Hogwarts: uma outra história

Capítulo 33. Correndo riscos


Capítulo 33

Que dia infernal.

Eu definitivamente não gosto dessa história de ser vigiado. No final de todas as aulas tive que assinar um atestado de comparecimento e perdi quase uma hora esperando devolverem minha varinha, porque a outra opção era pegar no dia seguinte e isso eu não faria nunca.

—Comer ou não comer... Eis a questão.— Falei comigo mesmo, já que Tony está em outro mundo, mesmo sentado ao meu lado. A verdade é que ele deve estar repassando o plano dele da invasão à Casa Branca, o qual eu não posso saber, claro.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Para merda com esse negócio de saudável! Acho que minhas veias ainda estão limpas o suficiente para aguentar um pouco daquela gordura que fica ao redor da bisteca. Eu gosto de gordices, me processem. Só preciso lembrar que meu avô Silas morreu de infarto, mas de resto eu tô bem.

Agora que estou saboreando meu jantar de uma maneira mais completa e sem culpa, consegui dar uma pausa na minha melancolia, só para perceber uma súbita tensão na mesa da Sonserina, mas o qu... Ah, é só Longbotton vindo para cá.

Ele passou apenas uma das pernas para dentro do banco, sentando-se de frente para mim. Corajoso da parte dele dar as costas para a metade da nossa mesa desse jeito. Dã, Cesc, claro que ele é corajoso, ele é da Grifinória!

—Ok, Fábregas, precisamos afinar alguns pontos.— Eu continuei comendo e fiz um gesto para que ele continuasse. Tony olhou tudo com um interesse distante. – Soube da ideia de Weasley para que usássemos a câmera de Salazar Sonserina nos treinos?

Fiz que sim com a cabeça, porque minha boca ainda estava cheia, mas Tony me deu um chute por debaixo da mesa, me fazendo xingar em meio a comida semi-mastigada.

—Mas que porra, Tony!— Ele me encarou mal-humorado, mas falou com o grifinório ao invés de me dar um pedido de desculpas decente. Não que ele saiba fazer isso de qualquer jeito.

—Não gostamos da ideia de dividir a câmara, ela é nossa por direito.— Ok, ok, ok. Quando falamos sobre isso? Essa é mais uma daquelas coisas que eu supostamente deveria lembrar, mas não lembro? Resolvi deixar meu amigo assumir a liderança dessa vez.

—Pois vocês terão que se entender com a professora Gooding, porque ela conseguiu que a gente usasse o lugar, todos os times.

Eu dei de ombros, para mim parecia razoável, mas Tony tinha outras ideias.

—É a câmara da Sonserina, devia ser usada somente pela Sonserina!

—Isso é irrelevante, mas se quiserem insistir nisso, fiquem à vontade. Só vim perguntar a você, Fábregas, que horários você quer na escala.

O garoto emo tirou um pergaminho de dentro do casaco e afastou o meu prato para que eu pudesse enxergar melhor a escala. Deixarei ele sair impune com essa ousadia toda, só porque isso muito me interessa.

—Sparks pegou as segundas e quartas?— Analisei a lista, vendo que a Lufa-lufa e a Grifinória dividiriam as segundas.

—Chegamos num acordo para nem dar motivo para você e Haardy encrencarem. Ficamos com a sexta e se eu fosse você ficaria com as terças e quintas, deixando a Corvinal com o fim de semana.

—Teríamos mais tempo nos fins de semana para treinar...— Tony falou, parecendo como se tivesse esquecido que não queria dividir horário nenhum com ninguém.

—Mas aos fins de semana é quando se tem tempo para fazer coisas divertidas, tipo festas, Hogsmeade ou até estudar... — O que tem de divertido em estudar? Olhei para Tony e ele balançou a cabeça como se dissesse “É, é... Talvez ele tenha razão”. — Não vão querer ficar presos com treinos.

—Ficamos com as terças e quintas, Longbotton.— Tenho que concordar com ele. Ele fechou o pergaminho, já levantando da mesa, para o bem da manutenção do “status quo” da escola. O grifinório poderia entrar em combustão a qualquer momento sentado aqui e eu seria obrigado a soprar cinzas da minha comida.

