I Can't Love You

Capítulo 53 - Tempo. Saudade. Erros.


KATE.

— Já está de saída? – minha tia entra em meu quarto sem bater. Sorrio ao vê-la.

— Sim. – balanço a cabeça confirmando. – já estou atrasada... o Will já mandou mensagem, disse que tem vários stands interessantes para gente olhar. Se eu me interessar por algo, podemos conseguir um bom desconto.

— Hm... – ela senta na ponta da cama e continua a me observar. – isso é bom.

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— Sim. – me viro para ela. Tia Thereza tinha um ar suspeito, como se estivesse escondendo algo. – mas não é por isso que você está aqui. – afirmo. – fala.

— Eu não quero falar nada. – ele solta uma falsa risada e mexe no cabelo, assim como faz quando está nervosa. Eu a conheço.

— Eu te conheço. – me aproximo. – pode falar.

Ela pressiona os lábios um no outro e sorrir.

— Eu conversei com seu tio ontem... – ela começa. – ele me fez perceber que eu estava sendo uma boba tentando te jogar para os braços de outro quando... – ela hesita. – você ainda gosta de outro. – ela afirma e deixa um sorriso escapar. – A história não se repete, não é?

— Não. – digo firme, mas carinhosa. Sento-me ao seu lado. – por mais que eu ache Will interessante, eu não estou pronta para isso agora.

— Mas... – ela tenta, mas eu a corto.

— Eu sei que isso aconteceu com você, mas comigo é diferente. Eu amo o Castle. E, infelizmente, o que eu vi não muda isso. – ela me olha atentamente, absorvendo as palavras. Os par verde em seu lindo rosto era de família. Eu queria faze-la entender, e me fazer entender, que apesar da mágoa, o meu sentimento por Castle não mudou em nada. – o que eu sinto pelo Castle é diferente. Eu nunca me senti assim antes. Por mais que a gente esteja separado... – eu paro, tentando encontrar a forma certa de falar. – eu não quero acabar essa história assim. Com mágoas e dúvidas.

— Você tem dúvida? – eu não sei responder essa pergunta. Eu não tenho dúvidas do que eu vi, mas toda história tem dois lados.

— Bom, ele me pediu para explicar... então deve ter algo mais do que eu vi naquela noite...

Eu podia ver nos olhos verdes dela que ela não acreditava que pudesse existir outra explicação, nem eu mesmo acreditava de verdade, mas precisava começar a pensar na possibilidade de que exista realmente uma explicação.

— Ok... – ela diz num suspiro. – você me desculpa? – a junção de seu olhar e sorriso amolece meu coração. Sorrio e a puxo para um abraço.

— Está desculpada. – sussurro. – agora eu tenho que ir... – disso assim que o longo abraço se quebra.

— Katie... – ela chama e eu a encaro. Só meus pais e minha tia me chamavam assim. Eu amo quando ela me chama assim. — é melhor você dizer isso tudo ao Will. Ele não precisa criar expectativas, certo?

Balanço minha cabeça e me levanto.

— Eu farei isso. – sorrio e saio do quarto.

♦♦♦

Assim que chego no primeiro dia de conferencia, me deparo com uma pequena multidão. Eu sabia que estaria lotado, mas não assim. Médicos Veterinários de todo o mundo reunidos em uma das maiores conferencias sobre cirurgia. Era um oportunidade única. Eu tinha sorte de estar aqui. Vou direto para o local reservado para exposição de stands com equipamentos cirúrgicos de última geração. Eu precisava comprar algo inovador para trazer ainda mais clientes para a clínica e para o Hospital. Ando pelo local observando as simulações feitas na hora. As técnicas eram quase inimagináveis.

— Oi, Lanie. – atendo o celular com a voz carregada. Lanie ligou justo na hora que uma nova simulação ia começar e eu queria ver. Fiquei irritada.

— Me diz que você já fechou negócio... – sua voz parecia ansiosa.

— Ainda não, mas vou fechar. – sorrio. – passei a semana conversando com fornecedores e ouvindo as propostas. Assim que tiver a autorização do Will, eu fecho o contrato.

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— Não é certo ainda?

— Will me garantiu que sim. Ele analisou aquela papelada toda e descobriu que foi apenas um erro de cálculo, então nós teremos dinheiro suficiente para investir no hospital. – escuto Lanie respirar aliviada. Sorrio. Aquilo realmente era um alívio, caso contrário, tínhamos que investir ainda mais do nosso dinheiro para a construção do Hospital. – relaxa que nosso hospital vai sair do papel.

— Eu só vou relaxar quando eu ver as obras começando.

— Lanie, deixa de ser ansiosa. Vai dar tudo certo. – me abaixo para olhar alguns objetos na vitrine de um stand. – aliás, já está dando tudo certo. Will me garantiu, e eu confio nele.

— Will, Will, Will... você está falando muito nesse tal de Will. – ela zomba e eu reviro os olhos. Continuo a andar pelo lugar, desviando das pessoas. – o que o seu escritor bonitão vai achar dessa sua proximidade com esse tal de Will?

— Não tem nada para achar, então ele não vai achar nada. – respondo rápido, não querendo entrar naquele assunto. Lanie rir do outro lado da linha e fala algo que eu não faço muito esforço para escutar. Minha cabeça começa a girar em torno daquele assunto novamente. Me dou conta de que eu ainda não tinha contado nada para Lanie, então ela achava que Castle e eu ainda estávamos juntos. Não sei dizer como estamos agora. Eu terminei tudo no calor do momento, mas nós não conversamos sobre isso. Me sinto confusa.

