Ninho da Águia

O céu no horizonte brincava majestosamente naquele amanhecer, era rosa e ouro quando o sol surgiu sobre o Vale de Arryn e agora até onde sua vista alcançava as cores se pintavam em vários tons diferentes. Ela queria ter aquelas cores em pequenas proporções de tintas para que pudesse colocá-las em uma tela. Mas não naquele dia, não mesmo.

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Naquela manhã, porém não conseguia admirar as pequenas dadivas que os sete deuses lhe concediam. A princesa Arryn encontrava-se distante ao vislumbrar aquela manhã preguiçosa e pacífica, porém poderia ser uma das últimas que veria de seu quarto na Torre da Donzela.

Blair Arryn viu a luz espalhar-se, com as mãos pousadas na delicada pedra esculpida da balaustrada fora da sacada de seu dormitório. Embaixo, o mundo passou de negro a índigo e a verde à medida que a alvorada rastejava por campos e florestas rodeavam as terras sobre seu domínio.

Naquele momento, pode ver uma águia que voava próxima de seu parapeito. Foi naquele momento que a viu pousando ao seu lado, em uma maneira magnifica e esticando as suas asas amarronzadas de maneira solene. Então, como se a cumprimenta-se foi que a águia soltara um piado agudo.

Blair sobressaltou-se ao vê-la após certo tempo, ela reconheceria aquela ave de rapina desde seus anos de infância. E a confirmação veio quando viu a cicatriz que a ave possuía no bico. E então a cumprimentou com um carinho em sua cabeça penosa, sem temer qualquer ataque do animal.

O nome da águia real era Altair, ela recordava-se de quando seu irmão havia o encontrado ainda filhote. Quando era um menino de treze anos, Deryn Arryn encontrou um filhote de águia caído nos vales montanhosos nas proximidades de Lar do Coração. A pequena e magricela águia provavelmente havia acabado de sair do ninho e sido atacado por aves maiores.

Deryn Arryn cuidou daquele filhote até a sua saúde plena. Ele chamou o pássaro de Altair, um nome digno de sua família e que provavelmente não deveria ser desperdiçado em uma águia aos olhos de muitos. Mas seu irmão achou que um nome de guerreiro era bom o suficiente para uma criaturazinha que havia lutado tanto pela vida.

— Então, meu irmão o enviou até mim? – questionou Blair para o pássaro, de maneira retórica. Porém, como se respondesse foi que Altair soltou segundo som agudo em confirmação. A princesa então buscou algo com o olhar.

Em seguida, buscara em seus pés por qualquer mensagem que pudesse encontrar atada nas patas da águia. E ali estava, um pequeno pergaminho enrolado e amarrado em uma tira de couro. Aproximou-se com cuidado e retirara dali à mensagem a ela destinada.

Blair Arryn encarou o pergaminho por alguns segundos, sentindo uma tensão percorrendo-a sua espinha frente aquele pequeno pedaço de papel em sua mão. Seu irmão mais novo havia desaparecido por cerca de meio ano ao lado de sua dama de companhia, Lady Jeyne Royce. Sem uma palavra conhecida sobre o seu paradeiro.

Harry nunca quebraria com a sua palavra, pensou naquele momento. Seu irmão falecido entendia o que significava o dever para com a casa e provavelmente teria apressado o casamento com a princesa das Terras da Tempestade para garantir que a paz fosse assegurada.

Teriam conseguido pelo menos meio século sem conflitos entre os dois reinos através dessa união. Se os deuses fossem bons, até mais do que isto. Sem falar que o contrato de sangue faria com que ambos os reinos lutassem lado a lado as lutas um do outro. Dois reinos relativamente menores, porém que juntos se tornariam grandiosos.

Ainda assim, ela não estava irritada com Deryn. Estava apenas desapontada com o irmão, porém uma pequena parte em seu interior compreendia o mais novo.

Deryn havia sido colocado a prova, entre seu dever com o reino e a honra da mulher que amava. E optou pelo caminho que lhe parecia ser o certo. Afinal, moças defloradas e com bastardos próprios eram vistas com maus olhos diante da sociedade. Elas não costumavam encontrar bons casamentos e algumas por si só já eram deserdadas de suas famílias.

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Sendo que provavelmente, a Casa Royce iria fazer o mesmo com Jeyne. Ao levar por consideração a reação de Yoren Royce frente ao anuncio mal fadado do casamento secreto. Ela não fazia ideia do que aquele homem seria capaz ao ver a filha diante de seus olhos novamente.

