HOLD THE LINE - Livro #01

CAPÍTULO 4 - Broken Wings


A noite estava silenciosa, não havia muita coisa de interessante que Louise poderia estar fazendo naquele momento. Ela tinha consciência de que deveria estar trabalhando, ou melhor, que deveria ter faltado do serviço para ajudar os Byers na busca por Will e não para ficar presa em casa morrendo de tédio. Para ajudar, seus pensamentos estavam distantes e nada, nem mesmo os estudos ou a revista em quadrinhos da Mulher Maravilha, conseguiam deixa-la interessada.

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Estava deitada de barriga para baixo sobre o tapete do quarto enquanto foleava as páginas da velha, e única, revista adolescente que encontrou enquanto ajeitava seu quarto. Por ter sido trazida por Hopper e não ter dado sinal de onde estava durante a tarde, Claudia aproveitou o momento para coloca-la de castigo, dizendo que Louise só poderia descer para o andar de baixo depois de organizar toda aquela bagunça. O que para Lola queria dizer: Retirar toda a bagunça de um canto e jogar empaçocada dentro do armário, enquanto torcia para que não caísse depois que as portas fossem fechadas. Como dito anteriormente, Louise não era o tipo de menina organizada.

O único motivo de ainda permanecer com aquela revista adolescente eram as fotos do David Bowie e os fatos curiosos sobre ele, caso contrário já teria jogado a muito tempo. Um dos prazeres da Lola, além de assistir filmes, HQ's, gravar fitas e fliperama, era colecionar fotos e matérias relacionadas aos seus ídolos, sendo o maior deles o David. As paredes do quarto eram adornadas com pôsteres dele em grande número, dividindo espaço para fotos da Madonna, Michael Jackson, Prince e os membros de Culture Club. Mas caso tivesse que escolher apenas um, escolheria David sem ao menos hesitar.

Após ter "namorado" durante um bom tempo as fotos do seu ídolo supremo, Louise passava as matérias de conteúdo superficial e desinteressante, lendo apenas o título que carregavam em voz alta enquanto dava sua opinião cheia de sarcasmo e ironia.

— "O que os homens odeiam nas mulheres" no meu caso tudo. "O que não fazer no primeiro encontro" permanecer nele por mais de cinco minutos. "Me apaixonei por meu melhor amigo, e agora?" — Cada comentário era acompanhado por uma risada irônica, enquanto virava a página com fúria. Não importava se rasgasse as outras, desde que as fotos de Bowie permanecessem inteiras. A risada que acompanhou o último título da matéria foi mais forte e mais sarcástica que as coisas, compreendia aquele sentimento e entendia o quanto a pessoa estava fodida sem ter que ler a matéria.

Ela era romanticamente interessada em Jonathan Byers a um ano, sendo esse o tempo que levou para admitir para si o que sentia pelo rapaz. Porém ele não era a primeira pessoa por quem havia se apaixonado, antes de Jonathan houve outro amor. Um infantil e fofo por alguém que não vale a pena ser lembrado, alguém que quebrou seu coração em milhões de pedaços e não fez o mínimo esforço de recolher, preferindo acreditar nas mentiras inventadas por seus melhores amigos do que em Louise.

Relembrar das coisas do passado eram doloridas para Lola, principalmente quando envolvia a perda de pessoas que pensava que jamais deixariam de fazer parte da sua vida. Com fúria nos olhos, ela lançou a almofada que usava para apoiar os cotovelos na direção do corredor através da porta aberta.

— Merda, Lola! — Urrou Dustin ao ser atingido pelo objeto em questão enquanto tentava fugir discretamente de casa.

— Onde você pensa que vai? — Perguntou Lola levantando apressada do chão. Ela correu até a porta do quarto, encostando o ombro direito no batente e olhando desconfiada para o mais novo.

— Lugar nenhum. — Mentiu o menino.

— Dusty... — Ela arqueou a sobrancelha direita, mostrando não estar acreditando na mentira.

— Dustin, acabamos de passar na frente da sua casa, nos encontre na "Floresta das Trevas" em cinco minutos. Câmbio! — A voz do Mike ecoou pelo walkman que o irmão carregava na bolsa. Fazendo um sorriso maroto brotar na face da adolescente.

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— Vocês sabem que não devem andar sozinhos por aí, não sabem? — Louise carregava no tom responsável em sua voz.

— Claro, Louise. — Concordou Dustin num muxoxo, deixando visível a tristeza de ter sido pego em flagrante pela irmã mais velha. Tendo quase certeza de que os meninos teriam de ir em uma aventura sem ele.

— Por isso vou com vocês. — Ela voltou a sorrir marota, regressando no quarto para vestir um casaco quentinho por cima do pijama que usava, galochas vermelha e pegar a lanterna amarela que guardava dentro da gaveta do quarto. — Não vou deixar um bando de pré-adolescentes idiotas sozinhos.

