Go Rogue!

Capítulo 13 - Momentos


Capítulo 13 - Momentos

A janela entreaberta permitia que a brisa suave e agradável da noite adentrasse o quarto. O casal estava acomodado em sua cama, Jyn deitada sobre Cassian enquanto ele acariciava suas costas e seus cabelos. Uma das mãos dela descansava em seu ombro esquerdo, a outra afagava seu rosto.

— Vou sentir saudades de ficar assim com você nos próximos meses.

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— Vai valer a pena, Estrelinha. E vai passar tão rápido que nem vamos sofrer tanto.

Jyn riu.

— Galen se for menino.

— E Hope se for menina.

Cassian estendeu uma das mãos para puxar o lençol sobre eles e voltou a fazer carinho nela. Jyn fechou os olhos e logo sua respiração mostrou que ela dormia. O peso dela sobre ele era leve e não o incomodava. Apesar de já ter ganhado um pouco de peso com dois meses de gravidez, Jyn ainda era uma pessoa pequena e baixinha. Esse pensamento sempre o fazia rir, pensar em como alguém daquele tamanho conseguia sozinha dar uma surra em vários stormtroopers e aliados do Império ao mesmo tempo. Beijou os cabelos castanhos claros e acariciou o rosto adormecido.

— Eu te amo, Jyn – sussurrou antes de dormir.

******

Após seis meses escondidos, em recuperação e enquanto a Aliança Rebelde se certificava de não ter sobrado ninguém vivo que pudesse identificá-los para o Império, Cassian e Jyn finalmente estavam acomodados na nova base da Aliança que seria comandada por eles, ainda que continuassem saindo em missões de vez em quando. K-2SO havia sido reativado por Cassian no dia anterior. E após o capitão chorar emocionado ao rever o amigo “vivo” outra vez, coisa que K-2 nunca iria entender, apesar de sentir uma imensa satisfação por estar aos cuidados de Cassian novamente, os dois e Jyn conversaram por horas sobre os últimos seis meses e o que aconteceu em Scarif. O robô não tinha emoções, mas foi capaz de sentir-se incomodado ao notar a tristeza nos olhos dos dois humanos. Mas havia algo que não estavam lhe contanto. Ao contestar Cassian horas depois, o capitão lhe disse apenas que contaria em breve. Então tentou encurralar Jyn para descobrir o que incomodava Cassian, mas só conseguiu mais uma conversa cheia de farpas irônicas trocadas com a rebelde, e no final ela sorriu e disse que sentira falta daquilo. Como alguém podia sentir falta de algo desagradável? Os humanos eram muito estranhos.

Apesar de enciumado, K-2 não ficou surpreso ao descobrir que agora os dois moravam, dormiam, trabalhavam, se alimentavam e faziam tudo juntos. Não viu problemas em ser expulso do quarto rapidamente quando ia falar com Cassian durante a noite, ele nunca ficava o tempo todo com Cassian mesmo. Normalmente enquanto o capitão dormia ele estava comandando a nave ou trabalhando em alguma coisa na base ou traçando probabilidades. O planeta em que estavam agora tinha uma aparência bem mais amistosa que Yavin 4. Havia grama verde ao redor da base e algumas inspeções provaram que as áreas em volta eram seguras para transitar. Às vezes depois de alguma missão Cassian e Jyn saíam da base para caminhar do lado de fora, longe da base, das casas onde ficavam todos os que trabalhavam ali, longe dos olhos de todos, apenas eles. Às vezes K-2 ia com eles. O droid desconfiou ainda mais que havia algo que não lhe contavam quando as mulheres que trabalhavam com Jyn começaram a demonstrar cuidado excessivo com ela, e ao observar o casal de longe, deitados na grama em uma manhã ensolarada. Jyn apoiava pelo menos metade de seu peso sobre Cassian, e os dois estavam rindo um para o outro como dois idiotas. No próximo instante Jyn se inclinava sobre Cassian e eles estavam se beijando e levando suas mãos para se unirem em um abraço. Horas mais tarde o robô tentou conversar com o capitão quando estavam em casa.

— Cassian.

— O que?

— Por que tanta enrolação? Eu sei o que está acontecendo.

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— Do que está falando?

— Você e Jyn, eu os vi do lado de fora da base brevemente. Embora eu não entenda porque, desde que partimos para Scarif calculo que a probabilidade disso acontecer era de 90%. E seis meses e poucas semanas foram mais que suficientes pra isso.

