Harry Potter e o Orbe dos Universos

Êxtase, Desespero e Neville


Primeiro, o êxtase.

O Orbe de Merlin era a última horcrux!

Depois, o desespero.

O Orbe de Merlin era a última horcrux.

Então, todos os seus sonhos com Isolda e o longo corredor antigo se deviam a isso? Não... não poderia ser; afinal sua ligação com Voldemort estava findada há anos. Além disso, a primeira vez que Harry sonhara com o artefato fora na própria noite em que ele acabara com a dita ligação com o Lorde.

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Mas como era possível que ele tivesse esses sonhos, essas visões? Porque Isolda aparecia na sua mente, cheia de enigmas em seus olhos escuros salpicados de estrelas? Dumbledore com certeza teria uma resposta para isso.

Dumbledore. O professor sabia que Voldemort possuía um artefato de Merlin em mãos, embora não soubesse do que se tratava ou porque o velho queria tanto o orbe misterioso. E agora ele estava em perigo mortal, seriamente ferido e desfigurado, sem sua varinha, em um local desconhecido, vivo apenas pelo luxo de Voldemort de ter o inimigo enjaulado, torturado e humilhado, em um lugar desconhecido e certamente perigoso e muito protegido.

— Precisamos encontrar Dumbledore – disse Harry abruptamente, com um brilho febril nos olhos verdes.

— O que?! – Exclamou Mione, claramente confusa pela mudança na linha de pensamento do amigo – Harry, não! Precisamos encontrar a horcrux, Dumbledore é um prisioneiro agora...

— Sim, sim, eu vi o jornal – concordou Harry, passando as mãos nos cabelos totalmente ciente que ele deveria parecer um pouco insano aos olhos da amiga no momento – Mas pense comigo Mione. Pelo que sabemos de Voldemort. Onde ele guardaria seu precioso pedaço de alma, seu maior tesouro e forma de se ligar à imortalidade?

— Bem... – Mione franziu o cenho e cruzou os braços seriamente – Com certeza ele manteria a horcrux em um lugar muito seguro, de preferência de difícil acesso, protegido por magia. Muito bem protegido. E de fácil acesso a ele mesmo, caso precisasse chegar até ela... Algum lugar que ele pudesse mantê-la ao seu lado.

— Sim, sim – concordou Harry, um sorriso inexplicavelmente espalhando-se em seus lábios ressecados pela excitação – E onde você acha que Voldemort manteria seu prisioneiro, seu maior inimigo, o único homem a quem ele um dia temeu?

A compreensão chegou aos olhos castanhos de Mione antes mesmo de Harry ter terminado de falar, muito mais sombria do que Harry esperava.

— Mas Harry... – começou Mione, retorcendo os dedos – Poderíamos precisar de semanas, meses... anos procurando por esse lugar.

O golpe de realidade bateu forte na boca do estômago de Harry. Ele olhou para a amiga, que retribuía o mesmo olhar amedrontado que ele supunha que estava estampado em seu próprio rosto, e quando ali não encontrou mais nenhuma resposta, afastou-se alguns passos até um pequeno toco de árvore e ali deixou-se desabar. Mione tinha razão. Eles não tinham nenhuma ideia de onde poderia ser esse lugar que Voldemort escolheu para guardar outro precioso pedaço de sua alma, nenhuma pista.

Passando as mãos desapercebidamente pelos fios já bagunçados, Harry percebeu que estavam bastante longos, embora ainda não parassem de crescer para todos os lados. Foi impossível não se lembrar que Gina sempre o incentivara a deixar o cabelo e a barba crescerem, e a lembrança da noiva deu uma pequena fagulha de ânimo em seu interior.

Eles precisariam de um plano. Mas para conseguir formulá-lo, precisaria da maior quantidade possível de informações que pudesse obter sobre Voldemort dessa realidade.

— Mione, Harry? – A voz de Ron surgiu da porta da Casa de Pedra, ligeiramente preocupada – Não percebi vocês saindo. Está tudo bem?

