Harry Potter e o Orbe dos Universos

O Ministério, O Ministro e O Lorde


Duas semanas. Esse foi tempo levado pelo quarteto para entender, aprender o plano e convencerem Moody que estavam prontos. No início, Harry pensou que conviver com Ronald várias horas por dia fosse ser, no mínimo, desafiador para sua paciência, mas ele teve uma surpresa bastante positiva com a seriedade e o profissionalismo que o rapaz levava as reuniões.

— Das outras vezes que ele foi em campo, foi apenas por estar disponível – Tonks explicou, uma noite depois de interrogatórios exaustivos de Moody sobre suas funções – É a primeira vez que ele foi chamado para uma missão, e ele não quer estregar a oportunidade.

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— Não me importa o motivo – Harry teimou – Só estou feliz que não tenhamos problemas entre nós. Somos muito poucos para picuinhas, e o plano sozinho já tem muita chance de dar errado.

— Todos os planos da Ordem têm muita chance de dar errado, Harry – Tonks tentou tranquiliza-lo – É por isso que temos nossas varinhas.

Com uma confiança que não sentia, Harry concordou com Tonks com um leve aceno de cabeça, e por mais que Moody estivesse razoavelmente satisfeito com a preparação dos quatro, Harry estava bastante nervoso na manhã escolhida para a invasão.

Consigo, ele estava levando, além da varinha e da capa de invisibilidade, alguns dos itens que ele encontrou no fundo da mochila que ele havia ganho de presente de Ron e Mione, como Fogos Filibusteiros, Vomitilhas, Nugá Sangra-Nariz, pó escurecedor instantâneo do Peru, e também estava usando no pescoço a chave que Charlotte havia dado a ele no dia em que se conheceram, escondida debaixo da blusa. Ele não sabia o motivo que o impeliu a coloca-la, mas não questionou a súbita vontade.

Ele foi o último a chegar na sala do diretor, onde cada grupo pegaria uma chave de portal até um beco próximo ao Ministério, e apesar de não estar atrasado, o fato dele ter sido o último a aparecer colocou um sorriso no maxilar sardento de Ronald, que Harry se sentiu muito tentado a tirar na base de socos, mas a vontade foi varrida de sua mente assim que entregaram para ele uma bolsa com os atuais uniformes usados pelos trabalhadores do ministério nessa realidade de vários tamanhos, acrescido de um vidrinho com um conteúdo muito parecido com lama, que Harry reconheceu como poção polissuco.

Com um movimento rápido, Harry jogou a bolsa sobre os ombros e se adiantou até a pequena mesinha de café, onde além de Ronald, Tonks e Lottie, também estavam Sirius, Lily e Carlinhos Weasley. Moody havia concordado que um número de membros mais experientes da Ordem seria um bom trunfo, caso alguma coisa desse errada, e Harry suspeitava que Lily tivesse muito a ver com a mudança de pensamento do auror.

Quando o relógio anunciou que faltavam cinco minutos para a chave ser ativada, Moody entregou o Mapa do Ministério para Harry, que guardou o pergaminho no bolso interno das vestes e se postou ao lado de Tonks, até que o tênis velho a sua frente os levou até o segundo beco à esquerda da entrada principal do Ministério onde, a primeira parte do plano seria executada, deixando o Hogwarts para trás.

— Muito bem – disse Harry, sussurrando para os outros três – Agora esperamos.

Menos de dois minutos se passaram até que uma bruxa magricela e com olhos esbugalhados que a davam um ar de estar sempre amedrontada aparecesse, mas pareceu que uma eternidade havia se passado no meio tempo entre ela aparecer na esquina do beco onde estavam e cair desmaiada pelo feitiço estuporante de Ronald.

— Perfeito – elogiou Lottie, e Harry jurou que o garoto havia ruborizado por uma fração de segundo – Linda Jenkins... Vai servir.

Com um feitiço de flutuação, Tonks ajudou Lottie a levar a bruxa desacordada até uma loja abandonada escondida nas sombras do beco sem saída onde estavam, amordaça-la e a retirar um pequeno punhado dos seus cabelos louro-sujos, assim como sua varinha e os documentos de identificação.

