Hinan

Esperança Renovada


— Consegue sentir?

Butcher respirava fundo enquanto mantinha seus olhos fixos no céu.

— Do que está falando?

Allk se mostrava confuso.

— É o cheiro da esperança que tínhamos perdido durante a batalha.

Allk sorriu, talvez sentisse certa loucura nas palavras do amigo, mas em seu coração compartilhava o mesmo sentimento.

— Revanche meu caro amigo.

Butcher sorria entusiasmado.

— Sim, revanche!

Os dois shikõs se posicionavam para lutar, tendo ao seu redor milhares de rostos familiares também prontos para batalha.

— Patético.

Céverus dava de ombros.

— Nem por um segundo sente que pode perder, Céverus?

Jon encarava o inimigo.

— Na verdade não.

O miraniano sorria — Tenho um exército infinito de mortos.

Céverus dizia em voz alta, enquanto erguia os braços e ao som de sua voz fazia surgir milhares de novos zumbis.

— Não se preocupe

Jon mais uma vez erguia sua espada — Meu exército é persistente.

— Estou orgulhosa.

Lily se aproximava de Raque com um sorriso.

— Lily…

A garota permanecia séria enquanto observava o desenrolar da batalha.

— Sim?

— Eu fiz a minha parte, está na hora de você fazer a sua.

Lily apenas acenou em silêncio e se retirou em passos lentos.

— Lily…

Os passos da pequena maga cessaram — Mantenha-se viva, se você morrer a Val também morre, e ela é nossa única chance.

— Fica tranquila

Lily piscou — Espero que esteja viva quando eu voltar vitoriosa.

— Eu estarei.

Raque sorriu.

— É uma promessa?

Raque hesitou por alguns segundos — É uma promessa.

**

As explosões faziam tremer as paredes do castelo vazio. Perplexo Andy observava o desenrolar da batalha.

— Um shikõ de classe alta?

Taiko se refugiava atrás de um campo de força feito pelo mesmo.

Em silêncio a shikõ desferiu diversos ataques contra o escudo, que se partiu.

Um denso nevoeiro tomou conta do local, concentrando sua energia Jordy fez com que seu corpo liberasse uma onda de poder que limpou o local, revelando um pequeno exército de zumbis.

— Não tenho tempo a perder.

Taiko virou-se novamente para a árvore dos mortos. Começou a recitar o que parecia ser um feitiço, a árvore gigante emanava uma luz azulada e a intensidade aumentava a cada segundo.

Cercada pela multidão de zumbis, Jordy teve seus movimentos imobilizados. Uma pequena esfera de energia saiu da árvore dos mortos e pousou nas mãos do miraniano.

— ah…

Taiko sorria satisfeito — Então foi aqui que você se escondeu todos esses anos.

— Mas o que…

Jordy tentava se livrar, em vão. Um pequeno flash de luz surgiu e o inimigo desapareceu sem deixar rastros.

**

— Obrigada pela carona Cute. Vamos Lily! Precisamos agir rápido!

Após acenar com a cabeça o garoto desapareceu.

De frente para o muro destruído, Erii passava as ordens. A maga permaneceu em silêncio.

Erii a encarou por alguns segundos, se lembrou do trauma que a garota havia passado, dos pesadelos e de toda a culpa.

— Não precisa entrar se não quiser…

— Do que está falando? Sem mim você jamais conseguiria!

Lily abria um sorriso — Agora feche o buraco no muro. Precisamos evitar que mais Kotonarus entrem e nos livrar dos que já estão lá dentro.

O shikõ observou a garota passar por ele rapidamente.

— Tem certeza?

O garoto segurou o braço da maga. Em silêncio, Lily apenas acenou positivamente. Sem mais nada a acrescentar, Erii a soltou e seguiu seus passos.

Após tapar o buraco que possibilitava a passagem dos predadores, os dois guerreiros seguiram em direção ao centro da cidade, eliminando todos os monstros que encontravam pelo caminho.

— Não vimos civis vivos ou mortos desde que entramos na cidade.

A maga parecia apreensiva.

— Isso não é uma noticia boa?