Eu preciso dos conselhos da minha melhor amiga.

— Nós demos um tempo. – falo de uma vez. Lanie para de falar e fica em silencio por tempo demais. Começo a ficar nervosa. – Lanie... – chamo. Quase choramingando.

— Eu sei. – ela admite.

— Sabe? Como? – começo a ficar ainda mais confusa. – ninguém além de meus tios sabe.

— Castle saiu ontem com os meninos...

— Castle e os meninos? – corto sua fala. Aquilo não parecia ser real.

— É. – ela confirma. – eles foram jogar pôquer e ele acabou soltando na mesa de jogo. Deveria estar bêbado.

— Ele falou mais alguma coisa?

— Não. Só disse que vocês tinham terminado. Não falou o motivo.

Terminado. Aquela era a palavra chave. Ele tinha mesmo usado aquele palavra? Sinto meu estomago começar a embrulhar. Minha respiração falha por alguns segundos e eu me seguro na parede para não cair. O nó na minha garganta começa a se formar de novo. Esse poderia ser realmente o nosso fim. Ele disse isso depois de nos falarmos por telefone? Depois de eu dizer que conversaríamos depois? Talvez ele quisesse mesmo aquilo...

— Kate? – Lanie me chama.

— Oi... – tento controlar a voz. – estou aqui, Lanie. – solto o ar que nem sabia que estava preso. – então ele saiu ontem com os rapazes... – continuo no assunto, mas tirando o foco de Castle e eu. Não precisava mais de conselhos. – isso é bom. Castle precisa de amigos. – Lanie concorda e novamente o silencio paira sobre nós. – como ele está? – as palavras pulam, quase desesperadas, da minha boca. Eu precisava saber se ele estava aceitando tudo isso bem.

— Eu não o vi ainda. Mas Espo disse que ele parecia bem... – começou devagar. – você sabe como os homens são... nem sempre demonstram o que realmente sente.

— Ou talvez ele esteja realmente bem. – novamente não consigo controlar as palavras.

Meu humor começa a mudar.

— Kate... – ela usa seu tom de aviso. Reviro meus olhos.

— Lanie eu pedi um tempo a ele. – falo de uma vez, um pouco irritada. – depois eu disse que conversaríamos quando eu voltasse e ele falou que nós términos. Como se isso fosse definitivo. – paro e respiro fundo. – talvez seja... – respondo já cansada daquele assunto.

Quando eu terminei, achei que estava fazendo o certo. Nunca pensei no que sentiria caso isso se tornasse realidade. Mas agora é realidade e eu me sinto confusa. Sinto raiva por Castle admitir que terminamos. Sinto raiva de mim por ter terminado tudo. Achei que encararia tudo isso bem, mas eu estava errada.

— Talvez nada. – Lanie fala firme. – não precisa tirar conclusões pelo o que você não sabe, ok? O Espo me disse com essas palavras, mas sei lá... – eu podia imaginar ela sentada em sua mesa gesticulando com as mãos. – e se o Castle não falou desse jeito?

— Bom, acho que não importa mais, né? Nós terminamos. Não tenho que me preocupar com isso. – tento parecer bem com aquela afirmação, mas tenho certeza que não consegui.

— No dia que você chegar aqui, vocês vão se acertar. Quer apostar?

— Não. Não quero.

Kate... — ouço a voz do Will e olho em volta, procurando por ele entre as pessoas andando de um lado para o outro. Me viro e o vejo acenando animado para mim. Sorrio e aceno de volta, pedindo para ele esperar.

— Eu preciso desligar, Lanie. Até mais... – não espero sua resposta, apenas desligo. Desvio de algumas pessoas até chegar próximo a Will. – oi.

— Oi. – ele abre mais o sorriso e se apressa em me cumprimentar, com um beijo em cada lado do rosto. Galante como sempre. Will parecia feliz em me ver, e eu me senti bem com isso. Sorrio sem graça quando ele se afasta e me olha.

— Que bom que você chegou. Tenho uma boa notícia para você. – ele para e pensa. – boa não, ótima. Uma excelente notícia. – ele parecia empolgado, e eu começo a ficar empolgada também.

Meu humor novamente começando a mudar.

— Nossa, é tão boa assim? – ele balança a cabeça, tentando conter o sorriso. – então diz, porque eu preciso de boas notícias para animar meu dia.

— Ah, essa vai animar seu dia. Com certeza. – ele continua fazendo suspense. Isso me mata.— está tudo certo. – ele diz, como se aquilo explicasse alguma coisa. O olho confusa e ele rir. – a papelada ficou pronta. Os contratos estão prontos. O banco aprovou o empréstimo para fazermos a obra que você queria. Agora é só fechar negócio e começar os trabalhos.

Ele começa a falar e não para mais. Uma verdadeira chuva de boas notícias. Sim, nós iriamos realizar nosso sonho. Tudo sairia do papel. Eu o encaro, ainda sem entender. Ele não pode estar brincando com isso. Eu mataria ele.

— Você tem certeza? – passo as mãos em meus cabelos e fecho meus olhos rápido. Queria saber que aquilo não era um sono. – me diz que você não está mentindo. Porque se estiver, eu juro que te mato. – Will rir, jogando a cabeça um pouco para trás.

— Garanto que não estou mentindo. Você pode confiar em mim. – aquelas palavras finais foram necessárias para eu saber que tudo era verdade. Um grito, mais alto do que eu gostaria, escapa de mim e eu pulo em seus braços, abraçando-o forte pelo pescoço. Que se dane tudo!!

