Garota-Gelo

Odeio Casamentos


Ter um Jonas dentro de casa não é algo lá muito gostoso.

Dependendo do seu ponto de vista, é claro.

Eram seis da tarde e eu não conseguia mais ouvir a voz desse desgraçado.

Nós estávamos sentados na mesa, comendo um bolo que ele havia trazido.

O bolo era de chocolate com chantilly e morangos.

Peguei mais ou menos cinco pedaços e quando me senti satisfeita, comecei a roubar os morangos do bolo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Estava no sexto quando mamãe percebeu e bateu na minha mão.

– Larga de ser mal-educada, menina.

Dei de ombros.

– Sempre fui mal-educada, por que está reclamando só agora?

Ela riu.

– Katrina, Katrina... O que eu faço com você?

– Me deixa roubar os morangos do bolo.

*

Subi para o meu quarto pronta para tirar um cochilo de trinta horas, mas aí notei a presença de Marcela e Jonas subindo a escada atrás de mim.

Os encarei.

– Vou dormir.

– Nós sabemos. – Eles sorriram.

Senti uma raiva incandescente subir dentro de mim.

– Então por que demônios estão me seguindo? – Eu gritei.

Eles se encolheram.

– Não vamos fazer barulho. – Disse Jonas.

Bufei.

– Bom mesmo. Se eu acordar por conta de vocês, quebro os dentes dos dois. – Fiz o olhar mais ameaçador possível.

Eles assentiram e nós três subimos para o meu quarto.

Escancarei a porta e me atirei no colchão, me enrolando na coberta. Eu estava de bruços e o cabelo tapava toda a visão.

Perfeito.

Jonas Pov.~

Eu e Marcela esperamos para ouvir os roncos e os murmúrios de Katrina para podermos começar a conversar.

Olhei apreensivo para Marcela.

– E agora? – Cochichei.

Ela sorriu.

– Só siga o plano.

Roí as unhas.

– Isso não vai funcionar.

Ela riu.

– Vai sim. A Katrina não é do tipo que recusa uma aposta. Quando a gente conseguir a fazer ficar bêbada, é só deixar com ele.

Olhei Katrina novamente. Os cabelos dela eram incrivelmente ruivos e brilhosos, como se ela todo dia os lavasse.

– Mas ele não sabe de nada, né?

– Nadica.

– Mas... E se não der certo e acontecer outras coisas?

Ela riu.

– Vai ser melhor! Mas sei que ele não é do tipo que se aproveita dessas situações. É só deixar com ele, que... Bem, metade dessa pedra irá ser polida.

Sorri.

– Ela merece.

– Para valer.

Cocei o queixo.

– E no mesmo tempo não merece.

Ela riu.

– Não mesmo.

Eu ia dizer mais alguma coisa, mas Katrina levantou a cabeça e disse:

– Não ouse colocar suas mãos nisso, babaca.

Levei um susto.

– Katrina?

Marcela deu risada.

– Não se preocupe, ela está dormindo. Katrina vive fazendo isso. Às vezes ela dá gritos, dá tapas na minha cabeça. Mas depois dorme de novo.

Do nada, Katrina desabou no colchão falando coisas inaudíveis.

Encarei Marcela.

– Jesus, essa megera é estranhíssima.

Ela riu.

– Você fala isso porque não a viu falando com o Jason e o Freddy ainda.

*

Katrina Pov.~

Eu tive um sonho bizarro.

Numa sala com vários doces, havia eu e Pedro.

Ele estava sentado de frente para mim, com um sorriso debochado de sempre.

Ele tentou pegar meu prato com um pudim, mas lhe dei um tapa na mão.

– Não ouse colocar suas mãos nisso, babaca! – Eu gritei.

Ele riu.

– Só quero o seu pudim. Não vai me ceder ele? Dou-te todos os meus doces.

Pensei por um instante.

Todos?

Ele assentiu enquanto dizia:

– Absolutamente todos.

Pensei mais ainda.

– Tudo bem.

Empurrei o prato com o pudim enquanto ele empurrava um com todos os doces que eu gosto.

Peguei um sonho que estava indefeso ali e o mordi.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Pedro sorriu.