Enquanto Ronald e Harry levavam seus próprios bruxos desacordados para a loja onde Linda estava desacordada, Lottie bebeu o a poção polissuco de seu vidrinho, que agora estava um bonito azul perolado, já vestida com um dos uniformes do Ministério que trouxeram do castelo. Tonks não tomou nenhuma poção, mas transformou seu rosto para ficar idêntico ao de uma bruxa que teve o mesmo destino que Linda Jenkins.

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Antes de saírem da loja moribunda, Ronald conferiu as cordas que amarravam os quatro bruxos desacordados, e só então Lottie e Harry se dirigiram ao metrô, cujo banheiro guardava uma das entradas para o Ministério.

— Beto Reggino! – uma voz grossa chamou por trás de Harry antes que ele pudesse entrar no banheiro encardido – Dia cheio ontem, não?

— Só espero que hoje seja mais calmo – Harry deu um sorriso forçado em direção ao homem calvo, observando Lottie entrar apressada no banheiro feminino.

Aliviado que o bruxo calvo riu gostosamente e não prolongou a conversa, Harry entrou rapidamente em um dos cubículos de azulejos pretos e brancos encardidos, e com um último suspiro, subiu no vaso e deu a descarga em si mesmo. No instante seguinte, Harry rodopiou por um cano curto e emergiu, por fim, em uma lareira no andar térreo do Ministério da Magia.

Tendo estudado e trabalhado os últimos anos no Ministério em seu universo, Harry ficou surpreso ao perceber que pouco havia mudado na arquitetura do lugar. Obviamente que a Fonte dos Irmãos Mágicos fora substituída por uma versão um pouco diferente da que Harry se lembrava que Voldemort havia mandado construir, onde um belo casal de bruxos estava sentado em poses que demonstravam poder sobre tronos entalhados de esculturas humanas, centauros, elfos, sereianos e outros mestiços.

Enojado, Harry se virou no próprio eixo, procurando por Lottie, que estava fingindo procurar algo em sua bolsa, mas os olhos esbugalhados de Linda Jenkins vasculhavam todo o lugar à sua procura.

— Lottie...

— Oh, Merlin! – ela sorriu e fechou a bolsa, visivelmente mais aliviada – Eu não conseguia te achar... Vamos, Ronald e Tonks já estão em postos, temos trinta minutos para voltar, se não eles começarão uma distração.

Escondendo-se na multidão, Harry e Lottie, disfarçados de Beto e Linda, seguiram o fluxo de bruxos em direção aos elevadores, mas antes que pudessem entrar em uma das vinte filas onde os trabalhadores esperavam para serem levados aos seus andares, uma mão segurou Lottie pelos ombros, que lançou um olhar desesperado para Harry.

— Jenkins, onde estão os relatórios... Ah, Olá, Reggino! – O dono da mão que segurava o ombro de Lottie como a garra de um gavião cumprimentou Harry com um leve sorriso no rosto – Não o tinha visto. Como vai sua esposa?

— Ela vai indo, obrigado – Harry respondeu, e pelo aceno positivo vindo do outro homem, ele percebeu ter sido uma resposta válida. – Escute... Molecartle – Harry leu no crachá do homem, sentindo as palmas da mão suarem pela ousadia do plano – Eu vou precisar dos serviços da senhorita Jenkins durante essa manhã, espero que não seja muito incômodo.

— Oh-ho-ho – Riu Molecartle, se aproximando de Harry com um sorriso malicioso no rosto – Não sabia que estava fodendo a estagiária – Ele riu mais uma vez, passando os olhos pelo pequeno corpo de Linda Jenkins – Tudo bem, ela é toda sua. Mas preciso dela às onze!

— Se eu tivesse alguma coisa além da poção polissuco no estômago, eu seria capaz de vomitar só pelo jeito que aquele velho olhou pra mim... pra Linda... Tanto faz. – Lottie sussurrou, ainda trêmula quando ela e Harry finalmente viram a grade dourada do elevador se fechar com um estrépito na frente deles.

