Harry Potter e a Senhora do Tempo

O baile e a memória


“Harry Potter, o que você está fazendo aqui? Que ideia estúpida dar ouvidos ao Rony. Mas ele me paga...” – esse era seu pensamento, enquanto forçava um sorriso simpático e convincente o suficiente para o aglomerado de fotógrafos e repórteres que se acotovelavam no átrio do Ministério da Magia, mais precisamente em frente a uma suntuosa lareira, onde Harry, um ministro Moonzer indiferente à ocasião e um Sr. e Sr.ª Weasley radiantes, posavam para fotos enquanto aguardavam sua vez de rumarem para um castelo na França, onde seria o tradicional “Baile da Vitória”. O fato de ter derrotado Voldemort, aliado à sua aparição no evento depois de tantos anos era um dos motivos de tantos repórteres inconvenientes de todas as partes do mundo bruxo, fazendo perguntas simultaneamente e em tal velocidade que o deixavam tonto. Apesar de todo o incômodo, ver a alegria estampada no rosto do casal Weasley e a sensação de dever cumprido que eles deveriam estar sentindo valia o sacrifício.
Finalmente após alguns funcionários do ministério se colocarem entre os fotógrafos e os quatro, avisando para se afastarem pois a lareira estaria pronta para a viagem até o local do baile que Harry pôde respirar aliviado. Virando-se para o lado viu que Rony, elegantemente vestido com trajes de gala azuis, havia se posicionado ao lado dele, de braço dado com uma Viv muito séria mas muito bonita, com um vestido grafite e uma capa branca, provavelmente não se sentindo à vontade em lugares com muitos bruxos reunidos. Rony, ao contrário, olhava para o amigo com um sorriso divertido nos lábios, obviamente se divertindo horrores com aquele circo todo montado e de como Harry, apesar de todo tempo passado, ainda não sabia lidar muito bem com sua fama.
— Você me deve uma cara! – Harry disse baixo, assim que Rony se aproximou mais com a esposa, seguido dos outros Weasley e mais adiante, outros convidados ilustres, todos se prostrando à frente da enorme lareira para irem até as dependências do baile.
— Harry, você enfrentou Você-Sabe-Quem! O matou! Isso perto do que aconteceu é baba de Tronquilho!
— Muito engraçado Rony...Mas já que estou aqui, podemos acabar logo com isso?
— Claro...Veja, Papai, Mamãe e o Ministro já foram. Nossa vez. Querida, você primeiro...
Harry esperou Rony conduzir a mulher por entre as labaredas esverdeadas e a seguir logo em seguida. Entrou então entre as chamas mágicas e disse alto e claramente: “Château de la belle sorcière” e após alguns segundos de viagem, ele chegou num enorme hall todo enfeitado de candelabros de cristal e ouro, onde havia apenas aquela lareira enorme de onde os convidados saíam aos poucos, e cujo lugar estava cheio de belas e jovens bruxas que recepcionava-os e os indicava um enorme portal talhado em mogno, de onde se via um gigantesco salão já com uma grande quantidade de bruxos. No final dele Harry distinguiu um enorme palco onde uma banda formada por bruxos e fantasmas já tocava algumas músicas mais calmas. Várias mesas que acomodavam 4 à 6 pessoas estavam dispostas perto das paredes, deixando uma enorme pista de dança no meio. Apesar da sensação incômoda, o rapaz não pôde deixar de se impressionar com a beleza e luxo da decoração e do lugar como um todo.
— Ei cara, vai ficar parado aí a noite inteira? – Rony o chamou, e Harry seguiu o casal até o enorme salão, sempre acompanhado de olhares curiosos e acenos furtivos, alguns ele retribuiu por ser de velhos amigos e conhecidos, outros ele tentou ignorar simplesmente por não conhecer as pessoas, mesmo assim se via obrigado a retribuir alguns devido o entusiasmo delas ao reconhece-lo. Uma bela bruxa loira vestida com um discreto vestido preto com um broche dourado do Ministério os acompanhou até um conjunto de mesas que Harry julgou ser para acomodar toda família Weasley e ele. Rapidamente ele sentou-se na mesa indicada, evitando mais olhares curiosos.