— Eu deveria parar de pensar tanto e só quebrar esse maldito lacre - falou Blair irritada consigo mesma e pelo seu receio. Ela sabia que ao ler aquilo, se tornaria uma cúmplice de tudo o que o irmão havia feito. - Você poderia ter procurado Roland, não a mim. Por que Deryn? Por que me coloca em uma situação dessas?

No fundo de seu coração, ela sabia que esteve ali todo o tempo que chegaria momento em que Deryn pararia de fingir ser o que ele não era. Seu irmão nunca fora preparado para ser o regente do Vale de Arryn, seu pai havia lhe deixado crescer voando sozinho e sem uma mão firme para guiá-lo.

Deryn passou grande parte de sua vida sem conhecer o que era ter deveres e obrigações, propriamente ditos e impostos a si. Um erro do qual o rei se arrependia nesses últimos anos.

A morte de Harrold em batalha tinha obrigado com que Deryn assumisse responsabilidades e preocupações que antes desconhecia. Ele era tão livre quanto um pássaro no céu azul do Vale de Arryn, porém estava longe de agir feito uma águia.

Além do maior agravante aos olhos de Deryn, o fato de ter que tomar a promessa de um casamento com uma donzela que não conhecia. O próprio Rei Jonos Arryn havia esbofeteado o filho quando este questionou aquela decisão, afinal ele deveria estar disposto a sacrificar os seus interesses pessoais pelo bem maior.

Um contrato de sangue para que a paz fosse selada, lembrou-se das palavras de seu pai. Era o justo ao olhar de todos e parecia ser o correto ainda assim ninguém poderia mandar no próprio coração. E o de Deryn Arryn pertencia à outra pessoa.

Talvez isso fosse o pior, afinal mesmo aos quinze anos o rapaz já conhecia o que era amar uma moça e ser correspondido. Um amor que começou de maneira inocente, em decorrência da pouca idade que ambos possuíam. Mesmo antes disso, Blair poderia notar o carinho que seu irmão possuía com Jeyne desde que ela pusera os pés no Ninho da Águia.

Em uma realidade diferente, onde Harrold sobrevivesse à guerra e ainda fosse o herdeiro do Vale de Arryn, provavelmente Deryn teria desposado Jeyne como sua esposa com a benção de ambas as famílias. Porque Harry estava acostumado a sacrificar suas próprias vontades e seus próprios deveres em favor do que era o correto. Ele compreendia o significado de honra.

— Eu preciso enviar a resposta - falou Blair Arryn, então sorriu tristemente para a águia que ainda mantinha-se sentinela em sua sacada. - É por isto, que está aqui não é? Deryn espera uma resposta minha. Mas eu não sei, eu realmente não sei se deveria ler essa carta ou entrega-la ao meu pai. A quem eu devo ser leal? - Ela então riu secamente - Você está conversando com um pássaro, não banque a louca. Não é do seu feitio isto, Blair. - sussurrou para si mesma.

Ela viu a águia de seu irmão abrindo as asas e saltando para fora da sacada em voo. Blair viu por alguns segundos seu planar pelos céus, antes de voltar seu olhar novamente para o pergaminho e então puxar o fino cordão de couro que o atava.

Como de sobressalto, sua porta soara com batidas metálicas e então ela teve que ser rápida em ocultar o pequeno pergaminho dentro de sua manga. Ela encaminhou-se na direção do quarto e o cruzou em poucos segundos, tentando recompor a sua postura antes de atender a pessoa que tornava a tocava o batente.

— Bom dia, vossa alteza. – falou Sor Vector Egen, o capitão da guarda de seu pai. Um homem no inicio de seus quarenta anos com mais de dois metros de altura e um corpanzil forte e robusto. Um rosto cheio e redondo como a lua cheia, porém possuía um cavanhaque a adornar-lhe o queixo. – Espero não a ter despertado ou interrompido algo importante.

— Sor Vector, o que deseja? – questionou Blair ao cavaleiro.

— Estou vindo a mando de vosso pai – disse Sor Vector – Ele deseja vê-la na sala do pequeno conselho. – Ele deu alguns passos para longe da porta e ofereceu-lhe passagem - Por favor, queira me acompanhar até a presença do rei.

— Se assim meu pai deseja – respondeu Blair educadamente e trancando a porta atrás de si – Poderia indicar-me o assunto desta convocação logo pela manhã? Alguma informação sobre meu irmão?

