How I Met Your Mother

Capítulo II


Capítulo II

2010

Onde é que eu estava mesmo? Ah, sim, me lembrei. Tio James e tia Lily estavam noivos, eu havia acabado de voltar do encontro com Dorcas – ela incrivelmente não conhecia Beatles – e tio Sirius estava como sempre, aceitando desafios inexistentes, conseguindo mulheres, esse tipo de coisa.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eu liguei para Dorcas, alguns dias depois. Estava naquela época mágica do conhecer. Defeitos praticamente não existem, e, quando percebidos, são facilmente ignorados.

— Hey – ela atendeu, e um barulho infernal vinha do fundo do telefone.

— Hey. O que é essa barulhada?

— Estou com uns amigos – ela praticamente gritou – Hoje é nosso dia.

— Eu vou, então, hun... Depois te ligo – desliguei apressadamente a ligação, pois o barulho era extremamente desconfortável.

Dei de ombros, voltando a prestar atenção na história que Lily contava – algo sobre um paciente maluco que jogou o sorvete no tapete do consultório dela.

— E aí ele começou a simplesmente sapatear em cima da poça de sorvete que tinha formado e a quebrar a casquinha em pedacinhos minúsculos. Acho que foi a pior coisa do ano – ela bufou.

— Lily. Teve um terremoto no Haiti, teve outro no Chile e você fez vinte e oito anos. Já tiveram coisas piores, acredite – Sirius a consolou, dando palmadinhas em sua mão.

Ela lançou um dos famosos olhares mortais a la Lily e ele tirou imediatamente a mão de perto dela, erguendo-as em rendição.

— Não acho que seja muito saudável uma dama como você agir assim, Lily.

Ela mostrou-lhe o dedo do meio, no que James apenas riu e apertou seus ombros como se dissesse “essa é a minha garota”.

— Mas e então, Remus, não conseguiu falar com a Dorcas?

— Não exatamente. Ela estava com uns amigos, pelo visto – deu de ombros, tentando mudar de assunto – Vou ir pegar batata, alguém quer?

Todos acenaram positivamente, continuando a conversa enquanto eu me erguia para poder ir até o balcão. Existe uma mágica no balcão que sempre faz com que os homens, não importa que eles tenham chegado primeiro, sempre eram atendidos somente quando nenhuma mulher estava na fila. E não, não era uma questão de cavalheirismo.

Você pode já ter começado a fazer o seu pedido, mas se alguma mulher aparecer, já era, de verdade. O segredo é sempre pedir para Lily fazer o pedido – magicamente, em menos de cinco minutos, batatas fumegantes e copos de cerveja apareciam na mesa (principalmente se ela tirar a aliança de noivado, sério).

Mas, enfim, após algum tempo voltei para a mesa com as porções e bebidas (não, Teddy, eu não paguei por tudo, depois eles me reembolsaram. Que tipo de pergunta), e eles estavam a meio de uma discussão de como o time do Barcelona era o melhor de toda a história nessa temporada.

— Posso até simpatizar com o Real – James estava comentando – mas esse ano, ninguém será um empecilho para o Barça.

Devo comentar, Teddy, nós três jogamos para o time da escola na nossa época, e a paixão pelo esporte ainda não havia passado – sobretudo para James e Sirius, que eram fascinados com tudo. Aquele time lá de onde Judas perdeu as botas? Eles com certeza sabiam a escalação, a estratégia dos jogos e tudo mais.

Tio Sirius e tio James até mesmo tinham álbuns de figurinhas – sim, álbuns de figurinhas – de cada ano da Liga Europeia, por exemplo. Sim, Teddy, sei que isso é imensamente infantil, mas devo confessar que era legal. Eles corriam por toda Londres atrás de bancas diferentes para tentar evitarem tirar figurinhas repetidas – mas essa é história para depois.

— Fiquei sabendo que tem o risco de se enfrentarem na semi-final – comentei, me sentando e dando continuidade à conversa.

— Mas ainda estamos muito no início da temporada, teremos de esperar para ver – Sirius deu de ombros.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Já passavam da meia noite quando nos levantamos para ir embora e não seria uma longa caminhada para mim, James e Lily – afinal, nosso apartamento era bem em cima do Três Vassouras. Porém, logo que comecei a subir as escadas, uma mensagem de Dorcas fez meu celular apitar.

“Ainda acordado?”

Não tardei a digitar uma resposta que ainda não, e fiquei esperando ali mesmo na escada a resposta.

“Pode passar aqui?”