— Sempre tímido hein?!
— Olhe Viv, acostumado com tudo isso me acostumei até, mas isso não quer dizer que esteja à vontade.
— Sei bem como é. – A mulher de Rony sentou ao seu lado, enquanto o marido conversava ao pé do ouvido com os pais, devido à música alta. – Imagine ser a única trouxa na enorme família Weasley, mulher ainda do melhor amigo de Harry Potter que poderia ter se casado com uma bruxa genial mas acabou...escolhendo a mim. Sei que não é nas mesmas dimensões, mas sou alvo de comentários... – Harry a olhou, compreensivo. Sabia que alguns bruxos do alto escalão do Ministério ainda não viam com bons olhos a presença de uma trouxa no seio de uma família que se tornou tão importante depois da Grande Guerra. Sabia que ela não tinha problemas com Hermione, e as duas se davam bem, mas ela ainda sofria por ser considerada “diferente” por alguns.
— É só fingir que está tudo bem Viv. Tudo normal. Mas, na verdade, está...Não está?
—Sim, está, para os padrões mágicos e loucos onde vou a um baile cuja banda tem fantasmas como integrantes.
Harry a olhou e viu que ela ria, resignada por viver num mundo tão diferente do que ela fora criada. Mesmo assim ela era feliz, pois amava e era amada, tinha uma família. Era o tipo de felicidade que o fazia sentir uma pontada de inveja de Rony, ao vê-lo se aproximar da mesa, pegar a mulher pela mão, e, após sussurrar algo em seu ouvido e fazê-la rir de modo malicioso, sumir com ela no meio da pista de dança.
Ainda fixando o ponto onde o casal sumira, Harry não notou que o Sr. e Sra. Weasley sentaram ao seu lado, juntamente com Penélope, a viúva de Percy, que mesmo com um olhar entristecido, procurava sustentar um sorriso digno em homenagem ao marido.
— Harry querido, acho que você deveria se soltar mais. – a Sra. Weasley começou, hesitante. Era visível o orgulho que sentia pelo empenho do marido.
— Não se preocupe Sra. Weasley, estou me divertindo. – Ele prontamente respondeu, aceitando uma dose de whisky de fogo que um elfo lhe ofereceu e sorrindo para a mulher.
Ela levantou as sobrancelhas, incrédula. O Sr. Wesley que havia bebido o conteúdo de seu copo de uma só vez fazendo suas bochechas adquirirem um engraçado tom rosado, olhou para a mulher, divertido.
— Deixe o garoto, é só o começo do Baile. – E num gesto rápido para a sua idade levantou-se, animado. – Venha Molly querida, vamos dançar...
— Ora Arthur! Não tenho mais idade...
— É a nossa música querida.
—Arthur!
Alterando entre estar contrariada e divertida, a Sra. Weasley acompanhou o marido para a pista de dança. Harry viu a mãe de Rony reclamar com o marido que este havia pisado no seu pé, mas em seguida acompanhando-o num suave embalar de corpos, sorriu testemunhando um raro momento de felicidade que o casal estava tendo. Ao virar-se, viu que Penelope conversava com o casal Gui e Fleur em outra mesa, enquanto Fred e Jorge, solteirões convictos, tentavam oferecer bebida a duas bruxas morenas com o broche do Ministério. Ele percebeu que não tinha com quem conversar e serviu-se de mais uma dose de whisky de fogo, que lhe deu uma agradável sensação de calor.
— Posso me sentar?
