Félix & Niko - Dias Inesquecíveis

Apostas de Verão - parte 1 - Aloha Au Ia 'Oe


Félix e Niko estavam na cama naquele fim de tarde de segunda-feira se divertindo. Não do jeito que geralmente se divertiam, mas de outra maneira. Vendo fotos de grandes dias inesquecíveis que haviam passado juntos.

— Olha... A gente em Portugal. – Félix mostrou o álbum das fotos que tiraram por Lisboa, Sintra, Açores, Ilha da Madeira...

— Oh, que lindo!... Essas fotos ficaram ótimas.

Algumas estavam em formato digital, outras, mais especiais, Niko fez questão de colocar em papel para formar um belo álbum.

— Ficaram sim. – Félix confirmou. – Lembra tudo que fizemos?...

Niko sorriu e deitou a cabeça em seu ombro. – Foi muito bom, não foi?

— Foi incrível, carneirinho.

Niko deu uma risadinha relembrando os bons momentos.

— Lembra que você comprou aquele chapéu e ficou parecendo um príncipe? Nós andamos de carruagem... Foi tão mágico...

— Claro que lembro, você guarda aquele chapéu até hoje.

Niko riu e deu-lhe um selinho. – É que eu adoro te ver como meu príncipe. – Félix passou um braço em volta de seu corpo.

— Sabe o que eu nunca vou esquecer? Você entrando comigo no quarto, me carregando. Você era um carneirinho bem vitaminado naquela época!

— E continuo sendo, ora!

Félix riu. – Isso é, não posso negar.

— Amor... E os morangos com chocolate, hã? – Indagou com um sorrisinho malicioso.

— Ah! Como esquecer? Você estava faminto àquele dia.

— Estava mesmo. Ainda mais quando fomos tomar banho de mar.

— É, você estava mesmo com fome de mim...

Niko riu dando um tapinha nele.

— É a verdade, nada mais que a verdade. – Félix completou.

Niko levantou da cama e pegou outro álbum muito especial.

— Olha esse... São as fotos da nossa lua de mel.

— Hum... A melhor parte do casamento.

— Félix! Falando assim até parece que só gostou da lua de mel depois desses anos todos. – Niko fez charme fazendo bico como se tivesse ficado magoado.

— Criatura, não faz essa carinha, você sabe muito bem que não foi isso que eu quis dizer.

— Então o que foi que você quis dizer?...

Félix deu uma gargalhada, pois amava ver seu amado carneirinho fazendo manha.

— Carneirinho, chega, vai... Pelas contas do rosário, sabe que eu não resisto quando você faz isso. O tempo passa e você continua sendo um carneirinho dengoso.

— Posso estar com a idade que for, vou ser sempre assim.

— E eu adoro isso! – Riu. – Tudo bem, eu retiro o que eu disse da lua de mel. Quer que eu seja romântico? Ok... – Félix pegou em suas mãos. – Carneirinho, meu querido, meu amor, cada dia... Não, cada minuto, cada segundo, cada instante do espaço-tempo que passo a seu lado é sempre um dos melhores momentos da minha vida.

— Gostei disso. – O loiro abriu um largo sorriso.

Continuaram vendo as fotos. Das da lua de mel passaram para um álbum ainda mais especial, o que guardava lembranças do crescimento dos filhos.

Vendo as poses, mais graciosas impossíveis, que seus pequenos faziam ambos se emocionaram.

—... Nem parece que faz todo esse tempo já, né? – Félix comentou num suspiro.

— Pois é, passa rápido. Olha há quanto tempo já estamos juntos, meu amor. Acredita nisso?

Suspirou. – Às vezes não.

— Não acredita?

— Sei lá, às vezes, eu não consigo acreditar em como tudo isso aconteceu na minha vida... Como eu consegui chegar até aqui... – Olhou apaixonado para o rosto de Niko. – Como encontrei você, meu carneirinho.

Niko acariciou seus cabelos e disse: - Tinha que ser eu, Félix.

Félix acariciou seu rosto. – Claro que tinha! Eu não conseguiria viver com mais ninguém, Niko. Nem ninguém teria mudado tanto minha vida como você.

— Eu sei que mais ninguém poderia ser para você o que eu sou, Félix. – Afirmou.

