Capítulo 22

*Comentários do registro*

— Como nós não fizemos absolutamente nada entre o período em que Charles saiu e Percy voltou, vamos pular logo para onde interessa.

*Narrativa*

O acampamento estava agitado durante a tarde, talvez pelo fato de estarem em guerra, todos os campistas estavam treinando para alguma coisa: Peggy treinava o arco e flecha com Quíron, Annabeth estava na arena praticando com sua faca, Ernest encarava a parede de escalada com lava e o cenário dos demais era bem próximo disso. A tarde não estava ensolarada, uma nuvem branca ou outra as vezes escondia o sol momentaneamente, mas logo o mesmo voltava a esquentar os semideuses que, concentrados em suas atividades, mal percebiam esse detalhe.

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Surpreendentemente, o barulho de uma trombeta de concha soou vindo da praia ao norte e, claro, todos sabiam o que significava: A missão de destruir o Princesa Andrômeda havia terminado, de um jeito ou se outro. Os campistas correram em direção ao pavilhão do refeitório, que era onde Percy havia parado, Ernest seguiu os demais, porém caminhando calmamente, não tinha pressa e, de qualquer modo, não sabia se queria descobrir o resultado da missão, afinal o plano era todo dele.

Quíron e Annabeth foram os primeiros a chegar ao filho de Poseidon, sendo seguidos de uma multidão e, alguns metros atrás, estava o mestiço, que conseguiu se aproximar a tempo de ouvir Jackson dizer “o navio explodiu”.

“Isso!” – Vibrações positivas pareceram preencher o corpo do filho de Atena, porém, essa sensação durou pouco: Em poucos segundos Silena rompeu as fileiras da multidão para procurar Beckendorf.

— Silena, querida, vamos conversar sobre isso na Casa Grande... – O centauro disse delicadamente.

Os próximos momentos não passaram de flashes para Ernest: Silena chorando e sendo levada por Clarisse, a dispersão da multidão, assim como a imagem de Percy, Annabeth e Quíron desolados, porém, ouvindo o garoto relatar os detalhes da missão. Os últimos flashes eram imagens do trio se afastando para a Casa Grande e, em seguida, do pavilhão vazio à sua frente. O rapaz permaneceu olhando para o mesmo ponto fixamente por um longo tempo, como se estivesse em transe.

“Não” – Sua voz reverberava em sua mente – “Beckendorf... Não... Era o meu plano...”

Uma grossa lágrima escorreu pelo rosto do jovem, se perdendo em sua barba negra bem aparada. Mil pensamentos passavam pela cabeça do filho de Atena:

“Ele tinha a minha idade, ia pra uma faculdade, estava namorando, ia ter uma vida melhor que a minha...”

“A sensação de que alguém não ia voltar...”

Então ouviu a voz de Charles em uma memória recente que se formou:

“- Pode deixar, vai dar tudo certo. Seus planos não falham – Beckendorf dirigiu um sorriso e estendeu a mão para o rapaz – Cuide de tudo aqui enquanto eu estiver fora”.

“Seus planos não falham” – A voz de Cronos ressoou na cabeça do garoto – “Parece que estava errado, não é? ”

— Cale-se – Murmurou o rapaz que agora olhava para os próprios pés, tremendo – Fique quieto.

— Eu ficar quieto não vai trazer seu amigo de volta – O titã parecia se deliciar com o sofrimento do hospedeiro – E não vai tirar a sua culpa de ter formulado a missão.

(...)

— Ei, viu o Ernest por aí? – Peggy abordou um campista aleatório – Ele estava com todos quando fomos receber o Percy, mas depois que nos dispersamos, não o encontro mais.

— Não faço ideia nem de quem seja...

— Ah, tudo bem, obrigada! – A garota continuou andando, procurando até anoitecer e chegar o horário do jantar, quando finalmente desistiu.

(...)

Na manhã seguinte Percy e Annabeth partilharam as tarefas de inspeção dos chalés e organização dos relatórios que Quíron recebia de todos os aliados dos deuses e do acampamento, claro, era deprimente.

— Bom, eu poderia simplesmente descontar mais um pontinho por essa desorganização – Percy apontou para a cama que ficava escondida em um canto, a que pertencia a Ernest, antes de saírem do chalé, que estava revirada e com algumas roupas jogadas por cima – Mas vou fazer vista grossa, já que era só fazer a cama...

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— Uhn – Annabeth estranhou, não era comum o irmão deixar as coisas por fazer, claro que era um rapaz um pouco largado, mas era maníaco por organização. A garota suspeitava que o jovem tivesse algum grau de TOC. Porém isso não ficou muito tempo na cabeça da sabidinha, o assunto anterior sobre perder pessoas importantes ainda vagava por sua mente.

(...)

A tarde chegou, o calor fazia um dia perfeito para um mergulho no lago de canoagem, mas não era o planejamento dos campistas: O dia havia sido reservado para queimar a mortalha de Beckendorf. O clima não foi dos melhores, Silena tentou discursar brevemente antes de queimar a mortalha, porém não conseguiu. Entre soluços que ecoavam e partiam o coração de todos, a filha de Afrodite queimou a mortalha de seu amado, vendo os elos de metal derreterem e tornarem-se fumaça dourada. Mais uma vez Peggy se incomodou com a ausência do namorado e, claro, isso a preocupava.

Annabeth saiu sozinha do local, o que deu uma brecha para a filha de Apolo falar com ela, afinal não eram exatamente amigas.

— Ei, oi! – Peggy segurou no braço da loira, assustando-se ao ver a expressão fechada da mesma.

— Ahn, oi? – A filha de Atena parecia confusa.