Com as mãos formigando, Harry observou o elevador esvaziar a cada nível que subiam até que uma suave voz feminina incorpórea anunciou “Nível um, ministro da Magia e Serviços Auxiliares”. Respirando fundo, Harry guiou Lottie para fora do elevador, e no momento em que seus pés pisaram no chão de mármore polido, uma grande explosão pode ser ouvida em todos os níveis do Ministério, desequilibrando-os e causando um grande tumulto, tirando todos de suas salas, curiosos para saber a fonte da explosão. Entre eles, Harry viu a figura de um homem abrir caminho por entre os bisbilhoteiros, sua capa se abrindo atrás de si, dando a Severo Snape uma aparência muito semelhante a de um morcego, deixando o gabinete do Ministro vazio, o sinal que eles precisavam.

Procurando não chamar muita atenção, Harry e Lottie se dirigiram ao ambiente de onde Snape havia saído alguns segundos atrás, mas se depararam com uma porta fechada, guardada por um grifo talhado na porta de madeira, que prontamente os informou:

— O Ministro não se encontra.

— Nós sabemos – respondeu Lottie, procurando manter a voz o mais estável possível, apesar do coração a mil – ele nos mandou esperarmos por ele aqui.

— Qual é a senha? – o grifo perguntou, no mesmo tom de voz monótono, e Harry viu Lottie prender a respiração, incerta se deveria olhar no Mapa na frente do grifo para ver se ele poderia dizer qual era a senha certa, mas antes que ela pudesse se decidir, Harry falou, mais pelo instinto que pela lógica:

— Lily.

Sem nenhum barulho ou ranger, o grifo permitiu que as portas de madeira lustrosa se abrissem para a passagem dos dois. Nem em seu universo Harry havia entrado no gabinete do Ministro da Magia, e ele teve que admitir para si mesmo que, apesar dos esforços de Snape para manter o ambiente escuro e sombrio, era um belo ambiente, arejado e bem montado, com mobílias impressionantes e de qualidade irrefutável, desde a enorme mesa de madeira escura de vinte lugares até a lareira de mármore polido atrás de uma escrivaninha de pés de garra.

— Como sabia a senha? – Lottie perguntou, seguindo Harry pelo ambiente enquanto prendia os cabelos sujos de Linda Jenkins.

— Algumas coisas não mudam, independente da realidade – Harry sussurrou, mais para si que para a irmã. - Me ajude a procurar.

— Accio Medalhão! – Lottie ordenou, esperançosa, mas nada aconteceu.

Já esperando por esse resultado do feitiço convocatório, Harry correu à grande estante que havia em um dos cantos da sala, tentando se concentrar nas ondas de magia da sala, por mais que o excesso de magia do Ministério o deixasse ligeiramente nauseado. Isso sem contar que outros objetos emanavam a magia correspondente à Voldemort, com tanta força que Harry pareciam ter sido enfeitiçados no dia anterior, o que, o garoto pensou consigo mesmo, não seria improvável.

Dividindo o cérebro entre separar as ondas de magia e procurar com as próprias mãos, Harry sentiu os próximos segundos voarem, até que parou tudo o que estava fazendo, confuso pelo súbito silêncio vindo do outro lado do ambiente, e se virou, encontrando Lottie parada em frente a um altíssimo armário lustroso de madeira, cujas portas ele suspeitava que a irmã tivesse aberto.

— Lottie? – ele se aproximou do corpo franzino da estagiária do Ministério, até que finalmente pode ver o que estava escondido dentro do armário de madeira. Pendurado no fundo de madeira maciça, estava um magnífico espelho, da altura exata do armário, com uma moldura dourada envelhecida com dois pés em garra. Na parte superior da moldura, uma inscrição em uma língua que Harry não sabia ler, mas isso não o impediu de reconhecer o espelho de Ojesed. – Lottie, está tudo bem?

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— Você também vê? – Lottie perguntou com a voz assombrada – Mamãe e papai sorrindo, Hogwarts lotado de alunos em paz... Como se a Guerra tivesse acabado. Harry esse espelho...

