Hesitate To Fall

As Aparências Enganam, Ou Não


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Os dias se passaram rapidamente e, quando dei por mim, já era domingo de novo. Menos de vinte e quatro horas e estaria de volta à escola.

Para minha sorte, Malfoy retornaria para sua própria casa naquela manhã e a paz voltaria a reinar, ao menos para mim. Ele utilizaria a rede de flú e eu fazia toda a questão de vê-lo indo embora.

– Obrigado pela hospitalidade, Sr. e Sra. Weasley – ele apertou as mãos dos meus avós, que lhe sorriram.

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– Oh Scorpius, volte sempre que quiser – Vovó Molly o puxou para um de seus abraços de quebrar as costelas.

Atordoado, Malfoy se virou para o meu primo.

– Tchau, Al – ele abraçou Albus, que deu tapinhas nas suas costas.

– Até mais, cara. A gente se vê amanhã no trem.

Então Malfoy olhou para mim. Deve ter estranhado que eu estivesse lá durante sua despedida e pude até notar que ficou meio sem jeito. Ele não sabia se devia dizer algo para mim ou não. E é claro que eu não facilitaria as coisas e apenas fiquei encarando-o.

– Er... Tchau – ele finalmente disse.

Não respondi. Simplesmente continuei a fita-lo. Ele deu de ombros.

– Ok – pegou sua mala e foi para a lareira. Agarrou um punhado de pó de flú e proferiu: – Mansão Malfoy!

Foi a coisa com mais entonação que já o ouvira dizer.

Assim que jogou o pó foi envolvido por uma fumaça, que ao se dissipar, o levou junto com ela. Fiquei olhando para o lugar onde ele estava há poucos instantes, até vovó dizer:

– Não é um rapaz adorável? Tão educado...

– Tenho que admitir que nunca achei que um Malfoy seria bem-vindo na minha casa, mas esse garoto é sem dúvida uma exceção – comentou Vovô Arthur, com um braço envolvendo minha avó.

Eu ri, atraindo as atenções.

– Estão brincando, não é?

Pelas suas expressões, não estavam.

– Ele estava obviamente fingindo – eu disse.

– Eu não penso que fosse fingimento. O jovem Scorpius é apenas bem tímido pelo que pude observar... – Vovó Molly disse.

– Ele até me ajudou a consertar uma torradeira lá na garagem. É um bom rapaz – disse vovô.

Revirei os olhos, não querendo discutir. Meus avós se recolheram para fazer seus afazeres do dia, mas Albus permaneceu ali. Porcaria, com certeza ele me daria outro sermão.

– Convencida de que ele não é ruim, Rose?

– Nem um pouco – respondi. – Agora, além de chato é fingido. Um dia eu que te convencerei. Parece que sou a única que enxerga as coisas como elas realmente são...

– Não, parece que você é a única que não quer enxergar que está errada – dito isso, Albus saiu da sala.

– Você devia parar de fazer essas saídas dramáticas! Já estão perdendo o efeito! – eu gritei para que ele ouvisse. – E não sou só eu que acho, tá legal?

E não era mesmo. Porém, eu sabia que não faria Albus mudar sua cabeça em relação ao Malfoy e não era minha intenção ficar destruindo amizades. Entretanto, eu estava certa de que o Malfoy era tudo o que eu achava que era e nenhum elogio alheio mudaria isso.


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– Você está totalmente correta, priminha – Fred disse firmemente.

Jogávamos pedras à beira do lago perto da casa, tentando fazê-las pingar algumas vezes antes de afundar. Ele estava indo bem, tendo conseguido na maior parte das vezes. Já eu, era muito se eu não mirasse errado e acertasse um pobre sapo.

Não tinha chance de o Fred gostar de mim. Fala sério. Podíamos estar sozinhos há quase uma hora e ele não dissera absolutamente nada sobre sentimentos e tudo mais. Aliás, não havia tocado no assunto durante toda a semana apesar das oportunidades. Definitivamente, a pobre cabecinha de Lily devia estar delirando.

– Eu não vou muito com a cara dele – Fred comentou.

Suspirei.

– Estou sendo chata, não é? Só sei reclamar...

– Você nunca é chata, Rosie.

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Sorri para ele.

– Isso não é verdade.

– Eu estou dizendo que é. Vai me contrariar?

– Oh, e o que você vai fazer? Lançar em mim Rictusempra até eu morrer de rir?

Fred balançou a cabeça, como se reprovasse minha infantilidade.

– Oh não! – me joguei na grama de forma teatral. – Tenha piedade! Tudo menos cócegas! – estendi a mão para o nada para complementar minha péssima atuação.

