Hell on us

Depois do tiro


[...]

Assim que eu fiz aquela pergunta imediatamente me arrependi de ter feito isso, ao perceber o quanto David pareceu ficar completamente desconfortável e estranho ao ouvir o nome Negan, que claramente causara um grande impacto sobre ele foi difícil não me sentir também estranha com isso. Notei quando ele começou a se mover na cadeira como se tentasse ficar numa posição mais confortável e apesar de sua expressão mostrar o máximo de calma que uma pessoa poderia ter, seu olhar estava dizendo algo completamente diferente naquele momento e eu consegui notar um certo temor quanto a pergunta que eu fiz de uma forma tão direta como aquela.

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—O Negan ele é... —Ele suspirou mudando sua posição outra vez enquanto direcionava seu olhar diretamente para mim. —ele se auto declara o líder dos Salvadores. É incrível como esse novo mundo de merda consegue fazer com que as pessoas mudem de uma forma como essa.

Eu senti um curto arrepio percorrer minha espinha logo após ouvir aquilo.

—Ele é o próprio diabo em pessoa.

—E a gente matou alguns dos homens dele ontem. —Disse e imediatamente David me lançou um olhar diferente, do qual eu não entendi muito bem o motivo. —A gente vai acabar se fudendo gostoso por ter feito isso.

David deu um leve tapa na minha mão como se estivesse me repreendendo por eu ter dito um palavrão.

—Estou mentindo? —Perguntei ainda o olhando. —O jeito como fica quando ouve o nome desse cara e pelo pouco que falou dele já deu pra sacar que o Negan não é flor que se cheire e quando ele souber que matamos alguns dos homens dele cabeças vão rolar.

O olhar de David mudou, seu corpo ficou rígido e claramente tenso.

—Deanna quer reunir o pessoal hoje de tarde para conversar sobre eles. —Ele comentou num tom baixo. —O pai dele quem deu a ideia de contar sobre esse grupo. —David gesticulou na mesma direção em que Carl estava, segui seu olhar e logo vi que o projeto de xerife já havia acordado e prestava atenção na nossa conversa. Se ele ouviu tudo? Com certeza ouviu.

—Então você decidiu finalmente acordar. —Sorri tentando novamente me sentar na cama e assim que senti a dor no ombro onde levei o tiro desisti rapidamente dessa ideia. —Pensei que eu que teria de ir até ai pra te acordar.

Carl mexeu no cabelo –que foi cortado por minha pessoa– na tentativa de deixá-lo um pouco menos bagunçado e me olhou.

—Denise disse que não vai sair daqui até ela ter certeza de que você está realmente bem. —Falou se arrumando na cadeira. —Não vai poder sair dessa cama até ela falar que pode.

Bosta. Pensei suspirando, olhei novamente para o ombro onde havia o curativo que deixava todo o local do tiro coberto, pode parecer uma tremenda de uma loucura dizer isso, mas eu pensava que levar um tiro seria um pouco mais emocionante que isso. Tudo bem que na hora estava doendo e muito, mas depois disso não era nada de mais e agora eu estava sendo obrigada a passar mais um tempo dentro daquele quarto até que Denise resolvesse quando eu deveria sair dali.

—Bom, já que você tem o guri como companhia eu vou resolver algumas coisas e volto mais tarde pra ver se você continua viva. —David começou a se levantar da cadeira e logo a colocou ao lado do criado mudo que ficava ao lado da cama onde eu estava. —Cuida dela cowboy.

Caminhando até a porta do quarto, David me lançou um último olhar antes de sair e novamente fechar a porta me deixando sozinha com Carl, assim que David saiu do quarto o projeto de xerife logo se levantou também sentando na beirada da cama me olhando com um pouco de preocupação. Ele ainda estava usando a mesma roupa de ontem e a sua camiseta ainda estava um pouco suja com o meu sangue, mas isso não pareceu incomodá-lo muito naquele momento.

—Então, o que vamos fazer enquanto eu estiver presa aqui dentro? —Perguntei com um pouco de animação; mesmo não estando nem um pouco animada em passar mais um tempo ali dentro.

—Você me assustou ontem. —Carl me olhou sério, aquilo me pegou totalmente de surpresa. —Você começou a ficar pálida e... Eu achei que você ia acabar... —Ele mesmo se interrompeu parando no meio da frase.

