Tom Marvolo Riddle era um homem alto, mais alto que a maioria dos homens. Também era magro, de um modo que tornava sua altura ainda mais impressionante, mas tal magreza nunca o tornou um homem indesejável. Seu rosto tinha uma beleza quase aristocrática, com sua pele alva esticada onde as maçãs do rosto saltavam e em seu maxilar angular. Seus cabelos compridos, atualmente grisalhos devido à idade um pouco avançada, costumavam ficar presos em um rabo de cavalo severo amarrado em sua nuca, angulando ainda mais suas feições e tornando impossível ignorar a característica física mais impressionante do homem: seus olhos. Vermelhos e brilhantes, eles pulsavam com um brilho quase fantasmagórico, tão intimidadores que até mesmo o homem mais corajoso sentiria um arrepio subir-lhe a espinha apenas por cruzar seu campo de visão.

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E agora esses olhos olhavam diretamente para Harry, e dessa vez eles o enxergavam perfeitamente.

— Então você é o garoto a quem Bela se referia – disse Voldemort, aproximando-se lentamente, ignorando completamente a serva, que se curvou em sua direção para saudá-lo – Confesso que estou curioso... Porque antes meus olhos não conseguiam enxerga-lo?

— Magia antiga é muito poderosa, Tom – respondeu Harry calmamente, embora algo no fundo de sua mente gritasse que enfurecer o homem na sua frente não era uma boa ideia; ainda mais sem o colar de sua mãe, simplesmente esconder-se não era uma opção – Não deveria ignorá-la.

— Seu verme insignificante! – Sibilou Voldemort, sacando a varinha e jogando um feitiço inesperado na direção de Harry, que teve apenas uma fração de segundo para se defender – Como se atreve...

Um novo jato de luz púrpura percorreu o ar na direção de Harry, colidindo tão forte no feitiço escudo conjurado pelo garoto que ambos tiveram que dar um passo para trás para conseguirem recobrar o equilíbrio.

— Eu vou lhe dar apenas mais uma chance, criança, e serei bem claro – ameaçou Voldemort, encrespando os lábios em fúria, seu rosto se tornando menos e menos humano – Quem é você?

— Eu sou o filho daqueles que te desafiaram três vezes. Nascido no fim do sétimo mês, marcado como seu igual. Eu sou aquele que tem um poder que você desconhece. – Começou Harry, e os olhos de Voldemort agora emitiam um brilho avermelhado assassino – Eu sou aquele com o poder de te vencer.

— Mentiroso! – Sibilou Voldemort, atacando Harry novamente, mas errando o alvo, atingindo e ateando fogo ao quadro do casamento de Lucio e Narcisa – Eu cuidei pessoalmente para que a profecia não se cumprisse!

— Pois você vai começar a descobrir, Tom – respondeu Harry com uma audácia que ele não sentia completamente – que existe muita coisa que você não sabe. Fotiámio!

Com uma velocidade inimaginável, Harry ergueu e balançou a varinha. A força do feitiço lançado foi tanta que os cabelos de seu braço ficaram em pé e Voldemort foi forçado a conjurar um grande escudo dourado para se proteger, desviando o feitiço em todas as direções e ateando fogo nas paredes, no chão, e em vários objetos.

— Ao menos vejo que foi bem versado em magia para conhecer tal feitiço – disse Voldemort, largando aos seus pés o enorme escudo, que agora exibia uma grande mancha de queimado em seu centro – Mas ainda está muito longe de me oferecer uma ameaça real.

— Pois eu discordo – disse Harry, apertando a varinha ainda mais no punho – Eu acho que você está se sentindo ameaçado, sim. Assustado até, eu diria...

— Insolente! Avada Kedavra! – Gritou Voldemort, apontando para Harry, que para desviar da maldição foi forçado a pular e rolar para o outro lado da biblioteca, para onde Draco e Narcisa assistiam, abraçados e colados na parede – É tão delirante a ponto de achar que eu, Lorde Voldemort, tenho medo de uma criança?!

