Harry Potter e o Orbe dos Universos

Helena, Revelações e a Primeira Horcrux


A Dama cinzenta se virou assim que ele colocou o pé para fora da Sala Precisa, penetrando seus olhos com os próprios olhos escuros e tristes. Os fantasmas não tinham um corpo físico, e o éter que os compunha costumava parecer mais transparente conforme a luz era mais forte, tanto que ficam quase invisíveis sob a luz direta do sol de verão, mas Helena Ravenclaw quase parecia viva naquela noite.

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— Não sabia que outras pessoas tinham conhecimento da Sala dos Desejos. – Harry observou, como em um sonho, o comprido vestido da fantasma farfalhar enquanto ela ia em sua direção, embora não houvesse nenhum vento.

— Dama cinzenta, é um prazer encontra-la – Dumbledore foi o último a sair da Sala junto com uma pilha de livros flutuantes atrás de si. Ele os deixou flutuando enquanto tirava seu chapéu e fazia uma grande reverência em direção à fantasma, que sorriu satisfeita e repetiu a mesura.

— Dumbledore. – Ela ofereceu ao diretor um raríssimo sorriso delicado, e Harry prendeu a respiração por alguns instantes inconscientemente devido à beleza da dama – Eu deveria imaginar que se alguém conhecesse o presente te minha tia Helga para os futuros alunos, esse alguém deveria ser você.

— Sinto desaponta-la, milady. – Dumbledore se adiantou a todos e ofereceu o braço à Dama Cinzenta, que aceitou e passou o próprio braço etéreo pelo do diretor antes de sair flutuando ao seu lado pelo corredor. – Mas dessa vez não fui o conhecedor de tal maravilha.

— Se não foi o senhor – Harry ouvia com dificuldade a conversa dos dois, pois ele e os outros seguiam o caminho que o diretor fazia alguns passos atrás dele. – Quem foi?

— Imagino que ainda não conheça o Harry. – Dumbledore virou o rosto rapidamente para indicar quem a Dama Cinzenta deveria olhar, sem nunca parar de caminhar. – Ele chegou faz pouco tempo.

— Um jovem muito inteligente, sem dúvidas. E com muito conhecimento ou não saberia de tamanho segredo do castelo. – Harry estava ligeiramente incomodado por estarem falando sobre ele, mas sem nunca se dirigir a ele, mas achou melhor simplesmente sorrir e inclinar-lhe a cabeça em sinal de cortesia. – Muito cortês. Uma pena que não seja um aluno, aposto que seria um maravilhoso corvino.

— Agradeço os elogios. – Harry inclinou novamente o rosto à dama a sua frente, que lhe dirigiu outro sorriso tímido. – Mas não pude deixar de ouvir... A senhorita disse que a Sala era um presente de sua tia Helga para Hogwarts.

— Pois sim. – Dumbledore parou sua caminhada pela noite assim que a gárgula guardiã de seu escritório ficou visível – É claro que Helga Hufflepuff não era minha tia de sangue, mas... – a Dama Cinzenta parou de falar abruptamente, suas bochechas ficando um pouco mais opacas que o normal.

— Senhorita Ravenclaw. – Harry se aproximou dela com cuidado, com medo que ela simplesmente saísse voando dali – Eu lhe asseguro que nada do que você nos confidenciar será repetido.

— Como sabe quem sou? – Ao contrário do que temia, a dama flutuou em sua direção, o rosto novamente pálido, agora olhando para Harry com altivez – Isso não importa. Imagino que esteja atrás do diadema de minha mãe, não? Pois perdeu seu tempo! Você não é o primeiro nem será o último a me procurar em busca dos conhecimentos dele. Mas não perca seu tempo, ele se foi junto com minha mãe!

— Isso não é verdade. – Harry manteve a voz baixa e controlada, e procurou passar para a fantasma em sua frente toda simpatia que ele pudesse, mas não sabia se estava sendo bem-sucedido nessa última parte – Sua mãe não sumiu com o diadema ela mesma, não é? E muitos anos depois, um aluno veio até você... Te manipulou.