— Nenhuma até então, vossa alteza. – disse Sor Vector com pesar – Não temos informações sobre o Príncipe Deryn nem de Lady Jeyne. E eu não sou autorizado a adiantar-lhe as palavras de vosso pai. Apenas a voz do rei deve entorná-las.

— Compreendo – respondeu Blair enquanto seguiam em silêncio até o fim do curto corredor. Seguindo pelas escadarias em caracol, enquanto ambos deixavam o alto da Torre da Donzela.

Por alguns segundos os olhos da princesa pararam no corredor inferior, encarando a porta de sua irmã localizada no patamar abaixo de seu próprio dormitório. Ela pode encarar o guarda que encontrava-se guardando a porta de Aemma Arryn, quando o cavaleiro notou o olhar da princesa o respondeu com uma curta reverência.

— Quem é? - questionou Blair para o capitão da guarda, interessada em saber o nome do novo guardião da porta de sua irmã.

— Seu nome é Sor Heron Hardyng - respondeu Sor Vector - Foi enviado pelo irmão para servir ao Ninho da Águia. Um cavaleiro recém-consagrado, sabe? Pensei que sua irmã fosse sentir-se mais confortável em ter como um guardião um jovem rapaz no lugar de qualquer um de nós, velhos cavaleiros...

— Concordo, porém não sei se agradará a Aemma ter uma pessoa nova próxima. - respondeu Blair - Ela é muito sistemática e acredito que possa não lhe agradar muito ter alguém que não conheça por perto.

— Entendo, porém caso ela sinta-se desconfortável com Heron é só vir até mim e pedir que eu mude o guarda. - disse Sor Vector de maneira simplista - Por alguém que seja de seu agrado. Então, a senhorita fará um desvio para dar um bom dia para sua irmã?

— Bem, creio que não deva despertá-la - disse Blair - Não quero ser inconveniente. Mais tarde, eu posso encontrá-la para juntas praticarmos bordado. - Provavelmente, Aemma gostaria de saber da mensagem do irmão delas. - É, quem sabe? Não temos passado muito tempo juntas desde que ela retornou de Vilavelha. - Fez uma nota mental para mais tarde encontrá-la e quem sabe assim ambas lerem as palavras de Deryn.

— Bem, vossa alteza... - respondeu Sor Vector - Nesse caso, creio que devamos ir. Seu pai a aguarda na sala do pequeno conselho, não creio que seja correto ficarmos aqui parados no meio do caminho. Se me perdoa a indiscrição de minhas palavras.

— Claro, sem problemas... - disse Blair, sendo assim a princesa seguia cuidadosamente descendo os degraus devagar. - Bom dia, septã. - Ela cumprimentara uma moça que vestia os trajes típicos e simplistas de uma devota da Fé dos Sete. Ela havia retornado com a irmã de Vilavelha, porém segundo disseram era natural do Vale de Arryn.

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Septã Ysilla era responsável por educar a princesa mais nova junto do Grande Meistre Yorwick, ela sendo a responsável pelas artes femininas enquanto o estudioso por educá-la em relação a números e letras.

— Bom dia, vossa alteza. - Cumprimentou Septã Ysilla. Blair lançou-lhe um sorriso, enquanto a via subir os degraus em direção ao dormitório de Aemma.

Por fim, deixando a torre e adentrando nos corredores principais do castelo. Deram alguns passos em silêncio e a princesa podia escutar o som metálico que o capitão da guarda fazia a cada passo que dava, um tilintar característico de um cavaleiro veste a armadura completa.

Blair então decidiu que o silêncio lhe incomodava, preferindo então buscar por novas informações e contava que o capitão fosse a fonte necessária para consegui-las.

— Diga-me, Sor Vector. – falou Blair para o cavaleiro que caminhava ao seu lado. Em sua armadura completa e prateada com a capa azul com o símbolo da lua crescente bordado em prata. – O quão horrível está a situação de meu irmão frente ao nosso reino? Seja, sincero em suas palavras.

— Ruins, vossa graça. Apesar de que ruim seria amenizar a verdadeira grandiosidade desse evento que se abateu sobre nosso reino. – respondeu Sor Vector - Era inevitável que os boatos se espalhassem, de repente a verdade veio com a confirmação. Após a prisão do Septão de Stonyhead.

— Os bardos devem estar se fartando em suas composições mais inspiradas – disse Blair com uma pitada de sarcasmo em sua voz - Sobre fuga de dois amantes e o seu casamento secreto em um pequeno septo em um vilarejo menor sem muita importância.

— É uma história que certamente não queremos que seja cantada – disse Sor Vector evitando o olhar da princesa – Ainda mais com a fúria da tempestade que recairá sobre nossas montanhas.