— Delirante? Talvez – disse Harry, levantando-se e tentando se afastar dos Malfoy para evitar que algum feitiço errante pudesse atingi-los – Mas não pude deixar de notar que você não tentou me matar, não de verdade. Ao menos, não até eu contar exatamente onde seu plano falhara.

— MEU. PLANO. NÃO. FALHOU! – Gritou Voldemort, furioso, intercalando as palavras com feitiços poderosíssimos, os quais Harry defendeu com um pouco de dificuldade, ainda mais que estava preocupado em não os desviar em direção aos Malfoy.

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— TANTO FALHOU QUE EU ESTOU AQUI NA SUA FRENTE, TOM! – Gritou Harry de volta, brandindo a própria varinha como um chicote, de onde uma fina língua de fogo saiu e se enrolou em Voldemort, mas o bruxo se desprendeu com facilidade – E o seu mundo de tirania está quase no fim.

— A única coisa que está no fim são seus minutos – disse Voldemort em forma de um chiado assustador, e Harry demorou apenas uma fração de segundo para perceber que ele falara em ofidioglossia.

— Não conte com isso – respondeu Harry, também em ofidioglossia.

Tomado de uma cólera inimaginável, Voldemort voltou a atacar. Sua fúria era tanta que uma fumaça formada de magia negra desprendia dos poros de sua pele, e Harry sentiu o estômago se revirar em uma mistura de enjoo e um medo primitivo que ele poucas vezes havia sentido.

— Avada Kedavra! – Gritou Voldemort, a varinha empunhada mirando no coração de Harry, que o encarava em pose igual.

— Confringo! – Rebateu Harry.

O jato de luz verde saiu da varinha de Voldemort e colidiu com o jorro de luz azulada que saiu da varinha do garoto com um grande impacto, e Harry teve que firmar os pés no chão para se manter equilibrado. A força do impacto fora monstruosa, mas ele nunca poderia prever o que acontecera logo em seguida. Um tremor quase sobrenatural nos dedos, crescendo gradativamente.

O feixe que unia as duas varinhas se tornou um dourado puro e brilhante, e ele se sentiu transportado de volta aos seus quatorze anos. A vibração em sua mão aumentou de tal modo que todo o seu corpo começou a vibrar e então ele sentiu, como esperado, seus pés se descolarem do chão.

Priori Incantatem. Harry achou que nunca mais iria presenciar – ainda mais participar – um evento tão raro, mas lá estava ele. O fio dourado que ligava a varinha de Harry a de Voldemort começou a se fragmentar e dividir em mil outros fios formando um arco sobre os dois, costurando-se até que os dois estivessem presos dentro do que parecia ser uma gaiola dourada.

Harry estava tenso, preocupado com o que pudesse vir a acontecer, mas Voldemort parecia devidamente assustado. Seus olhos vermelhos estavam estranhamente arregalados e ele tentou romper o ligamento entre as duas varinhas por três vezes, em vão, já que Harry mantinha a própria varinha firmemente em punho.

E então, ele ouviu. O mesmo som sobrenatural que sempre o ajudou quando ele mais precisava. A canção da fênix preencheu seus ouvidos, embora ele sentisse que o canto viesse de dentro dele, e não somente a sua volta. E ele soube, naquele momento, que o momento de ele tomar uma decisão estava próximo. A vibração em sua varinha ficou ainda mais violenta, e Harry começou a segurá-la também com a mão esquerda para conseguir mantê-la sob controle.

Foi quando tudo realmente começou. Inicialmente, uma pequena esfera de luz surgiu no meio do fio dourado que ligava as duas varinhas, e depois outra e mais outra, até que várias esferas luminosas deslizavam lentamente em direção a ponta das varinhas, fazendo-as tremer e esquentar conforme a proximidade, mas Harry sabia o que fazer.

