Go Rogue!

Capítulo 9 – A vida não acabou em Scarif


Capítulo 9 – A vida não acabou em Scarif

— Aonde estamos indo?

— Você vai ver.

— Nunca andamos tão longe.

— Está com medo, capitão Andor? – Ela brincou.

— Não, curioso.

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— Mon Mothma e a princesa me falaram desse lugar em uma das vezes que conversamos quando vieram nos ver. Semana que vem vamos nos mudar pra assumir a nova base da Aliança. Então eu queria trazer você aqui antes se eu tivesse a chance.

— Você já veio aqui? É aqui que estava quando sumiu por duas horas e não quis me dizer aonde foi?

— Eu queria ver com meus próprios olhos primeiro. Você tem que ver, Cass.

— Por acaso tem uma mina de cristais Kyber nesse lugar misterioso?

— Não – Jyn riu – É algo que talvez... Nos ajude a seguir em frente.

Jyn o olhou e Cassian pode ver bem no fundo de seus olhos verdes, a dor de todos os amigos que haviam perdido em Scarif, e toda a angústia que tinham passado antes de quase serem mortos pela onda fatal de destruição, que ironicamente foi o que os salvou, arrastando uma nave abandonada e em condições de voar para perto deles na praia. Seis meses haviam se passado, nos quais os dois estavam temporariamente escondidos em outro planeta, enquanto a Aliança trabalhava para garantir que não sobrara ninguém vivo no Império que pudesse identificá-los. Foram para lá pouco tempo depois de deixarem o hospital, onde ficaram por duas semanas, das quais ficaram cerca de cinco dias desacordados depois do incidente em Scarif. Jyn ganhara um cargo na Aliança e comandaria uma nova base junto com Cassian, e estariam livres para formar uma nova tripulação para algumas missões se desejassem.

— Eu vou sentir falta daqui – Cassian falou de repente.

— Eu também. Solo disse que já esteve aqui antes algumas vezes. Também acha esse lugar lindo.

Estavam num planeta adorável, onde belos campos verdes se estendiam, além de lagos, uma bela vista do céu, nuvens de pássaros e uma brisa suave soprando cedo pela manhã, com animais pequenos e amigáveis, embora alguns fossem ariscos e não gostassem de contato com pessoas. O planeta tinha apenas uma lua, mas ainda assim quando estava cheia iluminava a noite de tal forma que de dentro de casa poderia parecer dia, além da vista magnífica das estrelas. E Cassian encontrou mais um item para acrescentar à lista de coisas bonitas daquele lugar quando finalmente chegaram aonde Jyn queria levá-lo. Era triste, e o capitão sentiu seu coração se apertar, mas ainda era lindo.

Jyn o olhou tentando ler suas reações. Cassian fitava o horizonte como se o pôr do sol o hipnotizasse. O céu se tingia de laranja, misturando-se ao azul que ainda estava presente, e o sol começava a baixar na direção do mar, onde deixava uma grande linha dourada de luz na água azul. A água que ia e vinha na praia era azul clara como o céu e começava a ser tornar escura somente vários e vários e vários metros distantes da areia.

— Eu não sei o que dizer sobre isso – foi tudo que o capitão conseguiu falar.

Olhou para Jyn diante de seu silêncio e viu em seus olhos uma expressão entre preocupação e tristeza.

— Jyn...

— Desculpa se não queria ver isso de novo.

— Não! É lindo!

— Quando nós caímos naquela praia, eu pensei... Que eu nunca tinha visto o mar antes, só ouvia as pessoas falarem do quanto era lindo. Bem... Havia uma praia em Lah'mu, mas nunca parávamos pra comtemplá-la. Estávamos sempre escondidos com medo do Império, nunca saímos dali. Mesmo depois que fiquei com Saw e depois sozinha eu nunca tive a chance de ir a uma praia e passar algum tempo nela antes de Scarif. E naquele dia eu também pensei... Que nunca tinha imaginado que na primeira vez que eu visse também ia ser a última.

