I Knew You Were Trouble

O que aconteceu com o problema?


Quanto mais eu bebo, mais eu fico só
Todos teus problemas eu já sei de cor
Eu não quero mais beber assim
Na esperança de te ter pra mim

Álcool - Jão

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Consigo contar as gotas de água que escorrem pelo espelho do banheiro, sinto a água caindo sobre meus ombros, mas ao mesmo tempo me sinto anestesiada com os últimos eventos que ocorreram, a ligação estranha de Annie, Peeta bêbado e machucado na portaria do prédio, tantas coisas sem sentidos, tantas perguntas sem respostas.

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Inspiro profundamente tentando focar minha mente, me concentro no sabonete que está nas minhas mãos e consigo iniciar meu banho, após alguns minutos fecho o registro e pego a toalha que se encontra pendurada no box do chuveiro, me cubro e paro em frente ao espelho, penteio o cabelo com a maior calma que alguém pode ter ao fazer um ato tão corriqueiro, tento fazer que minha mente afaste os pensamentos da pessoa que se encontra jogada no meu sofá, tento não pensar nos seus machucados e nem como ele os conseguiu, mas parece que minha mente não concorda com meus planos, já que continua me lembrando dos seus lábios inchados e do olho roxo, me torturando e fazendo que meu coração se aperte, frustrada largo o pente e me direciono para o quarto.

Ando tão rápido para o quarto para não ter que encarar a figura de Peeta no sofá que quase bato de frente com a porta fechada, giro a maçaneta e empurro a porta que faz um barulho horrível pelos anos de uso, me encolho com o som e olho pela fresta verificando se Peeta acordou com o barulho mas o mesmo continua na posição que eu o deixei mais cedo, fecho a porta com cautela e me direciono para as gavetas pegando as roupas que preciso para me trocar, tento não fazer barulho enquanto arrumo algumas coisas que estão foras de ordem, tento relaxar mas não consigo parece que vou explodir a cada segundo que passa, sento na cama e encaro a porta buscando coragem de sair do quarto.

Katniss você precisa se acalmar!

Meu inconsciente grita, mas ainda sinto minhas mãos suando de nervoso, tento contar até 10 mentalmente, mas quando fecho os olhos e me empenho em me conectar com a tranquilidade ouço a porta da frente batendo e a voz da Annie encher o lugar, levanto em um salto e abro a porta indo de encontro a ela:

—Katniss – ela me chama adentrando a sala mas ao ver Peeta deitado ela para e se vira para a porta - Finnick vem aqui - chama ela fazendo que Finnick entre na sala, Peeta resmunga em seus sonhos e geme de dor ao tentar se virar no sofá, Annie leva a mão a boca ao ver o estado que se encontra o rosto dele.

—O que aconteceu? - pergunta ela se virando para mim e deixando a bolsa na poltrona.

—Quando cheguei do trabalho ele estava na portaria, caindo de tão bêbado e cheios de machucados, como ele falou que conhecia nos duas, o Fran deixou ele entrar e ficar, trouxe ele aqui para cima e deixei ele deitado já que não está em condições de se explicar – digo em um fôlego só enquanto olho para Peeta adormecido no sofá, Finnick se aproxima do amigo e o encara com o rosto aflito.

—Faz dois dias que estávamos procurando-o – diz ele e posso ver que suas mãos tremem, consigo sentir o tempo parando e o ar se atrapalhando para chegar nos meus pulmões tenho que me segurar para não despencar de encontro ao chão com essa notícia.

Sendo procurado há dois dias!

—Como assim? - consigo sussurrar, Annie vem ao meu auxilio quando percebe que estou branca que nem papel.

—Calma Kat, respira! - diz ela enquanto me guia para uma cadeira - Você não pode se estressar, lembre-se do bebê.

—Não quero me acalmar, quero que vocês me expliquem o que está acontecendo? - digo enquanto jogo meu corpo na cadeira.

—Podemos conversar isso amanhã - diz Annie procurando Finnick com os olhos

—Também acho – diz Finnick se virando para mim

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—Não quero conversar isso amanhã, quero que me expliquem agora – digo já irritada com toda essa situação, Peeta estava sumido há dois dias e ninguém me falou nada.