— Sim, até porque ambos passaram a noite em um pequeno quarto no mesmo templo religioso, antes de partirem no dia seguinte. Mesmo antes do Septão de Stonyhead despertar naquela manhã. – disse Blair recordando-se da confissão feita pelo pobre sacerdote diante do trono da águia.

- O homem vendeu sua honra por quarenta luas de prata ao todo – disse Sor Vector – Foi o preço para que ele concorda-se em casar vosso irmão com Lady Jeyne Royce. Ainda não consigo acreditar que isto aconteceu, mesmo estando presente e ouvindo as palavras daquele velho durante a confissão.

— Certamente o septão se arrepende amargamente desse feito – respondeu Blair Arryn – Meu pai poupou-lhe de seu voo através da porta da lua. O que a meu ver foi um ato que mostra muita piedade por parte de meu pai, como qualquer outro lorde teria condenado o pobre septão a uma morte horrível.

— Qualquer homem em sã consciência soltaria a língua para se livrar de uma queda de duzentos metros e um pouso nada suave nas rochas do Vale de Arryn. – disse Sor Vector – Até mesmo uma cela do céu parece mais confortável.

Eles seguiram por mais alguns segundos enquanto por fim chegaram próximos do Alto Salão e ali ingressaram. Naquele lugar são realizadas as refeições para os habitantes do castelo.

Um longo e austero salão, com paredes feitas de mármore branco com ranhuras azuis claras. Ao fundo, podia ser visto o trono da águia, feito de madeira de represeiro.

O lugar era bastante iluminado. Possuindo estreitas janelas arqueadas, entre as quais estão tochas seguradas por arandelas de ferro que estavam apagadas naquela hora da manhã. Então, parando por alguns segundos em frente ao trono de seu pai, que por sua vez dava vista para a porta da lua.

— Ainda assim, não foi fim porque o meu pai prometeu para esse septão que ele irá tomar o negro. – falou Blair Arryn recordando-se vividamente do julgamento que havia presenciado – Isto ou o voo através da porta da lua ainda será uma opção.

— Seu pai é um homem justo e racional, vossa alteza. – respondeu Sor Vector não escondendo sua admiração pelo rei. – Ele sabe o que fazer sem deixar que suas emoções interfiram em seu julgamento. Se deixasse sua fúria falar mais alto, provavelmente eu mesmo teria que arrastar aquele ancião e arremessá-lo através da abertura.

— Faça-o voar – disse Blair recordando-se das palavras decisivas de seu pai após condenar alguém à morte. – Eu me recordo de presenciar a minha primeira execução. Eu tinha recém-completado o sétimo dia de meu nome. Eu me esgueirei e me escondi atrás de uma das pilastras.

— É uma tenra idade para uma moça presenciar a morte – respondeu Sor Vector surpreso pela confissão da princesa. – Seu pai deve ter a repreendido por ter ingressado assim na sala do trono sem sua permissão.

— Sim, eu fui muito repreendida por minha mãe quando está soube do que eu havia feito. Não é uma atitude de uma dama, ela ralhou comigo na ocasião. Mas eu não senti medo em presenciar a morte. – contou Blair Arryn para o capitão da guarda. - Eu até me orgulho de dizer que não havia desviei o olhar no momento em que o prisioneiro foi empurrado através da abertura.

Foi naquele momento que por fim chegaram à sala do pequeno conselho, foi naquele momento que seu acompanhante tomou a frente após ordenar que um par de seus guardas se afastasse e abrisse o caminho para a princesa.

Sor Vector Egen bateu na porta com o punho fechado, fazendo o metal de sua manopla soar agudamente em contato com a madeira. Então uma pequena portinhola se abriu e dali surgiu a face de envelhecida e barbuda de Meistre Yorwick.

— A Princesa Blair está aqui, vossa graça. – falou Grande Meistre Yorwick para dentro da sala. E provavelmente a resposta veio em resposta na forma de algum aceno, já que a garota não ouvira a voz de seu pai.

— Está entregue, vossa alteza. – disse Sor Vector para a princesa que sorriu em agradecimento – Tenha um bom dia. – E afastou-se após uma reverência.

Em seguida, a porta foi aberta, Blair Arryn adentrou na sala pequena e discreta. O lugar era menos glamoroso ou refinado que o alto salão, possuía uma lareira larga em mármore branco e uma grande mesa branca de represeiro. Sob a lareira, aos olhos de todos podia-se ver a espada ancestral de sua família, era chamada de Luar Radiante e tinha sido forjada em aço valiriano.