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Cassian pensou em sua própria vida, vendo no quanto se parecia com a de Jyn, e outra vez se sentindo mal pela discussão que tiveram uma vez, em que jogara na cara dela que estava naquela luta desde os seis anos e ela não tinha ideia do que era a guerra contra o Império. No hospital ela havia lhe contado sobre como conheceu Saw, e consequentemente como perdeu seus pais. Jyn tinha oito anos, apenas dois a mais do que ele tinha quando quase a mesma coisa aconteceu a seus pais e Mon Mothma o salvou. Pedira desculpas a ela naquele dia pelo que tinha lhe dito antes, mas ainda doía nele de vez em quando.

— Eu pensei quase a mesma coisa. Sobrevoamos muitas praias nas missões, mas nunca cheguei perto de uma de verdade antes de Scarif.

— Eu queria de trazer aqui antes de irmos embora porque quando vim aqui sozinha eu me senti viva de novo. Olhar o horizonte e não ver ondas gigantes, destroços e corpos e a Estrela da Morte. A vida não acabou em Scarif. Nós nos abraçamos e esperamos a morte, nós passamos pela dor de sermos obrigados a aceitá-la ainda que aquele momento fosse o que nós mais queríamos continuar vivendo desde que tiraram tudo de nós, nós aceitamos e esperamos, mas nada aconteceu. Ao invés da morte nós recebemos um milagre. E estamos aqui agora. Todos os dias que nós acordamos eu me lembro daquele momento e percebo outra vez que estamos vivos, apesar de tudo que aconteceu pra que não estivéssemos. Quando eu soube dessa praia pensei que seria bom guardamos alguma lembrança boa de uma praia, ver o quanto realmente é bonita e sentir a água e a areia nos nossos pés sem pensar que isso vai nos matar.

Cassian sorriu e olhou outra vez a bela imagem a sua frente. Não havia ninguém ali além deles. Alguns pássaros sobrevoavam a água, bem próximos ao mar, um ou outro andava pela areia, a brisa suave que vinha do oceano fazia seu cabelo esvoaçar e acariciava seu rosto, as cores dançavam no céu e as árvores atrás deles pareciam brincar com o vento. E Cassian se sentiu exatamente como Jyn descrevera, vivo.

— Então essa é a sensação...

— De que?

— Estar vivo, e se sentir feliz por isso, talvez seja assim a esperança em que você acredita Jyn.

Ela sorriu.

— E como é?

— Um aperto no peito, mas bom e quente, não angustiante e frio. Como se eu fosse transbordar de felicidade e não desabar em dor.

— Sinto a mesma coisa.

Os dois deram as mãos e olharam juntos o sol se aproximar um pouco mais da água. Jyn se virou para ele.

— Vamos sentir a água nos nossos pés.

Tiraram as botas e as deixaram na areia, seguindo até onde a água invadia a praia. Seus pés afundaram um pouco na areia molhada e a sensação da água batendo em sua pele era quase como cócegas, a água era morna e agradável. E naquele momento tiveram a certeza que aquela seria uma tarde que guardariam para sempre. Arriscaram adentrar um pouco mais a água e pequenos peixes corriam apressados por ela, algumas algas vinham boiando de vez em quando e pequenas conchas vazias adornavam a areia. Logo os dois estavam brincando na água como duas crianças, correndo pelo raso e jogando água um no outro, enquanto riam juntos como nunca haviam feito antes. Apanharam algumas conchas para guardar como lembrança daquele momento maravilhoso e daquele lindo planeta quando partissem.

Ficaram algum tempo sentados na areia, completamente molhados, mas felizes, observando o sol finalmente começar a tocar a água e pintar o oceano de dourado, deixando-o exatamente igual ao de Scarif no momento em que esperavam o fim que nunca veio, e ver aquele sol alaranjado enchendo a paisagem de vida ao invés da forma negra e fatal da Estrela da Morte trouxe aos seus corações ao menos um pouco do conforto que precisavam. Calçaram suas botas e olharam uma última vez para a praia, uma bela nuvem de pássaros atravessou o sol e desapareceu nos céus, exatamente como eles fariam na semana seguinte para começar uma nova vida. Antes de partirem pensaram em cada um de seus amigos e nos soldados que não tinham voltado de Scarif. Era triste que não pudessem ver algo tão bonito junto com eles, mas seriam lembrados para sempre pela Aliança, os grandes guerreiros da Rogue One que destruíram a Estrela da Morte, dando até mesmo suas vidas por isso.