Ele piscou os olhos várias vezes para ver se estava mesmo reconhecendo-a. Incrivelmente bela e com os cabelos presos num elegante coque, um vestido vermelho escuro cheio de babados e com uma maquiagem carregada, Cho Chang sorria abertamente ao vê-lo surpreso. Harry teve que admitir que a garota com quem havia saído no 5º ano em Hogwarts havia se transformado numa mulher incrivelmente atraente. Ficara até desconcertado com tamanha beleza.
— Cho! C-claro, claro...
Ela sentou-se e cruzou as pernas, revelando um racho um tanto quanto generoso no seu vestido. Harry olhou o movimento com o canto dos olhos, tomando cuidado para não transparecer a demora de seu olhar nas pernas da mulher, mas ao ver o sorriso de Cho se abrir mais ele percebeu que falhara amplamente. E pior, reconhecera que esse era o seu intento.
— Ora, ora Harry, quanto tempo! – Ela começou, aceitando uma dose de whisky de fogo que um elfo lhe ofereceu. Ele prontamente pegou sua terceira, e o calor que sentiu ao toma-la fez ele tentar afrouxar o colarinho de suas vestes escuras. – Fez uma brilhante carreira hein?!
— Nada mal eu diria. Agora sou professor em Hogwarts...
— E eu não esperaria outra coisa de você! Depois de ser um herói quando novo, se formou Auror, depois virou professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Daqui a pouco se torna diretor de Hogwarts e quem sabe um dia Ministro da Magia!
— Não espero chegar a tanto. E pra falar a verdade não quero. Mas e você? O que anda fazendo da vida?
Ele percebeu que Cho trazia a cadeira pra mais perto dele. Era o whisky de fogo ou era ela que estava o fazendo suar? Ou os dois?
— Tentei ser uma curandeira, mas não passei nos testes finais. – Ela fez um silêncio trágico, tomando mais um gole de seu whisky e observando onde os olhos de Harry estavam dispostos, sorrindo ao ver o rapaz tentar disfarçar novamente. – Mas minha mãe me conseguiu um emprego de assistente lá no Profeta Diário e acabei pegando gosto pela coisa sabe. Sou corresponde de assuntos mágicos internacionais, cada mês num país diferente.
— Deve ser muito gostoso visitar vários lugares, conhecer bruxos do mundo todo.
—Ah sim, tem suas vantagens. O problema é que a vida acaba se tornando solitária.
— Está solteira? Digo...Não casou? Formou uma família?
— Não Harry. Mas sinto solidão em festas, datas especiais. Você sabe como é...
Harry sentiu um tremor involuntário quando ela o olhou de cima a baixo e se perguntou porque as mulheres tinham esse costume de desconcertá-lo de maneira tão fácil. Aproveitou e tomou o resto do conteúdo de seu copo e definitivamente os pensamentos começaram a ficar confusos. Ela calou-se e Harry percebeu que deveria falar ou pelo menos fazer algo.
— Vamos dançar?
Ele não teve tempo pra pensar que não gostava e nem sabia dançar. Cho sorriu triunfante e lhe estendeu a mão. Enquanto Harry a conduzia para a pista, ouviu Jorge (ou Fred, já não sabia diferenciar qual era qual) dizer em voz alta: “vai lá campeão!”. A música era lenta. Ele colocou as mãos na cintura de Cho e ela o enlaçou. Harry não tinha muito a noção de como era dançar, visto que dançara poucas vezes na vida. Mas sentia que seu corpo estava gostando muito da proximidade do dela.
— Eu queria ter dançado com você naquele baile de Inverno, em Hogwarts... – As palavras vieram meio sem sentido, e ele viu que não havia necessidade de dizer algo. Na verdade nem suas ações estavam fazendo mais sentido.
— Que meigo você se lembrar disso depois de tantos anos.
— Sabe Cho, você está linda nesse vestido vermelhão... – ele disse e teve uma imensa vontade de rir do comentário pois era absolutamente ridículo. Instintivamente pensou na idiotice que estava fazendo, dançando como um vampiro manco, dizendo coisas sem sentido para uma mulher que não via a anos. Cho porém pareceu não se importar.