Era a mesma espada que o fundador de sua casa tinha empunhado em suas batalhas pela conquista e unificação daquele reino como um só. Ela também esteve na última guerra, sendo levada por Rei Jonos Arryn em batalha.

Porém, a principal lembrança que Blair tinha daquela espoada, fora o dia em que ela foi a responsável por consagrar Harrold Arryn diante de toda a corte quando este já era um homem crescido em seus dezesseis anos.

— Vai ficar parada ai para sempre? - questionou Rei Jonos sem lhe dirigir o olhar - Não é a primeira vez que vem até o pequeno conselho. E certamente também não foi a primeira vez em que esteve aqui ao meu convite.

— Desculpe-me, meu pai. - falou Blair - Eu só estava admirando a grandiosidade desse lugar. As vezes me esqueço de que aqui temos tantos pedaços de história de nossa família.

— Você e essa sua fascinação para com o nosso passado - respondeu Rei Jonos lhe dirigindo um rapido olhar - De quem será que você herdou este apresso por histórias velhas?

— Certamente, não de minha mãe. - disse Blair Arryn enquanto o pai voltava o olhar para os seus pergaminhos, porém dessa vez trazendo um sorriso discreto nos lábios.

Havia ainda a tapeçaria que representava a vitória do Rei Artys I Arryn contra o Rei Grifo. Certamente uma lembrança do passado de conquistas e unificações de seus antepassados. As janelas estreitas eram as mesmas do Alto Salão, porém ainda assim traziam uma iluminação limitada aquela hora do dia.

— Ele estava lhe esperando, vossa alteza. – falou Meistre Yorwick, enquanto retornava para o sua cadeira no pequeno conselho. - Por favor, queira se sentar. - Ela assentiu, porém manteve-se em seu próprio lugar ao esperar que fosse ser notada pelo pai.

O Rei Jonos Arryn encontrava-se de pé em frente a uma das pontas da mesa, ali ele estava a ler algumas anotações feitas em um pergaminho. Ao lado dele, uma bandeja com um dejejum que parecia apenas ter sido revirado e não finalizado. Ainda havia restos do ovo mexido e o pão de cevada havia recebido apenas algumas mordidas.

Ele por vezes não se alimentava corretamente, em especial enquanto estava fielmente integrado nas obrigações para com o reino. Alguns homens tinham prazer em mulheres e bebida, porém o regente sentia-se necessitado em manter sua mente ocupada com o trabalho. Ao menos, desde a perda de Harry.

— Solicitou que eu viesse até aqui, meu pai. – falou Blair Arryn após fazer uma reverência – O que o senhor deseja tratar comigo?

— Princesa Reyna Durrandon está morta – disse Rei Jonos – Seu irmão fez com que aquela pobre jovem tirasse sua própria vida. - Ele quase rosnara aquela última parte em raiva.

— Como? - questionou Blair - Não, isso não pode ser verdade. - Simplesmente, seus pensamentos ficara turvos e seus olhos parecerem esquentar rapidamente e enublarem. - Por favor, papai...

— Uma verdade amarga ainda é uma verdade. - respondeu Rei Jonos - Ela não suportou ter o coração partido e a desonra para o nome de nossa família só aumenta frente a essa tragédia.

Blair sentiu suas entranhas revirarem frente aquele comentário de seu pai. Uma notícia terrível e triste que se abateu sobre si mesma ao lembrar-se de sua futura irmã por casamento.

Por um momento a imagem dela se despedindo de Princesa Reyna Durrandon no cais de Vila Gaivota, após sua última visita ao Vale de Arryn. As duas tinham se dado tão bem uma com a outra, então era inevitável aquela sensação horrível de perda que se abateu sobre si.

Aquela sensação de mal estar que lhe era tão familiar após a notícia da morte de Harry durante a guerra. Blair Arryn sentiu que as suas pernas cediam e amoleciam, então tivesse que buscar uma cadeira qualquer para se sentar.

— Como isso aconteceu? – questionou Blair ao pai ainda em choque frente as palavras do pai – Quando aconteceu?

— Ela atirou-se de uma das torres de Ponta Tempestade – disse Rei Jonos – Direto para as águas violentas do Mar Estreito. Seu corpo tem sido velado por sete semanas pela sua família. Há essa hora em que nos encontramos, provavelmente o seu corpo já foi sepultado.

