Um leve e sereno bater na porta de madeira fez-se soar no interior do meu quarto.

Estávamos na última semana das férias de Verão e o sol já se havia posto. Apenas me restavam uns dias de descanso.

“Pode entrar” disse eu apoiada num monte de almofadas distribuídas desigualmente sobre a minha cama.

A cabeça da minha mãe surgiu espreitando: “Podemos falar?” questionou num sussurro.

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Assenti com a cabeça e indiquei-lhe que entrasse. Ela assim o fez e sentou-se na ponta da minha cama, com um ar extremamente desconfortável.

“Passa-se alguma coisa?” questionei noticiando o seu desconforto.

“Sim” respondeu ela com segurança enquanto olhava para as suas mãos como se não soubesse o que dizer de seguida.

“O quê mãe?” questionei começando a sentir-me preocupada.

“Filha, é uma situação complicada” introduziu ela “Mais cedo ou mais tarde irias ter que saber”

“Mãe pode deixar-se de rodeios por favor?” perguntei impaciente.

“É sobre o teu pai” fez uma pausa para respirar “O nosso casamento não está a funcionar”

As lágrimas que se haviam formado nos meus olhos durante o discurso da minha mãe começaram a cair de imediato.

“Decidimos que o divórcio é a melhor solução” adicionou ela cabisbaixa, não querendo ver o meu estado.

“ Mas porquê?” perguntei com dor na voz.

“Este período foi muito difícil para todos nós, sobretudo para ti. E apercebemos-nos que o nosso casamento não funciona mais” explicou ela respirando lentamente.

“E não se lembraram de mim? Que têm uma filha?” questionei sentindo-me cada vez mais magoada.

“Claro que lembrámos, e nunca vais ser esquecida” disse ela sorrindo nervosamente.

“Não me parece” disse eu abanando a cabeça e de seguida abandonando o quarto num passo rápido que se transformou numa corrida mal alcancei a porta de saída.

Corri por entre as ruas e os jardins do bairro, as gotas de suor escorriam pela minha testa, o sangue corria em direcção ao meu cérebro fazendo-me ficar rosada nas maçãs do rosto. Desde o inicio que sabia o meu destino: a praia.

Permaneci na corrida intensa que havia iniciado no interior de minha casa, o som dos meus passos alarmados e velozes ecoava por entre as várias casas e edifícios por que ia passando.

Quando finalmente ouvi o bater violento das ondas e vislumbrei a faixa de areia que estava diante de mim, apressei o passo, começando a ter dificuldade em respirar tal era o esforço físico.

Antes que me sentasse no habitual local onde permanecia quando necessitava de estar sozinha, visualizei um vulto ao longe, de pé, voltado para mim. No inicio senti medo e permaneci quieta, especada no mesmo lugar, todavia sem parar de chorar.

Passados alguns minutos de silêncio ganhei coragem de me aproximar da pessoa que me observara. A cada passo que dava, a pessoa tornava-se mais nítida. Era um rapaz alto com um casaco de cabedal, uma t-shirt com decote em v branca e umas calças justas pretas. Justin.

Sem ter tempo para pensar, comecei a correr mais uma vez até alcançar uma velocidade aceitável e entreguei-me nos seus braços, sentindo-me fraca e sozinha.

O seu corpo quase que caiu com o impacto causado, mas rapidamente ele conseguiu equilibrar-se e colocar os braços na minha cintura, apertando-me contra si. Noticiei pela velocidade dos seus actos que ele não esperava que este abraço acontecesse, e a verdade é que eu também não.

Foi um impulso do momento, o meu estado vulnerável e devastado fez-me sentir carente, e o seu abraço satisfazia essa necessidade. O seu abraço era completo. Era como se um comprimido para a tristeza, fazia com que tudo se simplificasse, como se tudo se dissolvesse.

Como se este abraço fosse um porto de abrigo, a única coisa que existia no mundo.

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Retirei os meus braços do seu pescoço e olhei para o chão embaraçada. Já ele, sempre na mesma atitude descontraída, colocou ambas as mãos nos bolsos.

“Desculpa” sussurrei sem retirar os olhos do areal.

“Acho que já pedimos desculpa um ao outro vezes suficientes, não?” afirmou ele fazendo-me soltar um pequeno sorriso.

“Mas eu não devia ter-te abraçado assim, foi um acidente” expliquei e senti o seu corpo mais tenso por momentos.

“Não faz mal” afirmou simplesmente, porém sem nenhum tom de simpatia na voz.

Sentei-me no chão com as pernas cruzadas e levei as mãos à cara sem ter ideia do que fazer agora.

