Getaway Car

Capítulo 7 – Você é ridícula Isabella


Capítulo 7 – Você é ridícula Isabella

Eu olhava aquela estante do mercado pela décima vez sem conseguir me decidir, por que, céus, existiam tantas marcas? E eu ainda estava escolhendo o macarrão, não quero nem pensar quando tiver que escolher o molho e então queijo, e salgadinho e aaaaaa. Por que eu sou tão indecisa assim?

Eu sou o tipo de pessoa que pensa demais e isso está mais do que claro por aqui, mas o que vocês provavelmente não sabiam é que isso se estende para todos os aspectos da minha vida. Sempre odiei mercado e o evitei fazer por essa razão, e agora cá estava eu, diante a dezenas de marcas de produtores locais sem ter noção alguma do que fazer.

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Como já estava há tempo demais naquilo, e tinha pegado apenas dois itens da minha lista, decidi começar a observar as marcas que eram escolhidas pelos outros no mercado e copiar. Sim, eu virei a estranha do lugar. Mas estava me ajudando e não machucando ninguém, então pronto, é o que importa.

Depois disso as coisas passaram a fluir muito melhor, estava quase gostando até e, obviamente, já tendo ideias para meu próximo texto do jornal. Faltava apenas decidir o bendito molho, entrei no corredor designado a ele e observei uma moça agachada lendo os rótulos. Olha só, alguém que realmente se empenha. Pensei comigo mesma enquanto fingia estar vendo outros produtos ali.

— Bella? – Dei um pulo de susto com o chamado. – Você está me observando?

Droga, droga, droga!

— Rosalie! Hey! – Respondi sem graça com a voz um pouco mais aguda que o normal. – O quê? Imagina! Só estou aqui... escolhendo um molho de tomate....

— Ok.... – Ela disse desconfiada já se levantando e colocando sua escolha no carrinho. – Mas você sabe que isso não é molho né? – Perguntou já divertida e eu abaixei os ombros derrotada.

— Tá.... você venceu.... – suspirei. – Eu sou péssima fazendo compras então só estou copiando as escolhas dos outros....

Rosalie então não se aguentou e começou a ir da minha cara. Ok, eu entendo, era ridículo mesmo, mas ainda assim, eu gostaria de manter um pouco de minha dignidade.

— Desculpa a risada, Bella... mas estou aliviada, já achei que você e a Alice estavam me espionando de novo.

— Ah, não, isso só fazemos às quintas-feiras. – brinquei e rimos juntas agora.

Depois disso, Rosalie se ofereceu para me ajudar com as compras o que foi maravilhoso. Eu como a boa curiosa que sou fui perguntando o porquê de tudo e ela super paciente me explicava.

Passamos nossas compras no caixa e andamos em direção a minha picape, que eu havia deixado ali na frente. Coloquei minhas compras na caçamba de trás e perguntei se ela não gostaria de uma carona como agradecimento pela ajuda.

— Eu aceito, Bella, obrigada. Mas estava pensando... e se parássemos para tomar um café no caminho? Tem um bem gostoso perto de casa.

— Me parece ótimo! Você me guia?

E em seguida nos direcionamos ao lugar que Rosalie indicou, demorou apenas cinco minutos de carro e logo já adentrávamos o local. A decoração tinha uma pegada bem vintage, com uns detalhes “Alice no país das Maravilhas”, e combinavam muito com o jeito delicado da minha companhia.

Sentamo-nos em uma das mesas do fundo e pedimos nossos cafés e alguns cookies para acompanhar.

— Então... Rosalie, conta-me tudo não me esconda nada – brinquei assim que a garçonete saiu após trazer nossos pedidos.

— Como assim? – ela sorriu sem graça.

— Tá, ok, não precisa me contar tudo. Mas eu sei que esse convite para vir aqui tem segundas intenções e algo me diz que é a necessidade de conversar sobre algo... ou alguém.