— Desculpe o incomodo, eu sei que não somo muito chegadas e tal, mas eu precisava perguntar pra alguém do chalé de Atena se vocês sabem do Ernest... Ele sumiu desde ontem e não apareceu nem aqui na despedida do Charles.

A loira levou o dedo indicador aos lábios, pensando um pouco.

— Bom, a cama dele estava desarrumada, parecia que ele tinha dormido lá... Mas estava como ele havia deixado ontem... As mesmas roupas... Ele deve ter dormido em outro lugar – A filha de Atena agora tinha um toque de preocupação na voz – Eu até diria que ele poderia ter saído durante a noite ou dormido no seu chalé, por mais que seja proibido e eu não aprove que ele quebre regras assim... Mas se você está procurando ele, quer dizer que ele nem foi para o chalé.

— Não consigo achar ele... Procurei ontem, ninguém viu ele, ninguém sabe de nada – A voz da garota começou a embargar-se de preocupação – Ele é um babaca, droga. Nem pra avisar que ia sumir!

“Se ela fosse a única que gostasse de um idiota, estaria tudo bem” – A filha de Atena pensou com seus botões.

(...)

O pó da terra começava a se depositar nas dobras das roupas de Ernest: O garoto estava deitado em uma clareira qualquer dos bosques do acampamento, queria ficar sozinho, afinal a culpa da morte de Beckendorf o consumia e Cronos não ajudava em nada, insultando-o e fazendo sua consciência pesar mais e mais.

“Onde os monstros estão quando preciso deles” – O rapaz não sabia se pensava isso porque queria lutar ou se apenas queria morrer de algum modo mais digno.

Os olhos do jovem estavam fixos no céu que começava a mostrar suas estrelas e constelações por entre as copas das árvores que balançavam suavemente com a brisa quente de verão.

— Zoe... Eu não te conheci nada, mas foi a primeira vítima verdadeira dessa guerra... Agora Beckendorf se foi por culpa minha... O que eu faço?

O rapaz fechou os olhos por um momento, sentindo uma lágrima descer pela lateral do rosto, ao limpar com as costas da mão conseguiu um borrão de terra no local.

— O que eu faço? – Sussurrava repetidamente para si mesmo, até que o cansaço de uma noite sem dormir, a fome e a sede pesaram em seu corpo, fazendo com que a visão ficasse turva e os olhos pesassem.

— Você podia virar homem, parar de reclamar e mostrar a coragem que teve na batalha do labirinto – Uma voz familiar surgiu por entre as árvores.

— Peggy? – O rapaz sentia-se zonzo – Não...

O garoto afastou a possibilidade de a namorada tê-lo encontrado, a voz era mais irritada, do que a da filha de Apolo.

— Quem? – O jovem simplesmente não tinha energias para se virar e encarar sua companhia, fisicamente, mentalmente e emocionalmente já estava no limite de suas forças.

— Já se esqueceu de mim, meu boca suja preferido?

— Eleanor – A mente fraca do garoto finalmente fez as devidas associações – O que faz aqui?

— Eu moro aqui, essa é a clareira onde nos encontramos pela primeira vez.

— É? Não reparei...

— O que está acontecendo garoto? Você não é assim, ou pelo menos não costuma ser.

— Um amigo morreu por minha culpa.

— Estamos em guerra – A ninfa suspirou – Cresça, baixas virão e você vai ter que ser forte.

O rapaz não ouvia direito o espírito da natureza falar, parecia estar submerso em água, os sentidos do rapaz estavam sumindo aos poucos com o esgotamento de suas forças. Não que tivesse feito muita coisa, mas o estado deprimido que se encontrava não ajudava a guardar energia: Estava cansado de tudo, de lutar, de chorar, de se culpar, de ouvir Cronos em sua mente, de rever o momento de partido de Beckendorf, das pessoas dizerem que ele era um bom estrategista e que iriam embarcar em qualquer plano dele sem preocupação. Havia decepcionado a todos.

— Ei! Fique comigo semideus! – A ninfa deu uns tapinhas no rosto do jovem, acordando-o por um momento – O acampamento precisa de você, levante-se!

— Eu não quero... Eu decepcionei todo mundo...

— E se desistir vai decepcionar todo o resto!

As palavras de Eleanor pareceram o soco de um lestrigão no estomago do rapaz, fazendo-o acordar com o choque.

— Até onde entendi só você se culpa pela falha da tal missão – O espírito da natureza continuou – Você desistir e deixar tudo pra trás só vai decepcionar todo o resto! Vai condenar de vez seus amigos!

— Mas eu...

— Mas nada! – A garota estava impaciente – Sua namorada com certeza está lá sozinha e preocupada, seus amigos precisam de um plano pra vencer essa situação toda e você está aqui, se lamentando e chorando como um bebezão!

O olhar do garoto estava fixo no céu, os pensamentos voltaram a funcionar e corriam a mil por hora.

— Odeio admitir, mas acho que você tem razão, por mais que eu ache que possa ser mais útil ficando por aqui, fora do caminho.

— Claro que tenho, pare de frescura e volta pro acampamento, está deprimindo minha área e isso é péssimo para as folhas! – A ninfa falou, orgulhosa e irritada ao mesmo tempo.

— Obrigado, Eleanor – O jovem sentou-se e olhou para o espírito da natureza, que corou ao ouvir seu nome ser pronunciado com tanta gratidão – Eu preciso voltar, desculpe te deixar sozinha.

— Não estou sozinha, estou indo visitar uma amiga ninfa.

— Bem, então vou-me! – Replicou o rapaz, sumindo de forma impressionantemente rápida para quem estava sem energia. A mulher apenas suspirou, seguindo seu caminho com um meio sorriso no rosto.