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—Morrer? —Perguntei e logo o vi concordar. —Isso não vai acontecer comigo xerifinho. —Dei um meio sorriso tentando animá-lo, porém isso não pareceu dar muito certo. —Ei, eu não vou morrer. Pelo menos não até eu completar oitenta anos.

Carl tentou sorrir também, seus lábios até se moveram formando um rápido sorriso, mas eu pude ver que ele não conseguiria fazer isso. Ele realmente se preocupou comigo? É isso mesmo ou eu que estou louca?

—Não brinca com isso, Ayla. —Ele parecia ainda mais sério que antes. —Não se brinca com a morte.

Bufei.

—Desculpa se eu tentei deixar esse clima de ter sido baleada por um dos desgraçados dos salvadores menos tenso. —Cruzei meus braços mas assim que senti novamente a dor em meu ombro desisti. —Como se já não fosse o suficiente ter David todo estranho por termos matado os homens do tal Negan agora tenho que aturar você assim também.

—Temos motivo pra ficar assim, esse grupo é perigoso e podemos a qualquer momento encontrar com eles de novo e você quer ficar fazendo piadinha sobre isso —Ele fez uma breve pausa me olhando. — isso é sério Ayla.

Eu ergui as duas sobrancelhas.

—Eu sei que é sério! —Exclamei começando a ficar um pouco nervosa. —Porra eu levei um tiro e queria poder esquecer um pouco dessa bosta de dor que sinto quando mexo essa porcaria de braço tá. —Respirei fundo. —Esse é o meu jeito de tentar lidar com essa merda e se você não gosta disso eu não posso fazer nada.

Carl não disse nenhuma palavra, seus belos olhos azuis ficaram me encarando por um longo tempo e aos poucos eu fui ficando mais calma, respirei fundo mais uma vez.

—Ok, eu estou calma agora. Vamos mudar de assunto. —Falei o encarando abrindo um meio sorriso mais uma vez. —Quer dizer então que você ficou todo preocupado comigo quando eu levei o tiro?

O rosto de Carl imediatamente começou a ficar vermelho, eu sabia que certos comentários que eu fazia o deixava sem graça e era realmente muito engraçado ver o quanto ele ficava envergonhado quando eu dizia alguma coisa que o deixava constrangido. Eu tinha um dom para deixar ele sem graça desse jeito e sabia disso e claro, eu adorava fazer isso sempre que possível.

—E se eu disser que sim? —Ele perguntou ainda sem graça e mais constrangido que antes. —Eu me preocupei com você sim, e daí?

Eu comecei a rir.

—Então quer dizer que Carl Grimes o menino que tenta se dar uma de machão se preocupa comigo! —Levantei o braço bom. —Que fofo.

Ele revirou os olhos, seu rosto ainda estava vermelho.

—Quando você vai parar de ser tão convencida assim? —Ele perguntou se arrumando na cama e saindo um pouco da beirada da cama; percebi que ele havia se aproximado um pouco mais de mim. —Seu ego só não é maior por causa do seu cabeção.

Ainda usando o braço bom, me movi um pouco para frente conseguindo dar um tapa em seu ombro que não pareceu fazer tanto efeito assim nele.

—Você como sempre muito sem graça. —Falei sem parecer me importar com a ofensa sobre o tamanho da minha cabeça; às vezes eu sentia que ela era um pouco grandinha sim, mas não precisava revelar isso para Carl. —Precisa melhorar suas piadinhas e você sabe que eu posso te ensinar a ser engraçado como eu sou.

Novamente Carl se aproximou um pouco mais de mim tentando disfarçar que ele estava rindo, era incrível como de uma hora para outra já estávamos fazendo piadas um com o outro como se nem tivéssemos tido uma minúscula briguinha minutos atrás.

—E o que te faz pensar que você é engraçada? —Perguntou se inclinando um pouco mais na minha direção e então eu finalmente percebi o que ele estava tentando fazer. Xerifinho esperto.