—Passarei o que foi decidido para Haardy, algo me diz que ele não vai ficar muito feliz com a novidade...— Ele levantou e nos fez um cumprimento final com a cabeça. Tony só franziu a testa pela audácia. Ainda bem que o Quadribol consegue aplacar a impulsividade de Tony, ele não atacaria Longbotton em uma missão diplomática em nome do esporte.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Que saco, Cesc, devia ter se colocado contra isso com mais veemência!— Ele me olhou de cara feia e eu o encarei de volta sem entender muito bem.

—Isso tem algo a ver com o G.E.M.E.? — Utilizei pela primeira vez o codinome escolhido para o Ocaso. Vou te dizer, tenho certeza que falei algo sobre essa sigla na época que ela foi decidida.

Ele fez que sim com a cabeça, meio desolado. Que saco isso! Ainda bem que Scorp está escrevendo alguns tópicos para me lembrar de alguns fatos importantes sobre o Ocaso, porque minha ignorância está começando a me irritar profundamente.

Antes que pudesse voltar para a comida, Lia Thiollent, a rainha da inconveniência, resolveu sentar de costas, ao meu lado, apoiando os cotovelos na mesa e quase roçando os cabelos no inocente purê de abobora que repousava tranquilo em sua travessa.

—A que devo a honra?— Falei com desdém, ante de enfiar uma garfada generosa na boca. A morena apenas sorriu de um jeito bastante irritante. E sexy. Mas essa página eu já virei, eu acho.

—O que Longbotton queria aqui?— Dei de ombros, porque não me sinto inclinado a satisfazer a curiosidade de Lia. Já basta que satisfiz outras necessidades dela e ela saiu espalhando tudo aos sete ventos. Que Tony lide com ela.

—Ele só estava querendo saber quais os horários de treinos que queríamos. Vamos treinar na câmara de Salazar Sonserina.

—A infame câmara secreta?— Ela endireitou a postura, tamanha a curiosidade. – Isso é genial!

Apontei o garfo para ela, acusadoramente.

—Mas vê se segura essa sua língua de trapo! Não quero os alunos usando o lugar para se pegarem, lá vai ser uma coisa profissional.— Lia sorriu maliciosamente, ela mesmo tendo usado o vestiário para atividades pouco inocentes em várias ocasiões.

—Deixe de ser estraga-prazeres, não me diga que sua namoradinha já o está mudando... Capitão.— Ela falou a última palavra com um sorriso ainda mais cheio de segundas intenções que o primeiro e talvez eu tenha levado um pouco mais de tempo para desviar meu olhar da boca dela. Droga, Thiollent é uma cobra mesmo!

—Mantenha suas opiniões para você, Thiollent.— Disse com um tom conclusivo e voltei para a minha comida. Tony já estava distraído novamente e não viu o movimento final de Lia.

—Você é muito ingrato mesmo, garotinho. Só vou deixar porque... — Ela estava sussurrando no meu ouvido, mas se afastou subitamente, ainda com um sorriso felino no rosto muito bonito para seu próprio bem. Ou o meu. – Sua namoradinha chegou. Olá, Sullivan!

Claire realmente havia chegado e observou, sem dizer nada, Lia saindo da mesa de uma maneira provocante, de um jeito que fez mais de um cara admirar o seu andar. Ela e Rebeca poderiam dar as mãos e seguir para o inferno, vou te dizer.

—Estávamos falando de coisas do time. — Claire apenas levantou minimamente um lado da boca, na tentativa de um sorriso.

—Sei...

—O que te traz para o lado verde e prata da força nessa aprazível noite, minha jovem dama?— Falei em um tom mais leve, só para ver se desfazia aquela expressão desconfiada dela. Claire precisaria se acostumar com minhas amizades e isso está me cheirando como uma missão quase impossível.

—Estou caindo fora, pombinhos. A gente se vê mais tarde, Cesc. — Tony saiu, sem acrescentar mais nada, provavelmente para falar com Scorp um pouco mais sobre o plano secreto deles.