— Ele parecia tão bom. – Os olhos escuros dela, antes cheios de acusação e frios como gelo, agora estavam enevoados, e Harry teve certeza que ela estaria chorando se ela estivesse viva – Mas ele só me usou para saber onde eu havia guardado o diadema. Não há um dia, mesmo antes dele ter achado o diadema, que eu não me martirize por ter traído minha mãe dessa forma. Tudo para ser mais inteligente, mais importante... Eu fui tola. – Ela levantou a delicada mão e enxugou o rosto, e parte do consciente de Harry se perguntou se as lágrimas dela eram molhadas como a dos vivos. – E agora ele transformou o diadema da minha mãe em alguma coisa maligna. Eu posso não saber o que ele fez, mas sei que não foi para o bem, e agora não tem nada que eu possa fazer.

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— Você não está completamente certa. – Harry desembrulhou o casaco, exibindo o diadema para a dama, que arregalou os olhos escuros em absoluta surpresa. – Esse aluno, Tom, não tinha boas intenções quando te procurou. Mas há sim, o que podemos fazer, mas para isso precisarei destruí-lo.

— Você deveria destruí-lo mesmo se ele não tivesse sido transformado em um artigo das trevas. – Havia pesar na voz da Dama. – Minha mãe não deveria tê-lo criado. Ele foi sua ruína, nossa ruína.

— Desculpe... – Harry viu Lily se aproximar da Dama Cinzenta, que olhou curiosa a mulher em sua frente – Mas como pode dizer isso? Esse diadema possui todo conhecimento do mundo, a cura de todas as doenças e males, talvez até mesmo...

— Senhora Potter, eu sinto muito. – A dama pegou as mãos de Lily da maneira mais delicada que seu corpo etéreo permitiu sem ultrapassa-la e guiou-a até um banco de pedra que havia alguns metros de distância. – Mas seu desejo não pode ser realizado, nem mesmo com o diadema. Não há magia que faça isso.

Harry viu os ombros de Lily tombarem, e seu rosto normalmente sorridente não mostrava nada de sua habitual vida. Mas apesar disso, ele pensou, o contraste entre as duas mulheres era interessante de se ver. Os cabelos vermelhos e chamativos de Lily pareciam ainda mais vivos ao lado da cortina negra translúcida da fantasma.

— Quando colocamos o diadema. – A voz da Dama estava mais alta que antes, mas mesmo assim James e Sirius, que estavam mais afastados, precisaram dar alguns passos à frente para escuta-la – O nosso cérebro se enche de tudo. Nada mais é um mistério, e tudo se torna incrivelmente fácil apenas por estar repousado em nossas frontes. Minha mãe sempre o tirava para dormir, pois é impossível descansar uma mente com tanto conhecimento, e um dia eu o coloquei sem que ela soubesse. Era maravilhoso, como se nada pudesse me parar. Mas – Ela jogou os longos cabelos negros para as costas em um gesto melancólico – apenas pega-lo às noites às escondidas pareceu muito pouco, muito rápido. Eu enlouqueci, pois enquanto minha mãe o tivesse, aquele poder não seria só meu. E eu queria poder, eu queria sabedoria, eu queria ser maior do que ela jamais foi. Uma noite, auxiliada pelo poder do diadema, eu montei um plano para mata-la e fugir com ele. Mas, na noite seguinte, quando eu me aproximei de seu corpo adormecido... Eu não consegui. Só peguei o diadema e fugi, o mais longe que consegui. – A noite estava muito silenciosa, e a única coisa que se escutava era a voz melodiosa e triste da Dama Cinzenta – Dizem que minha mãe morreu fingindo que ainda o tinha em sua posse. Ela morreu sem nunca confessar sua perda ou minha traição. Acredite quando eu digo, senhora Potter – Os olhos escuros encontraram novamente os verdes – Que esse diadema só trará dor e infelicidade. O que a senhora quer não pode ser feito. E mesmo se pudesse... Não acredito que deveria ser feito.

— Lily... – James falou o mais delicado que conseguiu, se ajoelhando com cuidado aos pés da mulher.

— Eu pensei que talvez... O nosso Harry... – Ela não emitiu nenhum som enquanto as pesadas lágrimas caiam pelo seu rosto até caírem na camisa do esposo, ensopando seu peito. Ninguém se pronunciou por vários minutos, com medo de interferir na dor dos dois.