— Eu achei que você já tivesse notado.

— E porque me disse que falaríamos depois?

— Eu e Jyn estávamos pensando em como te dizer.

— Não precisam mais dizer, eu já sei.

— Não é isso.

— O que seria então? Por que só não diz e pronto? Não importa como.

— Você sabe estragar o clima – Jyn comentou entrando na cozinha, mas com um sorriso.

— Eu sou um droid, não tenho emoções.

O casal ficou quieto enquanto o droid observava Jyn em silêncio. K-2 não podia gerar expressões faciais uma vez que era um droid, mas Cassian julgaria que ele estava surpreso ou no mínimo curioso. Era a primeira vez que ele via Jyn usando um vestido, embora ela continuasse usando as botas pesadas de sempre. O tecido era leve e de um tom bege, com mangas que iam até os cotovelos e a saia chegava até um pouco abaixo dos joelhos. Mas não foi nada disso que chamou a atenção de K-2, ela parecia ter ganhado peso, o que fez o droid deduzir imediatamente o que podia estar acontecendo. Por que os humanos eram tão tímidos para revelar essas coisas? Nos dias anteriores Jyn se mantinha usando suas roupas de sempre, o que sempre consistia em pelo menos duas camadas de tecido, dificultando a percepção de qualquer alteração física.

— Nós não sabemos o que você vai achar disso e sei que nunca tivemos muito contato com crianças – Cassian falou para o droid enquanto sentava em uma das cadeiras.

Jyn sentou ao lado dele e o droid percebeu que por baixo da mesa eles estavam de mãos dadas. Simplesmente esperou qualquer que fosse a situação que seu comandante queria comunicar.

— E isso pode nos manter longe de algumas missões de vez em quando – Jyn falou.

— O que crianças poderiam ter a ver com as missões? Começo a pensar que minhas deduções estão corretas.

— Kay... Jyn está grávida.

- Acabei de notar. Há quanto tempo?

- Quase três meses pelas nossas contas. Desde que deixamos o planeta Terra.

- Por isso o cuidado excessivo das outras rebeldes com ela. Por que adiou tanto? Podiam ter simplesmente me dito e pronto.

- Você sabe mesmo como acabar com a mágica das coisas – Cassian riu, afinal o droid não tinha culpa.

- Como vamos lidar com isso?

- Vamos evitar missões perigosas e fazer o possível pra que Jyn não precise se esforçar tanto até o bebê nascer. Confesso que depois disso é um mistério pra nós também. Só vamos viver um dia de cada vez.

- Acha mesmo que Jyn vai ficar quieta durante mais seis meses e uma semana? Se a criança for parecida com ela vai nascer sabendo atirar com um blaster e agredir qualquer um de quem ela não goste.

Cassian tentou, mas não conseguiu se segurar e emitiu um risinho enquanto Jyn o olhava sem saber se ficava irritada ou se ria junto com ele. Não podia discordar totalmente.

- Não preciso ficar em repouso constante o tempo todo, só evitar atividades que exijam muito esforço físico conforme o tempo passa. E depois de dois meses posso aos poucos retomar minha rotina normal.

- É estranho para mim dizer isso, mas se vocês estão felizes eu também estou. Isso vai ser bom, Cassian?

- Maravilhoso, Kay! – Ele respondeu sorridente.

- Parabéns aos dois.

- É esquisito ver você falar como um humano – Jyn o alfinetou, mas ela estava feliz.

Cassian começava a pensar que aquilo tinha virado uma espécie de saudação entre eles. K-2 alfinetava todo mundo, mas Jyn era seu alvo favorito porque sua extrema lealdade a Cassian o fazia se sentir um pouco traído por o capitão amá-la tanto, mas desde que fora reativado ele vinha aprendendo a respeitá-la sem que sequer Cassian pedisse por isso. E Jyn sempre o alfinetava de volta, mas raramente podia-se ver raiva em seus olhos verdes, ela parecia encarar isso como um passa tempo divertido.

— Como eu posso ser útil diante da nova situação?

— Você pode ajudar Jyn a carregar coisas pesadas quando eu não estiver por perto e até ajudá-la a andar daqui alguns meses. Ela vai dizer quando precisar de ajuda.