— Você é a melhor irmã do mundo. —Elogiou Dustin alargando o sorriso.

— É, eu sei disso! Enfim, você precisa me levar na garupa da bicicleta. A minha ficou no carro do Jonathan. — Lola explicou puxando o mais novo pela mão.

Como dois foragidos da lei tentando escapar da prisão mais segura do mundo, os irmãos Henderson desceram as escadas agachados e fazendo o mínimo de barulho possível para que dessa forma a atenção da mãe não fosse atraída para eles. Caso fossem pegos em flagrante por Cláudia, ambos ficariam de castigo sem poder sair de casa durante alguns dias. Não que Lola visse aquilo como um castigo genuíno, até agradecia por ficar trancada em casa, podendo dedicar a leitura dos livros favoritos e as gravações das fitas que coleciona.

Para a sorte deles, Claudia estava entretida com um programa de perguntas e respostas que passava na televisão enquanto acariciava Mews no colo. A gata ronronava, adorando cada cafuné dado pela dona. Deixaram a casa sorrateiros, saindo pela porta dos fundos e correram para que conseguissem encontrar com os meninos, dando início ao pequeno, mas importante, grupo de buscas por Will Byers.

— O que a Lola está fazendo aqui? — Perguntou Mike quando o casal de irmãos aproximou dos dois amigos que já o esperava.

— Você tinha que trazer a sua irmã? — Perguntou Lucas irritadiço com a aparição surpresa da morena sem dar tempo do Dustin responder a perguntar do Mike.

Por ter percorrido o caminho todo em pé sobre o cubo da bicicleta, Louise foi a primeira a descer. Ela não culpava os dois melhores amigos do irmão mais novo pela raiva que sentiam, no fundo até compreendia. Aquela era uma missão para o bando e naquele momento ela era uma intrusa.

— Qual é? Vocês acham que eu deixaria o Dustin vir sozinho? — Ela perguntou enquanto retirava do bolso do casaco a lanterna e a acendia. — Além do mais, vocês podem confiar em mim. Não direi nada aos pais de vocês.

Dando risadinhas, Louise apontou a lanterna acesa no rosto do Mike e em seguida para o rosto do Lucas, fazendo os meninos fazerem caretas com a iluminação direta nos olhos. A ideia de sair às escondidas de casa para fazer algo que Hopper e sua mãe deixaram explícito que era proibido soava divertida, mesmo que fosse com um bando de pirralhos quatro anos mais novos por quem, infelizmente, ficaria sobre sua total responsabilidade caso alguma merda acontecesse.

— Tudo bem, Louise! Já está aqui mesmo. — Resmungou Mike a contragosto depois dela ter abaixado a lanterna, apontando para o chão.

— Se alguma coisa der errado, usamos o seu nome como desculpa. — Disse Lucas em tom de ameaça apontando o dedo para ela.

— Por mim tudo bem! — Lola deu com os ombros. Querendo ou não, ela teria de dar alguma explicação aos mais velhos caso plano de encontrar Will desse certo.

— Eu disse que a Lola era legal. — Falou Dustin elogiando a irmã, nos lábios carregava um sorriso orgulho por nunca ter duvidado da lealdade da mais velha.

— Agora vamos entrar no meio dessa mata escura e cheia de bichos. — A menina deu um meio sorriso, odiava aquele atalho com todas as suas forças e fazer humor era a sua forma de lidar com o medo, mesmo que não estivesse ajudando muito.

— Gente, vocês sentiram? — Perguntou Dustin olhando para o céu quando uma gota de chuva caiu sobre seu rosto. O barulho do trovão ecoou distante provando que uma tempestade estava prestes a iniciar.

— Sentimos o que? Um pouquinho de água? — Lola deu uma risada baixa e bem-humorada, a qual foi acompanhada por Lucas no mesmo tom.

— Acho que devíamos voltar. — Disse Dustin temeroso.

— Agora que chegamos até aqui? — Lola rebateu o pedido com outra pergunta. Mesmo que estivesse nervosa com a ideia de entrar na mata escura e nada contente em se molhar quando a chuva começasse, não estava em seus planos desistir da busca por Will e muito menos deixar mais dois adolescentes sozinhos.

— Não, não vamos voltar. — Repreendeu Mike determinado a prosseguir. — Só fiquem juntos. Vêm! — O Wheeler tomou a dianteira na equipe, cruzando a linha de proteção amarela posta pela polícia e ingressando na mata escura. Lucas e Lola o seguiram sem hesitar. — Fiquem no canal seis. Não façam nada idiota! Lola pode seguir comigo, já que não tem um rádio.