—Katniss, acho melhor você ir descansar – diz Finnick.

—Parem com isso – digo elevando a voz - Não preciso descansar, preciso que vocês me expliquem o que aconteceu com o Peeta – cruzo os braços e encaro os dois

—É melhor contarmos para ela – concorda Annie.

—Bom, por onde posso começar - Finnick passa as mãos pelo rosto e se senta na poltrona – Faz alguns dias, semanas que o Peeta está estranho, começou com ele voltando tarde para casa ou chegando extremamente bêbado, eu realmente não me preocupei com isso, achei que ele precisava de um tempo para colocar a cabeça no lugar com tudo que está acontecendo – diz ele olhando para minha barriga e depois desviando o olhar para o outro lado – mas aí ele começou a não voltar para casa, não dar notícias, faltar nas aulas, o coordenador do curso dele me procurou para falar que ia ter que tirar o Peeta da iniciação científica por ele não estar comparecendo nas aulas e nas reuniões, o Peeta pode ser uma pessoa difícil e mulherengo mas ele sempre foi focado nos estudos, só que ultimamente eu não reconheço ele, toda vez que tentei conversar com ele acabamos brigando, ele não conversa mais comigo ou com Cato, está distante. - Ele faz uma pausa olhando perdido para as paredes, sinto Annie se levantar do meu lado e ir para o lado dele, ela passa as mãos pelos seus ombros e sussurra alguma coisa em seu ouvido e ele apenas concorda com a cabeça.

—Há dois dias, Peeta saiu e não voltou para casa – prossegue Annie — Como isso estava sempre acontecendo Finn não se preocupou, achou que de manhã ele voltaria, só que ele não voltou, tentamos ligar para o celular dele mas só caia na caixa postal, no outro dia de manhã a polícia foi até o apartamento deles informando que encontraram o carro de Peeta destruído em uma estrada na interestadual e o celular estava junto, ficamos super preocupados e com medo de ter acontecido alguma coisa, então começamos a procurar por ele pela cidade, fomos em alguns bar que ele frequentava, mas não encontramos nada.

Meu coração está batendo tão rápido no meu peito que chega doer, minha cabeça está a mil, milhares de cenas passam na minha cabeça como se fosse um filme. Peeta sendo machucado, Peeta sofrendo, Peeta com medo, e a pior de todas: Peeta sendo morto, as lágrimas escorrem dos meus olhos antes que eu consiga perceber que estou chorando, tento me acalmar e lembrar que ele está a menos de dez passos de mim, dormindo que nem uma pedra, mas logo minha aflição vira raiva, estou irritada, estou chateada, estou brava com Peeta por ter sumido por dois dias, por estar se embebedando por aí, por estar todo machucado e por estar dormindo invés de se explicando, estou irritada com Annie e Finnick por ocultar o que estava acontecendo, brava por eles terem mentido, estou irritada comigo mesmo por estar brava e preocupada com Peeta Mellark.

—E porque vocês não me contaram o que estava acontecendo? - digo com a voz saindo arranhada e chorosa, Annie faz menção de vir para meu lado, mas apenas aceno para que ela fique onde está - Eu merecia saber – digo extremamente irritada e magoada.

—Katniss por favor, não te contamos porque isso poderia fazer mal para o bebê - diz Finnick se levantando - não queríamos te deixar preocupada ou estressada por pouca coisa.

—Pouca coisa? Finnick ele estava desaparecido! – eu quase grito de raiva

—Eu sei, eu sei, me desculpe não era isso que eu queria falar – diz ele andando de um lado para o outro da sala extremamente frustrado consigo mesmo.

—Kat não te contamos porque a situação entre vocês não estava boa, depois daquele dia e achamos que você não ia se importar de não saber.

—Não ia me importar? - digo agora mais brava que antes - Não é porque aquilo aconteceu que eu ia querer o mal do Peeta e mesmo ele não querendo... - as palavras travam na minha garganta e um gosto amargo se junta na minha boca, respiro – Mesmo ele não querendo ele continua sendo o pai dessa criança.