Eu só queria abraça-lo e agradece por ter dedicado seu tempo para conseguir apressar as coisas. Will não reagiu no primeiro momento, mas logo seus braços rodearam minha cintura e ele me aperta forte.

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— Obrigada, Will. – digo assim que me afasto, mas ele não me solta.

— Não me agradeça por isso. – ele sussurra. Estávamos próximos demais. Seu olhar cruzou com o meu e eu senti aquele incomodo novamente. Limpei minha garganta e desviei nossos olhares. Will finalmente me solto e eu me afastei.

— Precisamos comemorar. – digo, com um sorriso no rosto.

— Eu topo. – ele concorda animado. – no bar do hotel depois das palestras?

— Combinado. – ele me deu mais um sorriso antes de seguir seu caminho. Eu o olho desaparecer na multidão. Aquilo era mesmo verdade? Finalmente eu iria realizar meu sonho? meu e da Lanie. Lanie! Preciso ligar para Lanie de novo e contar as novidades.

CASTLE.

— Por aqui, pai. – Alexis andava na minha frente, me guiando. Com suas botas justas, ela pisava nas folhas secas, quase afundando seus pés ali.

— Eu ainda não entendi o que viemos fazer aqui. – digo contrariado, tirando os galhos da minha frente. – e porque tivemos que trazer isso tudo. – ergo minha mão, que segurava vassouras e alguns sacos.

— É surpresa. – ela responde sem me olhar.

— Quem te ensinou esse caminho? – ela me olha por cima do ombro.

— A Kate. – um sorriso se forma em seu lindo rosto. Sorrio também.

Agora eu sei porque esse caminho é familiar. Se eu estiver mesmo certo, essa trilha, quase coberta por mato, nos leva a uma casa abandonada no meio do nada. Kate brincava ali quando era pequena. Encontramos ela quando passeávamos de cavalo uma vez. Foi naquela casa abandonada que ela me disse que estava apaixonada por mim. Foi lá que eu quase a beijei.

Foi ali onde tudo mudou.

— Você sabe onde estamos indo? – pergunto e Alexis concorda com a cabeça. Andamos mais alguns metros e a menina para.

— Chegamos. – paro e vejo a casa em nossa frente. Eu estava certo.

Olho o lugar que parecia o mesmo da última, e única, vez que estive aqui. As folhas secas ao redor da casa ainda estavam ali, mas agora o mato também começava a tomar conta do lugar. Não me surpreenderia se algum bicho estivesse escondido ali.

— O que, exatamente, você está pensando em fazer? – olho para baixo, encarando a ruiva.

— Eu pensei que a gente podia arrumar. Tirar as folhas e pintar. – ela fala inocente. O trabalho de arrumar aquele lugar era bem maior do que apenas tirar as folhas e limpar. – a Kate me trouxe aqui antes de viajar. Disse que a gente podia arrumar tudo e essa poderia ser minha casa de brinquedo, como era a dela quando era pequena.

Sorrio. Aquela ideia era a cara de Kate. Ela sempre quis fazer algo especial para Alexis, o que ela não sabia era que, todos os dias, só por estar ao nosso lado, ela estava fazendo algo especial para nós dois.

— Filha, eu acho que nós podemos esperar a Kate chegar e...

— Não. – ela me interrompe. – essa é uma surpresa para Kate... para quando ela voltar de viagem... – Alexis diz, quase choramingando.

— Mas aqui tem muito mato e com certeza a gente vai ter que trocar algumas madeiras da casa....

— Mas a gente pode começar a arrumar... – ela insiste.

— Ok. – me dou por vencido. Não podia negar que a ideia de ter uma surpresa a espera de Kate, me deixava animado também. – mas espera aqui enquanto eu vou olhar se não tem nenhum animal morto dentro da casa.

— Não tem. – ela afirma. – a Kate e eu estivemos aqui.

— Ok, mas me deixa dar só mais uma checada, ta? – ela concorda e eu sigo até a casa. Os degraus de madeiras ainda gemem quando eu piso sobre eles. Essa era a primeira coisa da lista para trocarmos. Olho as janelas e portas quebradas e a lista começa a crescer. Olho dentro da casa destelhada e tudo parece normal. Passo o pé pelas folhas secas ali e não vejo nada morto ou se escondendo ali. Nenhum sinal de cobras, ratos ou qualquer outro bicho. Isso era bom, poderíamos começar a limpar tudo.

Saio da varanda da casa e aceno para Alexis. A menina corre até a casa com um sorriso no rosto. Ela realmente queria fazer aquela surpresa para Kate, e é claro que eu ajudaria. Dou as instruções para ela começar dentro de casa, varrendo as folhas e jogando-as dentro da sacola enquanto eu dava um jeito no mato ao redor da casa.

— Qualquer coisa grita. – digo quando estou saindo da casa. Dou uma volta pelo lado de fora casa. Mesmo velha, ela ficaria boa depois de uma reforma. Nos fundos, eu acho um facão velho, mas ele parecia amolado e perfeito para a minha função. Tiro minha camisa de botões e começo a cortar os matos mais altos. O sol não chegava muito nessa parte da mata, pois as arvores altas cobriam. Mas isso não me impediu de suar e ficar com calor. A cada quinze minutos eu entrava para saber se Alexis precisava de alguma coisa, mas a menina estava se saindo bem em sua tarefa. Pouco a pouco as sacolas começaram a ficar cheias.

KATE. (Dias depois)

— Me diz que você está pronta... – não era uma pergunta, era um pedido. Will estava quase implorando que eu estivesse pronta. Depois de três dias me esperando enquanto terminava de me arrumar, ele deveria ter se acostumado com isso.