— Você é boa... – ela respondeu corando e em seguida dando um gole em seu café. – Sim... acho que preciso conversar... ou não. Não sei, talvez eu só precise de uma opinião de fora.

— Nossa que termo formal...- ri sem graça - Mas o que você quer dizer com isso?

— Ah, não sei... eu quero sentir que algo é mesmo certo antes de pular de cabeça. Entende?

— Sim, mas o que você acha que não pode estar certo?

— Ah! Tantas coisas.... – ela suspirou e ficamos um pouco em silencio. Era estranho ver alguém tão incrível como ela vulnerável como estava.

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— Olha... eu interagi bem pouco com vocês...- comecei, pensando em responder o que ela queria. – E me parece que tem algo bem... genuíno? Não sei se essa é a palavra certa..., mas me pareceu algo bem real, bem conectado, sabe? Tipo, eu não sei o que exatamente cada um sente ou pensa, mas parecia que os dois estavam bem entregues aquilo, e bem conectados também.

— É.... eu sinto bastante isso, mas não sei. Eu tenho medo, sei la, é meio bad o que eu vou falar, mas eu tenho medo de ser só uma válvula de escape para ele, sabe? Algo que o ajuda agora, mas que logo não servirá mais....

— Eu não tenho como te garantir que isso não vá acontecer... mas realmente só tem uma forma de saber... que é tentar mesmo. E não só tentar curtir, mas tentar construir algo, construir uma confiança. Porque para ele também deve estar difícil se entregar.

— Talvez você tenha razão... eu sei que isso é o certo, mas...- a interrompi antes de continuar.

— Mas teve um cara babaca que destruiu toda sua concepção de confiança, certo?

— Tá tão óbvio assim? – Ela perguntou desanimada.

— Não muito... mas eu bem sei o que é passar por isso, então foi fácil identificar.

— Então também existem babacas em Nova York?

— Minha filha... é o que mais tem! – disse afetada trazendo um tom de brincadeira. – Mas sério, por mais difícil que seja... nós não podemos deixar essas experiências traumáticas ressignificarem toda nossa concepção de amor e, principalmente, não podemos deixar que elas levem embora nossa confiança em nós mesmas.

— Você está certa, eu sei o que preciso fazer, mas se eu cair.... para onde eu vou? Não tem muito como sumir nessa cidade e a família Cullen, bom eles são incríveis, mas eles estão em todos lugares e se cuidando sempre e... eu não sei, tenho medo de entrar nesse meio. Faz muito tempo que eu cuido de mim sozinha. – Seus olhos estavam cheios de lágrimas e eu senti crescer em mim um carinho muito grande por ela.

— Eles realmente estão em todos os lugares, né? – brinquei tentando aliviar o clima e ela sorriu. – Mas é foda isso mesmo. Ao mesmo tempo que é incrível ver uma família tão legal e tão unida, é ameaçador pensar em entrar e, por algum erro, abalar tudo isso. Mas, pelo pouco que conheci deles, o que mais se esbanja ali é o cuidado e respeito mútuo, eles querem o bem um do outro mais que tudo, e você... bom, só de você fazer o Emmet se empolgar de novo com algum projeto, você já foi colocada em um pedestal por eles.

— E você vai dizer que essa situação não coloca uma super pressão em cima de mim? – Ela disse arregalando os olhos.

— É... talvez você tenha razão. Tá fudida mesmo... ainda mais com esse olhar apaixonado.

— Ah! Vai se ....-

— Professora! – A interrompi antes que soltasse o palavrão e já estávamos rindo juntas de novo.

Voltamos a nos concentrar em nossos cafés e foi bom sentir que ela estava um pouco mais aliviada em desabafar, mesmo que meus conselhos não tenham sido muito úteis.

— Mas e então, - ela começou após pedirmos a garçonete a segunda rodada de cookies. – Eu notei você dando um sentido de “nós” quando falava da nossa relação com os Cullen...

— Ah não, Rosalie, você também não! – brinquei, - Eu só o acompanho nas passeadas com o Dog...

— Eeee...? – Ela levantou uma sobrancelha para mim.