— Sim, senhor! — Assentiu Lola caminhando lado a lado de um dos melhores amigos do irmão. — Vai ficar aí, Dusty?

A adolescente virou para trás assim que sentiu a falta do menino ao lado deles. O mais novo estava hesitante com a ideia de ingressar na mata, mesmo não estando sozinho. Sabia que a irmã não deixaria que nada ruim acontecesse com eles, entretanto Lola não continha a força do He-Man e no máximo atrasaria o que fosse os perseguir. Dustin recordava de todas as vezes que Louise apareceu em casa cheia de hematomas por ter ingressado em brigas com a Carol e Nicole, sendo que essas atacavam em dupla e paravam quando Steve, ou qualquer força maior, interferia.

— Gente, espera aí! — A ideia de ficar para trás sozinho era pior do que ingressar na mata escura. Ele correu apressado para poder alcançar os amigos e a irmã mais velha, a qual esperou calmamente por ele e o abraçou pelos ombros quando alcançou o grupo.

Mesmo com as condições de tempo péssimas e a escuridão tomando conta da mata, o pequeno esquadrão de busca não permitiu que fossem intimidados pelo ambiente ao redor. Por mais assustados, molhados e friorentos que estivessem, estavam motivados para encontrarem o menor membro do quarteto, fazendo com que tudo o que sentiam de ruim fosse colocado de lado.

Gritavam a pleno pulmões o nome do Will pela mata. A voz da Lola não era mais a mesma do começo da busca, estava falha, além de que estava sentindo a garganta arder e arranhar. Havia passado grande parte do dia buscando por Wil junto com os Byers e ainda continuava com a busca. Aquilo teria consequências na manhã seguinte e, infelizmente, não poderia faltar a aula devido o teste de Química. Entretanto seus problemas eram menores caso comparado com o desaparecimento e valia a pena sacrificar o bem-estar para ajudar os amigos.

— Will! Will! — Gritou Lucas com a voz estridente enquanto aprofundavam na mata, fazendo com que Lola, que caminhava ao seu lado, tapasse um dos ouvidos.

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— Eu estou com seu X-men #134! — Gritou Dustin em seguida, usando do exemplar da HQ como objeto de troca por seu reaparecimento.

— Hey! Essa revistinha é minha! — Rebateu Louise olhando surpresa para o mais novo, a saga da fênix negra era a única que fazia questão de colecionar quando o assunto era X-Men.

— Quer discutir isso agora? — Dustin gesticulou decepcionado com o comentário feito pela mais velha.

— Sim, por que ela é minha. — Disse Lola segurando Dustin pelo ombro e o forçando a olhar na sua direção. — Você não pode pegar as minhas coisas para dar aos seus amigos, mesmo que elas estejam nas suas coisas.

— Eu perdi em uma aposta! — Dustin ergueu o tom de voz.

— A aposta era sua, não minha. — Louise também ergueu a voz, sobrepondo a do irmão.

— É, mas agora é do Will...

— Você não vai dar a minha revistinha para ele. A saga da Fênix Negra é a única saga da Marvel que eu acompanho, não pode desmanchar a minha coleção. — Urrou a menina gesticulando nervosa.

— Você nem gosta de X-Men! — Rebateu Dustin nervoso.

Na tentativa de fazer com que a voz de um sobressaísse a do outro, uma discussão aos berros iniciou entre eles. Caminhavam lado a lado, parando apenas para argumentarem sobre quem tinha ou não razão naquela briga.

— Calem a boca! Calem a boca! — Ordenou Mike aos irmãos Henderson, fazendo com que a dupla parasse de discutir e olhasse desconfiada para ele.

— Como é que é? — Perguntou Lola cruzando os braços sobre o peito, não permitiria que um fedelho a mandasse calar a boca, mesmo que o momento pedisse por silêncio.

— Vocês ouviram isso? — Mike parecia assustado ao perguntar, fazendo com que todo o grupo parasse o que estava fazendo para dar mais atenção as coisas que aconteciam ao redor.

Algo maior que um animal corria em direção a eles, fazendo barulho no meio da mata, galhos caídos quebravam e o som de pés batendo nas poças do chão podiam ser ouvidos. A mata movimentava e não era apenas culpa da chuva.

Todo o grupo estava assustado, os meninos não hesitaram em se encolherem atrás da Louise enquanto apontavam as lanternas na direção do barulho. A adolescente tentava abraçar as crianças com um dos braços, enquanto o outro mantinha estendido e acompanhando o movimento dos rapazes com a luz. O medo estampava a face de cada um, aquilo que vinha na direção deles poderia ter levado o Will e agora queria mais vítimas, levaria o grupo todo.

— Meu Deus! — Gritou Louise quebrando o silêncio quando uma criança surgiu em meio a mata.