Os gritos vinham do bunker 9. Vários campistas tanto gregos quanto romanos gritavam, assobiavam e comemoravam, enquanto podia-se ver Leo sorridente, abraçado a alguém. Alguém familiar, que Rachel não se lembrava. Percy negou com a cabeça, rindo.

–- Mas só esse Valdez mesmo...

Reyna ria como nunca se tinha visto antes, abraçada a Leo, e lhe dando alguns beijos, para a alegria geral. Percy entrou pelo meio da multidão, batendo palmas e puxando um coro.

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–- Eu sabia... Só o fogo para derreter o gelo...

–- Cara, e eu achando que Festus foi a melhor coisa que eu já tinha consertado... Nah! Foi esse coração aqui! – Leo sorriu e depositou um beijo na testa da pretora.

Vários “awns” podiam ser ouvidos, e Reyna sorriu mais ainda. Percy estava realmente feliz, então Rachel logo deduziu que para aqueles dois se acertarem, não havia sido um processo rápido.

Rachel saiu da multidão e se adentrou mais no bosque. Logo, apenas alguns ruídos podiam ser ouvidos. E um, em especial. Uma canção. Uma voz masculina suave, que conseguia ser firme ao mesmo tempo em que era doce. Uma melodia incrível (ainda mais para os ouvidos de uma artista), sem dúvidas. Ela reconheceria aquela música em qualquer lugar.

Se escondeu atrás de uma árvore, e foi se aproximando sorrateiramente. Pôde ver um vulto perto. E seus olhos não acreditavam em que viam. Como era possível sair uma voz tão doce e bonita de uma pessoa tão azeda? Estava lá, em sua frente, Octavian em pessoa, cantando baixinho para si mesmo.

Pensou que estivesse alucinando. Deu um ou dois soquinhos nas têmporas, e esfregou os olhos. Como era possível?

De repente, ele parou de cantar, e olhou desconfiado justamente para a árvore em que Rachel estava. Retomou sua postura tradicional.

–- Quem está aí?

Rachel viu que não poderia escapar dali sem ser vista, então saiu detrás da árvore devagar. Sua expressão era de surpresa. Os longos cabelos fartos e rubros da garota brilhavam suavemente à luz do luar. Assim como os olhos dele.

–- Desculpe. Vim tomar ar e ouvi você... Hã... Muito bonita a sua... voz... – Rachel disse, encabulada.

–- Desde quando está aqui?

–- Há uns cinco minutos...

Octavian tapou o rosto com as mãos, envergonhado. Seu rosto tomou uma tonalidade ainda mais intensa que o próprio cabelo de Rachel.

–- Você não deveria estar aqui.

–- Você também não. Você não conhece o acampamento, poderia se perder aqui.

–- Então quer dizer que você se preocupa comigo? – ele disse, rindo com sarcasmo.

–- Em nenhum momento eu disse isso! – Rachel corou.

–- É, mas eu estou começando a me preocupar com você. Você gosta daquele insuportável do Jackson, não?

–- Não te interessa.

–- Ah, eu bem suspeitei. Deve ser difícil pra você ser amiga da namoradinha dele.

–- Não ouse falar nada de Annabeth. E eu... Não gosto do Percy.

–- É estúpida e ineficaz a sua tentativa de negar o que está marcado em sua testa, graecus.

–- Vá se foder.

–- Mas que linguajar terrível... Para uma garota como você...

–- Como é? Uma garota como eu?

Octavian parecia a ponto de explodir.

–- Nada, esqueça. Agora se me dá licença...

Rachel segurou o braço de Octavian. Ele se virou, e os rostos dos dois ficaram muito próximos.

–- O que você quer comigo, romano? – Rachel sussurrou, ofegante.

Octavian respirava com dificuldade, e era possível ouvir seus batimentos cardíacos.

–- Nada. – ele se desvencilhou do aperto de Rachel, e saiu apressado do bosque.

A menina ficou, apoiada em uma árvore. Seu rosto a essa altura deixaria qualquer tomate com inveja. Rachel sorria para si mesma, desacreditada com tudo.

Enquanto caminhava de volta, viu um ursinho abandonado na terra. Ele estava com um grande corte na barriga, e sua pelúcia estava à mostra (sendo que uma ponta estava queimada). Rachel caminhou até o bichinho e o pegou. Começou a rir.

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–- Seu grande idiota assassino de teddy bears, o que está fazendo comigo?

A menina levou o ursinho consigo até sua gruta. Antes de dormir, colocou-o em sua cabeceira, prometendo nunca tirá-lo de lá.

Octavian voltara quieto, pensativo. Então era Rachel o nome dela? E por que ela, com aquela teimosia toda, revirava tanto sua cabeça?

