— Natasha, não te vi chegar ontem, que horas eram? – A vó ouviu quando Natasha abriu a porta na noite anterior, mas quis saber da garota. Ela estava preocupada, pois fazia uns dias que a neta mostrava comportamento estranho, mais quieta e triste.

— Não se preocupe, vó, não era muito tarde. – Natasha tentou tranquilizar a vó.

— Filha, eu nunca me meteria em seus namoros, mas você sabe que não acho que Ricky seja o rapaz certo pra você. Você deveria namorar alguém como Edgar, que é um garoto de ouro.

— Ah, vovó! Você sabe que ele é só meu amigo. – A garota apressou-se a passar geleia em uma torrada e foi saindo apressada. – E tem mais, ele está com uma garota.

— Mas isso pode mudar, minha filha! Tenho certeza que se você der um sinal ele estará na sua mão.

— Tchau vozinha. – Ela jogou um beijo pra vó e saiu pela porta apressada.

Edgar a esperava na calçada. Era assim desde sempre, ela e Edgar, inseparáveis. Ele foi seu grande apoio quando ela e os irmãos vieram morar com os avós, as circunstâncias não foram nada boas, eles foram retirados dos pais por mau cuidado e maus tratos, exposição a álcool, drogas e violência. Edgar estava lá, a recebeu na vizinhança, a ajudou a se enturmar na escola, a abraçou todas as vezes que ela precisou chorar e não quis preocupar os avós.

Natasha também sempre foi o apoio para Edgar. Quando ele viu a garota pela primeira vez ela estava assustada e não se mostrou muito amigável, mas ele sempre solícito foi chegando de mansinho e conquistou a amizade dela. Quando ele perdeu o pai em um acidente de carro quatro anos atrás ela estava ao lado dele, no funeral, na missa de sétimo dia, ela o ajudou a superar a perda e o mostrou que com o tempo a dor diminuía. Foi com ela seu primeiro porre, aos 15 anos, os dois levaram uma garrafa de whisky para o porão dos avós de Tasha e ficaram muito bêbados, no dia seguinte a ressaca foi tanta que os dois juraram nunca mais ingerir álcool. Por um tempo Edgar sentiu um amor platônico pela latina, chegou a ensaiar uma maneira de se declarar pra ela, mas nunca teve coragem. Com o tempo ele desistiu e namorou outras garotas e ela, outros garotos. Hoje eram apenas melhor amigos e confidentes.

Os dois enfrentavam juntos todas as adversidades que apareciam, afinal era 1999, fim do milênio e, ainda não era fácil ser jovem em New York, muito menos para um rapaz negro e uma garota de origem latina. O preconceito estava em todos os lugares, mas eles se defendiam sempre e se apoiavam.

— Atrasada de novo? Vamos logo ou não pegamos a primeira aula. Se o inspetor Weitz nos ver chegando atrasados mais uma vez essa semana estamos ferrados.

— Não consegui acordar muito cedo hoje, estava cansada demais.

— O que é isso no seu pescoço? – Edgar viu no pescoço da garota uma marca de tom azulado que não estava ali ontem.

— Não é nada. – Ela não queria contar a ele o que Ricky fizera dessa vez, era melhor não metê-lo em seus problemas. Natasha puxou o zíper do moleton até mais em cima para não aparecer a marca.

— Natasha, pode falar o que quiser pra mim, você sabe. – O garoto sempre fazia questão de mostrar pra ela que ele estava ali pra qualquer coisa.

— Eu sei. Obrigada. Só não quero falar disso, não agora. – Ela não queria preocupá-lo, pois ele já tinha seus próprios problemas, mas ela não sabia até quando conseguiria esconder dele tudo que estava acontecendo.

— Acho que já já consigo comprar o meu carro. – Edgar trabalhava em uma oficina após a aula e vinha juntando dinheiro há um tempo. – Conversei com o Sr Nigel ontem e ele disse que me faz um adiantamento do que está faltando daí posso pegar meu possante. – O rapaz mostrava empolgação em seu rosto.

— Hum. Nem terei mais a honra de andar com você. Vai ficar um metido, todas as garotas querendo pegar carona no seu carro. – Natasha brincava com ele sempre sobre garotas. Quando ele se tornou titular do time de futebol da escola ela ficava zombando dele, que pegaria todas as líderes de torcida. Mas era apenas brincadeira, ela torcia e vibrava com ele a cada conquista. – Falando nisso, como vai a Sarah?

