Lá estava eu no restaurante em mais um dia de trabalho. Mas, não era um dia como qualquer outro. Eu estava mais distraído que nunca. Na minha cabeça só tinha lugar para pensar no que faria para comemorar com o Félix o nosso aniversário de casamento.

Quatro anos! Já faz quatro anos! Nem acredito... Há mais de quatro anos eu sou imensamente feliz por ter meus maiores sonhos realizados!

Enquanto pensava nisso eu sorria. Sorria à toa. Bom, para os outros era à toa, para mim, não. Tinha motivo, todos os motivos do mundo para sorrir, para me sentir realizado e feliz.

Eu seguia fazendo meu trabalho, mas não parava de pensar em tudo que acontecera em minha vida nos últimos quatro anos. Pensava em meus filhos lindos e saudáveis, pensava no homem que eu amo e que me ama e no quanto somos apaixonados um pelo outro e pela vida que temos, e percebia que só tinha a agradecer. Agradecer à vida, ao destino, aos céus, às forças do universo, a todos os santos, a tudo que pudesse agradecer por ter feito o Félix cruzar meu caminho.

Eu não via a hora de chegar em casa e ver meus três amores novamente. Cada hora que passava no restaurante era um pouquinho mais de saudade que se instalava em meu peito. E, quando estava próxima uma data importante, pronto! Aí eu contava cada segundo para estar com meus amores e comemorar...

Eu só ainda não sei como vou fazer isso...

Hum... Eu preciso pensar em algo... Claro que a ocasião pede algo romântico, só pra mim e pra o Félix, mas também não quero deixar de comemorar com meus filhotes lindinhos... Afinal, há quatro anos que o Félix é também pai deles, isso merece comemoração...

Meu sonho... Uma família completa... Tudo que eu sempre quis!

É nessas horas que mais me distraio! Quase me cortei com a faca de peixe imaginando o que fazer! Ah... O que fazer? O que fazer? Ai... Eu estava num dilema!

Fui servir mais uma mesa quando vi a porta do restaurante abrir, mas não vi ninguém entrar. Olhei rapidamente, estranhei e voltei ao balcão. Fui pegar outro barco de sushi e servir outra mesa, quando senti um abraço na perna...

Na perna? Pus a comida na mesa dos clientes e olhei pra baixo... Acho que dei o sorriso mais bobo que podia e fiz a maior expressão de surpresa...

– Fabrício?!

Os clientes que eu servia olharam para meu pequeno... E, provavelmente para minha expressão surpresa!

– É seu filho?Perguntaram.

– É, é sim!Respondi com o maior orgulho.

Meu orgulho só aumentava enquanto as pessoas na mesa olhavam para o Fabrício, brincando com ele e dizendo o quanto ele é lindo! Ele também é pura simpatia com todo mundo... Ah, mas acho que isso puxou a mim né?! O Félix sempre diz isso...

O peguei no colo. – Com licença, gente! Bom apetite!

Fui até a porta perguntando ao Fabrício: – Quem te trouxe aqui, mocinho? Posso saber?Ele só sorria pra mim com um sorrisinho de quem está escondendo uma travessura.

Antes que ele me respondesse qualquer coisa, Félix apareceu com Jayme e os dois me assustaram... Embora eu já esperasse encontrá-los aqui, afinal, Fabrício não podia ter vindo sozinho!

O que eles vieram fazer no restaurante? Uma surpresa maravilhosa! Nem preciso dizer que adorei quando o Félix me contou o motivo daquela visita né?!

Eu o olhava e não conseguia acreditar... Um minuto atrás eu estava num dilema, e agora, parecia que ele havia lido meus pensamentos...

...

– Vai lá, Fabrício! Olha o papai ali, vai...Abri a porta para Fabrício entrar e me escondi com Jayme.

Ficamos esperando o carneirinho vir com Fabrício. Eu fiquei imaginando logo a cara que o Niko fez quando o viu. Imaginei também a cara dos clientes vendo nosso pequenininho tão lindo entrar sozinho no restaurante... Tão lindo... Também, é a cara do carneirinho...

Opa! Lá vêm eles...

– Buu!Eu e Jayme aparecemos para dar um sustinho no Niko. Fabrício só ria.

– O que vieram fazer aqui? – Ele perguntou sorrindo, com aquela carinha de surpresa.

– Ah carneirinho, nós decidimos almoçar hoje na companhia do melhor chef da região!

Ele já estava com aquele sorrisinho lindo e aquele olhar de quem ia me agradecer depois... Que eu adoro! Aí, Jayme resolveu contar o que realmente havíamos planejado.

– Pai Niko, nós viemos almoçar aqui hoje porque o pai Félix disse que tá chegando o aniversário de quatro anos que nós nos mudamos pra nossa casa, aí a gente queria saber se você pode sair com a gente depois do almoço pra um passeio!