— Não. – Harry interrompeu, já sabendo qual seria a pergunta da irmã – Ele não mostra o futuro. Esse é o espelho de Ojesed. Como ele veio parar aqui eu não sei, mas esse espelho mostra nada mais, nada menos, que nosso desejo mais profundo, qualquer que seja ele. Mas isso não quer dizer que o que estiver refletido aí seja, ou vá ser real. Nós deveríamos voltar a procurar...

— O que você vê? – Lottie perguntou, finalmente desprendendo os olhos da superfície prateada.

— Eu... – Incapaz de não se postar por alguns segundos que fosse na frente do espelho, Harry observou o seu reflexo, onde não aparecia a imagem de Beto Reggino, e sim a dele próprio, de mãos dadas com sua Gina em um belo vestido branco – Eu me vejo em casa.

Harry sorriu com a verdade naquelas palavras, e deixou seu olhar vaguear pelo espelho, passando pelos cabelos ruivos de Gina, presos naquela trança que ela fazia tão desajeitadamente, passando pelo seu nariz fino sardento, seus olhos castanhos calorosos e sua boca que se movia, tentando falar-lhe alguma coisa... Como se dissesse “olhe para cima”. Intrigado pela escolha de palavras, Harry seguiu a ordem do reflexo e, qual não foi sua surpresa quando viu, pendurado no enorme espelho, o medalhão de Slytherin.

— Está aqui! – Harry sussurrou, e resolveu confiar em seus instintos mais uma vez, e simplesmente pegar o medalhão de cima do espelho sem se preocupar se estaria sendo protegido por algum feitiço ou azaração. – Geminio! – Ele ordenou, e rapidamente colocou a réplica exata do medalhão onde o original estava apenas segundos atrás, guardando o original no bolso interno das vestes.

— Harry – o desespero, claro e tangível na voz da irmã observando o Mapa em nas mãos trêmulas chamou sua atenção mais do que o barulho de uma segunda explosão vinda dos andares inferiores – Snape está voltando para cá!

Sentindo o coração martelar contra as costelas, Harry tirou a capa de invisibilidade das vestes e jogou sobre si, mas antes que pudesse alcançar a irmã e jogar a capa sobre ela também, ele viu Severo Snape entrar na sala, onde, para seus olhos, a pequena menina estava sozinha, encarando-o, amedrontada.

— Não se aproxime! – Lottie tirou a varinha das vestes e apontou trêmula para o peito do homem, que obedeceu e permaneceu onde estava, as mãos levemente levantadas, à mostra.

— Onde conseguiu o cordão? – A voz arrastada e monótona perguntou, mas Harry jurava ter sentindo um quê de curiosidade e preocupação.

— Minha mãe me deu – Lottie respondeu, apertando um pequeno pingente nas mãos, tornando impossível para Harry ver do que se tratava.

— Você a achou? – Snape perguntou, mantendo a mesma voz monótona e inflexível – Sobre o espelho?

— Sim – A resposta de Lottie não passou de um sussurro, e Harry aos poucos foi se dirigindo para trás dela, a varinha a postos caso fosse necessária.

— Deixou uma cópia? – Snape perguntou novamente, e dessa vez Harry sentiu as pernas petrificarem no lugar. Ele estava os ajudando?

— Sim – Lottie sussurrou, a voz ainda mais baixa, contrastando com o coração, que batia audivelmente sob as costelas.

Como em um sonho, Harry viu Snape balançar a cabeça positivamente e dar um passo para o lado, permitindo a passagem deles. Ainda confuso, mas sem questionar a decisão do homem, Harry agarrou a mão de Lottie sob a capa e correu com ela para fora do escritório, para as escadas.

— Harry? – Lottie perguntou, assustada, para a mão flutuante que a puxava escada a baixo – O que... Que...

— Eu não sei! – Harry respondeu com sinceridade, a mente provavelmente tão confusa quanto a de Lottie. – Eu... não sei mesmo.

Harry só parou quando sentiu que o coração ia explodir se não o fizesse, depois de descerem correndo cinco lances de escada, arrancando a capa sobre a cabeça com um movimento fluido, e jogando-a sobre Lottie.

