Qual é o problema deste garoto? Primeiro me coloca em uma situação completamente inapropriada, depois vem falar comigo no treino de maneira mesquinha, implica com minha altura e aposta na minha derrota. Ele não sabe realmente com quem está lidando, caso contrário não teria ousado movimentos como esses. Tenho plena convicção de que serei a primeira a fazer um canhão soar amanhã à tarde, mas fico até feliz que ele tenha apostado no contrário. Assim além de me divertir com o banho de sangue ainda poderei contar vantagem ao Cato, se ele é claro ainda estiver vivo.

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A manhã passou lentamente e comecei a ficar inquieta, andando em círculos pela sala como uma criança esperando por presentes no natal. Enobária insistia em dar dicas para Cato, que brincava com uma faca na mesa do café e de vez em quando ria com desdém ou balançava negativamente a cabeça. Ela é uma boa treinadora então imagino que quaisquer que tenham sido os conselhos tiveram algum fundamento. Os estilistas Escório e Piera chegaram para nos conduzir até a arena, e somos levados pelo aerodeslizador. Escório me guia silenciosamente para uma sala onde após me vestir fui colocada em um cilindro de vidro. Foi quando soube que aquilo era sério. O tubo elevou-me e num piscar de olhos já me encontrava num dos 24 pódios da arena. Neste ano há uma vasta campina circunscrita em uma floresta, com um lago à direita. A cornucópia estava abarrotada com utensílios, condimentos, cordas e tudo o que os organizadores julgavam necessário para fazer com que o torneio seja mais interessante. Os sessenta segundos estão quase no fim e quando olho para os outros tributos posso ver o pânico se instaurando. Torço para que alguém mais afoito saia antes do pódio e seja explodido, mas isso não acontece e o apito é dado. Todos correm para alguma direção, alguns para a floresta e outros para o centro. Minha trajetória é em linha reta, direto para a cornucópia, e chego até uma faca pouco antes de cato encontrar uma espada. Dou uma rápida conferida na arma e escolho a pessoa que fará as honras da casa. O tributo mais próximo é um menino de cabelos cacheados do distrito 9, com o dobro da minha altura, que ainda não conseguiu pegar nenhuma arma. Sem pensar muito lhe lanço a faca com toda a força, ela afunda em suas costas e ele cai no chão quase morto. Ele não tem tempo nem de agonizar antes que eu retire brutalmente de suas entranhas e arremesse-a na garota do distrito 12. Ela consegue se safar colocando uma mochila na frente, mas não fico preocupada, posso cuidar dela mais tarde. Dou-me ao luxo de observar o cenário enquanto tomo para mim a arma mais próxima, uma lança. O garoto do 1 acabou de abater o tributo loiro do D-6, o que me deixa entorpecida de satisfação ao perceber que o corpo dele é o segundo a cair na grama. Isso significa que eu realmente abri a septuagésima quarta edição dos jogos vorazes! Procuro Cato com os olhos, e pela sua feição vejo que ele também já fez as contas e entendeu o que isso significa. Sem mais demoras resolvo voltar minha atenção para o resto da arena, agora um pouco mais vazia. Atiro a lança na garota do D-7 e ela solta um grito engraçado antes de morrer. Continuo me divertindo como se estivesse numa brincadeira de pega-pega, e aos poucos sobram apenas os carreiristas na cornucópia. Com exceção do menino do D-4, todos nós havíamos sobrevivido. Glimmer e Marvel se sentam na base da cornucópia, enquanto a menina do D-4, Miela, averigua o conteúdo de uma mochila na grama e Cato, que estava do outro lado da campina, vem em minha direção limpando a lâmina da espada na barra da blusa. Ele está meio emburrado, mas não consegue inibir completamente o sorriso

“Parece que alguém aqui perdeu uma aposta” digo alto o suficiente para que ele ouça. Ele revira os olhos

“Aquilo foi pura sorte. Ele já estava perto de você, pedindo para ser atingido”

“Aquilo foi puro talento. Pra que serve esse tamanho todo se uma menininha consegue ser mais rápida que você em, Cato? E você nem foi o segundo, porque vi quando Marvel acabou com aquele cara.”

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“Pode até ser, mas a garota do D-6 que eu matei foi logo depois. E isso só porque tive que ir mais fundo na cornucópia para achar alguma espada que estivesse à minha altura.”

“Vocês podem discutir isso mais tarde? A gente devia estar separando suprimentos agora.” Sibilou Glimmer, que observava Cato com mais interesse do que a seu próprio companheiro de distrito. Senti uma imensa vontade de arrancar-lhe os cabelos, mas isso poderia gerar uma briga maior entre aliados, então subi na cornucópia e fui escolher o que julgava útil para colocar numa mochila preta. Encontrei um estojo com adagas, flechas, shurikens e facas de diversos tamanhos, e meus olhos brilharam. “Eba.” Pensei, “isso está cada vez mais parecido com o natal”. Além do estojo, peguei um kit de medicamentos e alguns biscoitos para emergências. Como estava anoitecendo, resolvemos montar acampamento ali mesmo. O garoto do 3, Filos, apareceu pedindo para se juntar ao grupo e teve sorte de ser ouvido antes que Marvel lhe tacasse sua lança. Ele disse que sabia fazer bombas, então concordamos em deixá-lo vivo. Mais tarde foi a vez do Lover Boy (O tributo do 12) surgir buscando se aliar.