Ainda com a canção da fênix em seus ouvidos indicando-lhe o caminho certo, Harry concentrou todo seu ser em fazer com que as contas de luz se dirigissem para longe de si... E muito aos poucos, elas obedeceram, e dirigiram-se quase que ameaçadoramente para o lado oposto, onde a varinha de Voldemort vibrava violentamente.

A canção da fênix preenchia os ouvidos de Harry como um anestésico, mas não o impediu de perceber que Draco e Narcisa o olhavam com medo nos olhos, como se quisessem alertá-lo de alguma coisa...

Uma das contas de luz estremeceu perigosamente perto da ponta da varinha de Voldemort, aproximando-se cada vez mais, vencendo os poucos centímetros que a separava... Até que fez contato.

E Harry largou a própria varinha, desfazendo o encantamento.

Uma dor aguda em suas costelas tirou todo o seu fôlego, e Harry sentiu uma dificuldade imensa em manter-se de pé. Assustado e confuso, Harry levantou a mão até a lateral do corpo, onde um elegante cabo prateado de uma faca arremessada por Belatriz estava espetado e uma mancha escura se espalhava em sua blusa.

— Não! Harry! HARRY! - Harry oscilou levemente, fazendo um sinal negativo para Draco, que não se aproximasse, que não estragasse seu disfarce, mas o outro garoto parecia não se importar com isso. – Tia Bela, o que você FEZ?

— O que eu... Ora seu... Seu... TRAIDOR DE SANGUE! – Harry ouviu Belatriz urrar apontando a varinha para o sobrinho – Como se atreve! Eu ajudei a te criar, eu te ensinei a lutar... Não foi capaz de aprender nada comigo seu verme?! Não tem amor ao seu sangue?!

— Não, Bela! – gritou Narcisa, abraçando o braço da irmã, impedindo-a de brandir propriamente a varinha – É seu sobrinho, meu filho, meu Draco!

— Ele não é mais seu filho, Ciça – Voldemort disse, sibilando em direção a Draco, que segurava Harry – Ele nem merece mais ser chamado de bruxo. Você falhou como mãe, mas agora você pode concertar esse seu erro, mas eu sou misericordioso. Apague esse erro da face da terra, e não haverá consequências.

Manter as pálpebras abertas estava cada vez mais difícil, mas Harry ainda estava consciente o suficiente para perceber que não haveria saída. Ele havia falhado. Voldemort continuaria no poder. Ele nunca voltaria para casa, para seus amigos, para Gina.

Gina...

Uma lágrima pesada escorreu de seus olhos quando ele viu Narcisa retirar do bolso do vestido a varinha envolta por um lenço e empunhá-la decididamente.

— Dobby – exclamou Narcisa, e o pequeno elfo doméstico apareceu entre ela e os garotos com um alto estalo. Displicentemente, a mulher jogou o lenço na direção do elfo, que o segurou, descrente – Está livre. Salve-os. Leve-os para longe.

Harry só estava consciente o suficiente para perceber a ira e a descrença crescer nos olhos de Voldemort e Belatriz, mas antes que qualquer um dos dois fizesse qualquer coisa, Harry sentiu os dedos finos e gelados de Dobby envolverem seu braço, e então, o mundo escureceu.

***

Havia dado tudo errado.

Harry estava inconsciente em seus braços, que estavam cada vez mais encharcados do sangue que escorria do corte profundo nas costelas do garoto por mais que ele pressionasse com tanta força que seus dedos estavam brancos. Dobby estava enrolado em uma bola trêmula e chorosa a alguns metros de si e ele não tinha ideia de onde estava.

E ainda havia sua mãe... Ele saberia que o Lorde não o perdoaria, e que o castigo de sua mãe por tê-lo salvo seria terrível, se ela já não estivesse morta. Talvez seu pai também. Até onde ele sabia, ele poderia muito bem ser o último Malfoy.