— Mantenha-a o tempo todo – Harry sussurrou – Mas fique com a varinha em mãos, não sabemos o que esperar lá embaixo.

— Como eu não vi medalhão pendurado no espelho? – Lottie perguntou assim que voltaram a se movimentar.

— Essa deve ter sido a ideia mais genial que o Snape já teve. Ninguém... – o barulho de mais uma série de explosões engoliu os sons das palavras de Lottie, que simplesmente apressou o passo e gritou – No castelo conversamos. Agora, vamos!

Sem olhar para trás, mas certo que a irmã continuava em seu encalço, Harry terminou de descer os últimos degraus das escadas, sentindo o suor escorrer pelas têmporas a cada estrondo que vinha do átrio, denunciando que uma batalha estava acontecendo.

***

Apenas um lance de escadas separava Harry e Lottie do combate que era ouvido a andares de distância. Harry sentia o coração batendo rápido enquanto ele descia os degraus o mais rápido que podia, perdido em seus pensamentos do que estaria os esperando, quando sentiu os pés tropeçarem nas vestes e por pouco não caiu.

Confuso que as vestes, antes perfeitas em comprimento, quase tivessem sido o motivo de uma queda que poderia tê-lo machucado, Harry parou para inspecioná-las até perceber que as mãos que examinavam o tecido verde escuro não eram mais as grandes e peludas mãos de Beto Reggino, e sim as suas próprias.

— Merda! – Ele praguejou, sentindo o cabelo crescer em seu couro cabeludo, e o cavanhaque do homem entrar em sua pele, deixando um queixo liso.

— Oh, Merlim! – A cabeça flutuante de Lottie apareceu alguns metros atrás de Harry, e embora ela não estivesse mais com as feições de Linda Jenkins, seus olhos verdes estavam igualmente esbugalhados e assustados – Já se passou uma hora! O que vamos fazer?

Um barulho de algo muito pesado caindo em algum lugar longe deles preencheu o ar, e Harry sentiu um calafrio subir-lhe a espinha ao sentir ondas de magia desaparatando no local, forçando-o a se mexer. Em um movimento fluido, ele retirou o uniforme grande demais, ficando apenas com suas roupas normais, tentando aparentar uma calma que ele definitivamente não sentia.

— Lottie, eu preciso que você faça exatamente o que eu falar, tudo bem? – Harry sussurrou, apressado e colocou a horcrux nas mãos da irmã – Esse medalhão não pode cair nas mãos dos comensais novamente, por isso nós dois vamos até as lareiras, onde você vai aparatar de volta para os arredores de Hogwarts, passar pela barreira e esperar no Castelo.

— Harry, eu não posso deixar vocês...

— Lottie, a missão é recuperar a horcrux, e leva-la ao castelo. – ele disse, incisivo, forçando o medalhão nas mãos da irmã – Você disse pro Dumbledore que era capaz de completar a missão, e agora precisa cumprir com sua palavra.

— Tudo bem – Lottie balançou a cabeça, e colocou o medalhão no bolso interno das vestes que estava usando antes de se virar novamente para ele, com os olhos ardendo de determinação – Mas como chegaremos até as lareiras?

— Nós improvisamos. – ele respondeu e agarrou a mão de Lottie, ainda coberta pela capa, antes de sair correndo direto para o coração da rebelião.

O andar térreo do Ministério da Magia estava irreconhecível, a fonte, onde antes o belo casal de bruxos sentava sobre o trono feito por outros povos mágicos, mestiços e não-mágicos, jazia destruída pelo chão de mármore, os seus restos por vezes sendo usados de escudos ou de projéteis. As paredes mostravam marcas de explosões e o chão estava sujo de uma mistura de água e poeira, que deixava o mármore perigosamente escorregadio.

Eles avançavam o mais rápido que conseguiam, mas as lareiras estavam do lado oposto ao átrio, e para alcança-las eles deveriam atravessar a batalha que tomava conta do andar.

— Cuidado! – a voz de Lottie surgiu da sua esquerda, e ele sentiu o corpo ser puxado para o lado a tempo de evitar que um feitiço o atingisse no peito.