Félix riu com a segurança com que o loiro lhe afirmara. – Você está ficando tão modesto, Niko...

Niko sorriu de volta. – Eu só digo o que sei. E eu sei que somos destinados um ao outro.

— Sabe que a cada dia que eu passo ao seu lado eu tenho mais certeza disso? Que o destino existe... Essa coisa de alma gêmea...

— Oh, Félix, eu tenho essa certeza desde a primeira vez...

— Tá falando da nossa primeira vez? Quando pedi pra dormir na sua casa? Por que eu sei, depois disso você jamais poderia me esquecer.

Niko riu. – Não, bobo. Muito antes disso.

— Muito antes? – Se surpreendeu. – Tipo... Desde que você começou a me paquerar?

— Não, Félix. Muito antes.

— Quando você me viu pela primeira vez?

— Antes. Bem antes.

Já estava ficando impaciente. – Quando, criatura?

— Desde que você me salvou... Quando eu era criança.

Félix lembrou que certa vez, na época em que namoravam, ele contou a Niko sobre um dia em que era ainda um garoto e salvou um menininho menor que havia caído num buraco. Esse menininho era justamente o seu amado carneirinho.

... ... ...

— Você não sabe como aquele garotinho ficou, carneirinho... Assim que eu o puxei, ele me abraçou, eu o afastei e saí andando, mas ele agarrou minha perna, eu mandei: me solta, garoto! Ou me larga ou eu te chuto para dentro do buraco de novo! Ele me soltou e esfregou os olhinhos e...

Niko, que estava no sofá até então, ouvindo atentamente a história, foi ao chão agarrando as pernas de Félix, emocionado.

— O que deu em você, carneirinho?!

Então, Niko completou:

— E... O menininho esfregou os olhos e olhou para você e sorriu... Sorriu dizendo: obrigado por me salvar, menino! E, você passou a mão na cabeça do menininho lhe assanhando os cabelos e indo embora, deixando aquele menininho lá, olhando para você sem nem saber quem você era...

Félix não precisou mais perguntar como Niko sabia o resto da história, pois já havia entendido o que o loiro concluiu, dizendo:

— Félix, esse menino que você salvou... Era eu!

... ... ...

— Eu me lembro... – Félix respirou fundo, pois a emoção sempre lhe voltava quando lembrava esse fato.

— Você me salvou, Félix. Mais de uma vez. Por isso que eu sempre digo que você é meu herói.

— E você, hein? Você que me salvou de mim mesmo? É o quê?

Niko ergueu os ombros e respondeu:

— Acho que sou só... O amor da sua vida.

Félix abriu um largo sorriso e o abraçou. – Claro que é! Eu te amo muito, muito, muito! – Começou a distribuir-lhe beijinhos no rosto, na boca, no pescoço e logo fez a proposta:

— Carneirinho... Por que você não vai fechar a porta, hein?

— Pra quê? – Encarou-o sorrindo.

— Como pra quê? O que você acha que eu vou fazer trancado com você no quarto? Jogar dominó?

Niko riu balançando a cabeça em negativo. – Você não tem jeito...

— E aí, carneirinho, quer?

— Não.

— Como não?

— Isso não é hora.

— E tem hora pra isso, criatura?! A melhor hora é quando estamos a sós!

— Não, Félix! Nosso filho pode chegar a qualquer momento.

— Por isso que sugeri trancar a porta, né carneirinho? Dã...

Niko voltou a olhar os álbuns deitando na cama de bruços. – Não, Félix, agora não! Vai tomar uma água gelada porque não vamos fazer nada agora.

Félix engatinhou por cima dele e falou ao seu ouvido.

— Vamos, eu te deixo escolher...

— Félix! Já disse que não. Se aquieta! Ora... Que fogo!

Félix levantou e olhou para o lado como se mexesse nas unhas. – Você nunca reclamou do meu fogo.

Niko deu um sorriso malicioso e falou: – Félix... Ninguém reclama da fartura.

Félix riu alto. – Adoro! Carneirinho ousado! – E voltou para a cama deitando ao seu lado. – Tudo bem, vou esperar para mais tarde.

— Acho bom. – Niko lhe deu um selinho. – É bem melhor quando você fica na vontade.

— Se prepare.

— Eu nasci preparado.

Riram e trocaram outro beijo, voltando a ver as fotos.