— E quando a criança nascer?

— Isso ainda vai demorar. Nem mesmo nós dois sabemos como lidar com isso ainda, vamos conciliar depois que o bebê nascer – Cassian lhe disse.

— Tudo vai se desenrolar naturalmente, você não precisa ficar processando dados sobre isso se ainda não aconteceu. Eu vou continuar trabalhando normalmente até quando eu puder, só vou precisar de ajuda de vez em quando.

— Está na minha programação calcular tudo nos mínimos detalhes antecipadamente. Mas vou tentar seguir sua lógica. Há algo mais a ser dito?

— Não – Cassian respondeu.

O droid ia se retirar, mas deu meia volta e encarou os dois outra vez.

— Eu nunca imaginei que fosse ver isso acontecer tão cedo, Cassian. Guerras contra o Império e a necessidade constante de missões perigosas não deixam espaços de tempo descentes para que novas famílias surjam. Provavelmente você terá uma filha em uma base segura, isso é bom.

— Filha?

— Como pode saber que é menina? – Jyn perguntou.

— Estou com Cassian há tempo suficiente para ter feito uma análise sobre sua genética familiar de acordo com as narrativas dele. Há 75% de chances de que tenham gerado uma menina – o droid disse simplesmente antes de se retirar.

Jyn e Cassian se entreolharam, curiosos para saber dali a seis meses se K-2 estava certo. Cassian se atentou a uma pequena marca branca perto do joelho direito de Jyn, uma cicatriz, mais uma. Bem pequena, mas fora um ferimento profundo suficiente para deixar uma marca. Eles tinham tantas que ainda estavam perguntando um ao outro sobre suas origens de vez em quando. Jyn fitou o ponto que ele olhava e o encarou.

— Todo mundo olha nossas várias cicatrizes e pensam que todas foram feitas em combate, sem sequer lembrarem que tivemos uma infância antes de tudo ser roubado de nós.

— Então tem essa desde criança?

— Eu tinha cinco anos. Estava pulando em cima da minha cama e caí justamente em cima de uma nave de brinquedo que minha mãe tinha feito pra mim com sucata. A nave não se danificou muito, mas me deixou uma marca. Doeu muito na hora, eu fiquei assustada quando começou a sangrar, mas meu pai me segurou e minha mãe cuidou de mim. Fiquei dois dias sem conseguir andar direito, foi mais profundo do que me pareceu na hora. Mamãe ficou preocupada porque foi ela que fez a nave, mas a culpa foi toda minha, não era um brinquedo perigoso. Eu ainda brinquei com aquela nave por dois anos até ela se desgastar. E você, Cass? O que tem pra se lembrar dos últimos anos que tivemos?

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O capitão sorriu ao se lembrar.

— Eu tinha sete anos. Gostava de me esconder. Meus pais sempre diziam que se eu visse stormtroopers eu devia me esconder e fugir. Embora isso não tenha adiantado nada quando aconteceu, eu só pude correr e me afastar enquanto meus pais eram mortos e nossa casa pegava fogo. Um dia eu estava correndo e me escondendo atrás de pedras e caixotes atrás da nossa casa, mas eu pisei em falso quando fui correr de um caixote pra trás de uma pedra e caí. Consegui aparar minha queda usando as mãos, mas machuquei feio meu braço em um galho seco no chão.

Cassian ergueu o braço direito e Jyn pode ver ao lado de sua mão uma marca pequena como se a pele tivesse sido riscada, num tom um pouco mais escuro que a pele em volta. Jyn já tinha sentido aquela cicatriz, mas ainda não tinha perguntado sobre ela e pensava em fazê-lo na primeira oportunidade.

— Pequena, mas doeu muito. Minha mãe me abraçou e meu pai cuidou de mim. Eu nunca vou esquecer a tristeza nos olhos dos dois quando eu disse o que estava fazendo. Mas os dois me abraçaram naquele dia e ficamos assim por vários minutos. Foi um dos nossos melhores momentos. No final das contas eu fico feliz que o bacta deixe algumas cicatrizes de vez em quando.

— Eu também.

******

— Se sente bem, Jyn?

— Sim – a rebelde respondeu com um sorriso iluminado – Depois que o bebê nasce o mal estar desaparece.

— Isso é bom – o droid respondeu enquanto a observava – Os droids médicos nos alertaram que você poderia sentir dor por alguns dias.