Gritou de raiva. Ele já tinha pensado em largar o papel de espião dezenas de vezes, mas nem em seus piores pesadelos ele imaginou estar perdido no meio de uma floresta perdida, com um elfo em estado de choque aos seus pés e a única esperança do mundo morrendo em seus braços.

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Foi quando as primeiras estrelas começaram a aparecer. As árvores em sua volta eram altas, mas com poucas folhas, o que era bom, já que o brilho da lua cheia iluminou a clareira onde eles estavam como um holofote. Harry ainda estava desacordado, e a luz fria do luar o fazia parecer ainda mais fraco, quase semimorto... E o cair da noite certamente traria o frio, e a última coisa que Draco precisava agora era se preocupar com hipotermia; eles precisavam de um abrigo e de uma fogueira. Por sorte, havia uma árvore de aparência antiga a alguns metros, com as raízes levantadas de modo que ao menos serviria como uma proteção contra o vento. Além disso havia gravetos de sobra para cem fogueiras, e como ele estava com sua varinha, fogo não seria problema. Um pouco mais determinado, Draco rasgou uma das mangas da sua blusa e amarrou-a com força no tronco de Harry. Não foi o melhor curativo, mas por hora deveria ser o suficiente para segurar a hemorragia, pelo menos por alguns minutos.

Com um leve aceno de varinha, Draco materializou uma maca precária, onde ele levou cuidadosamente o corpo desacordado de Harry até ao esconderijo improvisado e o depositou no ponto mais afastado possível da entrada, protegido do vento frio da noite. Agora eles precisariam de uma fogueira e de um pouco de água... Se sua memória não o enganava, em suas aulas de magia branca em Hogwarts, ele aprendera que uma grande perda de sangue poderia levar a um estado febril perigoso, e uma compressa de água gelada poderia ser útil para controla-la enquanto ele decidia o melhor jeito para conseguir ajuda.

Ele não tinha uma coruja ou qualquer ave que pudesse entregar alguma carta, e mesmo se tivesse, ele não tinha tinta ou pergaminho consigo. Ele poderia mandar um patrono, é claro, mas nunca havia conseguido conjurar o protetor antes, quiçá agora. Desanimado e a beira de lágrimas, Draco lançou o olhar para Dobby, que ainda estava encolhido e tremendo a alguns poucos metros de onde ele estava, na mesma posição desde que chegaram.

— Dobby - chamou Draco, mas sua voz saiu estranha, rouca, irreconhecível – Dobby... Você está me ouvindo?

Novamente, o pequeno elfo apenas continuou enrolado em torno de si mesmo, tremendo, e um grande sentimento de medo invadiu o coração de Draco, apertando-o. Assustado, Draco levantou-se em um pulo, sentindo uma nova leva de lágrimas se acumularem nos olhos.

— Por favor esteja bem – sussurrou Draco – Dobby?!

— O-o senhor não deveria falar comigo, jovem mestre – soluçou Dobby, balançando-se para frente e para trás – A Senhora Narcisa me libertou, m-me libertou! A única família que Dobby conheceu, que acolheu Dobby...

— Dobby! – Suspirou Draco, aliviado, abraçando o pequeno corpo do elfo, que voltou a chorar copiosamente – Dobby me escute! – O garoto disse com mais força, forçando o elfo a encará-lo nos olhos segurando-o pelos ombros pequenos – Minha mãe só te libertou para que você pudesse nos tirar da mansão e salvar nossas vidas! E mesmo que ela tenha te liberado dos seus serviços, eu não o liberei! Você ainda é meu elfo, Dobby, e eu preciso da sua ajuda. Eu... eu preciso de você Dobby. Por favor, me ajude...

A súplica de Draco pareceu ter acalmado Dobby, que agora respirava mais pausadamente agora.

— Perdoe-me, jovem Draco – murmurou Draco, envergonhado – Dobby vai ajudar, vai ajudar sim. Do que o jovem mestre precisa?