— Então... Quer dizer que você gosta de mim desde que eu te salvei é? Você não era muito novinho não, carneirinho?

— Ah, eu era. Eu nem lembro direito do seu rosto, de como você era quando te vi, mas alguma coisa em mim dizia que eu ia te reencontrar um dia.

— Como você tinha tanta certeza?

— Félix, há um provérbio na sabedoria oriental que diz: “um encontro é um acaso, mas um reencontro é destino”. Quando pensamos que estávamos nos conhecendo, já estávamos nos reencontrando, meu amor.

— É. Mas, a gente nem suspeitava.

— Mas, eu me apaixonei mesmo assim, não foi?

Félix sorriu. – Eu também.

Niko retribuiu o sorriso. – E desde aquele dia que eu soube que você era aquele menino que me tirou do buraco, eu passei a acreditar de verdade em uma lenda que eu adoro e que fala de amor e de destino.

— Que lenda?

— É assim... Há uma lenda oriental que se chama Akai Ito. Akai Ito significa fio vermelho. Segundo a lenda existe um fio vermelho invisível aos nossos olhos, mas que conecta as pessoas que estão destinadas a conhecer-se. Esse fio pode esticar, emaranhar, mas nunca se quebrar. Porque as pessoas ligadas em cada ponta desse fio se encontrarão um dia, independentemente do tempo, lugar ou circunstâncias.

Félix sempre ficava olhando fundo nos olhos do seu amado carneirinho quando ele falava coisas assim. Era sua forma de procurar como cabia tamanha perfeição àquele ser que era a razão de sua vida.

Niko, por sua vez, sabia os pensamentos de Félix quando este ficava fitando-o assim.

— Viu, Félix? Vê as circunstâncias nas quais nos encontramos e nos reencontramos? Eu não tinha mais por que duvidar... Você é meu destino.

— E você é o meu. - Murmurou.

— Sou...

— É né? Quando eu achei que estava perdido... Achei a outra ponta do fio.

Niko sorriu e eles se beijaram apaixonadamente. Depois, mais juntinhos, voltaram a ver as fotos e recordar...

— Ah, ah! Olha o que eu achei aqui, carneirinho!...

Félix lhe mostrou um cartão de memória o qual colocou no tablet.

— O que tem nesse?

— Eu sei exatamente o que tem porque é uma das minhas coleções favoritas. – Félix levou um dedo à boca fazendo charme. – Eu gosto de ficar vendo, sabe... Principalmente quando você não está em casa.

— Quando eu não estou? – Cruzou os braços. – Félix, que fotos você tem aí?

— Calma que não é nenhuma G magazine. Mas, é quase.

— Félix...

O moreno virou a tela do tablet para ele e Niko se surpreendeu ao ver que eram fotos dos dois numa viagem de barco que fizeram para comemorarem o aniversário de dez anos de namoro. Muitas das fotos eram bastante íntimas.

— Félix, não acredito! Eu pensei que você tivesse excluído essas fotos!

— Carneirinho, nem que eu tivesse afundado a arca de Noé para apagar tão belas fotos, faça-me o favor!... Olha, as minhas favoritas são as de quando você pagou a aposta que te fiz.

— Você e suas apostas... – Riu ruborizado.

... ... ...

— O que está achando de passar quarenta dias e quarenta noites aqui comigo, hein? – Niko perguntou.

— Maravilhoso, meu capitão! – Félix brincou batendo continência já que Niko estava vestido de capitão.

— Hum... Como está obediente esse meu marinheiro. – Niko comentou aproximando-se do marido cheio de malícia.

— Eu faço tudo que meu capitão me mandar.

— Faz é?

Félix confirmou com a cabeça.

— Hum... Eu não sei o que quero agora, Félix. Alguma ideia?

— Eu tenho várias ideias, carneirinho. Mas, você é o capitão, você manda.

— Então... Vamos voltar lá pra dentro? – Indicou a entrada para o interior do barco. – Aproveitar o balanço do barco. Que tal?...

— Hum... Não. A mesma coisa de novo? Não. Estamos sozinhos aqui no meio do mar, Niko, você pode ter uma ideia melhor.

— Ah, o que você sugere?

Os olhos de Félix brilharam. – Bom... Eu sugiro uma troca.