Não pude deixar de rir quando sua voz saiu quase derrotada. Eu tinha certeza que ele implicaria comigo, assim como fez nos últimos dias. Ele se ofereceu para vir me pegar para irmos juntos a conferencia. Aceitei. Depois da nossa noite no bar do hotel, onde comemoramos por termos conseguido abrir o Hospital Veterinário, ele se mostrou um ótimo amigo. Finalmente tínhamos achado um caminho sem flertes, sem indiretas, sem olhares constrangedores e nem segundas intenções. Eu não me sentia mais incomodada com sua presença, ao contrário, ele sempre me fazia rir e eu adorava isso, me fazia esquecer dos problemas. Agora nós erámos apenas amigos. Bons amigos. Ele tinha entendido sua posição ao meu lado.

— Para a sua informação, eu estou saindo do elevador. – provoco. Assim que saio da caixa de metal e dou alguns passos, avisto o carro dele na frente do prédio. – mas não almocei, então o almoço hoje é por sua conta. – aviso.

Não esperei ele responder, apenas desliguei. Guardei o celular em minha bolsa e segui até a porta do prédio. Peter, como sempre, abriu a porta para mim. Ele e ofereceu um sorriso gentil e me cumprimentou. Retribui e segui até o carro preto estacionado ali. Peter se apressou e abriu a porta do veículo para mim.

— Bom dia. – Will diz sorridente ao me ver. – ah, não... boa tarde. – revirei os olhos.

— Eu não estou atrasada. – digo e ele rir.

— Desculpe, é o costume. – ele diz ainda de dar partida no carro. Nós começamos a enfrentar o transito de Nova Iorque. Will já estava escutando uma música quando eu cheguei. Não me importei em saber qual era a banda, mas a música era boa. Eu não a conhecia, mas gostei de primeira. Will começou a cantar a medida que andávamos, ele até fazia algumas caretas. Sorri. Nunca imaginei que ele gostava de rock.

— Ainda está com fome? – ele pergunta enquanto para o carro no estacionamento privativo do hotel. Balancei a cabeça e ele sorriu. – ótimo. Eu também. Dizem que o restaurante daqui é um dos melhores... – não disse nada. Era por conta dele, qualquer lugar que ele me levasse seria bom. Me contentaria com Hambúrguer e fritas, mas um restaurante fino também está bom.

Hambúrguer e fritas. Era impossível não lembrar de Castle. Essa era sua comida favorita. Ele passaria o dia comendo isso se deixasse. Sorri. Ele era mesmo um menino adulto. Senti algo estranho. Meu coração se apertou. Estive tão ocupada nesses últimos três dias que não tive tempo nem de pensar em Castle. Não que eu não sonhasse com ele, eu sonhei. Muito. Mas não tive tempo de parar e pensar nele como agora. Eu sentia sua falta...

— Pode atender, Kate. – Will diz quando estamos no bar do restaurante, esperando nossa mesa ficar pronta.

Meu celular já tinha tocado algumas vezes e, em todas elas, o rosto de Castle apareceu na tela. A foto que eu tirei enquanto fazia cocegas nele. O seu sorriso era contagiante naquela imagem. Eu detestava olhar para ela, pois me lembrava o quanto nós estávamos felizes a alguns dias atrás. Recusei a ligação novamente. Não precisava falar com ele agora. Justo agora que eu lembrei dele e que senti tanto a sua falta.

— Não deve ser nada... – forcei um sorriso e guardei o telefone na bolsa. Imediatamente lembrei da última vez que vi chamadas dele no meu celular. Não era ele, mas a Alexis ligando. Me senti culpada por recusar a ligação.

Um toque diferente começa, e eu sei que não é Castle.

Ele tinha um toque exclusivo.

Tirei o celular da bolsa e vi a foto de Martha. Sim, tinha acontecido alguma coisa.

— Você não vai atender seu namorado porque está comigo? – Will pergunta divertido.

— Ele não é meu namorado. – rebato séria e aperto o botão verde. – oi Martha.

— Kate, minha querida, graças a Deus você atendeu. – sua voz tinha uma mistura de agonia e alivio. Imediatamente me endireito na cadeira do bar, preocupada. A forma como Martha falou e seu tom de voz me deixaram em alerta. Sinto meu coração acelerar. Porque Martha estava me ligando? Tinha acontecido algo? A ideia de que algo tivesse acontecido com Castle ou Alexis me causou arrepios.

— Martha, o que houve?

— Nada. Pelo menos nada grave. – ela diz, tentando me acalmar. Mas não funciona. — bom eu estou com uma pessoa que está louca para falar com você.

— Quem? – ela não respondeu. Escutei quando ela disse para essa pessoa falar e então a voz dela surgiu.

— Kate? – Alexis falava baixinho. Podia apostar que estava chorando. Porque ela estava chorando? Meus batimentos começaram a normalizar. Por mais que eu estivesse preocupada com a menina, saber que não tinha acontecido nada grave me acalmava.

— Oi, minha linda. – digo com a voz suave. O sorriso surgindo novamente em meu rosto. – como você está?

— Bem... – ela se limita a dizer. – quando você volta? – a ruiva vai direto ao ponto. Eu não sabia responder aquela pergunta. Fazia pouco mais de uma semana que eu estava em Nova Iorque, mas eu ficaria pelo menos mais uma semana para organizar os papeis. Eu sabia que a menina sentiria minha falta, mas não imaginava o quanto... Alexis era carente e, devido a nossa proximidade, sabia que essa viagem ia deixa-la confusa. Mas não queria que ela pensasse que eu não voltaria como a mãe dela. Eu voltaria, e sempre vou estar presente na vida dela. Independentemente do que aconteça entre Castle e eu.