Até mesmo a Dama Cinzenta, conhecida por ser um pouco egoísta se moveu, e apenas ficou sentada onde estava, velando o pranto do casal à sua frente. Inconfortável demais com a cena em sua frente, Harry desviou os olhos e acabou encontrando os de Lottie, que o olhava. O rosto da menina também estava molhado e seus olhos vermelhos e levemente inchados. Assim que ele colocou os olhos nela, ela saiu de onde estava e andou até seu encontro, as lágrimas que saiam de seus olhos molhando o tecido da manga de Harry.

— Ora – Harry se surpreendeu ao ouvir a voz de James clara, embora estivesse hesitante – o último inimigo a ser aniquilado...

— É a morte. – Harry completou a frase junto com Lily e Lottie sem realmente pensar, mas ninguém parecia ter notado além da Dama Cinzenta que observou Harry curiosamente e, é claro, Dumbledore.

— Um novo dia começa. – A voz calma da dama ressoou calma enquanto ela observava o céu cinza chumbo adquirir algumas nuances de azul e laranja entre as nuvens pesadas. Harry não conseguiu deixar reparar em como a fantasma ficava menos nítida conforme a escuridão dava lugar à manhã.

O céu estava muito bonito sob as nuvens escuras. O sol nascente da véspera de natal trouxe tons de vermelho e dourado ao dia que nem mesmo as nuvens escuras do céu puderam esconder. Um sorriso triste tomou conta dos lábios de Harry enquanto o sol começava a raiar preguiçosamente por detrás das montanhas no horizonte. Gina adorava essas manhãs, ela dizia que o céu parecia estar banhado em fogo. Ele estava a poucos dias longe dela, mas a saudade em seu peito era ainda maior do que naqueles dias na floresta, sem comida e sem certezas do próximo dia. Ele sentia muito a falta dela, de sua presença, e de quem ele se tornava quando estava com ela.

— Você está pensando nela, não é? – A voz da Dama Cinzenta se dirigindo A Harry tirou todos de seu torpor.

— Sim. – A fantasma pode não ter sabido à quem exatamente ela se referia, mas isso não era realmente necessário. – Eu sinto muito a falta dela.

— Ela é uma moça de sorte, jovem Harry. – A Dama parecia triste, embora estivesse sorrindo suavemente – Eu nunca tive a fortuna de conhecer alguém que olhasse para mim com esses olhos. Talvez se tivesse, minha sina seria diferente. Desejo sorte a vocês. – A Dama, cada vez menos nítida se levantou do banco onde estava e flutuou levemente pelo corredor.

— Helena, espere! – Harry gritou antes que a Dama desaparecesse pelas paredes. – O que você quis dizer sobre a Sala Precisa ser um presente de Helga Hufflepuff?

— Salazar Slytherine não foi o único fundador a deixar uma sala secreta no castelo. – A Dama se virou sob o olhar curioso dos outros bruxos, um sorriso calmo ainda repousando em seus lábios fantasmagóricos. – Antes da sua morte, antes até da morte da minha mãe, Helga Hufflepuff criou uma sala secreta que poderia ajudar todos aqueles que precisassem, não importava se eram professores ou alunos, ou se seu sangue era puro. Eu a chamava de Sala dos Desejos, mas imagino que ela tenha recebido inúmeros nomes durante os séculos que se passaram desde então.

A Dama Cinzenta não falou mais nada depois disso, apenas se virou e seguiu seu caminho, atravessando a sólida parede em sua frente, deixando atrás de si apenas um leve fulgor prateado na luz do sol nascente, mas isso poderia muito bem ter sido apenas a imaginação de Harry.

— Talvez seja melhor encerrarmos nossa excursão por hoje. – Dumbledore não estava olhando para ninguém em particular, mas Harry sabia que ele estava falando com ele.

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— Não. Vamos terminar logo com isso. – Ele estava exausto física e emocionalmente. Ter que localizar a magia de Voldemort na Sala Precisa o esgotou, sem contar que àquela hora já deveriam estar completando vinte quatro horas que estava acordado, e o cansaço já batia em seu corpo. – É melhor colocarmos logo uma pedra sobre isso.

— Harry estamos cansados, com sono, com fome... – Lottie também parecia cansada, os olhos ligeiramente vermelhos pela noite não dormida e pelas lágrimas derramadas – Não acha melhor deixarmos para depois? É véspera de natal.