Tudo bem, Teddy, não ia ser uma “passada”. Porque, bem, já era tarde. E eu não ia voltar para o apartamento depois (não, Teddy, você ainda não vai ter seu próprio apartamento, nem algo assim, a menos que você possa pagar por ele, o que não vai acontecer até você terminar a faculdade. E, a propósito, dormitórios da faculdade sempre dão ótimas histórias e teve aquela vez que James... Estou desviando do assunto, desculpa).

Digitei somente um estou indo como resposta, gritei para a escada acima de mim que estava indo na Dorcas, e já virei para a rua novamente. Àquela hora, era de se esperar que as ruas estivessem vazias mas, acredite, as ruas nunca ficam vazias em plena sexta-feira, independente do horário. Então, tive, vamos dizer, companhia durante todo o trajeto.

Chegando à rua de Dorcas, acabei por me deparar logo com seu carro estacionado em frente ao prédio dela. Era até mesmo uma besteira, ela ter um carro: ela simplesmente nunca o usava a não ser para viagens a outras cidades – o que acontecia, algo aproximado a, nunca.

De toda forma, subi as escadas (nenhum desses prédios sequer possuía um elevador) e bati à porta do 142. Dorcas logo apareceu, usando aqueles shorts velhos que ela sempre usava, a blusa vermelha que já tinha até um buraco perto do ombro e os cabelos loiros despenteados. Ela se inclinou me beijando, e eu pude ver um colorido estranho em seu cabelo.

— Hey – ela me cumprimentou, se virando e entrando para que eu também pudesse o fazer.

— Hey – disse de volta, deixando o casaco no gancho da porta e me sentando no sofá – Como foi a noite?

— Nah, normal – ela sorriu – Mas olha só o que eu consegui.

Ela balançou um dvd do Duro de Matar 4.0 na minha frente. Vamos lá, Teddy, esse filme é um dos melhores filmes do Bruce Willis de todos os tempos, toda aquela ideia incrível de raquear a rede de semáforos. É super incrível. Um dia vou achar para você assistir, vai adorar (“Não, pai, não vou”).

Dorcas correu até o aparelho de dvd, colocou o cd e se acomodou ao meu lado no sofá, depois de pegar algo para beber na geladeira. Ela sempre batia pequenas palmas no início dos filmes, enquanto ainda estava na música inicial. Ela também tinha a mania de sempre comentar um “Ah, sim, claro que é possível fazer isso e sair ileso” ou “Oh, claro, super razoável alguém saltar de um helicóptero dando cambalhotas, pousar atirando e acertar”. Mas ela sempre, sempre, conseguia chorar no final dos filmes. Não importava que fosse um filme de terror: ela conseguia ver algum lado positivo para o protagonista (“olha só, o hacker conseguiu achar alguém”) e se emocionar.

E eu adorava isso nela, Teddy. Eu simplesmente adorava.

Enquanto estávamos meio deitados meio sentados no sofá, ela tinha a mania – irritante no princípio, confortável depois – de ficar passando seus pés nos meus. As unhas (sempre pintadas de vermelho ou branco) se destacavam no pé pequeno dela, que conseguia subir e descer pelo meu, em um carinho diferente.

Segurei as mãos dela nas minhas, a certo momento, e pude notar que elas também estavam coloridas. Era tinta aquilo, definitivamente era tinta. Mas eu nunca havia visto Dorcas pintar algo (que não fosse as unhas, ou seu rosto) antes.

— Estou namorando uma artista e ninguém me contou? – sorri, beijando os dedos dela ao mesmo tempo em que olhava para ela indagando a resposta.

— Não é como se eu tivesse revelado todos os meus talentos no primeiro encontro – ela ajoelhou, chegando mais perto do meu rosto – Qual seria a graça?

Sorriu brincalhona e me beijou. Bom, Teddy, você sabe o que aconteceu depois. E eu não vou te forçar a ouvir toda a história (“Alguém ouviu as minhas preces!”). Não comemore tão cedo, porque você precisa ouvir algo sobre essa parte que você não vai gostar muito.

Não era aquela noite, havia sido antes. Na primeira noite que nós havíamos, bem, passado juntos. Não sei em qual encontro foi.

Eu sempre tive um problema sério quando íamos passar para essa fase do encontro, da conversa ou do que fosse. Isso devido ao meu – como os garotos chamavam – “probleminha peludo”. Foi uma forma que acharam de poder falar disso quando tinha mais gente sem me constranger.