Senti o Justin sentar-se ao meu lado, sem proferir uma única palavra, apenas colocando a mão direita sob o meu ombro pousada suavemente, e permanecendo assim. Até ambos cairmos num sono profundo.

Ao sentir a claridade a penetrar pelos meus olhos, acordei do sono em que me encontrava e senti o meu corpo dorido devido ao facto de algo pesado estar pousado em mim. Foi quando abri os olhos e vi. A sua cabeça estava pousada sobre a minha cintura, a sua cara virada para mim. Observei-o por instantes sem efectuar qualquer movimento com medo de o acordar. Parecia inofensivo com um ar angelical enquanto inspirava e expirava, enchendo e esvaziando os seus pulmões a uma velocidade lenta. Sorri ao vislumbrá-lo enquanto dormia e imediatamente senti pena de ter de o acordar.

“Justin” sussurrei baixinho. O seu corpo reagiu de imediato encolhendo-se. “Justin adormecemos na praia” disse num tom de voz sereno. Finalmente os seus olhos abriram-se com lentidão e ele esfregou-os numa fracção de segundos. Rapidamente retirou a cabeça da minha cintura e sentou-se na areia enquanto se espreguiçava. Sentei-me ao seu lado, ambos voltados para o mar.

“Que horas são?” perguntei sem olhar para os seus olhos.

“Estou sem bateria” murmurou ele num tom desagradável.

“Eu não tenho o telemóvel comigo” pensei em voz alta.

“Então nunca vamos descobrir” adicionou ele no mesmo tom de voz.

Permanecemos num silêncio desconfortável durante alguns instantes.

“O que estavas a fazer aqui ontem à noite?” questionei eu finalmente.

“A pensar” disse simplesmente.

Assenti com a cabeça, entendendo que ele não estava para conversas, muito menos comigo, visto que me odiava.

“A praia não é um sitio seguro” disse ele do nada.

“Mas eu e o Ma-” ele interrompeu-me.

“É passado, esquece, está bem? Tens de fazer o que eu digo”disse num tom autoritário.

“Nunca te vou entender” suspirei enquanto abanava a cabeça e me levantava começando a andar rapidamente na direcção oposta ao mar.

“Meredith” gritou ele correndo na minha direcção.

Voltei-me ligeiramente para ele e rolei os olhos soltando um suspiro revelador do meu desinteresse.

Ele parou diante de mim e fechou os olhos por instantes, provavelmente tentando controlar a raiva.

“Vais para casa?” perguntou tentando soar simpático.

Pensei por instantes na sua questão. Foi quando me apercebi que não sabia para onde ir nem o que fazer. Só sabia que me queria manter o mais longe possível dos meus pais.

“Não.” respondi redondamente. Quando ele estava prestes a abrir a boca, não o permiti “Não sei para onde vou, mas a minha casa é o último sítio onde quero estar. E não te quero incomodar mais, sou um peso na tua vida, não gosto de me sentir assim, não precisas de te preocupar mais comigo” e conclui adicionando “Ah! Não quero saber das tuas promessas, elas foram feitas para um dia serem quebradas”

Os seus olhos castanhos estavam pousados nos meus, sem exibirem qualquer tipo de sentimento.

Ao virar-lhe costas, a sua mão agarrou o meu pulso com força, não permitindo que continuasse o meu caminho.

“Justin, deixa-me ir” disse eu com firmeza.

“Não posso deixar-te ir” murmurou ele com honestidade na voz “Eu sei que às vezes sou frio demais, mas não é por mal, não quero que te sintas assim com as coisas que digo...”

Senti o meu corpo ficar mais tenso com o choque provocado pelas suas palavras e voltei a cara para ele.

“Tens uma vida mais interessante para viver do que andar sempre atrás de mim a proteger-me de sei lá eu o quê” afirmei convicta de que o ia fazer sair da minha vida.

“Isso é verdade” disse ele mas rapidamente adicionou “Deixa-me proteger-te e não te faças de difícil por favor” disse ele deixando deslizar a mão do meu pulso para a minha mão, provocando um formigueiro intenso nos meus dedos e acelerando o meu batimento cardíaco.

“Como queiras” disse finalmente quebrando o contacto fisico com o Justin.

Ele sorriu assumindo-se o vencedor desta nossa pequena discussão “Panquecas?” questionou olhando-me com os seus olhos penetrantes.

Assenti com a cabeça sorrindo ligeiramente e caminhei lado a lado com o Justin em direcção ao seu carro.

O facto de não ter sido necessário dar qualquer tipo de explicações ao Justin e o facto de ele ter permanecido comigo, mesmo sem saber a razão do meu choro, provocava em mim um sentimento agradável, impossível de definir. Mais cedo ou mais tarde ele iria ter de saber. E isso só dependia de mim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.