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— Só mais alguns dias, meu bem... – afirmei. – lembra que eu disse que assim que voltasse eu ia direto lhe ver?

— Sim... – ela responde, ainda com a voz baixa.

— Então, não precisa se preocupar. Eu vou voltar logo. – tento, mas a menina não fala nada. – estou com saudades.

— Eu também estou morrendo de saudades. O meu pai e a vovó também. – sorrio. A menção do nome de Castle me faz pensar onde ele estava naquele momento e se ele também estava com saudades. Martha me ligou do número dele a poucos minutos, então ele deveria estar perto também. – sonhei com você ontem à noite, Kate. – ela diz com sua voz nenhum pouco animada.

— Mesmo? E como foi o sonho? – pergunto animada, tentando alegrar a menina.

— Você não voltava mais... nunca mais. – sua voz ficou chorosa. Agora eu entendia porque ela estava triste e chorosa. Ela tinha sonhado com isso e pensou ser verdade. Ela já tinha sido abandonada tantas vezes pela mãe, que pensou que eu ia fazer o mesmo.

Mas isso não aconteceria.

Nunca.

— Aleis, escute... – começo. – foi apenas um sonho ruim, ok? Não quero que você chore por causa disso porque isso nunca vai acontecer, ok? Eu vou voltar.

— Quando?

— Em alguns dias... eu prometo.

— Promete?

— Prometo. – reafirmei. – e você tem que me prometer que não vai mais ficar triste por causa de um sonho. Ok?

— Ok. – ela fala triste.

— Promete? – tento novamente.

— Prometo. – ela diz por fim.

— Ótimo... agora me deixe falar com sua avó.

— Está bem, mas... – ela hesita. – você promete me ligar todos os dias? – sorrio. Era bom sentir o quanto ela queria que eu fizesse parte de sua vida também, porque ela já faz parte da minha.

— Sim, eu prometo. E hoje à noite antes de você dormir eu ligarei para você.

— Na câmera do celular do papai? – agora ela parecia animada. Como eu poderia dizer não?

— Sim. – ri. – pode ficar com ele e esperar. Eu vou ligar.

— Certo. Agora eu vou passar para a vovó. Te amo Kate.

— Também te amo, minha linda. – digo e espero até Martha falar. No fundo, eu pude escutar a voz firme de Castle. Não consegui entender o que ele dizia, mas senti minhas pernas fraquejarem só ao escutar o som da sua voz.

Sentia falta da sua voz.

— Kate... – a voz de Martha surge e eu me desperto.

— Martha o que aconteceu? Porque ela estava chorando? Eu nunca a vi assim...

— Ela está bem, querida. Alexis só está com saudades.

— Foi só o sonho mesmo? – precisava ter certeza disso. Não queria pensar em Alexis sofrendo ou tendo esses sonhos por causa minha separação com Castle.

— Foi apenas o sonho... ela acordou no meio da noite chorando. Richard foi vê-la e ela soluçava tanto que quase não conseguia falar. Ele deixou com ela na cama até ela se acalmar e finalmente contar porque estava assim. Disse que você não ia voltar e que queria você. – senti uma pontada no peito. Alexis estava chorando por minha causa e isso era horrível. – Richard tentou explicar que você estava trabalhando, mas ela estava tão decidida a não dormir que ficou acordada até agora.

— Ela não dormiu? – minha voz sai mais alto do que eu gostaria. Will me olha interessado, mas eu não ligo.

— Sim... – Martha parou por um segundo e escutei quando um sorriso se formou em seu rosto. – mas agora ela está aninhada nos braços do pai. Acho que vai dormir... – aquilo, de alguma forma, me acalma. Castle estava cuidando da Alexis como um bom pai faria. Ele estava ali enquanto ela falava comigo. Talvez ela estivesse e seu colono momento. Me senti bem com isso.

— Martha, por favor, se isso acontecer de novo me ligue. Não quero imaginar ela sofrendo por isso...

— Não se preocupe, isso é saudade. Vá trabalhar. Nós cuidamos dela.

— Não precisa hesitar em me ligar. – aviso novamente. – mais tarde eu ligarei para falar com ela, será que você poderia...

— Ficar com o celular do Richard? Sim, eu posso. – ela me interrompe. – vocês são dois bobos, sabe disso não é? – não pude deixar de sorrir. Nós éramos dois bobos mesmo?

— Até a noite, Martha.

— Até mais querida. – desligo a chamada e encaro o aparelho em minhas mãos. Eu não podia mais ficar recusando ligações com medo de falar com Castle. Não era apenas nós dois. Tinha Alexis no meio de tudo isso. Eu precisava pensar nela também.

— Então... – levantei o olhar e vi que Will ainda me encarava. – ainda está com fome? – ele me oferece um sorriso gentil. – porque nossa mesa está pronta.

Concordei e nós seguimos até nossa mesa, perto da janela. Uma bela vista da cidade. O restaurante pode ser conhecido pela comida, mas essa vista, definitivamente, era a melhor parte.

— Você me disse que não tinha filhos... – ele começa o assunto enquanto o garçom nos serve vinho. – mas pelo o que eu ouvi da conversa, você tem. – sorri.

— Bom, eu não tenho. – pego minha taça e bebo um gole do vinho tinto. – mas meu ex tem. E eu me apaguei a ela como se fosse minha filha.