— Ah Harry! São seus olhos... – ela disse, sussurrando. Ele sentiu um arrepio percorrer a espinha. Virou-se e viu Rony e a mulher entrelaçados, ele a beijando de um modo intenso. Virou-se para Cho, com uma imensa vontade de fazer o mesmo mas ao se aproximar dela sentiu um cutucão nas costas. Virou-se e tropeçou nos próprios pés.
Era Hermione.
Mas uma Hermione vestida impecavelmente com um vestido vinho tomara que caia que delineava bem seu corpo esguio. Estava maquiada e tinha os cabelos lisos e soltos, presos apenas na parte da frente. Sua expressão era daquelas que tinha quando não conseguia resolver uma tradução particularmente difícil de runas: determinada e quase febril.
— Atrapalho?
— Eu...É...você, o que...Hermione, você aqui?
— Não Harry, morri e meu fantasma voltou para apreciar o baile.
— Hermione Granger? Como você mudou. – Cho comentou após vê-la melhor, rindo de desdém. Hermione se virou pra ela, a expressão mais alucinada que nunca. Harry aproveitou que um elfo passou por ali e virou sua quarta dose de whisky, pensando: “Seria legal se as duas assim, tão lindas e cheirosas, brigassem...”
— Pois você continua a mesma.
Os olhares das duas se estreitaram. Cho ia dizer algo mas inexplicavelmente sua expressão mudou, ela levou as mãos a barriga e sumiu pelo salão sem dizer uma palavra à nenhum dos dois. Hermione a seguiu com os olhos, exultante, depois virou-se para Harry, que não sabia o que fazer.
— Aconteceu alguma coisa Mione? Porque você aqui...Não é normal sabe... – ele percebeu no mesmo instante que dissera a coisa errada porque ela lhe lançou um olhar de total desprezo, rumando para a mesa onde estava o Sr. e a Sra. Weasley, o patriarca da família muito vermelho dizendo algo no ouvido da mulher, que não sabia se ria ou se o azarava. Ambos ficaram espantados com a presença dela. Sem se importar, ela tomou um gole de uma cerveja amanteigada que um elfo lhe ofereceu. Harry meio cambaleante sentou-se ao seu lado.
— Por que Harry Potter? – Ela começou áspera, sobressaltando-o. – Não posso me divertir?
— Ora! Claro que pode! Mas não é do seu feitio vir a Bailes e eventos e coisas assim...Você nem dança nem se arruma...Não que não seja bonita, você é muito bonita e...Você me entendeu!
Ele fazia uma força tremenda para conjurar uma frase com o mínimo de sentido, mas por mais que tentasse as palavras saíam antes de formular um pensamento. O Sr e a Sra. Weasley fingiam não ouvir a conversa.
— Patético! – Hermione comentou, com um sorriso sarcástico nos lábios e tomando um gole de sua cerveja amanteigada. – Muito patético...
— Sabe de uma coisa Hermione? – ele começou, virando-se bruscamente na direção dela, tentando fazer uma cara muito séria. – Eu...Preciso ir ao banheiro.
Reunindo toda a dignidade e o equilíbrio que conseguira, Harry se levantou e localizou o banheiro masculino, justo na hora em que a banda tocava uma música agitada e quase todos os convidados corriam para a pista de dança. Ao entrar no banheiro, percebeu que estava sozinho e então deu um soco em um dos boxes.
— Porque ela faz você ficar pior do que já está? – ele disse para si mesmo, entrando no boxe.
Alguns minutos depois ao sair, deu de cara com uma Hermione carrancuda encostada em uma das pias.
— O que você...? – Ele disse assustado, indo até a outra pia lavar as mãos. – Esse é um banheiro masculino, sabia Srta. Granger?
— Já disse que você é patético Harry?
— Já disse. Duas vezes em menos de 15 minutos!
— Ora, ora, então você não está tão bêbado feito um ogro como eu pensava.