Harry atirou um feitiço estuporante no comensal que havia tentado atingi-lo, e antes mesmo que o corpo do homem atingisse o chão, Harry estava correndo novamente, os olhos percorrendo o local, tentando absorver ao máximo o que estava acontecendo. A visibilidade era ruim pela poeira no ar, mas fina o suficiente para que ele soubesse para onde ir, e quem eram os duelistas por quem passava.

— Obrigado – ele disse, para onde ele achava que Lottie estava - Vamos! – Harry falou antes de sentir a mão da irmã, ainda envolta pela capa, agarrar na sua própria e saírem correndo. Não tinham tempo a perder, embora os membros da Ordem estivessem aguentando bem a batalha, Harry sabia que a qualquer segundo a batalha poderia pender para o lado dos Comensais, e eles tinham que dar um jeito de saírem vivos de lá, ou pelo menos de levar o medalhão ao castelo.

Haviam duelos para todos os lados, e Harry ficou surpreso em reconhecer mais membros da Ordem entre os rebeldes do que os inicialmente planejados por Moody. Pelo canto do olho, Harry reconheceu Snape lutando contra Tonks e Ronald, mas algo em seu íntimo dizia que o homem estava fazendo apenas o necessário para se defender, sem realmente querer machucar alguém. Moody e Dumbledore lutavam sozinhos com cinco comensais cada, e Harry viu Carlinhos Weasley e Sirius lutando lado a lado contra os irmãos Carrow, mas seus olhos passaram rapidamente por tudo aquilo, fixados nas lareiras que ficavam mais próximas a cada passo, por onde centenas de trabalhadores se amontoavam, desesperados para poderem sair do campo de batalha.

Não se permitindo desacelerar, Harry arrastou a mão de Lottie, ainda envolta pela capa, costurando por entre os duelos, jogando um feitiço ou outro em direção a comensais que viessem a entrar em seu caminho, mas quando apenas pouco mais de dez metros os separavam das lareiras, ele sentiu sua nuca se arrepiar e os pés cravarem no chão com uma risada aguda e infantil atrás de si.

Ignorando os gritos da irmã por si, ele se virou em seu próprio eixo, a tempo de ver James e Lily se revezarem tentando, sem sucesso, quebrar a forte defesa de Belatriz Lestrange. Como em câmera lenta, ele viu James e Lily dançarem sobre os pés, alternando feitiços e azarações em direção à mulher em uma velocidade impressionante, mas tudo em vão. Todos os ataques do casal eram neutralizados ou desviados, e Harry já conhecia o suficiente do estilo de luta da general para saber que o casal estava dando mais trabalho do que ela gostaria.

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— Sua vadiazinha! – Belatriz gritou em direção a Lily, pelo feitiço que passou de raspão pela bochecha da general, deixando um corte – Avada Ke...

— A minha mãe não, sua filha da puta! – Harry gritou, de onde estava, lançando em Belatriz um feitiço tão forte que a atirou vários metros para o lado, fazendo-a bater com força nos restos da fonte – Crucio!

Belatriz gritou, caída no meio das pedras e na água corrente que saia dos destroços da fonte, seu corpo se retorcia em agonia. Seus gritos ecoaram pelo átrio, e sob o urro de dor da mulher, ele ouvia outras vozes, em especial a de Lily, embora seus ouvidos não captassem as palavras exatas, pois tudo o que existia em seu campo de visão era Belatriz.

Estava escuro, mas ainda havia iluminação o suficiente para que seu rosto retorcido fosse visível, apesar dos cabelos negros e molhados caídos sobre sua fronte. E então, assim como os gritos começaram, eles foram calados, quando Harry abaixou a varinha, e Belatriz se deixou apoiar nas pedras molhadas perto de si. Alguma parte da consciência do garoto registrou que seus ouvidos não captavam mais os barulhos da batalha em sua volta, e nem os movimentos dos duelos aconteciam mais.