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— Ao menos os deuses foram bons em permitir que eles encontrassem o seu corpo e pudessem velá-la com respeito. Porém, meu pai... Essa noticia não necessitava de ser me dada em particular ou mesmo antes dos outros saberem-na. – respondeu Princesa Blair Arryn ao seu pai, tentando esconder o quando enjoada estava ao saber da noticia.

— Você é uma das pessoas que mais confio, Blair. - respondeu Rei Jonos - E eu tenho para mim que a última vez em que esteve como nossa hospede, a finada princesa se tornou sua amiga.

— Sim, ela era. Mas ainda assim... - disse Blair - Eu poderia ficar sabendo assim a lado de toda a corte no Alto Salão. Mas seus olhos atentos decidiram que seria melhor me contar em particular. Eu lhe agradeço por confiar em mim para dizê-la. Eu tinha grande apreço pela garota.

— Sim, você está correta – disse Rei Jonos – Mas eu não queria assim, como bem vê... – Ele aproximou-se dela e tomou um dos assentos vagos a sua frente - Eu preferi chamá-la antes de reunir o meu pequeno conselho. Porque creio que você deva saber dos meus planos com antecedência porque está envolvida neles.

— Até posso deduzir os próximos passos em decorrência desse fato trágico – disse Blair mantendo-se neutra e a compostura – Após o que aconteceu, creio que a paz esteja ameaçada. Apesar, que ela já se encontrava muito danificada frente ao ocorrido com o meu irmão. Então, estou livre para questioná-lo sobre o que tem em mente. Digo-me, o que devemos fazer a respeito?

— Você não é uma tola, Blair. – respondeu Rei Jonos Arryn sem muitos rodeios ou delicadeza em suas palavras. – Então responda essa pergunta por si mesma, o que deve ser feito em uma tentativa de manter a paz?

Ela fez um silêncio em decorrência daquelas palavras, após alguns segundos mantendo o contato visual firme e direto com o seu pai. Olhos tão negros quanto os seus, eram tão semelhantes que não havia duvidas que fossem ligados através do sangue.

— Eu terei de me casar com um dos príncipes – respondeu Blair para o pai – Ambos os filhos mais velhos de Rei Dorian Durrandon encontram-se sem esposas. – Ela puxou um jarro depositado sob a mesa e serviu-se com um cálice de vinho dornês. – Creio que já esteja decidido não é mesmo?

— Por que deduz que esteja decidido? – perguntou Rei Jonos – Isso não é como se fosse um aviso, minha filha. Eu apenas quero saber a sua opinião frente a essa proposta. Você não tem que aceitar.

— A honra pede que eu aceite – respondeu Blair Arryn enquanto servia uma taça de vinho ao seu pai também – Ninguém deve negar um pedido feito a um rei. Nem mesmo os seus filhos tem este direito.

— Você sabe que não vou forçar a nada – falou Rei Jonos Arryn.

— Sei que não, meu pai. Porém eu não lhe culpo se tomasse essa decisão. – disse Blair enquanto tomava um gole do tinto e sentiu um amargor em seus lábios - O Rei das Terras da Tempestade ofereceu da última vez um tratado de paz através da união matrimonial de sua filha com o príncipe herdeiro do Ninho da Águia. Afim de por fim a uma guerra entre nossos reinos, porém dessa vez não será tão fácil... – Ela viu o pai tomando um gole de vinho também.

— Sim, isto é verdade – concordou Rei Jonos orgulhoso do posicionamento dela – Muito difícil e estou satisfeito que saiba disso. Evita-me um discurso sobre estre assunto.

— Para mantermos a paz, agora a ocasião pede que seja o senhor a oferecer a mão de sua filha. – respondeu Blair - E eles não vão querer a mais nova. Eu não sou burra, meu pai. Sei o que deve ser feito. – Ele deu um meio sorriso frente a expressão usada pela garota.

— Então, você irá aceitar que eu envie a proposta – falou Rei Jonos convicto e parecendo extremamente orgulhoso da compostura de sua filha mais velha. – Eu a amo muito, Blair. Eu não pediria que você tomasse essa atitude se não fosse necessário.

— Sim, eu sei. – respondeu Blair Arryn – Muitos acham que o senhor errou ao não aceitar a proposta de Rei Gareth Gardener da Campina. Ao não lhe dar a minha mão ao seu herdeiro. Muitos dizem que eu permaneceria donzela para sempre por conta da falta de pretendentes a minha mão.

— O pobre garoto – disse Rei Jonos – Você o espantou tão facilmente.