Ele encarou a amiga com o máximo de equilíbrio que as doses de whisky lhe permitiram. Estava ela lá, na sua frente, não sabia se com raiva, com ódio, com receio, com algum outro sentimento que ele não conseguira decifrar, ou com todos eles juntos. Ele então entendeu. E se aproximou dela, rindo abertamente.
— Você está com ciúmes Hermione Granger.
Ela fez cara de quem estava sendo mortalmente ofendida.
— Ora Harry Potter, francamente!
— Está sim! Está com ciúmes de mim!
— Escuta aqui... – Hermione começou, mas Harry numa fração de segundo a tomou nos braços e a beijou.
Um beijo ardente, intenso. Ele sentiu que ela inicialmente resistia ao beijo, forçando com as mãos um espaço entre os dois mas Harry, mesmo alto pelas doses da bebida, não a soltava. Era um beijo intempestivo, impensado, mas sobretudo, necessário. Ele queria rir da sensação daqueles lábios comprimidos, daquele tremor que o corpo dela transparecia, do banheiro masculino, dos ombros à mostra de Hermione, da música agitada que fazia seu cérebro girar feito vassoura sem rumo. Por fim, ele percebeu que a resistência de Hermione estava aos poucos se dissipando, não oferecendo mais resistência, e ela começara a retribuir aquele beijo urgente, suas mãos que antes pressionavam o peito dele agora deslizando displicentes para a cintura do rapaz até alcançar seus bolsos...
Mesmo Harry tendo reflexos muito rápidos ele não conseguiu frear a reação de Hermione, que muito rapidamente pegou a varinha dele e apontou para o rapaz. Ele não teve tempo de esboçar nenhuma reação pois no segundo seguinte sentiu um baque forte no peito, faltou-lhe o ar, a cabeça explodiu em mil estrelas, perdendo as forças e depois tudo ficou preto.
— Harry? Tudo bem cara?
Com a cabeça doendo consideravelmente, talvez a dor aumentada devido à uma enxaqueca proveniente do whisky de fogo, Harry se viu deitado de costas no frio piso do banheiro masculino. Ainda ouvia-se a barulheira do baile do lado de fora. Com a visão ainda turva, deu uma olhada ao redor e não viu ninguém, exceto Rony que estava agachado ao seu lado. Sua face estava vazia de expressão.
— Hermione... – ele começou, sentando-se com dificuldade, apoiando a cabeça num cano abaixo da pia. Rony sentou-se ao seu lado.
— Três Bailes, dois estuporamentos. Isso sim que é saldo positivo! – E caiu na gargalhada. Harry o olhou, confuso, não sabia se pensava em Hermione, no beijo, se nela o estuporando e sumindo, se Rony o encontrando, novamente, naquela situação lastimável. Mesmo com uma dor de cabeça daquelas riu com o amigo.
— Mais alguém viu essa cena? – Ele começou. Rony negou com a cabeça, conjurando duas garrafas de cerveja amanteigada e entregando uma ao amigo. – E por acaso você sabe onde está aquela louca?
— Hermione? Já foi. Quando eu e Viv sentamos à mesa, mamãe me contou meio por cima que você estava dançando com a Cho Chang, a Hermione aparecendo do nada e depois você e ela discutindo na mesa, você saindo para ir ao banheiro e ela o seguindo, aquela fúria exalando da nossa querida Sabe-Tudo. Imaginei as consequências, e vim ver se precisava de ajuda. Mas o que aconteceu pra ela te estuporar, de novo?
— Aconteceu o mesmo da outra vez. – Ele disse, tomando um gole de sua cerveja.
—Ah...- O olhar de Rony era de compreensão, e ele bebeu também de sua própria cerveja. Em silêncio, sentados no banheiro masculino, os dois ficaram bebendo, sem se olhar. Harry, com o corpo dolorido do estuporamento e a cabeça rodando devido à bebida, deu um breve sorriso, afinal, a noite não fora uma total desgraça.