Quando o Jayme lhe contou o que fomos fazer no restaurante, quem só sabia sorrir era o carneirinho! Ele é previsível... Eu sabia que ele ia adorar essa surpresinha! Ele ama essas coisinhas bobas românticas... Mas, no fundo tenho que admitir que eu também adoro fazer essas coisinhas bobas românticas pra ele... Só pra ver a carinha dele, essa carinha linda de satisfação! E quando eu faço essas coisas, ele suspira de um jeito, que é como se me tirasse todo o fôlego, mas, eu continuasse bem mesmo assim, muito bem!

Entramos...

...

Eu fiquei tão entusiasmado com aquela surpresa! Belíssima surpresa! Era tão lindo ter toda minha família ali, no restaurante.

Acomodei todos na mesa especial, em que se sentam no chão... Meu Fabrício bagunceiro foi logo se jogando nas almofadinhas que enfeitam aqui...

– Papai Niko, tô com fome! – Ele não perdeu tempo, foi só sentar que já fez biquinho e reclamou.

– Ah carneirinho, ele está com fome desde que saímos de casa... Puxou a você, né?! – Logo notei pelo tom da voz de Félix que ele vinha com mais uma de suas piadinhas, provavelmente, sobre meu peso.

– O Fabrício puxou a mim sim, tá! Ele é igualzinho a mim!

– Ih, então vou colocá-lo desde cedo numa academia! – Eu conhecia muito bem aquela cara de cínico fazendo suas piadinhas indiretas.

Eu o encarei, mas já nem ligava, sabia que ele fazia aquilo só pra me provocar... E, enfim... Eu adoro ser provocado pelo Félix!

– Vou preparar o que os três homens da minha vida mais gostam! Já volto!

Saí para o balcão, achando incrível como Félix podia ter essas ideias, tão simples e tão belas. Coisas singelas que me deixam emocionado. Vir com nossos filhos só para almoçarmos todos juntos, os quatro, comemorando nossos quatro anos como casal, como família... Eu não tinha palavras para explicar. Eu ia cozinhar com muito mais amor agora, afinal, ia fazer o que amo pra quem mais amo.

...

Carneirinho foi para o balcão e eu fiquei da mesa olhando para ele, ao mesmo tempo, tentando ficar de olho nos meninos. Jayme já é um adolescente, se comporta bem, mas Fabrício, não para quieto. É incrível como não fez nem cinco anos a criaturinha e já se parece tanto com o pai. Observando ele trabalhar e em casa também, pude descobrir o quanto o carneirinho é inquieto... Ao contrário do que aparenta... E, claro, eu adoro isso!

Fiquei distraído quando Niko percebeu que eu estava olhando para ele e deu um sorrisinho pra mim... Aquele sorriso que me tirava o fôlego, que me deixava nas nuvens... Nem percebi que Fabrício já estava aprontando na mesa...

Jayme riu e chamou minha atenção...

– Pai, olha o que o Fabrício tá fazendo!

Eu olhei e fiquei curioso. Fabrício, danado, pegou o enfeite de barquinho que tem nessa mesa e o cardápio...

– Tá fazendo o quê, Fabrício? – Perguntei e ele logo começou a me explicar...

– Olha, papai Félix, vou botar um peixe aqui... Outro peixe aqui... Esse peixe é daqui... – Ele ia me mostrando os peixes no cardápio e ia apontando o lugar no barquinho em que ia, em sua imaginação, colocar cada um.

Uma ideia me veio à cabeça que me fez rir... E pensar. Será que o Fabrício seria tão parecido com o carneirinho assim? A ponto de herdar o mesmo talento gastronômico? Comecei a imaginar, no futuro, o Fabrício bem parecido com ele, com uma roupa de chef, fazendo as mesmas coisas... E, nós dois, bem mais velhos, vendo nosso filho ser um chef de sucesso... Minha imaginação voou longe!

Só acordei quando Niko chegou com a comida. Eu tinha que contar isso pra ele, ou melhor, fazer os meninos contarem... Já até sei que ele vai ficar todo emocionado, esse sentimental!

...

– Pronto, aqui! Bom apetite, meus amores! Espero que gostem...

– Como não vamos gostar se foi você quem fez, carneirinho?

Ah... O Félix sabe que eu me derreto todo quando ele diz essas coisas! Ele só faz isso pra me deixar louco, eu sei... Ele adora ver minha cara de bobo apaixonado pra ele... Eu faço mesmo, não posso evitar! Acho que o restaurante inteiro notou!

Voltei para pedir para meu assistente cuidar de tudo pelo resto do dia. Não sabia o que eles haviam planejado para esse tal passeio, mas sabia que queria passar o dia inteiro com eles. Fui ao banheiro dos funcionários, troquei a roupa de chef e saí com minha roupa normal, pronto e entusiasmado para curtir um dia em família. Voltei, enfim, para a mesa para almoçar com meus três lindos.