Sempre que meu... Você sabe, meu pênis... Ficava animado (“Pai, você não está me fazendo escutar isso, você está?”) ele meio que entortava. É uma doença, conhecida como Peyronie.

Quando eu era adolescente comecei a perceber tudo aquilo, mas não tinha coragem de falar com meus pais. Então, somente na faculdade, pude procurar ajuda médica (James e Sirius e um outro colega acabaram por saber do fato nessa época, outra história). E, com a ajuda dos medicamentos e do tratamento, consegui diminuir tanto os sintomas que não havia mais sinal da impotência sexual (embora ainda fosse um pouco perceptível a... Tortura).

Então, na minha primeira noite com Dorcas (ou com qualquer outra mulher, na verdade), devido esse resquício visual, eu comentava sobre antes de qualquer coisa. Para, sabe, não estragar tudo no meio de tudo (isso ficou confuso). Era melhor não acontecer de cara, do que gerar expectativa e não acontecer de todo jeito.

Havíamos acabado de chegar, Dorcas e eu, do bar onde estávamos com meus amigos. Estávamos no apartamento dela (eu, inocentemente, fui acompanha-la pelas ruas desertas de Londres – até parece) e os beijos começaram a ser urgentes, e as mãos já não ficavam quietas tempo demais, porque não conseguíamos. Era uma confusão de corpos, de casacos que ficavam soltos pelo caminho, de sapatos e meias e blusas que faziam um rastro até o quarto dela.

Já estávamos somente com as nossas roupas de baixo, quando eu desgrudei nossos lábios, encarei-a e comecei a explicar tudo.

— Dorcas – comecei.

— Hun – ela respondeu, continuando a beijar o meu pescoço, e meus ombros.

— A gente tem de conversar – continuei, me concentrando em cada palavra.

Ela se separou de mim espantada, me segurando pelos ombros.

— Você tem uma doença sexualmente transmissível horrível?

— Não – balancei a cabeça, preocupado.

— Você é secretamente casado e sua mulher te traiu com o seu melhor amigo e você quer me contar agora e evitar cometer o mesmo erro que Derek Sheperd?

— Também não.

— É algo tão importante que tenha de ser dito bem agora? – ela fez um muxoxo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Meu... Pênis. Ele é um pouco... Torto.

— Achei que fosse algo grave – ela sorriu antes de continuar a beijar meus ombros.

Depois disso, eu aliviei, Teddy. Dorcas já sabia, e estávamos bem. Algumas outras mulheres não reagiram tão bem à notícia, então eu sempre estava apreensivo.

2040

O toque da campainha distraiu ambos da história (distraiu Remus, na verdade, porque Teddy encarava uma formiga que escalava a parede) e o mais novo deu graças a todas as forças por poder se movimentar depois de tanto tempo sentado – se continuasse, ele podia jurar que a sua bunda viraria um assento de cadeira.

Era Victoire que tocava na campainha, brigando porque ele não apareceu no lugar em que haviam combinado, que ela estava esperando a séculos. Teddy a convidou para entrar – com a esperança secreta que seu pai parasse com os assuntos íntimos na presença da garota.

— Meu pai me prendeu em casa, desculpa.

— Prendeu? Teddy Lupin está de castigo aos dezoito anos? – ela disse, com uma cara de falsa piedade – Que gracinha.

Ele revirou os olhos, chegando no cômodo que antes estava a só com o pai. Mostrou a garota, em um sinal de “chega de histórias por hoje, pai, temos visita”. Mas, ao contrário do que ele esperava, Remus a cumprimentou e pediu para que se assentasse ao lado de seu filho, para que pudessem continuar a história.

— História? Que história? – ela se interessou, já ajeitando os cabelos loiros de modo que pudesse se acomodar adequadamente no sofá.

— A história de como eu conheci a mãe do Teddy.

Ela sorriu, Teddy bufou, e Remus continuou a sua história.

2010

— Parece que alguém teve uma boa noite ontem – seu tio Sirius amolou assim que me viu chegando no apartamento junto com Dorcas (“Quem é Dorcas?”, Victoire estava perguntando. “Uma ex-namorada do meu pai que ele colocou na história só para ela ficar absurdamente grande”, Teddy reclamou).

— Parece que alguém está na seca – foi Dorcas quem disse, ao ver que ele estava até mesmo sem a jaqueta de couro (ela estava encostada no sofá).

— Na seca nunca, raio de sol. Sirius Black nunca está na seca.

— Claro – ela concordou, se sentando na poltrona.