– Bem, você quem pediu...

– O quê? Não! – minha voz saiu mais aguda do que o costume quando ele abaixou e começou a fazer cócegas na minha barriga.

Eu não conseguia controlar o riso e me debatia feito um peixe fora d’água. Ele era bem maior e mais forte do que eu, logo, minha tentativa de resistir foi inútil. Então, cansada demais até para rir, parei de me mover tão descontroladamente, ainda mantendo um sorriso. Fred ficou me encarando com um sorriso similar.

Ele era realmente lindo, não era? Senti uma súbita vontade de passar a mão pelos seus cabelos ondulados e ele não reagiu ao meu toque. Continuou a me encarar por mais alguns segundos, até começar a se inclinar. Será que me beijaria? Não era possível. Fiquei parada para constatar o quão perto ele ousaria chegar.

Mas Fred encostou seus lábios nos meus. E aquilo foi totalmente estranho.

– O que foi isso? – eu perguntei, mais do que confusa.

Ele fingiu estar pensativo.

– Da onde eu venho, chamam isso de beijo. Mas no dicionário também chamam de ósculo e...

– Não, Freds. Por que você me beijou?

– Achei que estava rolando um clima aqui...

Para, para tudo. Não, isso não estava acontecendo. Ah meu Deus, Fred gostava mesmo de mim? Isso não era legal, nem um tiquinho.

Sentei-me, afastando-o com uma das mãos sobre seu peito.

– Clima? Fred, nós somos amigos! – eu disse.

– É claro que somos, mas nem por isso eu não posso me sentir atraído por você.

– Ops, errou. É exatamente por isso que não pode.

– Ah vamos, Rose! Sei que você me acha atraente também.

– Tá, mas isso não faz de mim a fim de você.

– Então, você está me dizendo que não gosta de mim?

– Não, eu gosto de você!

– Ahá!

– Ei, não, espere! – bufei. – Você está fazendo de propósito. Eu gosto de qualquer amigo meu e você é meu amigo. E amigos não se beijam.

– Mas nós nos beijamos...

– Não, de novo. Você quem me beijou.

– Você deixou!

– Porque não achei que fosse me beijar de verdade.

– Detalhes.

Levantei-me impacientemente, cruzando os braços.

– Olha Fred, não vai ter outro beijo, entendeu?

Ele se ergueu e eu tive que praticamente quebrar o pescoço para encara-lo lá de baixo.

– Como quiser, docinho. Mas eu sei que você vai querer outro em breve.

– Não vou nada! E não me chame assim que meu estômago embrulha.

Fred se inclinou até alcançar minha orelha.

– Vai sim... Docinho.

– Fred, seu...

Antes de eu xingá-lo, ele desaparatou, me deixando plantada sozinha como uma perfeita idiota. Eu teria minha vingança, eu... Foi só naquele momento que me toquei da gravidade da situação. Por que ele tinha que ter feito aquilo e complicado tanto as coisas? Nós estávamos mais do que bem como amigos!

Ser adolescente era um caos só.


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Ainda sentindo como se tivesse sido estuporada, voltei para dentro de casa. Fui direto para a sala e massageei as têmporas. Por Merlin, no que eu fui me meter?

Minha visão estava meio embaçada e os pensamentos desconexos. Fiquei analisando o lugar sem estar de fato prestando atenção. Então, meu olhar recaiu sobre a mesinha de centro. Reconheci a capa preta com ornamentos dourados nas beiradas: era o livro do Malfoy.

Peguei-o e abri na primeira página. Havia um “S. M.” abaixo do título, só confirmando o que eu já sabia. Pensei em dá-lo para Albus devolver, mas por alguma estranha razão quis ficar com o livro. Não roubar, eu o entregaria ao dono assim que pudesse, é claro... Mas quis mantê-lo comigo.

Subi as escadas e aproveitei que o quarto estava silencioso para ler alguns dos poemas contidos no livro. Folheei as páginas sem parar, meus olhos atentos às linhas que vinham. Eu estava amando, tocada por cada palavra. Sei que soaria estranho vindo de uma bruxa, mas era realmente mágico. Só comecei a notar a passagem do tempo quando percebi que faltava claridade para ler.

– Ah meu Deus – exclamei ao ver o quarto todo escuro.

Acendi a luz e pisquei algumas vezes para me acostumar com a luminosidade do local. Já devia ser quase hora do jantar e...

– O JANTAR ESTÁ NA MESA! – ouvi a voz de vovó lá debaixo.

E bem na hora. Desci rapidamente, pois para variar meu estômago comandava meu ser e me obrigava a pegar as primeiras batatas coradas. Ocupei meu lugar à mesa e me servi com tal velocidade que Vovó Molly me olhou torto.