—Você tem é inveja do meu senso de humor, Carl Grimes. —Falei abaixando meu tom de voz e comecei a também me inclinar um pouco na sua direção, foi um pouco difícil por causa do meu ombro que doía quando eu fazia muito esforço com ele, mas acho que naquele momento valia um pouco a pena sentir nem que fosse um pouquinho de dor. —Você se mata de rir quando eu falo alguma coisa engraçada, não negue isso.

Carl sorriu rapidamente antes de novamente se aproximar de mim, quando percebi estávamos com nossos rostos a pouca distância um do outro e apesar de ser a segunda vez que iríamos fazer aquilo eu não me senti tão envergonhada e sem jeito como eu estava na primeira vez que nos beijamos; claro ainda era estranho fazer isso porque, meu Deus né, eu nunca havia feito isso antes e não tinha nenhuma experiência sobre esse tipo de coisa. E também era estranho. Com o braço bom eu tirei o chapéu de xerife colocando-o ao meu lado para deixar seu rosto um pouco mais visível e deixei minha mão sobre seu ombro, foi então que nossos rostos se aproximaram mais uma vez até que nossos lábios se finalmente se tocaram, confesso que esse segundo beijo foi um pouco melhor do que o primeiro; não estávamos mais tão sem graça como na primeira vez e acho que nós dois estávamos menos tímidos do que quando nos beijamos pela primeira vez.

Sem perceber minha mão que antes estava em seu ombro pareceu criar vida própria e quando eu me dei conta senti o cabelo de Carl entre meus dedos; ai meu Deus que vergonha disso! Pensei sentindo meu coração começar a disparar exatamente como antes, por sorte eu estava quase que sentada então não me preocupei em senti minhas pernas, porque naquele momento eu realmente não estava mais a sentindo. Efeito de Carl Grimes, pensei outra vez. Carl por outro lado pareceu ficar um pouco mais a vontade do que eu, no começo ele parecia um pouco perdido com tudo aquilo mas ele logo segurou minha mão durante alguns segundos então a colocou na minha nuca; um pouco semelhante com o que eu estava fazendo. Como na primeira vez quando nos beijamos, eu senti aquele mesmo calor percorrer por todo meu corpo me deixando com uma sensação como se eu fosse um legume dentro de uma sopa, tudo bem que aquela sensação era maravilhosa, mas se eu continuasse sentindo aquele calor todo logo começaria a suar e eu não queria suar enquanto estava beijando pela segunda vez Carl Grimes.

—Oh... —Assim que ouvimos a voz conhecida de Michonne dentro do quarto nos separamos abruptadamente, Carl se levantou imediatamente da cama ficando a poucos centímetros dela e eu continuei na mesma posição olhando completamente espantada para Michonne que nos encarava como se esforçasse ao máximo para segurar o riso. —Eu soube que tinha acordado e queria saber se você estava bem Ayla... —Ela tentou não sorrir ou rir, seja lá o que ela queria fazer, e não conseguiu.

—Bom, já que você está bem então eu vou... —Ela parecia mais sem graça que eu e Carl que fomos pegos no flagra. —Se precisar de qualquer coisa é só pedir.

Eu tentei reprimir um sorriso e apenas balancei a cabeça com rapidez e imediatamente ela saiu do quarto fechando a porta logo em seguida, assim que ela fez isso eu olhei diretamente para Carl que se mantinha totalmente estático em seu lugar, seus olhos estavam arregalados como se tivesse sido pego fazendo alguma coisa de errado. Ele percebeu que eu estava o olhando e lentamente virou o rosto me olhando também, um silêncio absurdo se formou entre nós dois, percebi que seu rosto estava completamente vermelho e não duvidei que o meu também estivesse. Estranharia se eu não estivesse parecendo um pimentão naquele momento.

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—Ela nos pegou com a mão na massa. —Falei ainda o olhando e então comecei a rir, Carl ficou um tempo me encarando e aos poucos logo começou a fazer o mesmo. Apesar de realmente estar achando graça daquela situação eu me senti completamente desconfortável ao ser pega no flagra por Michonne, ela poderia acabar contando sobre isso para o Rick e pensar nessa possibilidade me deixou ainda mais nervosa; tudo bem que ele já sabia sobre mim e Carl, mas pensar nisso me deixou sim, muito sem jeito.

(...)