— Seu ex é o cara do cinema. – ele afirma e eu concordo com a cabeça.

— Nós terminamos pouco antes de eu viajar e... as coisas não estão totalmente definidas, mas... eu acho que posso nomeá-lo de ex. – jogo os ombros. Não sei porque comecei a falar daquilo, mas de repente me senti à vontade para falar do meu relacionamento com Castle com alguém.

— Vocês estavam juntos a muito tempo?

— Não. – me limitei a dizer. O silencio pairou sobre nós, mas Will quebrou. Ele estava decidido a falar sobre esse assunto.

— Porque terminaram? Pensei que começo de namoros fosse sempre flores e chocolates, mas acho que estava errado. – ele brinca. – eu nunca namorei sério, não tenho experiência nesse assunto.

O que eu podia dizer? Começo de namoro era realmente tudo aqui. E apesar do meu namoro com Castle não ter começado da maneira normal, teve muitas flores e chocolates. Poderia ter durado mais se não fosse aquela noite...

— Namoros também são complicados. – eu o olho séria. – principalmente quando existe um passado que você não pode superar...

— Ah, Kate, por favor. – ele zomba. – você é capaz de superar qualquer mulher de qualquer passado. – franzi o cenho e ele continuou. – você é linda, inteligente, engraçada, uma profissional de dar inveja... – ele diz e eu começo a me sentir incomodada de novo, como não me sentia a um tempo. Parecia que aquele Will que dava em cima de mim ia voltar. – eu acho que só essas qualidades bastavam, mas você ainda tem esse seu olhar, seu sorriso, seu jeito único de ser... qualquer cara teria sorte por ter você. E esse cara ai... – ele aponta para meu celular sobre a mesa. – ele não sabe o que perdeu.

Sorrio sem graça. Will não sabia do que estava falando. Tudo entre Castle e eu era mais complexo do que se pode imaginar. Will diz que Castle perdeu. Eu digo que quem perdeu fui eu.

— Alexis é filha dele... – continuo, querendo tirar o foco da conversa do meu termino com Castle. – eu me apeguei demais a ela, e ela também se apegou a mim... eu me preocupo com ela. Castle é um excelente pai, mas ela me ver como a figura feminina e materna que ela não teve até agora.

Não tive medo de mencionar que eu era, de alguma forma, uma figura materna para Alexis. Eu sentia isso dentro de mim e já a escutei dizer que queria que eu fosse sua mãe. Ela queria me chamar de mãe, e eu teria o maior prazer se isso um dia acontecesse. Eu a amo como se fosse minha.

— E a outra... – ele pensa um segundo. – Martha?

— Isso. – sorrio. – Martha é minha sogra. Ou era... eu não sei. – corrijo sem graça.

— Você ainda gosta dele? – imediatamente o sorriso cresce em meu rosto.

— Se eu gosto? Eu sou louca por ele. Ele foi... ele é... – corrijo. – o único homem para quem eu entreguei meu coração de verdade. Não importa o que aconteça, ele sempre terá meu coração e eu não posso fazer nada contra isso.

Will me olha interessa e depois sorrir. Senti o peso de seus olhos em mim, mas não liguei. Nunca tinha usado essas palavras para ele, mas se ainda existia algum fio de esperança que acontecesse alguma coisa entre nós, acabou aqui. Não tive medo de dizer o lugar de Castle em meu coração. Era a verdade. Era o que eu sentia.

— Dá para ver o quanto ainda...

— Eu realmente queria mudar de assunto. – peço. Will concorda e volta sua atenção para o cardápio. Ficamos em silencio por algum tempo e eu começo a me sentir mal. Não quero que ele pense que eu estou brava.

— Você já decidiu se vai ou não aceitar minha proposta? – dessa vez ele rir. Bebo meu vinho e o encaro. Ele vinha me enrolando a um bom tempo desde que eu propus que ele trabalhasse comigo no hospital. Eu não podia pensar em lidar com aqueles números de novo e ele parecia amar exercer a profissão de contador.

— Eu ainda estou pensando Kate. Sair debaixo das asas do meu pai é um grande passo e quero que quando isso aconteça, seja definitivo. Não quero voltar e admitir que estava errado.

— Mas você não vai estar. – afirmei. – temos tudo para crescer. Você vai dirigir o melhor hospital veterinário que aquele lugar já viu. – ele rir. – eu preciso de você lá, Will... – choramingo.

— É bom saber que você confia em mim. – ele fala sério, me olhando nos olhos.

— Confio. E não vou aceitar um não como resposta.

— Não estou dizendo não. Mas vou visitar vocês quando tudo estiver encaminhado e quem sabe eu já tenha uma resposta?

— E quando vai ser essa visita?

— Você nem foi ainda e já está querendo marcar? – dessa vez eu rio.

— Estou completamente desesperada, não está vendo? – ele sorrir concordando. – dá para aceitar logo?

— Um mês. – ele diz. – é o tempo que as obras começam e eu consigo pensar com calma.

— Um mês. – concordo. – mas se quiser ir antes... – provoco e ele rir.

O garçom chega e ele começa a fazer os pedidos, aproveitando para fugir do assunto.

CASTLE.

— Mãe! – eu falo alto para que ela me escute. Não tinha tempo a perder. Ando por meu quarto, entrando e saindo do closet, colocando as roupas na mal. – Mãe! – grito mais uma vez. Ela entra no quarto assustada e me encara. Eu a olho de relance, também não posso parar enquanto conversamos.

— O que aconteceu Richard? Porque você está gritando? – ela desvia seu olhar para minha mala. – e porque essa mala?