– Isso tudo é fome? – Hugo, que já estava lá quando cheguei, perguntou.

– Ela não consegue te ouvir, porque se transforma numa besta irracional quando está com fome – disse Dominique, que pareceu surgir do nada.

Poderia ela ser mais irritante? Resolvi deixar passar dessa vez. Dominique se serviu com uma quantidade tão mísera de comida, que não faria tanta diferença assim se o prato estivesse vazio. A loira fez cara feia quando viu o suco de abóbora e encheu o copo com água ao invés.

Certo, eu era a irracional. Ela ia morrer de inanição, aquela doida.

– Ah não, tirem a Rose daqui, ela vai devorar tudo – James já entrou dizendo.

Admito que minha reputação não era tão boa nesse quesito.

– Muito engraçado – eu disse, tentando parecer zangada, mas quase rindo.

– O quê? Engraçado? Antes ele estivesse brincando – Hugo disse.

– Ih, a Rose já chegou? Sobrou alguma coisa para as pobres almas famintas?

Virei meu rosto para a entrada da sala de jantar para me deparar com Fred, que expunha seu típico sorriso zombeteiro com um “quê” diferente. Já o meu sorriso murchou ao vê-lo. Sei lá, eu simplesmente me sentia esquisita em sua presença.

Fred se sentou de frente para mim e apanhou um pãozinho da cesta de pães. Ergueu as sobrancelhas, me olhando fixamente. De repente, ficou difícil de engolir as batatas.

– Tudo bem, querida? – vovó perguntou, preocupada. Eu devia estar com uma careta daquelas.

Fiz que sim com a cabeça. Essa situação com meu primo estava muito tensa e incômoda. Eu não sabia direito o que estava acontecendo ali, mas me deixava nervosa.


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Ah Hogwarts! Finalmente! Certo, eu ainda não havia chegado à escola, mas não me continha de ansiedade. O trem já entrava em movimento quando Penny e eu encontramos uma cabine vaga.

– Essa daqui parece boa – falei, abrindo a porta.

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Acomodamo-nos cada uma em um assento, ela toda comportada, repousando as mãos no colo e eu espatifada pelo banco, de maneira nada exemplar.

– Então, o que fez lá na Austrália? – perguntei.

– Não muito, mas tem lugares bem legais para visitar.

– Você está me dizendo que viajou para a Austrália e que não fez quase nada?

– Também não é assim... Sei lá, Rose. Eu não sou muito boa nessa coisa de me divertir.

– Ah, Penny, francamente. Nada a ver!

Penny suspirou, jogando os cabelos longos e louros para trás.

– Talvez seja, oras.

Impossível negar que Penelope Alice Longbottom era uma ótima amiga. Do tipo, se eu pulasse de uma ponte, ela jogaria um Incarcerous na hora para me segurar... Certo, exemplo ruim. Bom, enfim, Penny era todo o apoio que eu precisava e mais um pouco. Porém, a maior parte do tempo eu passava defendendo-a do mundo e falando por ela. Não, eu não estava querendo bancar a “mãezona”, nem nada. Penny simplesmente era meio, hã, insegura. Ela não falava quase nada perto de quem não conhecia, mesmo se sua opinião fosse pedida. Ela tinha certo medo de se pronunciar, ainda que eu a incentivasse a se abrir mais.

– Não é. Ponto final.

– Mas e você? Essas férias foram iguais a todas as outras?

Mordisquei o lábio inferior. É, eu tinha muito a contar.

– Bom, em parte, sim. Até essa última semana, tudo estava completamente normal.

– E o que aconteceu de tão inusitado?

– Pra começar, o Malfoy passou uns dias lá n’A Toca, vê se pode essas ideias do Albus! O cara ficou lá vegetando e sendo irritante a maior parte do tempo, em resumo – eu disse.

“Apesar do bom gosto para leitura.” Pensei, mas não disse nada.

– E, além disso, – prendi o fôlego por um instante, procurando as palavras. Era melhor usar as mais simples e desembuchar. – Fred me beijou.

– O QUÊ?! – até estranhei ouvi-la gritando, mas não podia esperar uma reação menos escandalosa.

– Eu sei, totalmente insano.

Penny balançou a cabeça.

– Insano é a palavra correta. E você?

– Eu não esperava aquilo, porém, deixei claro que seria a última vez. Dá pra crer nisso? Eu e Fred?

– Mega estranho.

– Exato.

– Digo, ele é um cara super legal. Possivelmente, o mais querido da escola. É bem humorado, inteligente e, por Morgana, aquele abdômen...