— Mulheres... – O amigo por fim disse, e Harry concordou, ainda silencioso.

***********

— Vocês estão com a mesma sensação que eu? Que não deveríamos ter ouvido aquela conversa?
— Pela última vez: nós ouvimos. E não é nenhum absurdo Mel.
— Fale por você Anne. Saber que papai namorou a tia Mione não é muito...confortável...
Eram mais de duas da madrugada, e Melissa, Matt e Anne estavam a horas no quarto de Anne na Toca discutindo sobre o que tinham ouvido naquela tarde no antigo quarto de Rony. Os amigos - e particularmente Melissa - estavam chocados com o que ouviram sobre alguns casais que se formaram em Hogwarts no passado. Nos últimos minutos, porém, estavam tentando convencer uns ao outros que aqueles namoros foram na juventude dos pais e que não influenciariam nada a vida dos três. Mas o silêncio incômodo que se formou após essas tentativas demonstrou que eles não estavam conseguindo convencer nem a si próprios.
Procurando fazer algum coisa para quebrar aquele silêncio, Anne levantou-se:
—Quem quer um bolinho de menta da vovó? Vou lá na cozinha e aproveito e faço um chá de margaridas pra gente.
—Boa Anne!
— Também quero!
Ela vestiu um blusão por cima do pijama de lã e abriu a porta do quarto devagar para não acordar os outros moradores. Mas ao abri-la, viu uma enorme massa castanho-avermelhada entrar rapidamente, pulando em cima da cama da garota.
— Mas q diabos...? – Anne começou, assustada, assim como Melissa e Matt. – Esse gato está ficando caduco Mel!!
— Bichento mau! – Ela disse, aproximando-se do bichano. Porém, percebeu que ele trazia um rolo de pergaminho púrpura na boca. – O que é isso?
Anne fechou a porta, e aproximou-se da amiga, quando esta tirou o pergaminho do gato e abriu-o. Matt, sentado numa velha poltrona, assoviou e disse.
— Ora, ora, seu amigo voltou a dar as caras hein Mel?! Que está escrito?
— “Chegou a hora de você começar a saber. S.T.”
— E o que mais?
— Só Matt, só isso. – A garota virou o pergaminho, e colocou-o contra a luz para ver se descobria alguma outra coisa, porém não havia escrito nada apenas aquela pequena mensagem.
— Qual o sentido d... – Começou Anne, porém algo aconteceu que a emudeceu. Uma clara luz azulada surgiu no assoalho antigo, bem no centro do quarto. Era um pouco maior que um pomo de ouro, porém ficava cada vez mais forte. Matt levantou-se, prostrando-se do lado das garotas, mas assim como elas, não sabia o que fazer. Quando a bola tornou-se uma luz intensa, quase cegando-os, Melissa pôde distinguir algo em seu interior. De repente a bola desapareceu, deixando o quarto mais escuro do que estava. No lugar em que a bola de luz estava, os três notaram um frasquinho transparente com um conteúdo prateado, nem sólido, nem líquido. Intrigada, Melissa pegou o frasco nas mãos, examinando-o perto dos olhos.
— É uma memória!! – foi Matt que exteriorizou os pensamentos dos três.
— Exato. Uma memória. Mas, de quem? – Anne perguntou em voz alta. Ainda com o frasco nas mãos eMelissa sentou-se, muito prática, virando se para os outros dois:
— Acho que não é essa a pergunta mais urgente Ann. E sim, porque alguém me mandaria uma memória.
— Porque talvez alguém queira que você saiba de algo, ou que precise ver algo.
— Deve ser então algo que ela precise ver e que não duvide que seja real Matt. Como um acontecimento, uma revelação.
— Só iremos saber – Melissa disse, novamente levantando o frasco na altura dos olhos – se vermos o que tem nela. Ei! Precisamos de uma penseira urgente!

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