— Não, Lottie. – Sirius tinha pequenas olheiras sob os olhos, mas seu rosto estava duro, determinado – São mais de vinte anos com aquele maluco tirano no poder. Já esperamos demais, já perdemos tempo demais, perdemos vidas demais. Nós trouxemos um herói de outro universo e eu pretendo seguir o que ele diz. Eu entendo que vocês estejam cansados e queiram descansar, mas enquanto Harry estiver de pé, eu também estarei. – Sirius apoiou a mão carinhosamente no ombro de Harry, no braço onde Lottie não estava abraçada. Ele sentiu uma grande onda de gratidão pelo padrinho o atingir naquela hora, e teve que segurar as poucas lágrimas de saudades que cismaram em embaçar sua vista.

— Obrigado, por... Erm. Só obrigado. – Harry sussurrou, e Sirius se virou para ele com uma expressão de quem entendia o que ele queria dizer, mesmo que quase ndad tivesse sido realmente dito. – Eu e Sirius vamos destruir a horcrux, se vocês quiserem ir...

— Eu quero destruí-la. – James ainda estava ajoelhado aos pés de Lily, mas ele olhava diretamente para Harry agora.

— James... – Lily tentou interferir, sem sucesso.

— Não, Lils. – Ele estava aparentemente calmo, mas Harry conseguia ver alguma coisa a mais nos olhos castanhos dele, algo como um fogo, uma determinação. – Eu preciso disso. E Almofadinhas está certo, já esperamos tempo demais. Como vamos destruir essa coisa infernal, Harry?

— As presas de basilisco estão no meu quarto. Eu os guio até lá. – Ainda de braços dados com Lottie, Harry os guiou no frio da manhã pelos corredores do castelo. Ele estava bastante satisfeito que a menina ainda estivesse abraçada com ele, seu pequeno corpo era quente, e o abraço fraternal dela ajudava a espantar pelo menos um pouco do frio que fazia naquela manhã de dezembro, já que seu casaco estava sendo usado para embrulhar o diadema. Antes ele ficou tocado que Lottie tivesse ido até ele e ficado ao seu lado quando os pais desabaram na sua frente, dando e ao mesmo tempo buscando forçar um no outro, mas agora ele estava ficando um pouco preocupado que Lottie soubesse, mesmo sem provas, que ele era o filho assassinado dos Potter.

— Chegamos. Com licença, Lottie. – Harry teve que se desprender da menina para poder abrir as portas do seu quarto. Ele ficava perto das cozinhas, no fim de um enorme corredor ao lado de uma pintura de três velhos bruxos que jogavam cartas.

O quarto em si não tinha muitos móveis, mas era grande e confortável. Havia um conjunto de poltronas em frente à lareira de mármore que ainda estava acesa, e ao lado dela, uma maciça estante que, no momento, estava vazia já que o quarto não tinha hóspedes há muito tempo. Do outro lado do quarto, encostado na parede de pedra escura, tinha um armário de madeira escura e pés de garra, onde estavam atualmente todos os (poucos) pertences de Harry que vieram com ele de seu próprio universo, inclusive a bolsa que Ron e Mione lhe deram de presente. Mas a melhor parte do quarto era uma saliência na parede, onde o chão avançava para fora das paredes do castelo e formava uma pequena torrinha circular alguns centímetros acima do nível do chão do resto do aposento, onde uma confortável cama de dossel e um belo baú encantado ficavam, de frente para as únicas janelas do quarto, que rodeavam toda a extensão da torrinha em uma belíssima vista da floresta proibida.

— Accio baú – Harry indicou o conjunto de poltronas em frente à lareira, que foi prontamente ocupado pelos visitantes enquanto ele convocava o baú que costumava repousar em frente à sua cama. Eram apenas duas poltronas e um pequeno sofá, então Lottie se sentou no braço da poltrona onde Dumbledore se sentou, mas ambos pareciam confortáveis com a proximidade, como se Lottie tivesse sido criada vendo o senhor como seu avô (o que era muito provável, pensou Harry) – Aqui estão. Moody ficou com todo o veneno que recolhi nos frascos, mas as presas ainda têm muito veneno.