— Não sinto mais nenhuma desde ontem.

Ela estava sentada na cama com as pernas estendidas enquanto amamentava a pequena Hope de cinco dias. A toalha que cobria Jyn deixava apenas os pezinhos da bebê visíveis. Ela os agitava de vez em quando em movimentos sem muita coordenação e K-2 observava curioso, bem como havia demonstrado interesse em monitorar e gravar dados sobre a evolução da gravidez de Jyn, ainda mais quando aos cinco meses o bebê começou a se mexer.

— Até os três meses de vida ela não vai ter muito controle sobre os próprios movimentos. Foi o que um dos droids médicos me disse.

— Ela parece muito com você.

Jyn tomou algum tempo refletindo se aquilo era ou não uma indireta, e apenas riu, deixando o pensamento de lado.

— Cassian também disse isso. Por que ficou tão interessado em gravar dados? Só te instruímos a me ajudar.

— Cassian disse que eu deveria ter total atenção e cuidado sobre você quando ele não estivesse e gravar informações facilitou o processo. Caso isso venha a acontecer outra vez no futuro, as informações podem ser úteis.

K-2 deixou o quarto e poucos minutos depois Cassian entrou. Sentou ao lado de Jyn e sorriram um para outro antes de trocarem um beijo rápido. Após Hope ser alimentada, Jyn deixou que Cassian a segurasse. Os olhinhos verdes da bebê fitavam os pais com curiosidade. Sardas adornavam seu rosto, assim como o de Jyn, ela poderia ser o clone perfeito de Jyn, a não ser pela cor dos cabelos, castanhos como os de Cassian.

— Ela é linda – ele dizia pela milésima vez, maravilhado – Tão linda quanto a mãe.

— E tão graciosa e doce quanto o pai.

Cassian a beijou outra vez e Jyn deitou em seu ombro. Daquele jeito ficaram por longos minutos observando Hope até a pequena dormir outra vez.

******

Cassian correu entre as pessoas que se espalhavam na área de decolagem da base da Aliança que era comandada por ele e por Jyn, seguindo na direção da nave que acabara de pousar. A jovem de olhos verdes sorriu ao vê-lo e correu em sua direção. Cassian a segurou num abraço apertado cheio de saudade, embora ela só tivesse ficado três semanas fora numa missão. Beijou sua bochecha e se afastou para olhá-la, mas ela foi a primeira a falar.

— Onde estão mamãe e Galen?

— Vindo. Ela ficou dando ordens finais e me mandou vir primeiro. Galen estava dormindo naquela poltrona que tem na sala de comando.

Hope sorriu, lembrando-se de quando ela tinha seis anos e ainda não tinha muita ideia do que significava a Aliança. Agora com vinte dois era uma das mais jovens a pilotar as naves e se saía tão bem em combate quanto seus pais.

— Se não fosse a cor do seu cabelo e se eu não soubesse que Jyn está lá dentro eu teria confundido você com ela. Sua mãe era exatamente como você está agora quando nos conhecemos. Embora não tenha mudado praticamente nada até hoje.

Trocaram um sorriso. Jyn apareceu carregando o filho mais novo nos braços e sendo seguida por K-2. Hope deu um beijo no rosto do irmão ainda sonolento, que sorriu para ela e depois foi entregue ao pai. Galen parecia uma versão reduzida de Cassian, mas com cabelo castanho claro e sardas. Finalmente Hope e Jyn se prenderam num forte e demorado abraço. A rebelde beijou o rosto da filha e as duas trocaram um sorriso.

— Seja bem vinda, Hope – K-2 interrompeu o momento.

— É bom ver você também.

— Me desculpe não termos vindo antes – Jyn lhe disse.

— Tudo bem.

— A missão não poderia ter sido melhor. Hoje a tarde vamos ser só nós – Cassian falou.

— Vamos naquela praia? – Galen perguntou.

— Naquela praia? – Hope perguntou empolgada.

— Sim – Jyn respondeu sorridente.

Hope sorriu quando vieram a sua mente as doces lembranças de um determinado dia quando ela tinha dez anos e estava correndo por aquela praia com seus pais, no mesmo dia que ela descobriu como realmente foi a história da Rogue One.

— Ótimo – ela respondeu com alegria.

— Ótimo – Jyn falou no mesmo tom.