— Ele era uma criança – respondeu Blair – Se eu tenho de me casar com alguém, pelo menos me arranje um homem maduro para que possamos ter uma conversa decente. Eu e Florian... Nós temos sete anos de diferença, meu pai. Não havia condições de eu aceitá-lo como o meu marido. Não mesmo.

— Você teria bastante poder sobre o rapaz – observou Rei Jonos – Ele seria facilmente influenciável por suas palavras. Se me permite ser mais direto, você poderia governar a Campina através dele.

— Prefiro governar algo ao lado de alguém de maneira igual – disse Blair – Não quero agir nas sombras. A mulher também é importante, meu pai. Também merecemos ser lembradas tanto quanto os nossos maridos.

— Pensamentos assim foram o que assustaram pretendentes - respondeu Rei Jonos - Homem nenhum quer dividir a sua importância com uma mulher. Fora que sua mãe lhe falhou ao não ensiná-la as graças de ser a senhora de um castelo. O poder que você teria se fosse uma rainha... - Ele suspirou - Você poderia ter sido a melhor esposa para aquele tolo garoto. Por trás de todo grande homem existe uma grande mulher, já diziam os antigos.

— Eu não sei se eu seria capaz de governar através de Florian, porém caso fosse não é como se eu estaria feliz em não receber o reconhecimento por minhas ações. - Concluiu Blair colocando um ponto final naquele assunto.

— Sim, de fato. – falou Rei Jonos – Ainda assim, nós perdemos o apoio da Campina e essa aliança de casamento. E nossas tentativas de encontrar um marido decente para ti, um a sua altura mostrou-se falho.

— Eu não posso mudar o jeito que eu sou, meu pai. – respondeu Blair – Foi assim que eu cresci e não irei alterar meus pensamentos. – Ela sorriu para o pai – O senhor bem sabe o quanto eu sou teimosa.

Ela foi criada no meio dos irmãos, embora gostasse das tarefas femininas também e não negasse o seu lado de dama. Apenas não queria ser uma garota vazia e submissa, sem poder de argumentar ou simplesmente ser passiva frente aos acontecimentos ao seu redor.

Blair Arryn sempre seria chamada de intrometida quando criança. Sendo que ela escutaria isto do pai por várias vezes enquanto crescia, tendo sido punida algumas vezes por não saber manter-se em silêncio ou meter-se a aprender coisas que não estavam de acordo com o esperado dela. Como fugir de suas aulas para assistir as do irmão gêmeo.

Tanto insistiu em mostrar que estava disposta em aprender mais do que simples deveres domésticos e matriarcais, que foi capaz de conquistar o seu espaço e provou ao pai que ela tinha o seu valor. Uma estudiosa nata, que por vezes superaria o seu pai em dedicação e animo para aprender.

E assim, ela passaria a ser ouvida e vista pelo Rei Jonos, sendo que segundo Harry havia comentado uma vez ou duas, ela havia se tornado a sua filha favorita. Blair Arryn preferiria falar sobre assuntos de homens, quando deveria ficar com a mãe e a irmã falando sobre bordado.

E por mais que alguns tentassem censurar suas palavras, ela ainda assim insistiria em dar sua opinião sobre determinado assunto. Blair Arryn sempre desejou fazer algo mais do que simplesmente obedecer a seu marido, e seus irmãos sempre a respeitaram por isso e com o tempo o seu pai compreendeu a maneira que ela agia não iria mudar. Talvez por isto não ficara surpreso quando o rei e o herdeiro da Campina deixaram o castelo sem que a aliança de casamento fosse aceito.

— E grande parte desse fracasso, eu acredito que se deva a sua insistência em eu criar alianças com outros reinos. Como vê, quebrar a tradição às vezes só nos dá mais dor de cabeça. Foram tolas ambições meridionais, Yorwick. – falou Rei Jonos Arryn para o Grande Meistre que conferia os pergaminhos e fazendo algumas anotações.

— O senhor me culpa por querer o melhor para o Vale de Arryn, vossa graça. – respondeu Yorwick – O senhor não fazia questão de propor nomes de possíveis pretendentes para a jovem princesa. Pensei que o potencial dela não deveria ser desperdiçado, afinal ela merece um homem que a permita que mantenha a sua coroa.

— Agradeço por sua consideração para comigo, Yorwick. – respondeu Blair educadamente – Mas não sei se eu estaria feliz na Campina. Dizem que o sul tem um clima muito quente e isto não é do meu agrado. – E riu do próprio comentário.