— Dobby, você ainda se lembra de como fazer curativos? – Perguntou Draco, esperançoso – Como os quando eu me machucava quando criança?

— É claro, senhor – concordou Dobby, balançando a cabeça afirmativamente tão forte que as grandes orelhas balançavam com o vento.

— Eu preciso que você me ajude a fazer um curativo no Harry. O machucado dele é bem mais complicado que meus joelhos ralados... Mas preciso fazer com que o sangue pare de vez – disse Draco.

Dobby concordou prontamente, e assim o elfo e o garoto trabalharam alguns minutos nas costelas de Harry. O ferimento era profundo e estava com uma cor arroxeada nauseante, margeada por pedaços amarelos. Dobby limpou o ferimento do melhor modo que pode com água conjurada por Draco, e por fim fez uma atadura improvisada com ervas encontradas entre as raízes das árvores em volta e o resto da camisa de Draco, que agora usava apenas uma blusa simples.

A lua cheia já estava alta no céu quando Dobby terminou, e Draco precisou aumentar mais a fogueira para evitar que o frio entrasse no tronco oco da árvore onde estavam. Ele sabia que precisava mandar Dobby buscar ajuda, mas a verdade é que estava com medo que Harry piorasse enquanto o elfo estivesse fora. Se ao menos soubesse fazer um patrono corpóreo eles não estariam passando por esse sufoco.

Seu pai também nunca soubera fazer um patrono, ele dizia que ele não precisou aprender, já que os dementadores nunca ousariam atacar um Malfoy. Ele mesmo chegou a concordar com as palavras do pai por muitos anos, mas se pudesse voltar no tempo, ele teria aceitado as aulas que sua mãe lhe oferecera tantos anos atrás. Ela sabia conjurar um lindo pavão prateado, que muitas vezes o protegeu dos sentimentos ruins que os dementadores traziam quando Voldemort os chamava para a Mansão Malfoy. Mas agora nem mesmo o pavão prateado poderia defender sua mãe da ira de Voldemort...

— Dobby – começou Draco, querendo afastar as imagens de seus pais sendo torturados de sua mente – Afinal, onde estamos?

— Albânia, jovem mestre – respondeu Dobby, colocando sobre a testa febril de Harry um pedaço encharcado de água gelada em uma tentativa de diminuir sua temperatura – Dobby os trouxe para a Floresta Magiespur, na Albânia.

— Por que Albânia Dobby? – Perguntou Draco, empurrando os fios de cabelo grudados em sua testa para trás – Você conhece essa floresta?

— Dobby nunca esteve na Floresta Magiespur, jovem mestre, mas Dobby conhece a floresta! O jovem mestre também a conhece, embora talvez não se lembre – disse Dobby, levantando-se – Essa é a casa da Dama de Magiespur. Dobby trouxe o jovem mestre e o senhor Harry até aqui esperando que a Dama pudesse ajuda-los!

— Dobby... – suspirou Draco, extremamente cansado – A Dama de Magiespur é uma lenda contada para crianças dormirem... Como você fazia comigo.

— Não, não, jovem mestre! – Negou Dobby, balançando as orelhas com a força que balançava a cabeça – Ela é real! Há muitos séculos atrás...

— ... Existiu uma moça, bela e poderosa – continuou Draco, recostando as costas nas raízes nodosas da árvore – Ela era a irmã mais velha de sete irmãs, e sua bondade e poder eram admirados por todos que a conheciam... Eu conheço a história, Dobby. Mas eu sinto muito, não existe nenhuma bela moça rodeada de estrelas vivendo nessa floresta. Amanhã o Harry deve estar estável o suficiente, então assim que o sol nascer você vai buscar ajuda, e nós sairemos daqui.