Erii forçava um sorriso.

— Não sou ingênua Erii…

— Essa cidade já foi atacada há 4 anos, não me surpreenderia que as pessoas já estivesse preparadas para uma ocasião semelhante.

— Talvez…

Lily mordia os lábios — mas e se…

Antes que pudesse completar sua fala sentiu a mão de Erii puxar o seu braço e pôde ver claramente uma besta sendo estraçalhada por uma série de espinhos de pedra.

— Tome cuidado.

Ele resmungava.

Em silêncio a garota seguiu sozinha na frente, visivelmente irritada.

Alguns gritos atraíram a atenção dos garotos que imediatamente correram ao socorro das vitimas.

— Oi!

Lily sorria de forma amigável para a mulher que agarrava firme uma criança em seus braços

— Bom…

A pequena maga buscava palavras — Vai ficar tudo bem agora e…

— A igreja.

A mulher se levantava.

— Oi?

Lily se mostrava confusa.

— Depois do ataque há 4 anos, a igreja foi adaptada para uma possível falha dos muros. Nos alto-falantes os soldados anunciaram que os sobreviventes estão sendo protegidos lá.

Agora a cidade vazia fazia algum sentido, Lily pensava.

— Tem alguns monstros se aproximando

Erii agora estava ao lado da IOS — Vamos levar os civis para o refúgio e depois pensamos em como controlar a situação.

Com seu escudo de energia ao redor do grupo, Lily seguia até a igreja. Habilmente Erii se livrava dos inimigos que cruzavam o seu caminho.

Alguns tiros denunciavam a aproximação do local. A multidão de kotonarus que bloqueava a passagem até a porta, foi cortada por Lily e seu grupo com o uso do campo de força.

Já em um local mais seguro, após conversar com um dos soldados que guardava a entrada da igreja, Lily escoltou os dois civis até a porta, e os acompanhou até dentro da igreja.

— Aqui vocês estão seguros.

A maga sorriu.

— Fique aqui…

A garota ouviu seu companheiro sussurrar — Em segurança.

— Erii eu…

Antes que pudesse se virar ouviu o som da imensa porta batendo em suas costas.

— VOCÊ NÃO TEM O DIREITO!

A garota se jogava contra a estrutura de madeira reforçada e esmurrava com toda a força que possuía. Naquele momento Lily sentiu ódio, tristeza e medo.

Ela mais uma vez estava no Sul e não podia fazer nada. Lembrou-se das alucinações de Mizuno, estava acontecendo de novo e era real.

Voltou-se para dentro da igreja e pôde ver todas aquelas pessoas ali dentro. Algumas a olhavam assustadas, outras se abraçavam e algumas pareciam apenas apáticas.

Cansada, a maga apenas deixou que seu corpo deslizasse pela porta até que estivesse sentada no chão.

Seus olhos vasculhavam cada canto da igreja atrás de uma saída, e foi então que ela avistou uma fraca luz vindo dos fundos. Rapidamente ela se pôs de pé e a seguiu. No fim do caminho ela avistou no ponto mais alto da igreja uma pequena janela aberta.

— Ah, mas esse babaca vai ver uma coisa!

A garota cerrava os punhos.

**

Um intenso nevoeiro cercava todos os shikõs no campo de batalha,

Houve silêncio, apenas Jon e Céverus estavam fora da névoa. Não foram muitos os segundos necessários para que aquilo se dissipasse e Kannot marchasse sobre as cinzas dos inimigos em direção a Céverus.

— Pai…

Jon sorria.

— Magnifico!

Céverus aplaudia com entusiasmo — Faça de novo…

Um sorriso cruel brotava do rosto do miraniano enquanto observava os cadáveres se levantarem novamente.

— Sobrinha de demônio, demoniazinha é.

A voz familiar do guardião de vento surgia atrás de Raque.

— Sabe de que lado está agora não é?

Raque o encarava — não me importo com o que você tinha com o Céverus, eu te trouxe de volta e você…

Um berro interrompeu a fala da garota e logo ela sentiu algumas gotas de sangue em seu rosto.