—Vim ver você, não te vi o dia todo.— Ela disse se aproximando mais, dificultando o uso do meu braço esquerdo para segurar o talher, mas tudo bem, eu me adapto fácil às restrições da vida, ainda mais quando se trata de comida.

—E isso é culpa de quem?— Falei com um tom divertido. Ela me olhou, fazendo biquinho. – Não acredito que você topou entrar para o estúpido clube de Quadrimanager de Scorp!

Ela me olhou com um ultraje fingido, uma de suas expressões mais bonitas, devo dizer. Claire fica parecendo uma garota travessa e dissimulada assim, do jeito que eu gosto.

—Mas foi você mesmo que me sugeriu que eu passasse mais tempo com seus amigos! “Pelo bem do nosso relacionamento”...— Ela imitou horrivelmente meu sotaque e eu lhe dei um leve beliscão na cintura por isso. Ela deu risada. – E não é estúpido, é legal!

Olhei para Claire, cético.

—Não é um bando de garotos esquisitos discutindo coisas sem nenhuma relevância no plano da realidade?— Ela mordeu o lábio divertida.

—Talvez...— Eu sorri e aproximei o rosto dela de um jeito malicioso.

—Talvez, você diz? — Ela fez que sim com a cabeça, em um movimento leve. Deus, amo quando Claire me olha por sob os cílios, ela definitivamente parece uma garota atrevida, porém falsamente inocente desse jeito.

—Ram, ram.— Uma voz feminina vinda do lugar que Tony ocupará antes, nos interrompeu. – Sabem que é contra as regras se beijar em público, não é?

Claire se afastou abruptamente e eu continuei parado no mesmo lugar, apenas respirando fundo para não matar Rebeca de uma maneira cruel. Infelizmente, ninguém tentaria impedir o que só me faria acabar em Azkaban.

—Não sabia que você era fiscal de boca alheia, Wainz.— Me virei, para encontrar a monstra com um sorriso angelical no rosto. Deus, porque deu tanta beleza para Rebeca e Lia e tão pouco caráter?

—Só estou evitando que Claire manche seu imaculado histórico de boa garota com você, Cesc.— Ela piscou cúmplice para minha namorada. – Cesc sabe como desencaminhar uma garota do bom caminho.

Olhei para Claire para ver como ela havia encarado esse “conselho” da minha amiga e percebi que ela estava ainda mais séria do que esteve quando Lia a cumprimentou antes. Tudo que eu precisava agora era de um desfile das minhas ex- alguma coisa na frente da minha atual namorada.

—Não se preocupe, estou planejando trazer Cesc para o bom caminho.— Hey! Quem disse que eu quero ir para o bom caminho? Ainda mais se lá só tiver harpas e anjinhos de fralda... –Falando nisso, já estávamos de saída, foi um prazer vê-la, Wainz.

Estávamos?

Rebeca me olhou com uma cara de que estava achando tudo aquilo muito engraçado. Assim fica difícil defendê-la. Louise defende Longbotton e ele vem e apresenta algumas ações mais ou menos legais. Eu defendo Rebeca e ela apresenta apenas um comportamento reprovável.

Resolvi que o melhor a se fazer era mesmo deixar Rebeca plantada e seguir Claire aonde ela queria ir, mas antes que conseguíssemos escapar, a monstra deu seu golpe final.

—Nos vemos mais tarde, Cesc.— Terminou tudo com um tom sugestivo e uma piscada de olho. Eu vou matá-la, está decidido.

***

Claire não falou nada o caminho inteiro, já estávamos quase na entrada na Corvinal, quando eu resolvi falar.

—Não devia se importar com as besteiras que Rebeca diz. Ela fala isso só para te provocar. — Ela parou, cruzando os braços com uma atitude que demonstrava toda a sua irritação.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Eu sei disso! Ela não me incomoda o mínimo.— Sorri condescendente para ela. Imagina se irritasse...

—Pois não parec...

—O que me irrita é o jeito que você reage as provocações dela.— Parei no ar minha mão que já ia trazê-la mais para perto. Espera, o quê? – Não só a ela, você faz a mesma coisa com Thiollent!

—O que eu faço? Ficar envergonhado com o comportamento reprovável das minhas amigas?— Ela bufou, exasperada, como se eu tivesse dito a coisa mais idiota de todas. Ok, talvez eu esteja um pouco na defensiva.