— Estou indo para Nova Iorque. – falo de uma vez. Paro e a olho sorrindo. Eu sabia que viria uma sermão dela, mas eu estava feliz que ia encontrar a Kate novamente. Mas ao contrário de mim, minha mãe não parecia nada feliz.

— O que você vai fazer em Nova Iorque? A Katherine sabe disso? Ela concordou com isso. – ela pergunta usando seu tom de repreensão.

— Não, mas isso não importa. Eu vou vê-la. Vou falar tudo o que eu tenho para falar. Eu vou esclarecer as coisas e dizer o quanto eu a amo.

— Richard, isso é uma burrada. Porque você não espera? Ela vai voltar em alguns dias.

— Esperar? Mãe o que eu fiz a afastou de mim, da minha filha. Alexis está sofrendo com a distância da Kate e a culpa é minha.

— Mas é burrada você ir atrás dela quanto ela pediu um tempo. – minha mãe insiste, mas eu rio irônico. Não concordo com ela. Sei que quando eu chegar lá e conversar com Kate, ela entenderá e ficaremos bem. – Você tinha concordado em dar esse tempo a ela...

— Mas eu não posso mais. – admito. – mãe ela entendeu tudo errado. Ela acha que eu não a amo... eu não posso mais esperar. Eu não consigo.

— Você já esperou esse tempo todo, porque não só mais alguns dias?

— Eu não tenho alguns dias. – fecho minha pequena mala e suspiro. – alguns dias é muito tempo para nós. Em alguns dias eu a desprezeis e me apaixonei por ela. Em apenas alguns dias ela e tornou importante para mim. Então eu não tenho alguns dias.

Minha mãe continua me encarando e eu sei que ela não mudou de ideia. Ela ainda acha que eu deveria esperar, mas eu não posso. Ela não discute e eu também não falo nada.

— Você sabe onde ela está hospedada?

— Não. Mas achei o hotel da conferencia na internet, posso encontra-la lá.

— E se ela não estiver pronta para esse encontro agora? – jogo os ombros. Eu não tinha pensado nessa possibilidade porque ela não existia. Meu único pensamento era encontrar Kate, esclarecer o mal-entendido e me acertar com ela.

— Ela me ama. – afirmo. – e só precisa saber que eu também a amo.

— Ok. – ela se dá por vencida e solta um sorriso quase forçado. – só me resta te desejar boa sorte. – sorrio e me aproximo ela. Eu não precisava de boa sorte.

— Obrigada. – abraço-a rápido. – eu vou de carro até o aeroporto. Deixo o carro lá e pego meu voo. Assim que chegar eu vou atrás da Kate e a trago de volta. – sorriso satisfeito com meu plano. – amanhã eu estou de volta.

— Você já pensou em tudo. – eu assinto contente. – se vai passar tão pouco tempo, porque essa mala?

— Caso eu precise leva-la para jantar. – minha mãe rir e concorda. Eu tinha pensado em todas as possibilidades, menos a que Kate não falaria comigo. Isso não aconteceria. – eu vou ligar a noite para falar com a Alexis. Não diga que eu fui a Nova Iorque, diga apenas que eu fui resolver assuntos de trabalho na cidade vizinha.

Minha mãe balança a cabeça e eu saio do quarto, arrastando a mala junto comigo. Sorrio. Uma mistura de ansiedade e nervosismo. Meu plano tinha que dar certo. Kate acredita em um mal-entendido que não tive a chance de me explicar, mas quando estiver lá, cara a cara com ela, e ela não tiver como fugir, tudo vai ficar bem. Sigo até o quarto de Alexis, que dormia profundamente depois da noite que teve. Eu a beijo e acaricio seu rosto. Eu nunca tive a intensão de envolve-la nessa confusão toda, mas ela estava mais que envolvida. Minha pequena ruiva estava sofrendo com a distância da Kate e a culpa é toda minha.

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Abraço minha mãe e saio de casa. Meu voo sairia em menos de uma hora, eu precisava correr. No meio do caminho eu ligo para meu advogado, dizendo que estou indo e aproveitarei para assinar alguns papeis da Editora. Pensar no que mais eu tinha para resolver em Nova Iorque fazia com que eu esquecesse o nervosismo por um tempo, mas assim que meu voo foi chamado, meu coração acelerou de vez.

Será que isso é mesmo o certo a se fazer?

Será que ela vai gostar?

Ou será que minha mãe tem razão?

Eu não podia pensar muito nessas possibilidades. Cada uma delas me deixa ainda mais em dúvida do que eu estava realmente decidido a fazer. Encaro meu cartão de embarque na minha mão e respiro fundo. É agora. Não tem mais volta. Durante todo o voo eu ensaio o que irei dizer a Kate, mas em todas as vezes as palavras saem diferente. Quando eu a ver pessoalmente, não sei se vai realmente sair alguma coisa. Eu estou com tanta saudade do seu olhar, seu jeito, seu sorriso, sua voz sussurrando no meu ouvido, seus beijos, da gente fazendo amor, que não sei se vou querer conversar ou apenas beija-la e tê-la em meus braços.

Eu não deveria ter deixado ela viajar tão magoada comigo. Eu deveria tê-la deixado gritar comigo até toda sua raiva sair, mas no fim eu a abraçaria e explicaria tudo. Eu deveria ter dito apenas que a amo, talvez ela acreditasse e tudo isso ano estaria acontecendo.

Eu deveria ter feito tantas coisas.

Mas não fiz nada.

Apenas a deixei ir.

Magoada. Com raiva.

KATE.