– Está gostoso?

Ia dizer “Sim”, mas me bateram na bunda.

Eu gritei e já ia metendo um tapa na cara da pessoa, mas eu estava enrolada nas cobertas, então nem funcionou.

Mamãe estava ali, sorrindo.

– Já são nove horas. Vem jantar.

E saiu pela porta tranquilamente.

Bufei e esfreguei a cara no travesseiro.

– Se não tiver coisa boa... – Eu gritei. – Aí o couro esquenta, tá ligada?

A ouvi dar risada e me apoiei nos joelhos para levantar. Encarei minha cama por alguns segundos.

– Até você... Um objeto inanimado me entende melhor do que as pessoas... – Sorri. – Como isso é possível?

Desci da cama e marchei até a escada.

Quando cheguei à sala, as meninas estavam comendo arroz, feijão e carne moída, tudo no sofá.

Joguei minhas mãos para a cintura.

– Que estória é essa de comerem no meu sofá? Querem que eu lhes quebre os dentes?

Elas se entreolharam.

– Ai, Katrina... Desencana. – Reclamou Marcela enquanto colocava a garfada na boca.

Todos eles estavam assistindo o Willian Bonner.

Eu ia dizer: “Desencana? Você vai ver o desencana daqui a pouco”.

Mas um grito pavoroso ecoou da cozinha. Jonas estava gritando que nem uma gazela desmamada e desenfreada.

Ele saiu da cozinha como um raio e ficou pulando na nossa frente.

– O que é, menino? – Eu gritei.

– Ra... – Ele começou e estremeceu. – Têm dois ratos na cozinha!

Aí, maluco... Aí que o negócio esquentou.

Gritei e pulei da escada para o sofá, desesperada. Mamãe, Marcela e Isadora largaram seus pratos em cima do sofá e correram para a cozinha.

Eu estava espreitando por cima do assento do sofá quando aquele bichinho do demônio saiu da cozinha correndo, alegre. Ele estava com uma cara de: Vou comer todos no jantar, hahahahaha!

Ele fazia um barulho mais ou menos assim: Iiik, iiik, iiik!

Gritei e comecei a chorar, desesperada. Jonas fez o mesmo, só que começou a pular, chorando.

O maldito do rato pulou para a escada e nos olhou. Eu gritei e pulei no Jonas.

Enlacei minhas pernas envolta de sua cintura e agarrei sua cabeça, gritando desesperada. Jonas pulou para o sofá e nós dois nos agarramos, desesperados e chorando.

– SOCORRO! – Eu berrei enquanto chorava.

Foi aí que as coisas ficaram ainda mais estranhas.

A porta se arrombou e uma fechadura despencou, fazendo com que a coitada da porta se sustentasse numa só fechadura.

Pedro apareceu ali, com uma escova de dente na mão, a boca cheia de pasta e só de short. Sua expressão era de puro pavor.

– Katrina! – Ele gritou.

Eu queria sair correndo dali. Mas não tinha escapatória. De um lado o cara que disse que me amava, de outro, um rato enorme com cara de inocente, mas no fundo, ele queria me comer, que eu sei.

Apertei a cabeça de Jonas contra o peito.

Marcela saiu da cozinha correndo com uma vassoura em mãos. Ela se assustou quando viu Pedro.

– Oi... – Ela disse meio debilmente.

Ele assentiu.

– Oi, Marcela. O que está acontecendo aqui...? – Ele apontou para Jonas. – E o que esse cara faz aqui... – Pedro estreitou os olhos. – Agarrando a Katrina desse jeito?

Marcela e Jonas tossiram. Olhei para os três.

– ACABEM COM O RATO, DROGA!

Iiik, iiik, iiik!

*

Depois que muitas coisas foram explicadas e muitos ratos foram mortos, eu me sentei no sofá e abracei minhas pernas.

Pedro se sentou ao meu lado e não parava de dar risada. Ele não conseguia aceitar a ideia de que eu tinha medo de “simples ratos”. Ele diz que são simples ratos até eles comerem os seus filhos. Aí quero ver se ele vai achar que são simples.