— Dorcas – Lily sorriu e acenou da cozinha (havia um balcão que tornava possível a visão da sala onde estávamos para a cozinha)

— Hey Lils – ela sorriu de volta – Algum progresso?

Eu não sabia sobre o que elas estavam falando. Normalmente, Teddy, nós homens nunca sabemos sobre os que as mulheres estão falando entre sim. Elas têm algum tipo de código, e nunca dizem palavras-chaves que informem o assunto. Assim, na mesma hora que estão falando sobre um acidente horrível que aconteceu na rodovia, mudam para o sapato em liquidação que viram. Não dá para acompanhar.

Além disso, elas têm essa mania irritante de começarem um assunto do nada sem sequer informarem o assunto. Quer dizer, “algum progresso?” poderia falar tanto da candidatura do senador, quanto da dieta de alguém, quanto sobre o plano do próximo atentado terrorista aos Estados Unidos.

Mas, de toda forma...

— Ainda não – Lily deu de ombros – Mas, acredite, em breve.

Trocaram um sorriso cúmplice, e Dorcas foi ajudar Lily a fazer um macarrão (sim, ajuda em um macarrão. Sentido? Nenhum), acho que como uma desculpa para poderem conversar sem eu (ou James) perguntarmos sobre quem é o sujeito da conversa.

Enquanto elas estavam lá, James, Sirius e eu havíamos ficado sentados no sofá. Sirius estava contando como havia conseguido, incrivelmente, ganhar uma garota contando que havia sido um cavaleiro da Távola Redonda em uma de suas vidas passadas (sinceramente, como acreditar em um cara que diz isso? Ou, melhor, como ela caiu nessa?)

Depois do jantar – ou da refeição nem um pouco trabalhosa que fizeram, pois reclamavam que não iriam ficar o tempo todo da cozinha, perdendo toda a diversão, e que a próxima vez ia ser a vez dos homens irem pra lá – Dorcas se despediu, dizendo que tinha um compromisso.

— Compromisso? – perguntei, quando ela veio se despedir.

— É, já tinha marcado – ela deu de ombros – Aproveite por mim.

Ela passou o braço em sua bolsa e fechou a porta atrás de si.

— Namorada misteriosa a que você arranjou – James comentou – Será que ela tem um daqueles segredos a la novela mexicana?

— Até parece – foi Sirius quem comentou – No máximo um filho secreto sendo escondido no porão de uma casa abandonada em uma cidadezinha do interior.

— Hilários – revirei os olhos – Ela também tem amigos, oras.

— E você não acha estranho não conhecer nenhum desses amigos? – Sirius me perguntou.

— Não enche, Pads – conclui o assunto, mesmo incomodado com a pergunta que ele me fizera.

A verdade, crianças (“Não somos mais crianças, pai”) é que a pergunta que tio Sirius me fizera havia rondado minha cabeça até depois que me deitei. Era verdade, eu não conhecia sequer um amigo de Dorcas, e estávamos juntos a, o quê?, um mês, algo assim.

Percebendo que eu não conseguiria dormir, coloquei o sobretudo, chamei um táxi logo na porta do apartamento e disse para ele rodar até onde desse com a quantia que eu entreguei ao motorista (sim, Victoire, eu lembrei de falar que era ida e volta). Passei por alguns lugares que eu nem sequer lembrava que existia em Londres, assim como passei pelos pontos turísticos que todos conhecem.

Mas, foi numa pontezinha em um bairro mais parado, que, bem, eu a vi. No início, eu não a reconheci: era apenas um bando de pessoas paradas ali (o que já não era muito normal, considerando o local e o horário). Mas depois, eu percebi o sobretudo palha que ela estava usando aquela noite e, acima de tudo, a bolsa verde clara que ela mais cedo pegara antes de sair do meu apartamento.

Seria muita coincidência: uma mulher loira, extremamente parecida com ela e com as mesmas roupas, certo? E mais ainda que, em Londres inteira, o motorista houvesse resolvido passar justamente por aquele caminho.

E então, a tinta que ela estava suja aquele dia no apartamento dela, e a barulheira no fundo na ligação o outro dia, os amigos que não me apresentara... Fez sentido. Porque, naquele momento, eu pude ver Dorcas pichando a ponte, ao mesmo tempo em que sustentava um cigarro entre os lábios. A batida de uma música saia de algum lugar, e seus amigos a rodeavam, em situação similar.

Eu não pude acreditar. A Dorcas que eu conhecia não saia por ai pichando ruas. Certo? Certo? Errado.