Here Without You

I Give You My Heart. - Parte I


Eu Te Dou Meu Coração.

Os dias se passaram. Dois... Três... Quatro... e nenhuma notícia. A neve começou a cair timidamente e estava tão frio! Foram os cinco dias mais longos da vida de Kakashi. E para sua surpresa os mais sem vida também. A cada segundo que ele respirava, era como se ele sentisse uma faca transpassar seu coração. Nos momentos que ficava sozinho, ele chorava, soluçava até não ter mais forças para depois ter que voltar à dura realidade.

Takari desaparecera de vez e Kakashi não tinha mais idéias de como trazê-la de volta. Algo em seu interior gritava pela presença de Takari e ela era a única coisa que ele precisava para se aquecer contra essa tristeza que estava o fazendo tremer de frio. Ela era uma presença ali. Um fantasma que ousava perturbar a calmaria dos dias de um garoto de cabelos prateados. Por mais que a garota se afastasse, Kakashi a sentia ali, unida à sua respiração trêmula de frio. Às vezes, ele tinha dúvidas que ela existia mesmo. Outras ele apenas pensava que ela continuaria a existir somente em seu coração, pela insistência de seu pensamento em querer torná-la real o suficiente.

Quando ele olhava para os lados, sempre procurava por aquele olhar tristonho da garota. Parecia seriamente que os orbes azuis de Takari estavam grudados em sua nuca e ele podia senti-los a todo o momento, observando-o. E ele sequer a abraçara... Não tivera tempo de se despedir. Somente segurara suas mãos por um momento. Ele a queria perto de si. Queria tocá-la... sentir seu perfume. Mas isso apenas acontecia em seus sonhos nostálgicos e platônicos. Todas as noites ele delirava com a presença da garota em seu quarto. Via-a parada, chorando. Morrendo. Sentia a necessidade de ir buscá-la e, bem no fundo, culpava-se por todo sofrimento que Takari poderia estar sentindo naquela maldita casa.

O Hatake mal falava com seus amigos. Preferia a solidão à companhia indesejada dos garotos que insistiam em querer animá-lo. Kakashi passava a maior parte do tempo sentado na mesa que ele costumava se sentar junto de Takari, vendo-a sorrir encabulada enquanto o vento frio balançava seus cabelos negros.

Agora, apenas ele se encontrava ali, naquele ambiente cinzento e perturbador. Ela não estava mais com ele para lhe trazer alegria da forma mais triste e fazê-lo sorrir da forma mais misteriosa possível. Kakashi sentia os flocos de neve cair sobre seus cabelos acinzentados. O banco gelado fazia suas pernas tremerem de frio e o garoto insistia em ficar ali até que seus dedos doessem de tão congelados.

Kakashi cansara-se de tudo a sua volta. Precisava de uma simples notícia. Um sinal de que ela ainda estivesse viva ou bem. Feliz ele tinha certeza que Takari não estaria, pelo menos até o dia em que ele a tiraria das garras daquele monstro.

- Eu irei de encontrar. – murmurou Kakashi sentindo o vento cortar seu rosto.

- x –

- Takari! – murmurava aquela voz doce batendo à porta. A garota estava deitada na cama, encolhida, tentando se esconder de si mesma.

A menina abriu os olhos. Seus dedos doíam. Estavam calejados de tanto tentar acertas as notas no piano. Era um esforço em vão que lhe provocava apenas mais em mais dores.

- Takari! – continuava a Chamar Mikoto.

- Mikoto... – murmurou ela fraca lá de dentro.

- Takari, venha aqui. – pediu a mulher para que a garota se aproximasse da porta.

Vagarosamente, Takari levantou-se e encostou a face na porta de forma a ouvir os sussurros de Mikoto.

- Você está bem?

- Sim...

- Fugaku viajou, Takari. – disse Mikoto. – Você precisa sair daí.

- Eu estou bem aqui...

- Você anda fraca... Não tem se alimentado... – começou Mikoto como se fosse uma mãe preocupada.

- Ele desistiu de mim, não foi Mikoto? – perguntou Takari com a voz trêmula começando a chorar.

- Er... – fez Mikoto tentando disfarçar. – Não chore Takari. É óbvio que ele não esqueceu de você.

- É mentira. Ele se esqueceu de mim...

- Takari, ele te ama. Tenha fé nisso. – falou a mulher se sentindo mal por ter que falar coisas as quais ela não tinha certeza.

Mikoto não sabia o quão louco Kakashi era para apostar tudo o que ele tinha em Takari. Um romance perdido e proibido. Apesar de não falar nada a respeito, a mulher sabia das limitações de Takari, seus problemas psicológicos e suas cicatrizes que demorariam sarar.

- Eu estou me sentindo só, Mikoto. Eu preciso dele. – disse Takari com um fio de voz.

- Takari, eu posso te ajudar. Falou Mikoto. Um silêncio pairou sobre elas. – Escreva para ele. Eu prometo que irei encontrá-lo para entregar sua carta.

- Você tem certeza disto, Mikoto? – perguntou Takari sentindo uma fagulha de esperança irradiar-se no seu coração.