De dentro do baú, Harry retirou e abriu uma caixa de madeira simples. Dentro dela repousavam sete presas alvas, do tamanho e largura do antebraço de um homem adulto. Harry pegou o casaco enrolado com muito cuidado, e o depositou na mesinha de centro em frente à lareira, e começou a abrir o tecido, como se estivesse desabrochando uma flor.

Pela segunda vez em sua vida, Harry admirou o diadema. Era uma bela e delicada peça em ouro e bronze com uma bela safira incrustada no centro e os dizeres, em letras muito pequenas:

— O espírito sem limites é o maior tesouro do homem. – Os oclinhos de Dumbledore estavam na ponta de seu nariz aquilino, mas não escondiam o fascínio que seus olhos azuis demonstravam – Sempre muito sábia, Rowena Ravenclaw. James, ainda quer fazer as honras?

James não falou nada, mas se levantou do lado de Lily e se aproximou da mesinha onde Harry estava.

— Ok. – Ele estava pálido, mas na parecia que iria desistir. Com as mãos ligeiramente trêmulas, James esticou o braço e puxou muito cuidadosamente das presas venenosas que Harry trouxe de dentro da Câmara. – É só fincar até quebrar?

— Lembre-se que a tiara vai lutar contra isso. Esteja preparado.

— Depois de vinte anos de guerra, acho que consigo sobreviver a uma tiara. – A voz de James estava leve e brincalhona, mas seus olhos, postos nos olhos de Harry, estavam hesitantes e sua boca tremia levemente.

— Cuidado. Ela vai tentar atormentar você. – Harry esperou que James assentisse antes de segurar com ambas as mãos a tiara para perto dele.

O silêncio das primeiras horas daquela manhã apenas era quebrado pelo crepitar do fogo da lareira atrás de Harry, nem mesmo os pássaros cantavam, como se previssem o que estava por vir. Com as sobrancelhas franzidas e a boca em uma linha dura, James levantou a mão onde a presa estava segura em um único impulso, mas antes que ele pudesse abaixa-la, uma voz que Harry pensou que não teria que ouvir nunca mais saiu de dentro da jóia.

— Isso não vai tirar a culpa dos seus ombros, James. – Harry viu James parar no meio do movimento, os olhos arregalados. – Você acha mesmo que alguma coisa é o suficiente para perdoar sua culpa? Foi por sua causa que seu bebê morreu, e você sabe.

— Senhor Potter, não escute o diadema – Harry falou calma e pausadamente, o coração martelando suas costelas e a tiara vibrando violentamente em suas mãos, mas seu pai parecia paralisado de medo.

— ...Se tivesse sido mais rápido, se tivesse sido melhor... – a voz continuou – Mas não, você nem conseguiu proteger sua própria família. Você é patético! Acha mesmo que Lily ainda te ama? Sua esposa te olha com desprezo, sua filha te vê como um covarde...

— Não é verdade, James! – Lily se levantou do sofá onde estava sentada, mas parecia que cairia a qualquer momento, de tão trêmula.

— Senhor Potter, apunhale o diadema agora! – Harry gritou novamente, mas o homem na sua frente não parecia ouvi-lo.

— ...E você, Lily! Como ainda tem coragem de olhar nos olhos de James se suas mãos estão ensopadas no sangue de seu próprio bebê! – Lily perdeu as forças nos joelhos e tombar no chão em prantos e Harry viu Lottie e Sirius se levantarem correndo para ampara-la – Se tivesse obedecido seu marido e ir se esconder antes, ele teria chegado a tempo de salva-lo, e você sabe disso! Se não tivesse sido tão teimosa, se não tivesse feito ele esperar por causa de um maldito cordão... Que tipo de mãe mata seu próprio filho?

— Senhor Potter – Harry estava começando a se preocupar que James estivesse se convencendo com o que a voz falava.

— ...Mas você pode traze-lo de volta, James...

— Senhor Potter, agora! – suor escorria da testa de Harry.

— ...Use-me! Eu tenho todas as respostas, o conhecimento de todo o mundo! – Harry olhou assustado para o rosto de James, cujo braço que segurava a presa de basilisco abaixava aos poucos para longe do diadema – Juntos podemos trazer seu filho de volta, vocês poderão voltar a ser uma família feliz, use-me...

— Senhor Potter! – Harry gritou desesperado – James!