— As suas ordens, jovem amaldiçoada.

Eize esboçava um sorriso cínico em seu rosto enquanto lentamente retirava a espada de dentro das entranhas de um shikõ inimigo.

A garota suspirou.

— Fico mais tranquila com você sendo meu aliado do que o contrário.

— Acredito que você já tenha guerreiros demais em combate, serei seu protetor por hora.

Raque corou.

— Ok…

Em meio ao caos que a cercava Raque fixou seus olhos em Jon.

— Espero que esteja pronto.

A garota sussurrava enquanto levava as duas mãos unidas ao peito.

**

— Está seca…

Andy se ajoelhava diante da árvore sem vida.

— Maldito covarde!

Jordy limpava as cinzas dos shikõs, que havia explodido, de suas roupas.

— Aonde está indo?

Andy observava a garota se afastar.

— Eu não sei o que ele tirou daí, mas eu vou pegar de volta, junto com a cabeça nojenta dele.

— Jordy não…

Andy se levantava. Agora parada a garota voltava seus olhos para o shikõ.

— Você viu como ele é forte, e tem esse tal de Céverus… quer dizer… eu não… eu não quero te perder de novo…

Andy se aproximou e segurou o braço da irmã ressuscitada.

— Andy, antes de mais nada, preciso que você entenda que eu estou aqui por tempo limitado. A Jordy morreu há 12 anos atrás, eu fui trazida para cá para servir a garota que vocês tem abrigado.

— Raque…

— Sim.

— Como sabe dela? Digo, você soube de nós de onde você estava? Onde você estava?

Andy parecia confuso e curioso.

— Aqui, nas Hinans, em algum deserto… Tive muito tempo para perambular quando não estava morrendo.

Jordy estava com os olhos fixos em um lugar qualquer, vagando em suas memórias.

— Morrendo?

O garoto a encarava.

— Bom, estou partindo atrás do homem polvo…

Jordy se recompunha — Você vem?

— Jon me deixou responsável pelo castelo, permanecerei em meu posto.

— Sábia escolha, nós dois sabemos o quão severo ele se torna quando suas ordens não são atendidas.

— Ele é o atual líder dos shikõs.

Andy fazia círculos no chão com os pés.

— Sabia que ele conseguiria.

Jordy demonstrava emoção em suas palavras.

— O posto veio mais como um fardo do que uma conquista.

— Isso só aumenta os méritos dele

— sim…

— Foi bom te ver de novo…

As palavras de Jordy foram interrompidas por um abraço quase desesperado, a respiração ofegante do garoto denunciava seu choro.

— Eu te amo!

Andy dizia em meio a soluços.

— Eu também te amo.

**

— Senhor!

A sombra de um homem se formava ao lado de Céverus, de forma respeitosa o recém-chegado se curvava diante do filho mais novo e o entregava um objeto brilhante.

— Finalmente!

Céverus se mostrava entusiasmado — Agora tudo está…

Houve uma interrupção brusca na voz do inimigo e um silêncio absoluto tomou conta do local.

— Mestre?

Taiko estava confuso diante de Céverus que carregava em seu rosto uma expressão vazia, algo semelhante a um transe.

— AGORA JON! ELE É MUITO FORTE, A MIZUNO NÃO VAI AGUENTAR POR MUITO TEMPO!

Do outro lado do campo de batalha, Raque gritava, ao seu lado Mizuno mantinha seus braços erguidos.

Ainda um pouco confuso Jon avançou na direção de Céverus, era sua única chance de ter a espada.

— Afaste-se humano!

Um campo de energia fez com que Jon cessasse seus passos, sem hesitar o shikõ desferiu diversos ataques contra o escudo, em vão.

Visivelmente irritado, Jon havia se lembrado do campo de força que envolvia os shikõs, que forneciam energia para Céverus se libertar. Estava claro que aquilo era a especialidade de Taiko.

Uma explosão interna fez todo local estremecer. Jon, que forçava o corpo contra o campo de energia, teve que dar alguns passos rápido para impedir uma queda. O campo de força havia desaparecido.