— Uma troca?

— Você já foi o capitão por muito tempo. Eu aposto que eu seria melhor capitão que você.

— Ah, fala sério! Você quer ser o capitão?

— Quero.

— Está bem. – Niko pôs o quepe de capitão nele. – Pronto. Agora você manda.

— Ótimo! – Félix abriu um sorriso malicioso. – Eu quero ver, carneirinho... O quanto você é audacioso.

— Audacioso? Como assim?

— Ousado você é. Quero ver até onde você chega para me satisfazer, meu querido.

— Ainda não tô entendendo, Félix. O que você quer de mim?

Félix riu. – Ah, o que eu quero você sabe muito bem.

— Félix...

— Mas... Eu vou fazer uma pequena aposta. Se você cumprir, você volta a ser o capitão e pode me mandar fazer o que você quiser, eu serei seu marinheiro obediente, mas se não cumprir, eu continuo sendo o capitão pelo resto da viagem e você vai ter que me obedecer.

— Ok. É um desafio? Eu aceito. O que você quer que eu faça?

Félix mordeu os lábios imaginando sobre o que pediria.

— Eu aposto que você não fica pelado aqui no barco.

— O quê? Mas, eu não já fiquei?

— Não, você ficou lá dentro. Eu estou falando aqui em cima...

Niko ficou boquiaberto. – Aqui? Endoidou, Félix?

— Não. É um fetiche. E o que tem? Estamos em alto-mar, ninguém vai ver, a não ser que tenha um submarino coreano nos vigiando.

— Ai, Félix...

— Vai, Niko, eu quero fazer um ensaio sensual com você. Não vejo cenário melhor, é a oportunidade perfeita. Se você topar eu vou chamar esse barco de Jardim do Éden.

— E se eu não topar?

— Aí eu continuo sendo o capitão e você ainda fica de jejum.

— De jejum?... – Niko logo entendeu. – Ei! Ah, não!... Que nada, espertinho, se eu ficar você fica também.

— Eu sei né, carneirinho? Então, não vamos perder tempo, já que estamos comemorando nossos dez anos de namoro, vai, tira tudo. Adoro te ver fazendo strip-tease.

— Sério, Félix?

— Seriíssimo, criatura! – Félix lhe segurou forte pela cintura e levou as mãos às suas nádegas, apertando-o. Ele sabia que Niko adorava isso. - Eu pareço estar brincando?

Niko lambeu os lábios e aceitou o desafio. – Ok, Félix... Eu não sou de fugir de apostas.

O loiro começou a tirar a roupa encarando provocativamente o marido que ia ficando cada vez mais animado.

Algumas horas depois, após uma manhã de sexo aproveitando cada cantinho do barco e um tempo para descansarem, Félix tirava fotos do seu amado carneirinho. Fotos bastante reveladoras.

— Agora faz a pose do Titanic, Niko... Isso!

Niko fazia poses enquanto Félix se deleitava.

— Já chega agora, Félix. Já ganhei.

— Você já ganhou sim, aliás, já ganhou muita coisa hoje. Agora deixa eu tirar mais fotos, vai, fica de costas e põe uma perna acima como se fosse subir aí. – Félix apontou um cantinho do barco.

— Depois você vai querer o quê, que eu dê uma de pequena sereia e pule na água?

— Olha, não seria má ideia...

Niko o encarou com uma expressão séria. Félix nem ligou, continuou brincando.

— Mas não, carneirinho, o que estou vendo não é nem pequeno nem de sereia. - Riu. - E também já tenho fotos suas na banheira e na piscina, não preciso.

Niko se recusou. – Não, Félix, já deu, já chega, cansei!

— Ah, carneirinho, não para!... Nós estamos aqui comemorando, no meio desse mar, só nós dois... Você não vai ficar chateado comigo vai?

Niko não respondeu nada, só entrou no barco para se vestir. Félix foi atrás e quando o loiro estava vestindo a calça, que foi a primeira peça que achou no meio da bagunça que fizeram, Félix o abraçou por trás encostando seu corpo em suas costas.

— Carneirinho, não, não se veste agora... Você é tão lindo...

— Me solta, Félix. Estava divertido até certo ponto, mas tudo tem limite.