— Harry descobriu a última horcrux – disse Mione, sem rodeios, e o queixo de Ron caiu violentamente em direção ao seu pescoço.

— O-o que? Como? – balbuciou Ron, olhando espantado e esperançoso de Mione para Harry – Afinal, desembuche! O que é?

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— O Orbe de Merlin é a última horcrux – disse Harry, levando os cabelos para trás de suas orelhas – Dumbledore me disse que Voldemort o tem em seu poder, mesmo sem saber do que se trata, e Mione confirmou que em nosso universo o mesmo orbe foi encontrado nas ruínas de Godric’s Hollow...

— Isso é ótimo! – exclamou Ron, encantado, sorrindo tão amplamente que parecia que sua boca alcançava as orelhas.

— Mas não sabemos onde está, e mesmo se soubéssemos estará amplamente vigiado e guardado, ainda mais agora que Voldemort deve suspeitar que estamos caçando as suas outras horcruxes – disse Mione, e o sorriso de Ron murchou consideravelmente.

— Isso é menos ótimo – Ron murmurou, as orelhas avermelhando lentamente – Mas... pelo menos temos uma pista! Precisamos reunir o que temos da Ordem, eles devem ter alguma ideia... E se nada der certo, o Harry é o auror mais capaz na hora de interrogatórios, “Veritasserum Potter”, é como te chamam pelas costas...

— Sim, é verdade! – disse Mione, subitamente mais animada, e Harry observou confuso enquanto a amiga correu nas pontas dos pés para colar rapidamente os lábios com os de Ron, que ficou claramente muito satisfeito consigo mesmo – Temos Neville!

— Neville? – perguntou Harry.

— Nós tivemos que trazê-lo para cá, lembra? – perguntou Ron, agora abraçado com Mione.

Com tanta coisa que acontecera nos últimos dias, esse detalhe havia, realmente, escapado das lembranças de Harry. Ter Neville com eles, por mais que contra a vontade do mesmo, poderia vir a se tornar uma vantagem maravilhosa. Talvez terem sido obrigados a trazê-lo consigo tenha sido mais uma forma da sorte ter intervindo em sua missão.

Levantando-se decidido do toco de árvore, e amarrando o cabelo negro em um coque desarrumado, como ele vira Gina fazer várias vezes com seus fios vermelhos, Harry olhou decidido para os amigos, com uma determinação que fazia os olhos verdes brilharem.

— Me levem até ele.

***

Neville foi instalado no porão da Casa de Pedra. Era um lugar amplo, mas extremamente frio e úmido. Uma espécie de musgo malcheiroso crescia em vários pontos pelas paredes de pedra, e tornava o ato de caminhar levemente perigoso. Havia apenas uma janela para todo o ambiente, pequena e estreita, com apenas quatro dedos de abertura, o necessário apenas para passar os parcos raios de sol que venciam as copas das árvores e evitar que qualquer ser vivo morresse sufocado.

Harry não havia realmente reparado em Neville quando estava não Mansão Malfoy, principalmente devido ao fato de ter tido que usar sua concentração em sobreviver ao Salão Branco. Sob a luz bruxelante das velas encantadas que Mione conjurou, Neville estava abatido. Olheiras escuras se acumulavam sob seus olhos cansados e furiosos, que pulavam de Harry, para Ron, para Mione.

— Você deveria comer – disse Harry, olhando a série de pratos com sanduíches e bolos intocados ao lado de Neville.

— Não pretendo morrer pela boca, como um estúpido glutão, obrigado – respondeu Neville, rispidamente – além do mais, não tenho fome. Posso estar sem minha varinha, mas ainda tenho meu cérebro.

Um sonoro ronco no estômago do garoto negou suas palavras, e o rosto redondo de Neville tornou-se rubro. Com um suspiro e balançar de ombros, Harry pegou um generoso naco do bolo mais próximo de si e o comeu. Neville observou com cautela Harry se abaixar para pegar um novo pedaço, e dessa vez, ele mesmo se abaixou e pegou o resto do bolo que restava no prato e o devorou de uma vez só, ignorando que estivesse solado e frio.