—Me desculpa amiga, eu só não queria te deixar preocupada.

—Eu sei – o silêncio se instala entre nós três, cada um perdido em seus próprios pensamentos e na sua própria amargura, o ressoar da geladeira e o sono conturbado de Peeta são os únicos sons que ouvimos por alguns minutos até Finnick se sentar e voltar a falar:

—Pensávamos que o pior tinha acontecido já que não encontramos ele em lugar nenhum e não tínhamos nada além de um celular quebrado e um carro destruído, mas hoje de madrugada ele me ligou de algum telefone público, a ligação estava horrível e com muita interferência não conseguia entender nada o que ele falava, apenas o ouvir chamando seu nome e falando sobre alguma coisa sobre cachoeira.

—Chamando meu nome? - pergunto confusa

—Sim, várias vezes – apenas concordo com a cabeça, penso em falar algo mas as palavras fogem da minha boca, não sei o que pensar e por um lado saber disso só confunde mais o turbilhão de sentimentos que estou sentindo nesse momento - Como ele falou cachoeira, fomos até onde costumávamos fazer trilhas, mas não achamos nada, ficamos rodando pela cidade até agora de noite.

—Não tínhamos mais ideias para onde ele poderia ter ido ou onde devíamos procurar, quando Finn me falou que ele chamou por você no telefone achei que talvez ele tenha ido te procurar, por isso liguei para você mais cedo hoje – Annie conta.

—E pelo visto ele procurou já que veio parar no prédio de vocês - conclui Finnick com uma risada fraca

—Pelo visto sim – diz Annie se levando com um sorriso cansado no rosto – Agora podemos dormir tranquilos já que ele está aqui e amanhã vamos descobrir o que aconteceu nesses dois dias.

Finnick concorda e avisa que vai para casa, mas que volta de manhã para conversamos com Peeta, Annie o acompanha até a porta, dou apenas um simples aceno com a mão quando ele se despede, deixo meus olhos caírem sobre Peeta, pela expressão do seu rosto deve estar sentindo alguma dor ou incômodo pela maneira que está deitado mas não se move.

—Acho que devíamos ir dormir, hoje foi um dia agitado – diz Annie fechando a porta e se virando para mim.

—Também acho – digo me levantado e colocando a cadeira no lugar dela, apago a luz da cozinha e fecho a janela da sala, puxando as cortinas para cobrir as luzes da cidade que parece não dormir do lado de fora, dou uma olhada verificando se tudo está no seu devido lugar, me viro em direção ao meu quarto mas por algum motivo bobo me viro novamente para a sala e vou até o abajur na mesinha do lado do sofá para ligá-lo, posso sentir que a Annie me observa da porta do seu quarto com um sorrisinho no rosto apenas dou de ombros e vou para o quarto.

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Apago a luz,

Deito na cama,

Fecho os olhos, mas minha cabeça não consegue relaxar, viro para um lado viro para o outro. Conto até dez, tento recitar meus mantras, porém nada acontece e o sono não vem. Milhares de imagens passam na minha cabeça: sorriso de lado e lábios inchados, belos olhos azuis e um olho meio fechado e roxo, mãos suaves e nós dos dedos marcados e machucados.

Antes que eu consiga me repreender, antes que eu consiga pensar o porquê que eu não devia fazer isso, antes que eu consiga listar todos os contras, me levanto e pego meu travesseiro, puxo o cobertor da cama e abro a porta, ando até a poltrona viro ela em direção ao sofá, sento e empurro o encosto para trás me cubro com o cobertor e observo o peito de Peeta subir e descer em seu sono profundo.

E tento me convencer que estou fazendo isso porque ele está machucado, que pode precisar de ajuda se acordar no meio da madrugada, que vim dormir aqui por precaução e não porque estou com medo de dormir no meu quarto e ele desaparecer, tento me enganar dizendo que não estou com medo e assustada.

Mas quem estou tentando enganar?

Eu já me proibi
De pedir perdão, de me sabotar
De me arriscar, tentar me redimir

Ressaca - Jão