–- O que houve, Octavian? – Reyna perguntou. – Você nem reclamou de nada dos gregos até agora...

Os outros riram, e Reyna arqueou as sobrancelhas.

–- Sem comentários... Se fosse falar cada defeito desse acampamento graecus, ficaria eternamente falando. E você, acha que pode dizer alguma coisa? Está com aquele filho de Vulcano estúpido!

–- Valdez não é estúpido... Você não faz ideia de como é bom libertar um sentimento... Sinto que posso flutuar... – Reyna disse, pensativa. – Acho que deveria fazer o mesmo. Sei que passou a tarde com... Rachel Elizabeth Dare...

–- Hmm, Octavian... O que queria com ela? Roubar seus ursinhos de pelúcia para queimar? – Dakota disse, limpando a boca do suco de morango.

Os romanos riram bastante, e até Reyna abriu um sorriso maior. Ela, inclusive, andava muito mais feliz agora que estava com Leo. Octavian bufou, revirando os olhos.

–- Por favor, acham que eu iria me rebaixar me relacionando com uma graecus? Ainda mais aquela garota... – Octavian sentiu seu rosto esquentando aos poucos, e esperou que ninguém tivesse percebido.

–- Nah, quem você acha que engana com isso?

–-Vão para o Tártaro!

–- Melhor deixarmos ele em paz, ou ao invés de ursinhos, ele vai nos queimar para os deuses!

Eles riram mais um pouco, e Octavian foi se sentar longe deles. A volta para casa foi demorada, e recheada de pensamentos. Tentou pensar em coisas aleatórias tipo ”amo pão”, mas todas as coisas levavam à Rachel Elizabeth Dare, a garota de cabelos ruivos fartos que o tirava de seu juízo perfeito. Ou não tão perfeito assim.

Como ficaria sua fama de agora em diante? Antes, era uma ameaça ao legado de Reyna, e agora até a garota-que-não-sorria começou a fazer piadinhas e encher seu saco. No mínimo incomum.

Enfim chegaram ao Acampamento Júpiter, e Octavian fora para sua cabine. Nem passou no Senatus, uma coisa realmente histórica. Deitou-se em sua cama, e encarou o teto. Se sentia realmente estranho. Seu coração batia descompassadamente, e flashes do incidente no bosque invadiam sua mente, o levando à loucura.

–- Mas o que está acontecendo comigo... – Octavian murmurou para si mesmo, passando as mãos pelos cabelos.

–- Você está apaixonado, querido! – uma voz doce e melodiosa soou na porta, e ele se levantou rápido, recuperando sua tradicional postura. Uma mulher maravilhosa estava à sua porta, sorrindo para ele.

–- Quem é você?

–- Ah, você sabe, paixão! Vocês me chamam de Vênus por aqui...

–- V-vênus? – Octavian já ia se curvar, mas a deusa o impediu.

–- Sim, sim! Deve estar surpreso com a visita de última hora, mas tenho certeza de que você sabe o motivo. E é um motivo bem bonitinho, huh?

Apesar de Vênus não ter citado nomes, Octavian sabia exatamente de quem ela estava falando.

–- Não sei do que está falando. – Octavian disse, sentindo o rosto esquentar gradualmente.

A deusa riu.

–- Querido, não precisa esconder isso, porque eu sempre sei... Sou a deusa do amor. Tente coisas novas, mude. Garanto que vai gostar.

–- Eu... Ela me odeia, e eu a odeio.

Vênus o encarou, arqueando as sobrancelhas.

–- Claro, se odeiam... Octavian, eu sei das coisas. Vocês se amam, apenas não admitem.

–- Sinto muito, mas dessa vez a senhora está enganada.

–- Enganada? Nah, não nesse caso.

–- Sim, enganada. Agora se me dá licença, eu preciso resolver umas coisas no Senatus, estou um pouco ocupado...

–- Não tente me enganar outra vez, eu sei que quer apenas um tempo sozinho. Pense bem. E, mais tarde, estarei aqui para te guiar.

Ela se dissolveu em uma névoa perolada, e Octavian suspirou.

A princípio, não entendeu o que Vênus quis dizer com “estarei aqui para te guiar”, mas descartou pensamentos inúteis. Realmente, enganar a deusa do amor sobre o amor era uma ideia patética, mas ainda sim era melhor que admitir que talvez estivesse gostando daquela garota insuportável. Mas... Se não fizesse nada, talvez Jackson fizesse. Era impossível, mas era melhor não arriscar. Por mais exausto que estivesse, pensou em ir atrás dela.

Caia uma garoa fina lá fora, mas nada poderia o impedir. Se arrumou e partiu rumo ao acampamento grego.