Jyn e Cassian deram as mãos e seguiram pela mesma estrada de terra pela qual tinham vindo, tentando chegar em casa não muito depois de anoitecer. Quando avistaram a cerca de madeira que rodeava a pequena casa o céu já havia se tornado azul marinho, a lua cheia brilhava entre mil estrelas cintilantes. Apesar do frio por ainda estarem um pouco molhados, pararam após passar pela entrada da cerca para vislumbrar as estrelas.

— Obrigado, Jyn. Foi uma das melhores tardes da minha vida.

— Não acabou ainda.

— Que?

— Cass, eu tenho que te dizer uma coisa. E eu não sei se vai ser bom pra você.

— Jyn... Só não me diga que o que aconteceu ontem é algo que pode te matar, e ficarei tranquilo.

— Não. Eu não vou morrer.

Ela passara mal na manhã do dia anterior, sem explicações possíveis, deixando Cassian louco de preocupação. Depois de Scarif tudo que ele não queria era qualquer ameaça à vida dos dois, especialmente a dela.

— Jyn...?

— Eu não sei como dizer.

— Só diga.

— Você vai ser pai.

O capitão ficou estático por alguns segundos enquanto absorvia as palavras dela.

— O que?

— Nós vamos ter um filho, Cass.

Cassian saiu de seu estado de choque ao ver a apreensão nos olhos dela e finalmente sorriu. Não sabia o que dizer, então sua reação foi puxá-la para ele e beijá-la longamente, dando-lhe um forte abraço quando se separaram. Jyn ergueu a cabeça para olhá-lo. Cassian estava sorrindo de novo e lágrimas de alegria brilhavam em seus olhos. Então ela pode relaxar e sorrir de volta.

— Jyn... Tem ideia de que acaba de me dar o dia mais feliz da minha vida?

— Queria tanto assim ter um filho?

— Nunca pensei muito nisso, depois que perdi meus pais e minha vida passou a ser lutar pela Aliança Rebelde, achei que nunca teria tempo, nem uma chance. Aí me mandaram ir atrás de você, e isso virou minha vida de cabeça pra baixo outra vez. E agora me sinto feliz por ter acontecido com você.

— Obrigada, Cassian, por tudo.

Trocaram um novo sorriso e se beijaram de novo. Jyn deslizou os dedos pelo cristal kyber em seu pescoço, nesses momentos às vezes o cristal parecia ficar mais brilhante e Jyn pensava se não era apenas sua imaginação, mas ela podia sentir a Força, e sabia que Cassian sentia também. Entraram em casa antes que congelassem com o vento noturno e a água do mar que ainda restava neles.

******

— Jyn! Querida, está me assustando!

— O primeiro parto sempre é o mais complicado, havendo uma chance de 95% de ser muito demorado e doloroso como pudemos ver - o droid falou, em pé ao lado de Cassian.

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— Obrigado, K-2 – Cassian falou calmo e irônico – Me tranquilizou muito mesmo!

Quando se mudaram para a nova base da Aliança, Mon Mothma havia lhe entregado um chip que fora feito logo que K-2SO fora reprogramado. O chip estava ligado ao sistema do droid, e a cada três horas recebia atualizações dos dados processados por ele, o que tornou possível o recuperarem, inserindo o chip em outro robô sequestrado do Império, exatamente igual a K-2.

Jyn dera a luz a uma menina saudável apenas vinte minutos atrás e agora estava inconsciente. Mesmo aos nove meses de gravidez, ela insistia em comandar a base junto com Cassian, apesar dele fazer o impossível para que a esposa fizesse o mínimo possível de esforço. A comandante da base havia entrado em trabalho de parto enquanto comemoravam uma missão bem sucedida de conseguir novos aliados para a Rebelião num planeta distante dali. Cassian e K-2 haviam corrido às pressas com ela para casa. Com ajuda de algumas das mulheres que trabalhavam na base e que haviam se tornado boas amigas de Jyn, a pequena Hope nasceu quase oito horas depois, pouco antes do sol nascer. Cassian se recusara a sair do lado de Jyn, e lhe deu forças e a confortou durante cada segundo. A princesa Leia estava para visitar a base e coincidentemente havia chegado durante a madrugada, também ficando ao lado de Jyn.

— Capitão – ela o chamou.