“o que vocês acham?” Perguntou Marvel enquanto Lover Boy acenava de longe.

“Melhor matá-lo logo, já temos não-carreiristas demais aqui com o cara do 3” Sugeriu Cato.

“Eu concordo com você! Esse menino não vai nos fazer diferença mesmo” Disse Glimmer com veemência. Algo me diz que ela acatou a idéia mais por quem tinha sugerido do que por si só, o que me deixou um pouco irritada. Eles até que formariam um bom casal, se formos julgar pela inteligência. Mas eu estava interessada em ganhar e ainda não tinha esquecido a minha faca perdida.

“O deixem vivo. A garota do distrito dele recebeu um 11 na avaliação individual, o que significa que temos algo com o que nos inquietar. Uma hora ele nos levará até ela” Exclamei.

“Boa idéia! Vou chamá-lo para sentar com a gente” Disse Miela.

Passamos o tempo reunidos em volta de uma fogueira especial que não expelia fumaça (concedida pelos patrocinadores) enquanto ouvíamos o barulho dos canhões anunciando as baixas do banho de sangue. Após dez minutos vimos uma faixa cinza no céu vindo do canto leste da floresta. Pelo jeito teríamos diversão outra vez. Deixamos Filos e Miela de guarda e entramos na mata. Não demoramos muito para encontrar a garota do 8 se espremendo em volta de uma fogueira medíocre. Puxei uma das adagas de dentro do casaco e preparei para lançar, mas Glimmer segurou meu pulso. “Essa é do Cato, ele quem viu primeiro o rastro”. Ele sorriu para ela e saiu de trás da árvore que estava escondido. A tributo do D-8 deu um grito de pavor e começou a implorar para que ele não a matasse de uma maneira tão patética que me deu uma crise de riso. Ela percebeu que estávamos em grande número e pude ver a vida deixando seus olhos quando Cato acertou-a no estômago. Saímos de perto para que o corpo fosse retirado, mas não escutamos o canhão de aviso.

“será que ela ainda está viva?” Perguntou Lover Boy

“Impossível, eu enterrei a lâmina fundo demais.”

“Me empresta sua espada que eu vou lá, Cato” Disse Glimmer desesperada. Ela parecia um cachorrinho treinado, fazendo truques baratos para tentar agradar o dono. Marvel, eu pude perceber, também estava começando a se sentir injuriado com esse comportamento. Revirei os olhos e forcei para não fazer vômito, achava aquela menina cada vez mais patética. Cato estava pronto para lhe passar a arma quando me manifestei

“Eu mesma dou um jeito nisso, já que ele não consegue fazer nada direito”. Saí com a adaga novamente em mãos, e quando cheguei ao local vi que a garota agonizava. Pensei em assisti-la por um tempo, mas os outros poderiam achar que eu não estava dando conta do recado, então apenas me agachei na frente dela, de modo que seus olhos vidrados pudessem me fitar uma última vez e sussurrei “Boa noite, tenho um presentinho para você” em meio a um sorriso. A adaga foi posicionada cuidadosamente no coração, e estava tão bem encaixada que nem me dei ao trabalho de retirá-la. Segui a trilha deixada por meus companheiros pouco depois de ouvir o canhão soar e quando cheguei próximo ao acampamento pude notar que todos estavam ocupados com algo, mexendo no fogo ou preparando camas suspensas. Meus olhos involuntariamente procuraram por Cato, mas ele não estava por ali. Dei um passo para fora da folhagem, mas fui puxada para trás num solavanco e tive minha boca tampada por uma mão masculina. Fui arrastada de volta para a mata enquanto me debatia, e uma voz conhecida deu a ordem “Quieta”. No mesmo instante parei de me contorcer. Ele parou e me virou de frente enquanto me prendia contra o tronco de uma árvore. Olhei mais uma vez dentro daqueles grandes olhos azuis, mas dessa vez sua expressão não era de brincadeira. Ele estava com ódio por eu tê-lo humilhado na frente dos outros, e se eu não fosse quem sou sentiria medo nesse instante. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Cato se inclinou com força, fazendo com que nossos lábios se tocassem com fúria. Tentei pensar em alguma coisa, mas é difícil manter uma linha de raciocínio quando tem alguém tirando todo seu fôlego. Como que por instinto meus braços se cruzaram em torno do pescoço dele, que me puxou para mais perto e levantou meus pés a uns vinte centímetros do chão. E eu continuei sem ter a mínima idéia do que estava acontecendo.