—Amigas? É assim que as chama?— Ela cruzou os braços mais apertado ainda e começou a bater o pé no chão. Eu achava que só desenhos animados faziam isso.

—Elas são minhas amigas, você sempre soube disso, Claire. — Falei com mais paciência do que eu tenho de verdade. Isso é muito esquisito da parte dela, teria aceitado esse ciúme numa boa, se ela não tivesse demonstrado a mesma inclinação crítica com Scorp e Tony. – Eram minhas amigas antes de namorarmos e continuarão sendo...

—Depois que terminarmos?— Ela me perguntou, parando de bater o pé no chão, mas ainda visivelmente alterada. Suspirei cansado, me apoiando na parede do lado dela.

—Eu não quero brigar... Por que sinto que qualquer coisa que eu diga você vai usar contra mim?— Ela desanuviou um pouco a expressão. Acabou por se encostar na parede ao meu lado.

—Eu só... Não me sinto segura com o jeito que você trata essas garotas, Cesc.— Ela falou, recolhendo uma mecha da franja que sempre teimava em cair no seu rosto. – Não ajuda muito que todo mundo continue me dizendo para tomar cuidado, que eu vou...

—Esqueça todo mundo!— Virei, me colocando de frente para ela, com os braços de cada lado do seu rosto. – Você não está namorando com todo mundo, está namorando comigo, não dê ouvido ao que...

—Para você é fácil falar, ninguém acha que você vai receber um pé na bunda a qualquer momento.— Aproximei a cabeça da dela e segurei seu queixo para que ela me olhasse nos olhos.

—Não, para mim as pessoas dizem que serei expulso da escola a qualquer momento.— Ela me olhou com lágrimas não derramadas e eu me senti uma merda de ser humano por isso. – Me dizem coisas que fariam um pé na bunda parecer o paraíso, falam que eu...

—Não me importa.— Ela me calou com um dedo, mas estava com um sorriso e só por isso deixei que ela continuasse falando. – Você tem razão, é besteira minha.

Tirei a mão dela de minha boca, apenas para que pudesse beijá-la do jeito que teria feito no Salão se não fosse por Rebeca. Claire, suspirou, como se estivesse usando o nosso contato para acalmar sua mente mais um pouco.

Sei que não deveria usar meus problemas para calar as desconfianças dela, mas o que eu posso fazer? A outra alternativa seria dizer que ela não tem motivo algum para ter medo, mas se eu dissesse isso eu estaria mentindo.

Lia pode me causar problemas, porque ela ainda tem um certo apelo sobre mim e oferece algo que Claire não fará por um bom tempo ainda, acreditem ou não, não vou forçá-la a dar o “próximo passo” e Rebeca... Rebeca é perigosa pelo simples fato de ser indispensável.

Sei que ela está com um joguinho de provocar Claire e isso é realmente irritante, mas a única providência que posso tomar é pedir para ela parar e rezar para ela fazer isso. Infelizmente não tenho como fazer mais, Rebeca é minha melhor amiga, tão importante quanto Tony e Scorp, não poderia cortá-la da minha vida mesmo que Claire pedisse.

Terminei o beijo com um selinho no nariz sardento dela, o que a fez rir. Bom. Isso sem dúvida é melhor do que choro.

—Não se preocupe com essas coisas, nós estamos bem.— Ela fez que sim com a cabeça, me dando um simples tchau antes de seguir para Corvinal. Me apoiei na parede de pedras frias tentando organizar as ideias e rezando para que o silêncio de Claire não seja uma forma de segurar o choro.

Louise não me deixará em paz se Claire chegar chorando no quarto.

O pior é que ela não tem nenhum motivo para isso. Quero dizer, o único jeito de Lia e Rebeca estragarem nosso namoro é se ela cair no jogo delas. Honestamente, não quero dificultar nosso relacionamento, minha vida já é complicada o bastante sem isso!

Falarei seriamente com Rebeca hoje e Deus me ajude, mas falarei com Lia também. Não custa nada tentar e talvez, só talvez, as duas parem de achar graça na irritação de Claire. Ela não merece ter que passar por isso.

