala. - Bom, eu vou dar uma voltinha. – Diz, saindo pela porta rapidamente.

— Desculpe vir sem avisar. – Peeta fala, recobrando minha atenção para ele pois eu estava mesmo é com a atenção em Annie e pensando no quanto ela é sortuda por não estar nessa situação e poder sair agora sem peso nenhum nas costas.

— Sem problemas. – Respondo, torcendo a blusa de frio na minha mão.

— Bom.. Como posso perguntar isso? – Ele pensa alto, passando a mão nervosamente pelos cabelos. – Katniss, esse bebê é meu? – Levanto o olhar para seu rosto, meio assustada e com o coração na mão.

Ele sabe, minha consciência grita.

— Katniss, eu preciso saber, eu sou o pai dessa criança? – Ele pergunta, um tom mais alto e um pouco mais nervoso. Tento encontrar minha voz naquele meio de confusões e ansiedade que eu estou mas, nada sai e, então, balanço a cabeça positivamente. Ele abre e fecha a boca inúmeras vezes, afunda o rosto nas mãos. Depois de longos segundos ele levanta a cabeça e me encara.

— Por que não me contou antes? – Ele questiona, visivelmente irritado.

— Eu não sabia como contar, Peeta, não é simplesmente chegar e falar “Oi, você será pai”. - Respondo, seca e ele fica em silêncio. – Como você soube?

— Estão comentando na faculdade e Finnick havia falado que talvez poderia ser eu já que você não era vista com outros caras.

— Entendo. – Fico meio frustada por saber que estou sendo notícia nos corredores da faculdade. As pessoas souberam antes do pai, praticamente. O que era uma revista de fofoca perto de corredores de faculdades e escolas? Isso era, realmente, tudo o que eu precisava: meu bebê virar o foco daquele povo.

— O que você pretende fazer?

— O que acha? Vou ter a criança, ela não tem culpa de um descuido nosso. – Respondo, achando que isso era óbvio.

— Como?

— Vou ter a criança, Mellark. – Afirmo, encarando Peeta bem séria.

— Katniss, dever ter outra maneira. Não posso ser pai agora! – Ele exaspera e olho para ele perplexa. – Minha família vai surtar quando souber, eu sou muito novo, nós somos muitos novos.

—O que? - Pergunto, mais perplexa ainda.

— Katniss, não podemos ter essa criança, tem que ter outra maneira, talvez… - Ele deixa a frase pairar no ar, com ambos sabendo em como ela terminaria.

— Talvez o que? – Pergunto, irritada, não querendo acreditar no que ele estava deixando subentendido. Ele me encara. – Não, você não está pensando nisso.

— Katniss... – Ele se levanta e vem para perto de mim, afasto-me como se ele fosse algo tóxico, radioativo, encolhendo-me. – Você não está pensando direito...

— Você que não está pensando direito! – Exaspero alto indo para o outro lado da sala. – Eu não vou abortar, se é isso que você está sugerindo, ele não tem culpa disso.

—Katniss... – Ele tenta se aproximar e eu me esquivo novamente.

—Eu não acredito que você pensou nisso! – E as lágrimas aparecem. Ótimo, tudo o que eu precisava agora: chorar na frente do Mellark.

— Eu não posso fazer isso, eu tenho uma vida...

— E eu não tenho? – Grito, assustando-o. – Eu também tenho uma vida, uma faculdade para concluir, uma família para dar satisfação, você não sabe de porra nenhuma e vem me dizer “Como vai fazer isso?”? – Rio, sarcasticamente. – Você só precisava assumir, porque quem vai engordar, inchar, ter que sofrer na hora do parto sou eu, não você. - Exponho, secando as lágrimas que molham minha face.

— Eu só… Não posso fazer isso. Tente entender.

— Entender? Entender o que, Mellark? Que você não tem coragem de assumir o que faz? Que você é um filho da puta de um egoísta? - Digo, dirigindo-me a porta. – Esquece, Mellark, só sai daqui e nunca mais olhe na minha cara. – Abro a porta e aponto para o corredor com diversas portas iguais a minha.

— Katniss, escuta...

—Não quero ouvir mais nada, sai daqui por favor. Que vergonha por ter dormido com uma pessoa baixa como você, Mellark.

Ele caminha devagar, direcionando a porta com a cabeça baixa. Minha visão já está embaçada por causa das lágrimas e sinto que posso cair a qualquer momento de tanto que as minhas pernas tremem. Assim que ele passa, ele se vira e fala:

— Desculpe, Katniss. - Ele pede.

— Sai daqui! – Grito, empurrando o resto do seu corpo que ainda estava para dentro do apartamento para fora e praticamento batendo a porta na sua cara.

Arrasto-me até o sofá e me permito chorar abraçada comigo mesma, encolhida.

Nem tudo é um conto de fadas. Estava bom demais para ser verdade.

And now, when all is done, there is nothing to say

And if you're done with embarrassing me

On your own you can go ahead, tell them

E agora, quando tudo se foi, não há nada a dizer
E se você terminou de me envergonhar
Você pode ir em frente sozinho, diga a eles