—...Eee é divertido e eu gosto. Não tem muito mais o que falar do que isso.

— Então eu não sou a única em negação aqui...

— É diferente...

— É mesmo, Bella?

—...

— Ok, talvez não seja tão diferente... – Sorri derrotada. – É só que essa experiencia era para eu me conhecer melhor e me encontrar, sabe, eu só tenho medo de perder o foco... e acabar em outra enroscada.

— Olha, realmente é importante estar bem consigo mesma antes de se relacionar com qualquer pessoa..., mas as vezes, aquela pessoa te ajuda a ver partes de você que nem você mesma estava conseguindo achar, seja por traumas passados ou talvez por nunca ter vivido algo assim.

— Realmente... eu não faço ideia do que vou encontrar. É difícil não ficar comparando sempre, sabe?

— Eu sei... e como! Mas se desprender disso faz parte, nós duas precisamos disso.

— Você tem razão...

— Não se repreenda, ok? Mas também não se force a nada. Primeiro tente entender, o que você realmente quer?

— Cara... você é boa! – Comentei tentando quebrar o clima intenso, mas é claro que aquilo me faria refletir bastante.

Depois do momento desabafo ficamos mais um tempo conversando, eu a sondei bastante sobre suas opiniões a cerca de meu texto sobre a escola e fiquei bem feliz em saber que ela tinha gostado.

Saímos dali e eu a deixei em frente ao seu apartamento, um pequeno prédio com flores nas janelas. Ela me convidou para subir um pouco e eu recusei dizendo que precisava resolver algumas coisas hoje ainda.

Isso não deixava de ser verdade, eu realmente precisava resolver muitas coisas. Precisava de uma vez por todas botar um fim nessa coisa de ficar pensando e repensando demais, já está chato, já está ridículo.

O que eu realmente quero? E por que está sendo tão difícil responder essa pergunta? Será que alguma vez eu já pensei nisso? Tipo realmente pensar nisso, não só escolher o que teremos para jantar, mas realmente escolher o que eu quero para minha vida.

Em que momento da vida eu passei a viver sob as vontades alheias? E por que está sendo tão difícil para mim me desprender disso e realmente entender quais são as minhas vontades, quais são meus desejos... quem sou eu realmente?

Toda essa discussão está intensa demais e ao mesmo tempo clichê demais, mas o que fazer quando eu realmente não sei por onde começar? .... Ou será que eu já comecei?

Eu caí aqui do nada. Porque eu quis ir até o mar. Porque eu quis colocar os pés na água e sair gritando que nem louca. Porque eu quis sair com a Alice. Eu quis aceitar a proposta de Jasper. Eu quis ficar. Eu quis passear com o cachorro. Eu. Eu. Eu.

Pensando nisso, pensando nas escolhas que eu passei a fazer, que eu senti ser certo fazer, eu decidi dirigir o carro para onde tudo começou. Quem sabe assim eu entenderia de vez o que eu estava fazendo ali e, quem sabe, entender que eu estava ali por... mim.

Por incrível que pareça eu não havia voltado a La Push desde que eu cheguei, acho que fiquei envolvida demais com tudo o que estava acontecendo em Forks, e não era pouco. Mas seguir aquele caminho estava me parecendo familiar, e aos poucos eu ia lembrando de todo o processo que me fez chegar ali.

Novamente a praia estava vazia quando cheguei, o que era estranho, já que hoje era sábado, mas também o sol estava quase se pondo e o tempo ficando mais frio. Estacionei a picape novamente em uma das vagas que havia ali. Tinha apenas mais um outro carro, mas ele estava mais distante.

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Caminhei na areia, agradecendo o fato de agora ter roupas mais quentes, avistei um tronco caído ali perto e me sentei. Por um tempo fiquei ali sentada só ouvindo o som de tudo ao meu redor. Era uma espécie de meditação, mas ao invés de meus pensamentos dispersarem, eles estavam cada vez mais intensos, com flashbacks e ideias e imaginações.