A princesa havia acabado de envolver a Hope num cobertor e a menina ainda chorava por ter sido afastada de sua mãe.

— Segure sua criança, Jyn ficará bem.

Ele não sabia se Jyn ia ficar bem, mas o jeito da princesa falar era tão tranquilizador e confiante que conseguiu se acalmar um pouco, recebendo sua filha em seus braços pela primeira vez e ficando encantado. Hope parou de chorar no mesmo instante e um sorriso surgiu nos lábios de Cassian.

— Veja, K-2... Como ela é bonita.

O droid olhou por cima do ombro de Cassian.

— Eu não tenho conceitos sobre como definir a beleza humana, mas ela tem muitos traços de Jyn, apesar de ter os cabelos da cor dos seus.

— Sim, parece muito com ela.

Hope era pequena, tinha cabelos castanhos escuros e algumas sardas se espalhavam por seu rosto, o que o levou imediatamente a fitar Jyn, para encontrar as mesmas sardas no rosto dela. E a preocupação voltou. A princesa e mais três mulheres estavam cuidando dela. Conversavam entre si dizendo que tinham certeza que Jyn estava bem, desmaiara de exaustão. E agora Leia insistia para que ela reagisse.

— Jyn... Jyn, querida, abra os olhos para ver sua filha. Ela precisa de você, Cassian também – a princesa chamava baixinho alisando os cabelos ruivos de Jyn.

Cassian sentiu seu coração disparar quando os olhos verdes se abriram, um pouco confusos e muito cansados. Ela olhou para a princesa, que sorriu como resposta, e olhou em volta, procurando por Cassian e Hope. Viu o capitão de pé segurando sua filha, e K-2 atrás dele. Jyn sorriu.

— Eu só posso imaginar o tipo de porcentagens horríveis que K-2 lhe deu enquanto eu estava inconsciente.

— Ele não podia perder a chance.

— Foi você que pediu sinceridade sobre o estado dela – o droid falou.

— Não precisava ser “tão” sincero.

— Há algumas coisas sobre as pessoas que eu nunca vou entender.

Todos no quarto riram.

— Vamos deixá-los sozinhos um pouco – a princesa falou para o droid – Estaremos na sala se algo acontecer – ela disse a Cassian – Meus parabéns, Jyn, você provou mais uma vez ser muito forte.

Trocaram um sorriso e a princesa se levantou, indo na direção de Cassian, olhou mais uma vez para o rostinho de Hope e acariciou a cabecinha da bebê antes de sair junto com K-2 e as demais. Cassian sentou-se ao lado de Jyn e apenas se olharam por vários segundos.

— Nunca mais faça isso comigo.

— Desculpe.

Ele se inclinou com cuidado e beijou sua testa, olhando para a filha novamente, e a pequena abriu os olhinhos.

— Jyn... Ela tem os seus olhos – falou com alegria.

Deitou a bebê nos braços de Jyn novamente e um grande sorriso surgiu nos lábios da rebelde, que beijou a cabecinha da filha carinhosamente.

— Deita com a gente.

Cassian tirou suas botas e assim o fez. O casal olhava maravilhado para a pequena vida que haviam criado, deixando seus pensamentos voarem como tantas vezes àquela tarde na praia do planeta Terra, e novamente se sentiram vivos, sentiram a esperança enchê-los outra vez com a maior das provas de que um rastro de vida escapara da destruição em Scarif. Hope dormiu de novo acomodada nos braços de sua mãe. Cassian beijou a testa da pequena e depois encarou Jyn, trocaram um sorriso e depois um beijo. Jyn teve a mesma impressão de tantas vezes, do cristal Kyber em seu pescoço brilhar, como se a Força os felicitasse, como se a proteção de seus pais, há tanto tempo perdida, estivesse mais uma vez com ela.

— Nós vamos ser muito felizes. Tanto quanto pudermos, apesar dessa guerra interminável, nós temos esperança – Cassian falou.

— Sim, nossa Estrelinha, nossa pequena esperança.

Acariciavam juntos a cabeça da filha, que dormia calmamente.

— Te amo muito, Cass.

— Também te amo muito, Jyn.

Se beijaram demoradamente e Cassian a abraçou, permitindo que Jyn repousasse em seu ombro enquanto ele abraçava as duas e via Jyn cair no sono junto com Hope.