— Ainda assim, seu pai tardou em aceitar minhas propostas de alianças – respondeu Yorwick- E era tempo de tentarmos novamente depois que não deu certo para com o herdeiro de Jardim de Cima.

— Eu estava esperando pelo pedido de alguém específico. – falou Rei Jonos Arryn modestamente e isso atiçou a curiosidade da garota. - Porém, acredito que meus vassalos sintam-se intimidados em virem até a mim para fazerem tal proposta ou talvez não seja a mim a quem eles temam... – E dirigiu um olhar para Blair que dera um olhar significativo para aquelas palavras.

— Sério mesmo, meu pai. – disse Blair – Bem, aqui estou eu aceitando me casar pelo bem maior do reino. Acho que ninguém lamenta o fato de eu não ter sido desposada ainda, não é mesmo?

— Sim, eu sei que isto não a faz feliz. – falou Rei Jonos Arryn – Não me é agradável casar minhas filhas com outros herdeiros que não sejam nascidos no Vale de Arryn. Tanto é que a proposta de uma aliança de casamento com Florian Gardener revelou-se como algo de que me arrependo. Ainda assim, eu serei obrigado a fazê-lo para proteger o nosso reinado.

— Poderei escolher o meu noivo ao menos? – questionou Blair ao pai.

— O que sabe sobre os príncipes da tempestade? – questionou Rei Jonos com uma face analítica. – Ou eu terei que te falar as minhas próprias opiniões a respeito de ambos os rapazes?

— Príncipe Ian era viúvo mesmo antes da guerra enquanto seu irmão pelo que sabemos é famoso por não mostrar interesse em desposar alguma dama. – disse Blair Arryn recordando-se das palavras uma vez ditas por Reyna Durrandon sobre uma conversa que tiveram sobre sua família. Ela não tinha tido o prazer em conversar com o principe herdeiro das Terras da Tempestade.

— E quanto ao irmão mais novo? - mencionou Rei Jonos - Lembro-me que este chegou a conhecer e trocar algumas palavras durante o noivado de Deryn e Reyna.

— Oh, sim... - respondeu Blair - Príncipe Robben tem um forte apresso por mulheres e ninguém irá negar essa sua característica marcante como um senhor das moças. - Ela lembrava-se da maneira como ele parecia querer impressioná-la. Porém, também recordava-se do que ouvira depois de sua conversa com outros lordes. - E não faz distinção, deita-se com cortesãs, prostitutas... - Ela franziu o cenho - Porém, seus outros interesses também englobam longas bebidas e por fazer extensas viagens além mar. Eu acho que o senhor sabe qual dos dois é aquele que prefiro que me despose.

— Sim, eu sei. – disse Jonos Arryn – De todo o modo, eu já havia escolhido o herdeiro de Ponta Tempestade como o seu pretendente. – Ele deu um novo gole de vinho enquanto fitava a filha - Eu tenho que ser sincero em dizer que parte de mim acredita que essa proposta não seja aceita.

— Também acredito que o Rei Dorian não vai aceitá-la. – falou Blair sendo pessimista – Um novo casamento não irá apagar a humilhação que Deryn fez para a princesa. – Ela suspirou enquanto olhava através da estreita janela. Seus olhos a fitar o céu azul e sem nuvens do Vale de Arryn.

— Eles estão enlutados e em fúria pela perda trágica, nossa chance de mantermos a paz é mínima só que ainda assim temos de fazer a proposta. – respondeu Rei Jonos - Uma última esperança antes que a paz morra. Por isto, eu devo enviar meus melhores diplomatas para esta missão e esperar que façam um milagre.

Princesa Blair Arryn fitara então os vários pergaminhos dispostos sobre a mesa da branca de represeiro. Alguns já se encontravam enrolados e estavam sendo selados com cera azul clara e tinham o sigilo da águia e lua marcados pelo Grande Meistre Yorwick.

— Creio que já esteja preparado para receber a negativa – disse Blair – Tantas cartas assim, só me recordo de vê-las na época de guerra quando eu era mais nova. – Ela viu o velho e rechonchudo mestre lhe encarando ao notar seus olhos sobre si. - Então, estamos convocando os nossos senhores vassalos.

— Sim – disse Rei Jonos Arryn – Nós vamos convocar e estarmos preparados para defender nosso reino de ataques. Temos que estar preparados parar nos defendermos e é isso que faremos.

— Bom – respondeu Blair enquanto se erguia de sua cadeira – Espero que não seja necessário. – Ela então foi afastando-se de seu lugar em direção a porta de entrada - Espero que a paz prevaleça.