Semicerrei os olhos para ela, que tinha um ar sonhador.

– Penny...

– Fatos, Rose. São apenas fatos. Só estou tentando dizer que qualquer garota gostaria de tê-lo, mas não necessariamente é o seu caso.

– Do jeito que você diz, parece que eu estou rejeitando um deus, ou sei lá!

Ela deu os ombros.

– Bom, mais ou menos.

Bufei irritada, observando a paisagem pela janela.

– Estávamos bem sendo amigos, essas drogas de sentimentos estragam tudo.

– Já disse isso a ele?

– Sim! Mas ele respondeu que insistiria. Teimoso.

Ao desembarcarmos, não fomos direto para as carruagens, porque umas setimanistas da Sonserina começaram a implicar com Penny. Depois que lancei uma azaração em cada uma e as espantei, pudemos prosseguir.

– Aquelas garotas realmente são umas ridículas, você não devia permitir que fizessem graça de você.

– Eu sei, Rose. É que elas eram meio assustadoras...

Olhei a minha volta e não avistei nenhuma carruagem.

– Droga! Foram sem a gente. Acho que vamos ter que ir a pé.

– Não, olha! Ali na frente tem uma ainda – Penny apontava exaltada para um ponto a uns vinte metros de nós. – Vamos!

Corremos atrás do veículo de madeira, gritando para que nos esperassem. A carruagem parou, então a alcançamos.

– Ufa! – fui entrando. – Obrigada por es... – olhei para os ocupantes. – ...perar.

– Rose, tudo bem? – Penny perguntou do lado de fora, pois eu havia bloqueado a passagem.

Apressei-me a me mover. Sentei-me ao lado de Albus, que me fitava com curiosidade. Sim, ele e Malfoy estavam ocupando aquela carruagem. Ao subir, Penny entendeu o motivo da minha surpresa e acomodou-se ao lado do loiro, constrangida.

A carruagem retomou o movimento.

– Não fomos nós que aguardamos, foram os testrálios – disse Malfoy.

Franzi o cenho.

– Quem?

– Os testrálios, aqueles que puxam a carruagem...?

Revirei os olhos.

– Todos sabem que as carruagens andam sozinhas.

– Não, Rose. Os testrálios que puxam – corrigiu-me Albus.

– É, são criaturas parecidas com cavalos esqueléticos, mas com asas de morcego. Suas cabeças lembram as de dragões e os olhos são totalmente brancos. Não são animais muito bonitinhos, se quer saber... – Malfoy explicou.

Coloquei a cabeça para fora da janela, não convencida. Eu não enxergava coisa alguma ali. Cruzei os braços e as pernas.

– Não tem nada ali, Malfoy.

– Isso é porque você não pode vê-los.

– Hunf, e você pode?

– Sim.

– E por que você seria tão especial e os enxergaria?

Malfoy se moveu desconfortavelmente no seu assento.

– Testrálios só podem ser vistos por quem já presenciou a morte de perto.

Meu estômago deu a volta completa e minha garganta secou. Comprimi os lábios, desta vez realmente arrependida pelo meu tom rude.

– Desculpe – murmurei.

Malfoy não me respondeu, apenas encostou a cabeça ao lado da janela e ficou lá observando a noite.

Não que isso fizesse dele alguém melhor, mas não pude evitar sentir certa pena. Jamais conseguiria imaginar como seria ver alguém morrendo. No mínimo, terrível. O olhar de Malfoy parecia perdido e longe, de fato, havia emoção neles. Era um sentimento intenso. Talvez ele não fosse aquele boneco sem vida ou expressão como eu pensava. Talvez eu que não estivesse interpretando direito.

Bom, eu ainda não gostava dele.


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Prévia do Capítulo 3: Chato, chato e chato

Lily recuperou o sorriso, transbordando animação e energia quando ele a soltou.

– Vou estar torcendo por você lá de cima, trouxe até isso aqui – Lily fuçou por alguns instantes em sua mochila e retirou dela duas bandeirinhas de torcida, uma vermelha e a outra amarela. – Vai Hugo! Vai Hugo!

Ela correu para as escadas, agitando as bandeirinhas no ar.

– Completamente louca – disse Hugo.

–x-

Apertei os olhos para enxerga-lo melhor. Reconheceria aqueles cabelos castanho-avermelhados em qualquer lugar.

– James?

–x-

– Meu Deus, como você é detestável.

– Weasley, sua opinião não poderia ser mais irrelevante para mim.

– Até parece que você não se importa nem um pouquinho com o que pensam de você.

– Olha a minha cara. Parece que me importo?