— Desculpe pela hora – disse Harry, após Neville abaixar-se para pegar um sanduíche cujo pão chegava a estar duro – Sei que está cedo... mas imagino que você não tenha dormido, e eu preciso fazer algumas perguntas.

Harry calou-se por alguns segundos para que Neville pudesse responde-lo, mas o silêncio se espalhou pelo porão, e Harry percebeu que nem mesmo os outros ocupantes da casa faziam um barulho sequer. Todos haviam ficado bastante surpresos quando Harry, Mione e Ron se dirigiram até o porão, e embora ninguém tivesse tido a audácia de perguntar o que estavam fazendo, ele sentiu todos os olhos em suas costas assim que seguiram em direção à parte inferior da casa.

— Eu tenho uma pergunta para te fazer, Neville, e gostaria que você fosse sincero comigo – continuou Harry, ainda olhando nos olhos duros de Neville, que não movia um músculo, agora que o barulho em seu estômago havia parado – Eu quero saber onde Voldemort mora. Sei que não mora com os Malfoy, ou com qualquer outro comensal. E também duvido que ele fique revezando sua estadia com seus seguidores. Por isso pergunto: onde ele tem se instalado todos esses anos?

Harry esperava que Neville não fosse falar de primeira, mas não esperava que o garoto não tivesse nenhuma reação. Não houve um vacilar em seus olhos, um movimento em seus músculos.

— Talvez devêssemos tentar a veritasserum... – murmurou Mione, mas Ron fez um sinal para que ela deixasse Harry continuar o seu trabalho.

Harry sentou-se melhor na cadeira de madeira onde estava e estudou o rosto do homem a sua frente. Neville era muito diferente do que Harry esperava, mesmo se tratando de um outro universo. Seu rosto ainda era redondo, mas várias das cicatrizes que o Neville de seu universo havia adquirido em seu último ano em Hogwarts não estavam lá. Entretanto, a principal diferença estava em seus olhos. Eles eram frios e calculistas, e Harry percebia que a cada vez que eles passavam por Mione, um desconforto quase desapercebido passava por eles, e ele murmurava algo muito parecido com “sangue ruim”. Harry agradeceu mentalmente por Ron não estar mais perto e assim não conseguir ouvi-lo, senão ele teria que acrescentar uma mandíbula quebrada às diferenças entre os Nevilles.

— Então...? – começou Harry, mas foi logo interrompido.

— Não espere descobrir nada de mim! – cuspiu Neville com asco em direção à Harry – sua corja de traidores da causa, não entendem a grandiosidade que o Lorde está trazendo à comunidade bruxa!

— Grandiosidade?! – exclamou Mione, indignada.

— Sim, grandiosidade! – continuou Neville, ferozmente, embora ainda se mantivesse parado em seu lugar – O Lorde das Trevas tirou os bruxos das sombras dos trouxas, e fez com que a ordem natural voltasse a prevalecer! Os mais fortes devem comandar os mais fracos, essa é a natureza da vida. Nós, como bruxos temos como dever manter trouxas, mestiços e outras aberrações da natureza em seu devido lugar.

— Por favor – disse Harry levantando a mão em direção à Mione, que parecia prestes a explodir – Neville, voltemos a minha pergunta – ele continuou, virando-se de frente para o prisioneiro – Sei que você viveu na companhia de Belatriz Lestrange por muitos anos. Sei também que ela é a principal general de Voldemort, e sei...

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— Você se atreve a dizer o nome... – sibilou Neville, desvairado, cuspe saindo de sua boca a cada sílaba.

— E sei – Harry disse mais alto, calando Neville com a súbita mudança de comportamento – E sei também que por conta disso você conhece mais de Voldemort que um seguidor qualquer.

— E eu sei o que está acontecendo aqui – disse Neville, penteando os cabelos ensebados com os dedos sujos – Eu não sou um traidor. Não perca seu fôlego, esse interrogatório acabou.

— É mesmo? – perguntou Harry, acomodando-se mais confortavelmente na cadeira e cruzando as pernas displicentemente.