Foi como ver um sonho em câmera lenta. Harry viu os olhos de James desfocarem aos poucos e ele levar a outra mão aos poucos até a jóia, lágrimas começando a brotar de seus olhos castanhos. Harry estava se preparando para pegar a própria varinha e deter o pai, mas quando ele começou a levar a mão até o bolso de trás, toda dúvida no rosto de James foi substituída por um olhar preciso e mortal em sua direção, a voz saindo da tiara mandando que ele enfrentasse o garoto. Harry sacou a própria varinha e estava se preparando para estuporar o próprio pai quando Lily segurou a mão do marido.

— James... – A voz dela era de súplica – Quebre o diadema.

— Mas, nosso Harry...

— Ele está conosco agora, sempre vai estar. Em nossos corações. – Harry sentiu a boca do estômago afundar quando as lágrimas que James segurou com tanta bravura caíram de seus olhos castanhos.

— Pai, está na hora de deixar meu irmão descansar. – Harry não tinha visto Lottie se aproximar, mas lá estava ela do lado dos pais, incentivando-os. – Quebre.

— Tudo bem. – A voz do diadema voltou a gritar inúmeras promessas a James, mas ele já não prestava mais atenção nela, toda sua concentração se voltou para o verde dos olhos de Harry – Eu preciso que me ajude. Não me deixem. – James falou para sua família, e Harry soube, pela intensidade do seu olhar, que o pedido se estendeu a ele.

— Nunca. – Lily e Lottie falaram ao mesmo tempo.

Os nós dos dedos de James que apertavam a dente de basilisco estavam brancos, e com toda fúria que ele ainda guardava no coração, James Potter apunhalou a tiara.

Um grito alto e agoniante ecoou por todo o aposento, e Harry acreditava que até mesmo Hogsmeade o teria escutado. O grito acabou de repente, assim como começou e, onde o dente havia atingido a tiara, uma substância gosmenta e vermelho-ferrugem escorreu pela mesa onde ficou por um tempo antes de virar pó e sumir no ar.

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— Você tinha razão. – Sirius se levantou e abraçou o amigo, ainda ajoelhado no chão, mas sem nunca tirar o olhar de Harry – Não devíamos ter subestimado a tiara. Você está bem, Pontas?

— Eu vou ficar. – James estava abatido, mas ainda assim sorria quando respondeu o amigo – É só que... São verdades difíceis de ouvir.

— Não acredite nas mentiras que seu medo te conta, James. – Dumbledore ainda estava sentado na mesma poltrona, os cotovelos apoiados nos braços aveludados e as pontas de seus dedos se tocando. – A horcrux estava fazendo o que Voldemort faz de melhor: tentando te manipular, te fazendo acreditar que você é o culpado para a desgraça que caiu em sua família. Não se deixem enganar por mentiras vis. E agora, o melhor que podemos fazer é descansar. – O velho bruxo se levantou, e suas vestes compridas balançaram conforme ele se dirigia à porta do quarto – Durmam e renovem suas energias, pois hoje é um dia festivo. E Sirius, aguardo ansioso por sua apresentação. - Dumbledore fechou a porta de madeira deixando Harry, Sirius e os outros Potter ainda sentados no chão, exaustos e suados.

— Se Dumbledore pensa que você ainda tem energia para as suas carolas natalinas depois disso, Almofadinhas... – James ainda estava abatido, mas seu sorriso exibia uma sombra do maroto que ele normalmente era.

— Está dizendo que eu estou velho? – os olhos de Sirius brilharam ameaçadoramente em direção ao amigo.

— Não foi isso que quis dizer, Almofadinhas...

— Ou estaria me desafiando, por acaso? – Sirius se levantou aos poucos, teatralmente.

— Ninguém está te desafiando, Sirius...

— Porque Sirius Black nunca foge de um desafio! – Sirius gritou com sua voz grave, a mão esquerda elevada em uma pose sheakesperiana – Eu aceito o desafio! Preparem-se para a maior apresentação de natal de suas vidinhas patéticas!

Sirius saiu como um furacão dos aposentos de Harry, batendo a porta atrás de si. A princípio, Harry se preocupou que o padrinho estivesse realmente ofendido com alguma coisa, mas o sorriso sereno dos Potter o fizeram mudar de idéia.