— Vamos lá, Kate. Por favor. – Will insiste mais uma vez. Ele tinha me falado desse coquetel de encerramento, mas eu não estava nenhum pouco a fim de ir. Preferia ir para casa, deitar e esperar até a hora de ligar para Alexis. Ela me fez prometer que falaríamos pela câmera do celular de Castle, e eu estava ansiosa. No fundo, torcia para que ela virasse a câmera para eu ver o rosto dele. As lembranças que eu tenho dele já parecem tão distantes. Sinto falta de olha-lo.

— Você pode ir Will, eu pego um táxi para casa... não vejo problema nisso.

— Mas eu não posso chegar sozinho. Preciso de você para conversar enquanto eu procuro uma mulher bonita para dar em cima. – eu rio. Ele parecia determinado a não aceitar um não como resposta.

— Uma hora. – digo e ele abre um sorriso contente. Até eu me animei com a ideia de ele sair com outra pessoa, eu o ajudaria nisso.

— Uma hora. – ele afirma e começa a me puxar na direção do bar do hotel.

O lugar já estava lotado quando chegamos. Homens e mulheres bem vestidos conversando no bar, e alguns dançando na pista de dança improvisada. As luzes piscando chamaram minha atenção assim que chegamos, fazia um tempo que eu não saia. Pego meu nome na entrada e colo sobre minha roupa. Aquele era um evento fechado para os participantes da conferência. Assim que Will cola o papel com o seu nome em sua camisa, ele me puxa para a pista de dança. Um sorriso contagiante em seu rosto. Ele começa a dançar em um ritmo só dele e isso me faz rir. Me solto também. Os meus movimentos começam a seguir o ritmo da música e eu me deixo levar. Não me lembro a última vez que me senti tão livre em uma festa como hoje.

Depois de incontáveis músicas, eu resolvo ir até o bar e pegar uma bebida. Precisava de álcool para matar a minha sede. Sussurro meu destino perto do ouvido de Will e ele grita, mais alto que a música, que vai me acompanhar. Concordo e o sigo até o bar. Por sorte, tinha alguns lugares vazios. Me sentei e deixei meu corpo relaxar. Só agora eu pude perceber como minhas pernas estavam cansadas. Aqueles saltos não são feitos para balada. Me viro e peço uma dose de vodka ao barman. Will senta ao meu lado e pede seu drink.

— Está muito animado aqui. Foi bom eu ficar... – comento olhando as pessoas dançando.

— Decidiu ficar mais tempo? – eu o olho e nego. – caraca, você é mesmo difícil, hein? – eu rio e bebo minha dose.

— Você ainda não viu nada. – brinco e pisco para ele enquanto devolvo o copo para mesa do bar. – e ai, já achou seu alvo?

— Alvo? – ele me olha confuso.

— A mulher que você queria levar para casa hoje. – ele rir, jogando a cabeça para trás.

— Já, mas acho que ela não está a fim de mim.

— Como sabe?

— Passei a noite olhando para ela, mas ela não percebeu.

— Então vai falar com ela. – faço um sinal para o barman, pedindo outra dose.

— Não sei... melhor não.

— Anda, vai. – insisto. Pego a dose intocável dele e arrasto para a borda da mesa. – bebe uma dose coragem e vai falar com ela.

— Coragem... – ele diz olhando o liquido amarelo no copo.

— É. Só beba e vá. Sem pensar em nada, apenas.... vá. – encorajo-o.

— Ok. – ele pega o copo e leva a boca, virando-o de uma só vez. Não tenho tempo de registrar seus próximos movimentos, tudo o que sinto é sua mão segurando levemente meu rosto e seus lábios pressionando os meus. – eu queria fazer isso a noite inteira. – ele diz quando eu o empurro.

— Você... o que você fez? – pergunto nervosa. Nunca imaginei aquela atitude dele depois do que conversamos. Depois de eu abrir meu coração para ele. Pensei que fossemos amigos! Estava errada.

— Kate eu sei você está num momento complicado, mas...

— Não. – o interrompo. – você não tinha o direito de me beijar.

— Mas... – ele tenta, e eu o interrompo novamente.

— Nós... – aponto entre nós dois. – nunca vai acontecer. – afirmo. – eu amo outra pessoa. E isso foi um erro. O pior de todos.

Não espero sua resposta. Me levanto e saio. Não ficaria mais nenhum segundo com ele ali. O escuto chamar meu nome alto, mas ignoro. Passo pelas pessoas sem me importar em esbarrar nelas. Só queria sair dali. Quanto mais meus passos pareciam apressados, mais o caminho se tornava longo. Minha cabeça girava, mas Castle não conseguia sair da minha mente. Eu sentia como se tivesse acabado de trair ele. E foi o que aconteceu. O eu trai. Foi um beijo idiota, que eu não queria. Mas esse sentimento de culpa não sai de mim. Pego meu celular e disco seu número. Queria ligar para ele. Falar com ele. Mas a chamada vai direto para a caixa postal.

Me sento do lado de fora do hotel, tentando tirar da minha mente aquele beijo horrível. Não acredito que Will fez aquilo. Depois do que conversamos. Depois de eu dizer com todas as letras que meu coração tinha dono e de insinuar que nós nunca teríamos nada, ainda assim, ele me beijou. Eu fui estupida em achar que nós éramos só amigos. Ele sempre teve segundas intenções. Sempre.

Aquele sentimento de culpa só cresce.

Eu fui culpada.

Eu o deixei se aproximar.

Disco novamente o número de Castle, eu precisava falar com ele. Mas, mais uma vez, a chamada vai direto para a caixa postal.