– Estão gostando?

– Hum... Você ainda pergunta, carneirinho?! Isso aqui tá ótimo!

– Que bom, Félix! Eu tô adorando ter vocês aqui! – Notei que Félix estava rindo com os meninos, mas, um tanto pensativo... – Vocês estavam conversando alguma coisa antes de eu chegar?

– Não, não carneirinho... Era o mini-carneirinho aqui que estava fazendo bagunça, só isso!

– Hum... O quê que esse meu Fabrício estava fazendo, hein?! – Fiz cócegas no meu lindinho enquanto tentava descobrir o que ele havia aprontado dessa vez. Estava com uma carinha de sapeca... Mas, na verdade, isso era normal...

Comecei a ajudar meu pequeno a comer e ele me apontando o que queria.

Félix me olhou, nos olhou... E riu! Não entendi!

– Niko, definitivamente, o Fabrício puxou a você!

– Eu sei! Por que fala com tanta convicção?

...

– Fala o que seu irmão estava nos ensinando aqui, Jayme!

– Pai Niko, o Fabrício estava mostrando como fazer um barco de sushi igual aos que você faz aqui no restaurante! O pai Félix e eu achamos que ele vai ser chef igual a você!

Eu estava achando uma graça, mas, quando vi a expressão do carneirinho e aqueles olhinhos verdes brilhando quando Jayme acabou de falar, eu até parei de comer. Eu devo ter salgado a santa ceia pra ter um marido tão óbvio? Vi tudo quando ele levou a mão à boca e ficou com as bochechas rosadas como se fosse chorar. Claro! O carneirinho é um poço de sentimentalismo! Ele se emocionou só de pensar na possibilidade do Fabrício ter herdado o talento dele.

...

Me emocionei só de imaginar que o Fabrício pode, um dia, virar chef como eu. Seguir minha carreira, compartilhar do meu sonho, dar continuidade ao negócio da família... Ai, que emoção!

– Vocês acham mesmo? – Perguntei, mas logo notei que Félix já estava quase rindo da minha cara.

– Ai ai, achamos sim, carneirinho! Mas, calma, tá! Ele pode ter puxado a você, mas ainda tem muito chão pela frente pra saber o que quer da vida!

Félix estava coberto de razão... Pra variar! Mas, seria tão lindo ver o meu Fabrício se tornando chef, sendo reconhecido, criando pratos novos, e eu e o Félix velhinhos vendo nosso filho crescer e progredir...

Mas, respira Niko! Respira! Vai com calma! Não deixa a imaginação voar muito alto porque o Fabrício só tem quatro aninhos e, como o Félix disse, muito chão ainda pela frente! Meu menininho tem muito tempo pra descobrir o que quer...

Já, meu Jayme, está crescendo. Já fez treze anos, meu garoto! Eu o olhava, comendo, tão comportado, tão direito... Tão diferente de quando ainda gostava de ser chamado de Jayminho, que comia e se sujava todo...

– E você, meu filho? Você já sabe o que gostaria de ser quando crescer?

Minha pergunta rendeu uma resposta que me deixou emocionado... De novo! Eu sei que sou sentimental demais! Mas, com certeza, Félix se emocionou mais que eu dessa vez!

...

Me arrepiei quando ouvi a resposta de Jayme...

– Eu já pensei e... Eu tenho muita vontade de ser médico!

Médico... O Jayme quer ser médico! Médico como o papi soberano, como toda minha família... Menos eu, claro! Mas... Me fez tão bem saber disso! E eu que, em outras épocas, já quis ordenar que o Jonathan estudasse medicina... E o Jonathan tá aí, já quase com o diploma de arquitetura em mãos e é tão bom nisso. E, agora, Jayme, meu filho, o filho que eu nunca pensei em ter, o filho que o carneirinho me deu, quer realmente se tornar médico!

Que orgulho, meu filho... Eu vou fazer o possível e o impossível para você realizar esse sonho!

Nossa! Quase chorei! Mas, não sou tão sentimental quanto o Niko... Por falar nele, ele está olhando pra mim... Ah, acho que percebeu como eu fiquei depois dessa resposta do Jayme né?! Vou encará-lo e dar com os ombros, fingindo que não tô nem aí! Se bem que não ia adiantar de nada, o Niko parece que vê através dos meus olhos, me vê por dentro... Vê o que eu realmente sinto... Ah! Pode dizer o que quiser, carneirinho, fiquei emocionado mesmo! Pronto, falei... Ops! Pronto, pensei!

...