Onde eu queria estar daqui a um tempo? Publicando um livro, provavelmente. O que me fez vi até aqui? O mar. O que me fez ficar? Tantas coisas....

O que realmente me fez ficar? A forma que esse lugar fez eu me sentir.

E por que não juntar tudo isso? Por que não começar a escrever sobre se encontrar antes de começar a se procurar? Sobre seguir os instintos, sobre se guiar pela natureza, sobre se deixar guiar por tudo que lhe cativa.... será que eu sou essa pessoa?

Não chega, chega de tentar me definir. Ao invés disso, vou seguir o conselho da Rosalie, vou me permitir. Essa será a única forma de realmente conseguir sentir e viver tudo o que eu quero. Porque eu quero viver isso. E eu quero escrever sobre tudo isso.

Em seguida, abri o bloco de notas do meu celular e fui anotando a enxurrada de ideias que iam surgindo na minha cabeça, os personagens, o enredo, o clímax, o cenário. Tudo aquilo era jogado ali de forma bagunçada, mas cada coisa escrita me fazia pensar em mais outras três e assim eu ia, me empolgando cada vez mais.

Quando finalmente senti que havia esgotado um pouco de mim, parei de digitar, voltei a bloquear e colocar o celular no bolso. Suspirei fechando os olhos e inclinando minha cabeça para trás, satisfeita.

Voltei a abrir os olhos após uns segundos e senti um vulto se aproximando atrás de mim, o que me fez pular de susto (e talvez gritar também).

— Desculpa, eu não queria te assustar! Quer dizer, eu queria, mas não desse jeito...

— Edward.... céus – disse colocando a mão no peito.

— Meditando? – Ele perguntou tentando quebrar o gelo.

— Algo assim... – dei de ombros. – Mais fotos? – perguntei apontando para a mochila em seu ombro.

— Sim! – ele respondeu animado. – Finalmente um sábado com o céu limpo!

— Haha deve ser ótimo mesmo – concordei sem entender muito como aquilo lhe afetava.

— Er... se você tiver curiosidade, eu posso te mostrar – ele sorriu sem graça – Cheguei já no fim do por do sol porque hoje quero focar mais nas estrelas, aproveitar a que a lua não ta mais tão grande no céu e tudo o mais.

— Eu adoraria, Edward. Mas assim, já aviso, nem selfie eu sei tirar direito.

Ele deu risada e em seguida apoiou a mochila no chão para tirar seus equipamentos. Montamos um tripé e ele instalou a câmera lá, em seguida abriu uma manta no chão para sentarmos e ficou um tempo mexendo em várias coisas na câmera. Ela também era analógica.

— O segredo para fotografar o céu é o tempo de exposição. Afinal, estamos tentando fotografar coisas em movimento. No caso, as coisas são as estrelas.

Quando de fato ficou noite a praia ficou bem escura, tinham apenas algumas luzes das casas ali da região e da lua, mas de resto, um breu. E isso favorecia muito nossa vista, eram tantas estrelas que eu nem sabia direito para onde olhar, conseguíamos inclusive ver “manchas” da via láctea ao fundo e eu estava hipnotizada.

Edward foi muito paciente como sempre. Me explicava tudo com dedicação e fazia questão de saber se eu estava entendendo. Ele inclusive me deixou controlar a câmera em determinado momento, mas acho que isso só porque não tem noção do quão desastrada eu posso ser.

Foi tudo muito maravilhoso, não tivemos conversas íntimas ou momentos super intensos. Apenas curtimos a companhia um do outro e aquilo, para mim, foi uma prova maior do que qualquer outra coisa. Uma prova de que eu deveria realmente me deixar vivenciar as coisas que me davam vontade, porque senão, eu nunca viveria momentos como... esse.

— Edward? – perguntei após estarmos um bom tempo em silêncio.

— Hun? – ele respondeu saindo de trás da câmera e me olhando.

— Obrigada – sorri

— Pelo quê?

— Por me indicar esse caminho.