Alguns segundos se arrastaram silenciosamente pelo porão escuro e gelado, e Harry percebeu satisfeito que Neville estava ficando cada vez mais desconfortável com seu olhar sobre ele.

— Eu não cresci com meus pais, sabe? – perguntou Harry, em um tom informal, deixando Neville totalmente desarmado devido à mudança da direção da conversa – Fui criado pelos meus tios, por parte de mãe. Eles nunca foram, bem, agradáveis, se posso confidenciar. Eu fui entregue a eles por Dumbledore, entende, e ele tinha a esperança que eles cuidassem de mim como se eu fosse um filho.

Harry parou a narrativa, e ficou satisfeito que a atenção de Neville continuava focado nele.

— Mas, como você deve estar imaginando... eles não fizeram isso. Eu nunca fui tratado como um filho. Ao contrário, fui criado com extremo descaso e crueldade, especialmente quando eu comecei a demonstrar meus primeiros sinais de magia – Harry parou de falar e inclinou-se para a frente, fazendo Neville inclinar-se para trás – Você sabe como é... Coisas quebram sem querer, ou desaparecem sem a sua vontade. Pode ser bem desgastante. Eu imagino que Belatriz tenha se chateado algumas vezes por conta disso.

Neville não respondeu nada, mas Harry não esperava que o fizesse. Apenas o rubor envergonhado e o desviar de olhos ligeiramente marejados foi o suficiente para confirmar que ele estava certo no rumo que resolveu tomar.

— Muitas noites eu ficava preso no meu quarto, sem direito a janta, por ter feito coisas que eu não sabia como concertar – disse Harry, em um tom pouco menos relaxado – É claro que eles nunca fizeram nenhum castigo físico comigo, afinal, eu era apenas uma criança. Mas Belatriz não pensava assim, não é?

— Madame Bela fez o que teve que fazer... – começou Neville, ainda muito ruborizado, mas logo parou, arrependido de ter confirmado as suspeitas de Harry.

— O que teve que fazer... – repetiu Harry, reclinando-se novamente e franzindo o cenho em direção a Neville – Tapas? Sim, rápidos e efetivos. Xingamentos, também, óbvio... E eu só consigo imaginar os castigos que ela deve ter te infligido para sua magia ser despertada, nós dois sabemos que demorou muito mais que uma criança bruxa normal para dar sinais de magia... E criar uma criança tão mal dotada em poderes mágicos deve ter deixado Belatriz envergonhada muitas vezes.

Neville levantou os olhos, surpreso e amedrontado que Harry soubesse tanto a seu respeito, mas mesmo que Harry não tivesse conhecimento da história do seu amigo Neville em seu universo, os sinais que o rapaz na sua frente oferecia eram claros: uma infância problemática e abusiva, em um relacionamento com a mulher que o criou extremamente tóxico, onde nunca nada que ele fizesse era bom o suficiente... O que apenas o tornava ainda mais fácil de ler.

— Ela já disso isso, não foi? – perguntou Harry, ciente que estava cutucando uma ferida – Que você era motivo de vergonha, e que continuaria sendo caso não mudasse. Por isso você se esforçou duas, três vezes mais que qualquer um se esforçaria... Acreditando que talvez assim, ela te visse menos como um estorvo e mais como um filho.

— Quem você pensa que é para falar assim de Madame Bela? - perguntou Neville, erguendo o queixo – Madame sempre foi dura sim, mas apenas para me fazer alcançar meu potencial máximo! Devo tudo o que sei e sou a ela...

— Então não deve muito, não é? – interrompeu Harry, friamente, e Neville calou-se mais uma vez, estupefato – Um jovem de mente fraca, sem talento real... Deve ter sido um desapontamento para ela, já que seus pais eram bruxos tão bons, ter acabado com um moleque cuja magia corre tão fraca no sangue que demorou... O que? Nove, dez anos para se pronunciar? E não é como se Voldemort pensasse muito diferente. Ou então certamente você já teria a marca negra na pele a muito tempo.