As orelhas de Dobby murcharam tristemente, mas o elfo apenas acenou a cabeça concordando. Draco não gostava de ser tão duro com o pequeno elfo, mas ele tinha coisas mais importantes para se preocupar no momento. A noite estava ficando ainda mais fria, e ele se perguntou se iria nevar. A noite estava clara e o céu estrelado e sem nuvens, mas ele já tinha visto tempestades serem formadas em poucos minutos. Não havia muito o que ele poderia fazer em relação a isso no momento, por isso procurou o melhor que pode empurrar o pensamento para o fundo da mente, assim como estava fazendo com vários outros pensamentos mórbidos.

Um pequeno barulho chamou sua atenção, e ele reparou que Harry havia virado a cabeça para o lado, derrubando a compressa de água fria. Com um suspiro, Draco molhou novamente o trapo e virou o rosto de Harry para repor o pano em sua fronte, mas assim que seus dedos encostaram na pele anormalmente pálida do amigo, ele percebeu que havia algo terrivelmente errado. Harry estava gelado, imóvel, e sua respiração era tão fraca que mal existia.

— Não – sussurrou Draco, o desespero crescendo em cada fibra – Não, não não! Você não pode fazer isso comigo! Não pode morrer e nos deixar sem antes cumprir com sua promessa! Não! Harry! Acorde, você precisa acordar! Precisa vencer o Lorde, precisa voltar para a sua família, para seu mundo...

Draco gritava coisas em sentido enquanto tentava reanimar Harry de qualquer modo, em vão. Um medo sobrenatural apertava seu coração a cada sacudida que ele dava no corpo inerte de Harry.

— Harry! Enevarte! Harry! – Gritou Draco, inúmeras vezes, vendo suas lágrimas caírem no corpo de Harry e no chão a sua volta, até que sua visão periférica captou um vulto, algo que ele não tinha completa certeza de ter realmente visto – Socorro! Ajudem! Alguém!

Draco não se importava mais em ser discreto e não chamar atenção. Em seu íntimo, ele não se importava se aquela sombra que ele vira era bruxa ou trouxa, conhecido ou não, ele só se importava em conseguir ajuda, qualquer ajuda que fizesse Harry voltar a respirar, voltar a abrir os olhos...

E então, Draco teve a certeza absoluta que enlouqueceu quando uma luz fraca, pequena e azulada surgir do meio das árvores. E então mais uma... E outra, e mais outra. Em poucos segundos, a pequena clareira onde eles estavam estava clara como a manhã, iluminada de pequenos orbes brilhantes, que tremeluziam como fogo azul. Mas ele não olhava para as pequenas bolas de luz que transformaram a noite em dia, pois seus olhos marejados e assustados estavam fixos em uma figura encapuzada poucos metros na sua frente.

Tinha uma estatura baixa, e uma capa com capuz impedia que Draco pudesse ver suas feições, mas era uma moça de feitios delicados. Seu queixo era fino e branco como a lua, e a boca pequena, em forma de botão de rosa, parecia vermelha em contraste com os longos cabelos loiro-sujos.

— Por favor – suplicou Draco, caindo de joelhos na frente daquele ser misterioso – Salve-o. Ele é nossa única esperança.

Pareceu que uma eternidade se passou diante de seus olhos, mas finalmente Draco observou os orbes brilhantes flutuarem um a um em direção ao corpo de Harry e se aglomerarem em volta dele, até que sua figura ficou tão ofuscante que era difícil olhar diretamente para ele.

As misteriosas figuras de luz pareciam pulsar, como um fogo etéreo, crescente e cada vez mais brilhante até que foram se afastando uma a uma, e voltando a pairar ao lado da moça misteriosa. E então, quando a última figura de luz se desprendeu, Harry levantou-se de uma só vez, com os olhos verde-esmeralda arregalados, e puxando o ar como se estivesse se afogando apenas alguns segundos atrás.

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Draco sentiu o canto dos lábios se repuxarem em um sorriso demente, e o corpo relaxar instantaneamente de alívio. Harry estava claramente debilitado, fraco, pálido... Mas estava vivo. Tão vivo, que ao focalizar a figura encapuzada, ele perguntou, incrédulo:

— Luna?