—Fábregas, que bom encontrar você!— Levantei a cabeça só para ver a criatura que Tony insiste de chamar de namorada, tinha esquecido que ela era da Corvinal. Tinha esquecido que ela existia, na verdade.

—Sério? Do jeito que você fala parece até que somos amigos...— Falei isso com um sorriso simpático. Esse é meu jeito de dizer oi. – No que posso ajudá-la, senhorita Harmond?

A garota oriental me olhou por cima de seus oclinhos pretos, que bem poderiam ser só de enfeite de tão pequenos que eram. Ela era uma menina estranha, isso em seus melhores dias, como é o caso hoje.

—Estou procurando por Tony, você o viu?— Ela me olhou com um tom de quem desconfiaria da resposta independente de qual fosse, então qual o propósito de falar a verdade?

—Ele já foi para as Masmorras, provavelmente está dormindo...— Sendo um pouco passado das oito da noite, a garota me olhou como se não pudesse acreditar muito no que eu estava dizendo. Não disse?

—Por favor diga a ele que quero lhe falar, diga...— Ela me olhou, apertando os olhos e os deixando ainda menores do que já eram, me avaliando. – Diga que ouvi uma história muito suspeita dele perseguindo uma certa ruiva pelos corredores da Grifinória.

—Ruiva como em Weasley?

—Ruiva como em não é da sua conta.— O quê? Quem essa coisinha magrela pensa que é para falar comigo assim? — Brincadeirinha! Tony disse que você era meio invocado, só quis provocar.

Dei a ela meu melhor sorriso falso, só não mais falso do que o dela. Scorp tem razão, tem algo muito errado com essa garota. – Darei seu recado.

—Sim, faça isso! — Ela me disse, já se encaminhando para ir embora, virei para acompanhar sua ida para a Corvinal. – Ah, Fábregas, já ia me esquecendo! Devíamos sair juntos qualquer dia desses. Eu e Tony, você e Claire, vai ser divertido.

—Claro, vamos marcar.

Será divertido como uma circuncisão sem anestesia. A única coisa que eu vou fazer é convencer Tony a dar um pé na bunda dessa menina!

***

Estava numa mesa mais afastada no final da biblioteca, já que tenho o primeiro horário livre, mas bem poderia estar na minha cama de tão sonolento que eu estava. Entrei a madrugada com Tony reorganizando algumas jogadas contra a Corvinal. O jogo está longe, bem, não tão longe, já que estamos quase no final de janeiro e a partida será em meados de março, mas longe o suficiente para eu não ter que me preocupar tanto.

O problema foi que eu peguei meu livro de jogadas, só para dar uma revisada básica e qual não foi minha surpresa ao constatar que TODA a minha estratégia de jogo está baseada em deixar Dussel sozinho, sem defesa, apenas porque Haardy disse que não vai pegar o pomo.

Que porra de estratégia burra e suicida é essa?

Eu não poderia me importar menos com o que Haardy disse ou deixou de dizer, eu quero distância daquele cara idiota! Mas agora não posso simplesmente ignorar as evidências, Scorp me entregou ontem uma lista, até que bem longa, de coisas que aconteceram nos bastidores do Ocaso, lista essa que foi prontamente queimada, não é como seu eu precisasse de mais provas contra mim, né?

Na lista dizia que tudo começou por causa de Haardy e Weasley, que a ruiva estava ameaçando ele e que eu tinha feito um trato com o corvinal de que iria tirar ela de seu pé em troca do pomo de ouro.

Vejam bem, não estou dizendo que eu não faria um acordo desses, 150 pontos e a chance de acabar a partida na hora que quiséssemos é algo que merece atenção, mas é muito estranho que eu tenha confiado tanto em Haardy a ponto de mexer nas minhas estratégias de jogo desse jeito.

Tony me disse que suspeitávamos que ele estivesse envolvido no lance das poções, mas eu duvido muito disso. Na verdade, duvido que essa coisa de poções seja realmente uma coisa na qual devamos perder o nosso tempo, acho que na verdade o loiro tem algum segredo besta e que nós só estamos procurando dificuldade onde não existe.