— Nem sei. – Edgar deu de ombros. – Acho que ela não está querendo mais nada comigo, fica me evitando. Quer saber não vou insistir com alguém que não me quer de verdade. – E você, está bem?

— Está tudo bem. – a garota deu de ombros.

Desde que Rick conhecera uns rapazes estranhos no seu novo emprego Natasha começou a sentir um pouco de medo do comportamento dele, pois qualquer coisa que ela fazia ou falava, ele ficava violento e nervoso. A garota tentara por um fim no namoro mais de uma vez, mas ele se mostrava violento e ela não conseguiu. Depois de ontem a noite ela jurou a si mesma que ele nunca mais chegaria perto dele.
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Remi não conseguia deixar de olhar pra ele, aqueles olhos azuis a encantaram desde a primeira vez que ela entrou por aquela porta. Mas ela achava pura bobagem, pois ele era um rapaz muito popular e ela sempre o via com a loirinha do segundo ano, aquela líder de torcida. Ela sabia que um cara como ele nunca a notaria. Helen nunca a incentivara a namorar, muito pelo contrário, dizia que precisavam ganhar o mundo e não se envolver em um relacionamento que só mostra o quão fraco você é. Ela nem sempre dera ouvidos a isso, mas evitava um envolvimento duradouro, pois nem se achava digna de um relacionamento amoroso.

— Oi. Como você está? - A nerd desajeitada se assentou ao lado dela com uma pilha de livros mas mãos e Remi ficou olhando. – Ah muitos livros, né? Tô trabalhando numa pesquisa e preciso de todos esses, acredite. Você poderia fazer parte da minha equipe, já vi que gosta de química.

— Ah, não sei. Pode ser. Se eu não for te atrapalhar.

— Claro que não, o Stuart está no projeto, mas ele é um pouco desajeitado e às vezes estraga as experiências. Eu prefiro trabalhar com garotas porque são mais organizadas, mas ele é um bom rapaz, eu coloco ele na linha.

— Eu sei como eles são, tenho um irmão que só tem tamanho, mas ainda parece criança em algumas atitudes.

— Seu irmão é aquele loirinho, uau! Hum, eu já vi ele com você.

— Sim, ele mesmo. – Remi riu, pois já tinha visto como Patty olhava pra ele, parecia devora-lo com os olhos. O irmão gostava mesmo era de uma encrenca. Helen os colocara para praticar artes marciais desde muito novos e Roman achava que deveria socar qualquer um que cruzasse seu caminho. Desde que mudaram pra essa escola duas semanas atrás ele fora pra diretoria duas vezes.

— O que você tá olhando? Hum, Kurt? – Patty seguiu a direção do olhar de Remi e a viu olhando pra ele. – Ele é um bom rapaz e ainda vai encontrar a garota certa.

— Não estou olhando pra ele. – Remi sentiu seu rosto ficar vermelho quando viu o rapaz olhar em sua direção e se demorar olhando pra ela. A garota abaixou os olhos e não olhou mais na direção dele.

Kurt havia notado a garota novata desde o primeiro dia, mas viu como um iceberg, impenetrável. Ela era linda e misteriosa e estava sempre acompanhada do irmão gêmeo. Desde que ela chegou ele não tivera oportunidade de trocar uma palavra com ela, precisava dar um jeito nisso. Ele a vira conversando com Patty, talvez se falasse com ela, mas a nerd estava sempre no laboratório metida em suas experiências malucas.

— Ei, Ed! Tem treino hoje? – Kurt se dirigiu ao rapaz moreno que guardava as coisas em sua mochila.

— Não. Tô pensando em procurar Natasha pra irmos embora logo.

— Vou com você, preciso falar com Patty, talvez elas estejam juntas.
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— Ei, enfim achei você! – Natasha adentrou no laboratório e viu que Patty estava com bequers e tubos borbulhando, alguns aparelhos com luzes fortes piscando e também havia livros abertos sobre a bancada.

— Estamos trabalhando em um novo projeto e não dá pra interromper agora, pois estamos no meio da reação. Stuart, o que você aprontou aqui? Eu te falei que ainda não estava na hora de adicionar o ácido! – Patty sempre se estressava com o jeito desajeitado do garoto.