Depois de passar metade do dia com Carl, David decidiu passar algumas horas comigo também; já que Denise não achou boa ideia me liberar tão cedo assim. E já que concordamos em não tocar no assunto sobre os salvadores, ele achou melhor aproveitar um dos tantos livros que havia ali dentro, tirando um da estante ele logo me mostrou a capa lendo o título em voz alta, me animei quando vi que era Orgulho e Preconceito. Eu sabia que existia o livro, eu era grande fã do filme e ao ver que em pleno apocalipse zumbi ele havia encontrado por puro acaso esse livro me animei ainda mais.

Pedi para que ele lesse para mim e mesmo que David se mostrou um pouco relutante sobre fazer isso, ele acabou concordando com isso.

—É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitando de esposa. —Ao ler esse primeiro trecho ele riu; não entendi muito bem o motivo, mas resolvi não perguntar nada por já saber que ele poderia não querer contar. —Por pouco que os sentimentos ou as opiniões de tal homem sejam conhecidos, ao se fixar numa nova localidade, essa verdade se encontra de tal modo impresso nos espíritos das famílias vizinhas, que o rapaz é desde logo considerado a propriedade legitima de uma das suas filhas...

Ele parou de ler assim que ouviu alguém em Alexandria gritar um alto e sonoro não, David fechou o livro o colocando na cama e então caminhou até a janela puxando a cortina um pouco para conseguir ver o que estava acontecendo ali dentro, ele soltou uma rápida exclamação e se voltou novamente para mim. Curiosa como eu sempre fui, tentei me levantar da cama para olhar também o que raios estava acontecendo e assim que ele percebeu o que estava querendo fazendo correu até mim pedindo para que eu não fizesse isso.

—Não se levante, eu resolvo. —Falou logo correndo até a porta e deixando o quarto com rapidez e até mesmo um pouco de desespero.

Aproveitei que eu estava novamente sozinha e comecei a tentar me levantar para ver o que estava acontecendo ali fora, ouvi mais gritos e dessa vez não era só de uma pessoa, parecia ser de várias. Comecei a sentir um certo medo, afinal poderia ser algum ataque e pelo modo como David pareceu desesperado quando deixou o quarto foi difícil não se preocupar. Quando eu consegui sair da cama me coloquei de pé firmando meus pés no chão frio e caminhei até a janela, senti meu ombro doer novamente mas tentei ignorar a dor; eu queria saber o que estava acontecendo e não iria parar só por causa de uma dorzinha. Tá, isso foi irônico.

Assim que eu cheguei na janela eu pude ver um punhado de gente que vivia em Alexandria fora de suas casas olhando para a mesma direção onde estava Rick e o marido de Jessie, Pete. Os dois estavam brigando e parecia ser uma briga bem feia mesmo, arregalei meus olhos ao ver que um começou a dar socos no outro, vi algumas pessoas tentando separá-los, porém eles não tiveram sucesso ao fazer isso. Até mesmo Carl tentou fazer isso, ele correu até seu pai e logo foi empurrado por Rick na mesma hora.

—Ei, ei, ei volte para a cama menina! —Ouvi a voz de Denise dentro do quarto e assim que me virei a vi se aproximar de mim e começar a me guiar de volta para a cama. Ela olhou brevemente para a janela vendo todo o alvoroço que acontecia ali fora e não pareceu se importar muito com aquilo.

—Eu estou bem e você sabe disso. —Falei a olhando. —Não precisa se preocupar tanto assim.

Ela deu um curto sorriso me olhando.

—O seu amigo com a cicatriz quem pediu para eu ficar de olho em você. —Disse sorrindo outra vez. —Ele ficou preocupado quando te trouxe aqui e quer ter certeza que você vai ficar bem, agora fiquei aí na cama e eu prometo que amanhã mesmo te libero.

—Sério? —Perguntei animada. —Promete mesmo ou só está de sacanagem comigo?

Denise riu.

—Se você se comportar eu te libero. —E saiu do quarto me deixando sozinha novamente.

Ainda me perguntando sobre qual o motivo da briga entre Rick e Pete peguei novamente o livro que David havia começado a ler para mim e o abri na mesma página lendo de onde ele parou, foi difícil me concentrar quando a curiosidade para saber sobre isso não me deixava em paz e me esforçando ao máximo para não pensar nisso me concentrei apenas no livro em minhas mãos.