Mas voltando ao assunto principal, eu precisaria estar muito confiante na minha capacidade de distrair Weasley para longe de Haardy, se meu inútil livro de jogadas diz algo. O que nos coloca em uma linha interessante de raciocínio: o que Weasley sabia? E mais importante, será que não tem algo a ver com a suspeita dos garotos em cima do primo dela?

Potter bem que poderia realmente ter...

Quase tive um ataque do coração ao ter meu braço, onde minha cabeça estava totalmente apoiada, empurrado para fora da mesa.

—MAS QUE PORRA!— Levantei, só para encontrar um James Potter acalmando com mímica uma Madame Pince irritada. – Que merda você pensa que está fazendo?

Falei no meu melhor sussurro gritado, mas o vira-lata maldito apenas se sentou na cadeira mais próxima da minha. Eu brinco, mas estou começando a acreditar que esse cara aparece só com a força de meus pensamentos!

—Precisamos falar.

—Não, Potter, o que você tem é que crescer e aparecer!— Respondi a ele no mesmo tom de voz baixo que ele usou, ele se limitou a revirar os olhos.

—Preciso de um favor seu. — Ok, espera, Cesc, isso pode ser interessante! Fiz um gesto desinteressado para que ele continuasse. – Preciso que averigue uma história na Sonserina para mim.

—E o que eu ganho com isso? — Resolvi ser logo direto antes de perder meu tempo ouvindo ele para no final ganhar alguma coisa inútil, que nem aquele estúpido acordo que fiz com o irmão dele. Albus Potter nunca foi meu informante e eu nunca precisei de um.

—Ganha a minha ajuda para pegar quem apagou a sua memória, o que acha?— Não sei o que é mais intrigante, o fato de que Potter acredite que alguém realmente apagou as minhas memórias, mesmo eu dizendo que era uma brincadeira dos meus amigos ou o fato dele achar que pode me ajudar no que quer que seja.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

—Você acha que alguém apagou mesmo minha memória? – Falei com ele no meu melhor tom jocoso, mas ele apenas sorriu de lado, sem parecer ter se ofendido com minha réplica desdenhosa.

—Eu sei que apagaram.— Ah, ele sabe... A arrogância de Potter é algo invejável, sejamos sinceros.

—Como sabe disso, oh, vossa majestade?— Falei me jogando para trás na cadeira, de um jeito desleixado. Isso vai ser bom de ouvir.

—Está confuso, dá para ver isso nos seus olhos. Qualquer um que olhe atentamente pode ver. Você nunca pareceu tão vulnerável quanto agora. — A última parte saiu quase em um sussurro. Senti minha sobrancelha levantar interrogativamente. O que ele quer dizer com vulnerável? – Vai querer a minha ajuda ou não?

Continuei o encarando, tentando entender exatamente qual é a dele. Não é como se ele não pudesse investigar uma fofoquinha na Sonserina por si só. Tenho a estranha sensação que o senso de herói reprimido de James Potter está apitando mais uma vez e ele só quer a chance de exibir seus superpoderes para mim.

Dane-se, posso aceitar a ajuda dele, usar sua influência em alguns momentos, mas obviamente não vou dar todas as peças do jogo, apenas o suficiente para que ele possa ficar correndo em volta do próprio rabo.

—Certo, Potter, eu topo o acordo.— Ele estendeu a mão para que eu apertasse, mas eu apenas a encarei. Se alguém me dissesse só a um par de meses atrás que eu iria aceitar fazer um acordo com James Sirius Potter, o cara mais convencido e irritante de toda a Hogwarts, eu teria rido até a morte na cara da pessoa.

Mas hoje não me parece uma ideia tão estapafúrdia assim, no fim das contas resolvi apertar a mão de Potter firmemente. Não é como se isso fosse mudar alguma coisa no plano geral da vida...

Potter apertou de volta de um jeito forte, mas não agressivo. Ele tinha a mão fria, uma coisa que deveria ser desagradável para alguém que detesta o frio como eu, mas até que não era tão ruim. Levantei os olhos só para encontra-lo me encarando de volta. Sorri, sarcasticamente.

Ok, Potter, vamos ver do que você é feito.