Neville agarrou o braço esquerdo, branco e liso, com os olhos marejados de pesadas lágrimas salgadas, que apesar de todo o seu esforço caíram pesadas em suas bochechas rosadas e redondas.

— Você não sabe... – disse Neville, a voz baixa exalando ódio – Não tem ideia de tudo o que eu passei para me provar. Eu sou um bom seguidor, fiel e dedicado.

— Mas isso não impediu que sua falta fosse totalmente ignorada por Bela, Voldemort e todo os comensais – disse Ron, se pronunciando pela primeira vez desde que desceu ao porão – Não há nenhuma notícia sobre seu desaparecimento, nenhuma busca, e já estamos aqui há uma semana. Aceite uma coisa, camarada, você é totalmente descartável para eles.

As mãos de Neville, que antes estavam fechadas firmemente em punhos, agora se soltaram, tristemente enquanto as palavras de Ron penetravam na cabeça de Neville e de Harry.

— Vamos – disse Harry, levantando-se, mas ainda observando Neville, sentado e derrotado com as mãos no colo – Só estamos perdendo nosso tempo aqui.

— Madame Bela cuidou de mim quando ninguém mais me quis – sussurrou Neville, as lágrimas ainda caindo pelo rosto – Ela foi minha única família quando minha família de sangue me largou...

— Do que você está falando, Neville? – perguntou Harry, sentando-se novamente.

— Foi Madame Bela quem cuidou de mim, mesmo sem ter nenhuma obrigação, depois que meus pais me largaram na rua quando eu era só um bebê para poder fugir – disse Neville, limpando o rosto com as costas da mão – Ela me acolheu, mandou seu elfo cuidar de mim, ela...

— Ela matou seus pais – disse Harry, em um misto de pena e nojo.

Foi como se Neville tivesse sido subitamente mergulhado em um lago muito profundo e gelado. Suas pupilas, ainda marejadas, se contraíram de tal modo que pareciam apenas pequenos pontos escuros perdidos em seus olhos molhados.

— Não... não...

— Ela usou a cruciatus até leva-los a loucura, um na frente do outro – interrompeu Harry, o sentimento de pena se espalhando pelo peito – e depois, quando eles não passavam de carcaças, os matou. Você apenas foi poupado por ordens de Voldemort, que não queria matar um bebê de sangue puro que poderia ser criado sob sua sombra.

Neville mergulhou em um silêncio absoluto, nem mesmo sua respiração fazia mais barulho. Suas lágrimas pararam de jorrar de seus olhos, e seu rosto aos poucos foi se secando. Ele estava completamente imóvel, com exceção de suas mãos, que tremiam descontroladamente, e lentamente se fecharam em dois punhos tão apertados que suas unhas penetraram na carne e pequenos filetes de sangue escorreram até o chão.

Aos olhos de Harry, parecia que horas haviam se passado até que Neville soltou os punhos, bateu as mãos machucadas nas coxas sujas e sussurrou em um esgar de voz totalmente preenchido pelo ódio.

— Há um castelo – ele rosnou – Escondido por magia até mesmo de bruxos. Era dos antepassados do Lorde das Trevas, e ele o usa quando não está em campanha. Apenas Voldemort e algumas pessoas do círculo íntimo o conhecem.

— Como chegamos lá? – perguntou Harry, delicadamente se inclinando em sua cadeira.

— Mad... A Lestrange não deixou que eu visse o caminho, mas sei que é em algum lugar ao Norte – confessou Neville, ainda consumido pela cólera – O caminho é feito por mar. Mas eu não sei mais que isso.

— Eu não acredito... – disse Ron acusatoriamente, mas Harry levantou-se e pôs a mão calmamente no ombro do amigo, calando-o.

— Ele não sabe mais que isso – disse Harry convictamente, e o Ron aceitou a palavra do amigo – Muito obrigado, Neville – disse Harry, dessa vez se virando para o garoto desamparado, que não o olhou de volta, apenas continuou com os olhos vidrados no chão enquanto Harry e os outros voltavam para a parte superior da casa.