Fiquei olhando pra o Félix quando ele deu com os ombros, tentando fingir que não tinha se emocionado com a resposta do Jayme. Ah! Como se eu não o conhecesse suficientemente bem pra saber o que ele está sentindo!

Voltamos a comer... Tentei fazer o joguinho de transmissão de pensamento. O que ele estaria pensando? O que estaria se passando por essa cabecinha cheia de criatividade? Ah, Félix... Não é só sobre a resposta do Jayme, eu sei que você se emocionou, não preciso ser adivinho pra isso, mas o que quero saber agora é... O que o senhor está planejando para nosso aniversário de casamento?!

...

Acabamos o almoço, saímos do restaurante e eu vi que o carneirinho já não se aguentava mais de curiosidade.

– Vai, Jayme, conta logo para seu papi carneirinho aonde vamos!

– Pai, o pai Félix disse que ia levar o Fabrício e eu para assistirmos um filme na sala de cinema 4D do shopping, aí a gente resolveu vir buscar você para ir também!

– Ah, que fofos! Claro que quero ir! Depois, a gente pode passear no shopping...

– Ou... No mar... De lancha! Que tal?! – Contei logo a outra parte da surpresa que sei que ele adorou. Essa nem os meninos sabiam.

– Oba, pai! Eu gosto de andar de lancha! Valeu! – Jayme me abraçou agradecendo. Fabrício batia palminhas no colo do carneirinho.

Ah, como eu adoro ser pai desses meninos... Amo essa vida!

...

Félix, os meninos e eu passamos o resto da tarde no cinema do shopping. Depois, fomos ao local onde ele havia alugado uma lancha para nós.

Infelizmente, nem tudo sai como a gente planeja...

Coitados! O Félix e o Jayme queriam tanto fazer esse passeio! Mas, todos nos decepcionamos quando chegamos e nos deram a má notícia...

– Eu devo ter secado o Mar da Galileia pra você vir me avisar agora, de última hora, que a lancha que eu aluguei deu defeito! E não tem outra?

– Não, senhor! Mas, se puderem esperar, daqui a duas horas tem outra lancha chegando e...

– Não, esquece! Da próxima vez sejam mais competentes e avisem com antecedência... Se bem que eu acho que não terá próxima vez, com licença!

Félix saiu zangado. Pegou na mão de Jayme e no meu ombro para irmos com ele.

– Félix, amor, não precisava ficar tão zangado! Acho que também não é culpa dos que alugam...

– Pode não ser, mas eles tinham que avisar antes né, Niko?! São um bando de irresponsáveis! Eu queria mesmo fazer esse passeio com vocês... Mas, deixa pra lá... Quem sabe, outro dia...

Fiquei com dó dele...

Eu preciso fazer alguma coisa pra ele não ficar de baixo-astral!

...

Voltamos pra casa já que minha surpresa tinha sido arruinada. Por mim e pelo Niko não tinha problema, nem mesmo pelo Fabrício, que já se contentava só de ter visto o filme no cinema, mas eu fiquei decepcionado mesmo pelo Jayme. Esse garoto gosta tanto de água, de coisas relacionadas ao mar... Esse passeio seria melhor pra ele que pra qualquer um de nós.

– É... Não fica assim não, meu filho... Olha, eu juro que um dia eu vou comprar um barco enorme só pra você!

Ele deu um sorriso pra mim e só aquele sorriso já me alegrava outra vez.

– Tudo bem, pai... Eu posso ficar um pouco na piscina, então?

– Claro, filho! Fica até a hora do jantar, tá!

Ele sorriu de novo e entrou correndo em casa. O carneirinho vinha logo atrás de mim com Fabrício.

– Você ouviu o que você disse, Félix?

– O quê que eu disse?

– Que ia comprar um barco enorme só pra ele?!

– E? Quem sabe, um dia, não compramos um barco enorme mesmo pra o Jayme?! Ele gosta tanto dessas coisas, carneirinho!

Fabrício se pronunciou, cortando nossa conversa.

– Eu também gosto de barco!

– Gosta? De que barco você gosta, hein? – Perguntou Niko pra ele. Embora, eu já estivesse prevendo a resposta do Fabrício.

– Do barco que você faz!

Rimos... E não é que eu acertei?!

...

A noite foi tranquila. Acabamos ficando os quatro na piscina até perto da hora do jantar, quando eu saí pra ajudar a Adriana.

Mais tarde, eu deixei o Félix na sala assistindo TV com os meninos e fui rapidinho fazer uma pesquisa na internet. Queria ter certeza de uma coisa, pois já tinha uma ideia do que fazer para o Félix para comemorar nosso aniversário de casamento, só tinha que ter certeza.

– Hum... Deixa eu ver... Aniversário de quatro anos são bodas de... Hum... Eu sabia!

Gostei! Gostei muito! Já sei o que vou fazer...

...