Com o rosto aclarado pelo luar uivante que penetrava a janela sem cortinas, Hitler, o ariano poderoso, chorava encharcando seu travesseiro. Eva estava deitada ao seu lado, latejando entre as pernas e sentindo falta de seu nativo norte-americano cujo filho se desenvolvia em seu ventre; era um segredo do qual ninguém saberia, alemães estavam em guerra com americanos. Já que seu amante não estava por perto, ela se contentaria com o magricela que estava próximo. Acariciou as costas de seu führer e deslizou as mãos até seu peito depilado, desabotoando a camisa de seu pijama.

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Ele inesperadamente saltou na cama. – O que você está fazendo, mulher?

Passando a mão em seu seio direito, ela sorriu lascivamente. – Ué... Eu quero você.

– Mas eu não quero você.

Puxando seu cabelo ralo de maneira atroz, Eva tapou a boca dele, quase o derrubando do colchão. – Você irá fazer o que eu quiser ou conto toda a verdade para o presidente.

E essa foi a noite em que Eva estuprou Hitler. No entanto, enquanto isso no subúrbio da cidade, a escova ainda estava com a arma apontada para seu queixo.

O escova maconheiro a oprimia. – Comeram sua língua?

– Desculpe, estou com medo – a escova foi sarcástica, cruzando os braçinhos.

– Que bom que causei essa impressão – ele se gabou, pegando seu cigarro do chão imundo e tragando.

– Imbecil – ela o socou no peito.

– Tome cuidado comigo.

– Quem você pensa que é? Eu vou mandar Hitler acabar com você – ela o ameaçou.

– Hitler? – ele gargalhou. – Ele é um líder fracassado.

Tomando sua arma, a escova a mirou em suas cerdas azuis e brancas. – Fica quieto aí, seu drogado. Eu só preciso de um lugar para ficar por uns dias e depois vou embora desse lugar ridículo, ou você acha que eu estou aqui por opção?

Intimidado com a atitude de sua nova garota malvada, o escova punk-rock retornou para o topo da lixeira e dormiu por lá. Pensando sempre no créu de seu amado, a escova se aquietou na caixa de papelão enfrentando a geada até o romper da luz solar. Bem cedo, Hitler já estava de pé preparando sua equipe de busca e se sentindo enojado por ter tocado as partes íntimas fedidas de Eva. O grupo era constituído por dois solados e eles saíram discretamente num jipe fechado pelas ruas de Berlim e não foram notados pelo público, o que era ótimo. Hitler não especificou o que estava procurando, apenas disse que estava procurando por um cachorro pastor alemão e uma escova verde que ele costumava brincar.

Indagou o único soldado de capacete. – Essa busca é uma questão de segurança nacional?

Os soldados ficaram meio desconfiados, pois nunca souberam que o ditador possuía animais domésticos, além de sua esposa. Procuraram pelos parques, ruas e comércios, mas ninguém havia visto nenhum cachorro deserdado ou uma insignificante escova, entretanto, Hitler sabia que não era uma escova qualquer, era uma escova falante e ela era o amor de sua vida. Pensou em cortar os pulsos se não a encontrasse, pois nenhum prestígio repararia o vazio. A culpa que sentia por tê-la traído à força era enorme.

A escova acordou com algo soprando suas cerdas e ao abrir os olhinhos enxergou o escova maconheiro soprando fumaça em sua cara.

– Nossa, qual é o seu problema? – ela berrou se erguendo.

– Acorde e vamos dar um passeio.

Eles saíram do beco e foram até o parque do outro lado da avenida. Ficaram sentados à beira do lago, debaixo de uma árvore seca.

O escova começou a contar sua história. – Eu fui expulso de casa por que eu não quis me casar com uma escova judia. Pra quê serve uma família se você pode ter tudo de graça na rua?!

Ficando cabisbaixa, a escova rebateu lamentando. – Eu nunca tive pais.

– Sorte sua. Onde você morava? – ele se mostrou mais interessado do que o esperado.

– Na Áustria. Se eu te contar, você não iria acreditar – garantiu, sorrindo fraco ao olhar para o céu e se recordar dos velhos tempos.

Sedutor, sussurrou em sua orelha e depois beijou seu pescoço de plástico. – Tente me convencer...

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Arrepiando, a escova não resistiu. – Fui adotada pelos pais de Hitler, eu era a escova de infância.

O escova arregalou os olhos. – E como você veio parar aqui em Berlim?

– Eu vim atrás dele, eu o amo.

– Ah é – ele sorriu torto e suspeitou que fosse mentira. – Então por que está nas ruas?

Num arfar de decepção, a escova confessou. – Fugi. Ele mentiu pra mim.

– Que bom, você tem que arrumar alguém da sua espécie. Acho que não foi só uma coincidência nós termos nos encontrado.

Hipnotizados pelo milagre do destino, as escovas se inclinaram até seus lábios se encostarem e se beijaram selvagemente na neve. Agora Hitler e sua escova estavam quites.