Mamãe, aquela desgraçada, ofereceu um prato de comida para ele.

Graças a Deus, ele recusou com um aceno.

– Não, obrigado, senhora Dias. Eu já jantei.

Jonas soltou um suspiro.

– Uma pena, adoraria comer contigo, Pedro.

Só o olhar que Pedro lançou para o Jonas já deu uma ideia de seus sentimentos em relação a ele: Eu te odeio.

Marcela cansou de explicar que não era o Jonas que me agarrava, e sim eu que estava o agarrando. Mas acho que isso não ajudou muito.

Pedro suspirou e se levantou. Ele olhou para o pessoal.

– Boa noite.

– Boa noite, Pedro. – Eles disseram.

Pedro olhou para mim. Ele pegou o meu cabelo e o massageou de leve. Seus olhos estavam calmos.

– Buona notte, bella. – Ele disse em um italiano notável.

Assenti.

– É isso aí, mano.

Ele riu e largou o meu cabelo.

Pedro caminhou até a porta quebrada e se encolheu.

– Amanhã eu passo aqui e a arrumo. Desculpem-me.

– Tudo bem, Pedro. Temos a Katrina aqui. – Mamãe riu. – Nenhum ladrão ousaria entrar aqui com ela por perto.

Olhei para ela.

– Isso foi a coisa mais romântica que me disseram. Te amo, mãe.

Pedro deu uma risada e fechou a porta, a apoiando no batente.

Quando não ouvimos mais nenhum passo e a porta se fechando do outro lado da rua, Jonas me deu um tapa na perna.

– AI! – Eu gritei.

Ele parecia bravo.

– O cara te deseja boa noite em italiano, pega o teu cabelo e rola mó clima... E o que você faz? Diz “É isso aí, mano”. Pô, Katrina! – Ele jogou uma almofada na minha cara. – Você é um caso perdido!

Ri.

– O que você queria que eu dissesse? “Ah, obrigada, Pedro, você é um lindo.”, depois me jogar nos braços dele?

Todos me olharam.

– O ideal. – Eles disseram.

Revirei os olhos.

– Então vocês são babacas. Isso não existe. Quer de novo? Não existe!

Marcela bufou.

– Existe sim.

A encarei.

– Você acha que a vida é igual na Disney, Marcela? Onde as princesas nascem todas diferentes, mas de certa maneira, todas iguais? A vida não é assim: pega um pozinho mágico, joga no chão, brota lá um príncipe gostoso que te ama. Isso não existe. A vida tá pronta para te jogar no chão, te pisotear, roubar seu dinheiro e te enforcar depois.

Eles ficaram em silêncio.

– Não existe porque essa estória é “João e o Pé de Feijão”. E não é um príncipe que brota ali, é um pé de feijão gigante. – Mamãe disse.

Todo mundo começou a dar risada e eu espalmei a testa.

Camila chegou ao meu ombro e me abraçou.

– Ás vezes não é um príncipe. Ás vezes é o sapo, mesmo.

A encarei.

– E o que uma pentelha como você sabe dessas coisas?

Ela riu.

– Observações.

Abri a boca.

– Meu Deus. O mundo tá perdido.

Antes que o capítulo acabasse com a frase de sempre, Jonas correu lá para a cozinha e voltou com um envelope na mão. Ele o estendeu para mim.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

O encarei.

– Que isso?

– Abra.

Peguei o envelope com certa relutância, e quando o abri, meus olhos cegaram.

O papel era de um dourado tão forte, mas tão forte, que ele sugou a luz e rebateu nos meus olhos.

Shut paff!

Depois de um tempo, consegui ler.

Casamento: Rosa e Luís.

25/01Horário: 07h30min.

Querida Katrina, estou escrevendo isso pessoalmente porque quero esfregar na sua cara que: estou te convidando para o meu casamento! Agora sem apelidos maldosos como "encalhada". Espero-te ansiosamente e quero tirar várias fotos com você, sua pirralha mal encarada!

Um beijo, e vê se aparece!

Da sua tia que te ama, Rosa! ♥

Amacei o papel com toda a força possível e o joguei para trás de mim.

– Não... Casamento não! Tudo, menos casamento!