Jon não se importava com o que havia acontecido, ele não poderia perder aquela oportunidade. Habilmente adentrou na nuvem de fumaça e alcançou a Masayoshi, arrancou-a da bainha de Céverus e se afastou o mais rápido que podia.

— Como conseguiu escapar, mulher?

— Não tenho paciência para explicações desnecessárias.

Jon parou. Toda a velocidade de seus movimentos, agora exerciam poder sob as batidas no peito do shikõ.

Aquela voz. Aquela voz era familiar, muito familiar. Era aquela voz que o consolava antes de dormir depois de um dia difícil; era aquela voz que cantarolava meio desafinada pelos corredores do castelo; era aquela voz que gritava palavras cruéis em dias ruins. Era aquela voz, que Jon almejou ouvir durante 12 anos.

— Jordy…

Jon sussurrava enquanto procurava sua amada em meio a densa poeira.

— JON! TRÁS A ESPADA AGORA!

Raque gritava cada vez mais desesperada, mas ele não se importava, nada mais importava.

— Jordy é você?

Jon caminhava na direção da voz.

— JON! O QUE ESTÁ FAZENDO? NÃO TEMOS MAIS TEMPO.

— MIZUNO! BRUXA MALDITA!

A voz de Céverus estrondava por todo o local. Ainda desnorteado, Jon sentiu a espada ser tomada de sua mão, pouco se importou.

— ONDE ESTÁ?!

Uma forte onda de energia fez com que a poeira se dissipasse e Jon fosse mandado para o chão.

Ardendo em ódio, Céverus agora voltava sua atenção para a rápida ladra.

— RÁPIDO SAYO!

Raque gritava para a guerreira.

Agarrada a espada com todas as forças, Sayo driblava os shikõs inimigos e corria em direção a Vallery.

— VAMOS SAY!

Vallery gritava enquanto corria ao encontro da guerreira.

— Vão todos para o inferno.

Céverus erguia sua mão em direção ao grupo inimigo. Uma enorme onda de energia seguia a guerreira portadora da espada. Mas antes que o ataque pudesse ser consumado, o miraniano pôde assistir a energia voltar em sua direção. Habilmente Céverus ergueu um campo de emergência. A explosão aconteceu e uma cratera gigantesca foi aberta naquele campo de batalha.

Houve silêncio, e aos poucos a poeira abaixava revelando o cenário de destruição.

— Mizusha…

Céverus encarava as duas irmãs que permaneciam ao lado de Raque. Seus olhos apresentavam uma cor vermelha demoníaca.

— Que cruel.

Céverus agora sorria — Quem diria que eu seria traído pelas duas garotinhas que eu cuidei com tanto carinho!

O miraniano ajeitava seus longos cabelos brancos para trás, seu corpo estava coberto de feridas que se fechavam em uma velocidade surpreendente. Visivelmente irritado ele arrancava o que lhe restava de sua camisa.

— Mas eu não deveria me espantar não é mesmo? Afinal, não é a primeira vez que isso acontece.

Sua voz possuía um tom de sarcasmo cruel.

As duas garotas se entreolhavam, seus rostos misturavam medo e culpa.

— Mas não cairei como o Ivan. Muito pelo contrário, farei com que vocês duas se arrependam de não terem se jogado da janela do palácio em uma noite de desespero.

— Não Céverus…

O filho mais novo buscava a origem daquela voz — Você é único que terá arrependimentos hoje.

Confiante Vallery erguia a espada da justiça.

— Eu mal posso acreditar…

Raque sorria com lágrimas nos olhos — Está tudo dando certo! A gente vai conseguir pessoal!

O sorriso da garota foi substituído por uma expressão de preocupação.

— Por favor Lily, não faça nenhuma besteira…

**

— Babaca!

A pequena maga se agarrava nas telhas da velha igreja, enquanto as mesmas escorregavam sobre ela — Ele vai pagar caro.

Agora na parte mais alta do telhado, Lily buscava por seu companheiro. A visão do alto era aterradora. Um manto negro, composto de bestas, cobria o solo.

— Eu preciso fazer alguma coisa…