— Oi. Como você está conseguindo trabalhar com eles? – Natasha se dirigiu à garota morena de cabelos na altura dos ombros. – Seu nome é Remi, não é? Sou Natasha. – A latina se apresentou após a morena confirmar.

— Às vezes eu acho que ela está querendo refutar a Lei de Lavoisier. – As duas caíram na risada.

— Patty! O que você fez dessa vez? – Rich acabara de entrar no laboratório e parecia bem estressado.

— Está falando de que? – A nerd se fez de desentendida.

— Essas suas experiências estão puxando toda energia do prédio e desligou os computadores do laboratório de informática! Vou começar desligando esses aparelhinhos com essas luzes aqui que devem ser os vilões.

— Não toque nos meus multímetros! – Patty deu um tapa na mão de Rich que recuou. – Já vou dar um jeito nisso, não pode ir desligando assim que vai atrapalhar tudo.

Patty fez o que o rapaz pediu liberando a energia que estava consumindo com sua experiência.

— Já está na hora de irmos mesmo. Me dê cinco minutos que já estará tudo certo para os seus computadores.

— Ei gata! Você já conheceu o laboratório de informática? – Rich se dirigiu à Remi que continuou calada. – Posso te apresentar e te mostrar os programas novos e o windows que foram instalados recentemente.

— Rich! Você não toma jeito! Deixa Boston ouvir isso! – Natasha o repreendeu, pois sabia que Rich adorava aprontar e também sabia como Boston era ciumento.

— Boston também pode gostar de participar da apresentação dos novos programas, você também está convidada, bravinha. – Rich se dirigiu à latina. – A gente fecha a porta do laboratório... – O rapaz se inclinou na direção das garotas e colocou a mão sobre a de Remi.

— Não, Rich! Eu já conheci sua fama e não vai colar comigo! – Remi retirou a mão dele da sua e se afastou.

Rich viu quando a garota novata, Remi parecia ser o nome dela, dirigiu o olhar à porta do laboratório e olhou para a figura que acabara de chegar.

— Ei Stuble, oi Eddie, vocês tem andado sumidos das aulas de informática! – Rich achava o rapaz dos olhos azuis lindo e sexy, mas sabia como ele amava garotas.

— Olá, Rich! – Kurt cumprimentou o rapaz com um pouco de desdém. – Patty, o que está aprontando dessa vez? – Foi então que percebeu a garota morena de cabelos curtos parada em frente a bancada próxima à Natasha.

— Oi. – Remi o cumprimentou com um sorriso tímido que serviu para abalar suas estruturas. Como a garota era perfeita!

— Olá! Você está conseguindo entender as maluquices da Patty?

— Ei, Kurt! Não são maluquices! Vocês todos são um bando de mal informados, se quiserem começo a desenhar as fórmulas no quadro e vocês entenderão tudo que está acontecendo aqui! – A garota loira sempre fez questão de tentar explicar para os amigos no que estava trabalhando.

— Não precisa! – A resposta foi em uníssono.

— Vou aproveitar que todos vocês estão aqui e vou fazer um convite! – Patty se dirigia a todos eles ao mesmo tempo. – Freddy, meu irmão, está dando uma festa na minha casa no sábado. Meus pais viajaram e liberaram a casa, desde que não quebrem nada, estão convidados! Seu irmão também! – Patty se dirigiu a Remi se referindo ao lindo garoto louro. E, Rich, leve Boston! Vocês dois podem levar as namoradas de vocês. Natasha...

— Não vou levar... – Ela se referia a Ricky. A latina não pretendia deixar o garoto nem chegar perto dessa festa. Ela queria apenas se divertir com seus amigos.

Remi percebeu a inquietação de Kurt quando Patty falou sobre namorada, mas o garoto não respondeu nada à Patty.

— Você vai? – Kurt se dirigia a ela.

— Hã? – Ela ainda estava pensando em como poderia ser divertido se enturmar, fazer amigos. – Vou ver se consigo.

— Faz um esforço, as festas do irmão dela são divertidas. – O rapaz sorriu e ela se demorou admirando o sorriso torto que se formou em seu rosto.

A turma se dispersou e Remi foi se encontrar com seu irmão que a esperava no pátio. Ela arriscou um olhar pra trás e viu Kurt conversando e rindo com seus amigos. Devia ser legal ter amigos assim.
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