— Vamos ter uma superprodução esse ano. – James ainda tinha rastros de lágrimas no rosto, mas já estava visivelmente mais calmo, e até seu sorriso parecia mais leve.

— Lembra da última vez que ele ficou desse jeito? – Lottie falou baixinho, ainda abraçada à mãe.

— E tem como esquecer? – James se levantou e ajudou a esposa, ainda chorosa a se levantar também – Eu fiquei com purpurina por um mês enfiada no...

— James, por favor... – Lily não conseguiu evitar um sorriso quando o repreendeu, e Harry notou que o rosto de James se suavizou com um mero fantasma de um sorriso no rosto da esposa. – Não acho que Harry precise saber sobre suas partes. O que ele precisa agora é dormir, descansar. – A mulher saiu do abraço do marido e foi em direção a Harry, envolvendo-o em um abraço apertado e cheio de significados. Lily o apertou por alguns segundos em seus braços e sussurrou, antes de solta-lo. – Obrigada, Harry, querido. E descanse, foi uma noite agitada. – Essa última frase ela falou em voz alta, antes de solta-lo.

— Obrigado. – Harry murmurou e, contrariando tudo o que as vozes em sua cabeça lhe falavam, ele puxou Lily novamente para um abraço rápido. – Eu sinto muito pelo filho de vocês... Mas Dumbledore está certo, vocês não devem se culpar.

Alguma parte de Harry pensou ter ouvido uma porta se batendo, mas não se preocupo muito com isso até que abriu os olhos e percebeu que James e Lottie não estavam mais lá.

— Harry, escute... – ele soube que Lily estava nervosa porque ela estava retorcendo os longos dedos, do mesmo jeito que ele fazia quando era colocado contra parede. Ele sabia o que ela queria perguntar, ou melhor, o que ela queria confirmar. – Desde que você chegou, na verdade, desde que você abriu os olhos aqui... Eu só quero ter certeza.

Aquela era a oportunidade que Harry precisava para colocar uma pedra nesse assunto de uma vez por todas. Ele sabia que seria melhor assim, pois quando chegasse a hora que ele fosse voltar para sua realidade os Potter não teriam que perder outro filho. Negar ser ele mesmo era a reposta óbvia, mas ainda assim Harry não conseguia encontrar a própria voz para olhar nos olhos da sua própria mãe e renega-la.

— Lily... – Harry havia inspirado e aberto a boca, mas não foi a sua voz que ele ouviu. Confuso, ele olhou para a porta, de onde a voz tinha vindo. James estava encostado no beiral da porta, ainda entreaberta, mas quando sua presença foi notada, se aproximou mulher com um sorriso cansado. – Vamos para cama. Descanse bem, Harry. Até de noite.

— Até de noite. – Harry observou James levar Lily delicadamente até a porta, mas não antes que Lily o desse um beijo na testa e um “bons sonhos” acompanhado de um sorriso maternal que desarmou todas as defesas de Harry.

Com a cabeça muito pesada, Harry se jogou na cama sem nem mesmo fechar as cortinas, o dia estava muito nublado para que o sol fosse atrapalhar seu descanso. Não fazia uma semana que ele havia sido trazido de seu universo, mas ele sentia muita falta de casa. Gina, Ron, Mione... Ele não sabia como iria enfrentar tudo isso de novo sem a ajuda deles. É claro que ele possuía o elemento surpresa, e ele gostava de pensar que agora saberia melhor o que estariam fazendo, o que facilitaria em muito sua missão, mas nesse universo Voldemort nunca perdeu suas forças no o atentado que matou seus pais. Seus pais. Talvez essa fosse a parte mais difícil, olhar nos olhos de sua família e não poder dizer quem era.

Harry só percebeu que estava nevando quando uma fina camada branca começou a cobrir a copa das árvores da floresta proibida. Aquela era uma bela visão, ele sempre gostou de Hogsmeade no natal, talvez ele fosse até o vilarejo mais tarde, seria bom sair do castelo e ver um pouco do mundo. Na verdade, seria bom ver muito do mundo, ele sabia que muitos governos tombaram na mão de Voldemort, mas não sabia como o povo estava lidando com isso. Eles precisariam lutar, mesmo depois de destruírem todas as horcruxes ainda teriam que derrotar os comensais e o próprio Lorde. Aquela seria uma batalha muito mais difícil.