O silêncio era tal que apenas o barulho da água corrente e da respiração desritimada de Belatriz eram ouvidos, e Harry conseguia sentir todos os olhos perfurando-o, mas ele não prestou atenção nisso, mantendo-se focado na mulher que tentava se erguer.

— Mãe?! – Ela sussurrou, os olhos arregalados e lacrimejantes – Não... Não! Não! – Ela gritou, e tentou sair de seu apoio, mas as pernas fraquejaram. – Molequezinho mentiroso, atrevido! – Ela gritava, alucinada, atirando inúmeros feitiços em sua direção, mas ela estava tão enfraquecida que apenas um feitiço escudo foi o suficiente para protege-lo – O bebê foi morto, morto! Meu Lorde matou o insetinho!

— Parece que ele não fez um bom trabalho, no fim das contas – Harry sibilou, ainda sentindo o sangue quente latejar em suas têmporas. – Mas não se preocupe, eu não cometerei o mesmo erro.

Harry chegou a levantar a varinha, mas antes que seu cérebro pudesse processar o que estava acontecendo, sentiu o estômago revirar pela súbita onda mágica que surgiu na extremidade oposta às lareiras. Desnorteado, ele levantou os olhos, sentindo o medo subir pelas pernas, mas a voz fria de Lorde Voldemort chegou aos seus ouvidos antes que o vulto quase fantasmagórico aparecesse no seu campo de visão.

Harry imaginava que Voldemort não fosse ter a mesma aparência ofídica que ele tinha em seu universo, visto que ele nunca teve seu corpo reconstruído por magia negra, mas ele nunca imaginou que ele fosse estar tão humano. Ele mantinha o mesmo queixo, os mesmos cabelos e o mesmo rosto que Harry lembrava ter visto nas memórias de Dumbledore, com exceção dos olhos, que brilhavam vermelhos como brasa na escuridão do átrio destruído.

— O que estão esperando? – Harry gritou, ignorando de vez a mulher moribunda que se ergueu dos destroços da fonte para correr pateticamente até os pés do seu mestre – Fujam!

Harry viu e ouviu muitos passos apressados, tanto dos membros da Ordem que corriam até as lareiras quanto de comensais que se apressavam para se ajoelhar até o seu mestre, que parecia se enfurecer mais a cada seguidor que ia se esconder na barra de suas vestes, até que Harry viu Voldemort levantar a própria varinha contra os próprios seguidores e expulsá-los de perto de si, antes de aponta-la para os rebeldes que corriam desesperados.

Em um movimento instintivo, Harry levantou a própria varinha. Não para o Lorde ou para os seus seguidores, pois ele sabia que um duelo agora não ajudaria os membros da Ordem a escaparem. Ele levantou a mão e mirou para o teto logo acima deles.

— Bombarda Máxima! – Ele proferiu, e a luz proveniente de sua varinha ofuscou todo o térreo, um clarão prateado capaz de cegar o olho humano, acompanhada de um tremor sob seus pés.

No segundo seguinte, tudo tremulou ao redor deles, e então o teto começou a despencar. Grandes placas de concreto e cimento, obrigando Voldemort a proteger a si mesmo no lugar de tentar capturar ou matar os rebeldes que fugiam pelas lareiras. Satisfeito, Harry saiu correndo, rezando para que todos já tivessem fugido e que seu ataque desesperado não tenha atingido algum membro da Ordem.

Deslizando em seus sapatos, sentiu algo pegar em seu antebraço, e viu a mão de Lottie segurar com força na manga de sua blusa, puxando-o para mais perto da lareira, expulsando com feitiços qualquer obstáculo que estivesse na frente deles, ainda tendo que se preocupar com os pedaços do teto que se desprendiam a cada momento.

— Ali! – Harry ouviu a voz de Belatriz gritar, desafinada e enlouquecida, enquanto apontava em sua direção – O garoto, o garoto!

Em um último impulso, Harry pulou com Lottie para dentro da lareira com a varinha e punho e girou o corpo com força e pressa, sentindo a conhecida sensação desconfortável tomar conta de seus músculos, mas não antes de ouvir a voz furiosa de Voldemort perguntar para a comensal:

— De que garoto você está falando, Bella?!