- Takari. – a mulher fez uma pausa. – Eu juro que te ajudarei a fugir daqui. Nem que seja a última coisa que eu faça.

- Você não precisa se arriscar assim por mim. – sussurrou a garota.

- Você merece ser feliz, Takari. – disse Mikoto. – Vamos, escreva para ele. Dentro de meia hora eu volto.

Fez-se silêncio. Takari escutou os passos da mulher se afastando. Fechou os olhos por um momento, pensando se esta era a coisa mais sensata a se fazer. Ficou imaginando a reação de Kakashi ao saber que ela seria mandada para outra cidade, para sempre. Pensou nas ameaças de Fugaku também. E elas a assustavam da forma mais terrível que alguém pudesse sonhar. Por fim, decidiu escrever a carta, pois, no fundo de seu coração, ainda existia esperanças de que ela pudesse escapar daquele inferno.

A garota se aproximou do piano. Pegou a primeira página que vira pela frente e segurou tremulamente a velha caneta. Takari viu que as únicas folhas que ali existiram eram suas partituras de composição inválidas. Então, no verso dessas inscrições, começou a escrever sua carta.

Chorou durante algum tempo. Deixou as lágrimas caírem em cima de algumas palavras que ficaram inutilmente borradas. Contara suas tristezas, seus medos e os terríveis planos de Fugaku. Tentou não parecer tão frágil e indefesa em suas frases, mas isso foi inevitável com suas palavras escritas.

Um remorso invadiu seu coração ao perceber que era que ela transmitia às pessoas: fraqueza, dó, pena, fragilidade. Falou também em suas linhas para que o Hatake não se preocupasse com ela, porque, afinal, ela ainda tinha forças para resistir se ele ainda estiver a seu lado.

Terminou de escrever. Fechou o papel em quatro partes e num canto inferior, próximo à uma linha da partitura escreveu: “A Hatake Kakashi”.

A menina esperou Mikoto chegar novamente. Ao ouvir as batidas na porta, Takari, sem hesitar, abaixou-se e passou a carta por baixo. Ouviu Mikoto dizer que iria ainda naquele dia procurar por Kakashi.

- Diga a ele para não me esquecer. – murmurou ela.

- Eu direi. – falou Mikoto por fim, saindo sorrateiramente do sótão batendo delicadamente seus pés no assoalho de madeira, cuidadosamente encerado.

- x –

A Uchiha andava apressadamente pelos jardins mal cuidados da mansão, tentando não chamar atenção de nenhum empregado. Contudo, esse seu esforço em passar-se despercebida de pouco adiantou, já que, em pouco tempo, um dos seguranças vinha em seu encalço.

- Onde a senhora está indo? – perguntou.

- Não lhe devo satisfações. – respondeu Mikoto.

- Desculpe, madame, mas são ordens do patrão. Ninguém sai da mansão sem o consentimento dele.

- Acontece que o patrão não está aqui por hoje. Agora me dê licença.

- Espere um momento...

- Eu já lhe disse que eu não vou acatar um empregado. – falou a mulher começando a se irritar.

- São ordens...

- Pro inferno o Fugaku com as ordens dele! Estou farta! Eu não sou uma prisioneira desta casa. Saia da minha frente.

Mikoto podia falar aquilo tudo para os empregados e outras pessoas a seu redor. Ela às vezes externava a raiva e o remorso que sentia do marido. Mas nunca, nunca tivera coragem suficiente para falar com ele a respeito de sua infelicidade.

O segurança calou-se e Mikoto foi rumo a um dos carros. O motorista logo se prontificou a dirigir, mas, veemente, ela recusou.

A mulher estava furiosa por estar sendo mantida prisioneira na própria casa. Mas ela sabia também que por mais que ela lutasse contra isso, ela jamais conseguiria sua liberdade. Mikoto achava-se velha demais para sonhar com uma outra vida, portanto, aceitava o costume da vida como uma Uchiha.

Mikoto deu partida no carro e foi saindo da mansão. Passou pelos portões e, rapidamente já caíra na estrada. Rodou por alguns minutos, procurando o melhor caminho para chegar à casa dos Hatake.

Começara a nevar novamente e, devagar, a visibilidade ia diminuindo. Ela acendeu os faróis e continuou firme atrás do volante. Fazia tempo que Mikoto não pegava em um carro e ela sentia falta desse sentimento tão gostoso de uma falsa liberdade.

Após mais algum tempo, ela chega ao subúrbio onde Kakashi morava e começa a procurar pela casa. Em poucos minutos, encontrou-a.

Parou o carro na frente e hesitou um pouco antes de sair. Mikoto respirou profundamente e certificou-se se tinha trazido a carta de Takari.

Finalmente, ela pegou o casaco no banco do passageiro e vestiu-o. Colocou também as luvas para se preparar para o frio lá fora. Então, Mikoto abriu a porta do carro e saiu de lá, caminhando rumo à varanda da casa de Kakashi.

Parou em frente à porta. Seu coração palpitava. Era como se ela estivesse no lugar daquela garota de tão nervosa que estava. Até que suas mãos vacilantes tocaram a campainha.

- x –