Félix não se deu por vencido. Continuou abraçando seu carneirinho, beijando-o o pescoço, pressionando seu corpo contra o dele. Niko pegou a camisa e bateu no braço dele.

— Quer se divertir? Arruma uma G magazine.

— Não preciso, tenho suas fotos pra isso.

— Não seja cínico! Você vai apagá-las, viu?

— Ah, mas nem que eu tivesse roubado as tábuas dos mandamentos eu apagaria fotos como essas! – Félix encaixou mais seu corpo ao do loiro recostando a cabeça em seu ombro e acariciando seu peito. – Eu gosto de admirar o que é bonito, Niko. E você é o que há de mais bonito na minha vida.

— Você é muito... Ai! Nem sei! – Niko não parecia mais tão chateado.

— Você sabe sim... Eu sou muito bom.

— Ah, ah... E muito metido.

— Porque eu posso. – Sussurrou dando-lhe uma mordidinha na orelha, o que deixava Niko louco, e, em seguida, levando suas mãos para dentro de sua calça.

Félix sabia pela reação de Niko que ele já estava perdoado. O moreno ficou a sua frente e beijou a boca do loiro como se estivesse sedento por aquilo, mesmo os dois estando há dias vivendo uma eterna lua de mel.

O moreno foi se agachando beijando o corpo do seu amado enquanto dava um jeito da calça que ele vestira descer para seus pés.

Pouco depois, Félix ouviu, além dos gemidos baixinhos de Niko, o barulho do flash da câmera. Levantou a cabeça e indagou:

— Que é isso, carneirinho? Tirando foto logo agora?

Niko segurava a câmera e o olhava com luxúria. Com a respiração descompassada, respondeu:

— Já paguei a aposta, não é Félix? Agora é a minha vez de ser o fotógrafo.

... ... ...

— Ah, Félix, que dias foram aqueles!... – Niko comentou saudosista, mas Félix ficou calado olhando as fotos com um sorriso misterioso.

— O que foi, amor? Você ficou pensativo.

— Só estava aqui meio sem acreditar...

— Em quê?

Félix o olhou. – Dá pra acreditar que aqui nós estávamos comemorando bodas de dez anos e isso já faz anos?

Antes que Niko falasse algo os dois ouviram o filho mais novo chegando, provavelmente com amigos, fazendo uma barulheira.

— Papi! Cheguei! – Fabrício gritou.

Niko e Félix se entreolharam e Niko concluiu: - Verdade, Félix. Difícil acreditar que nosso bebê já tem quase dezessete anos.

Félix concordou com a cabeça.

— É meio difícil aceitar que estou ficando mais velho.

— Ah é... Eu lembro do escândalo que você fez quando teve que começar a usar óculos.

— Nem me lembre. Esse não foi o único motivo de eu ter feito escândalo, alías, eu não fiz escândalo nenhum, não senhor, apenas me exaltei.

— Ah, mas você ficou tão bem de óculos. Um charme...

— Posso até ter ficado charmoso, porque eu sou e não é um óculos que vai me tirar isso. Mas, bendito seja quem criou as lentes de contato que estou usando agora.

Niko riu. - Você não tem jeito mesmo.

— E com a idade só fico melhor, carneirinho, sou como um bom vinho. - Acariciou o próprio rosto e depois o rosto de Niko. - Você também é. Só fica melhor e mais gostoso.

O loiro, então, indagou:

— Por falar em idade, já pensou no que vamos fazer para o aniversário do Fabrício e para o nosso?

Félix e Niko pararam de conversar quando Fabrício chegou à porta do quarto e bateu no batente.

— Oi! Interrompo?

— Não, filho, entra. – Niko chamou.

— Ah, não, eu tô com uns amigos, a gente vai estudar.

Félix logo se pronunciou. – Estudar? Sei...

— Papi, eu adoro estudar!

— Adora, claro... Quem foi que quis tirar um ano todinho de férias depois que terminou os estudos?...

Fabrício levou as mãos à cintura. – Fui eu, papi. Ah, mas eu merecia né? Passei em tudo, eu merecia ter um bom descanso antes de entrar pra uma universidade.

— Isso quando você se decidir o que quer fazer.

— Eu já decidi, papi. Eu quero ser chef igual meu papai Niko. – Deu um sorrisinho meigo para o loiro que retribuiu.

— Puxa-saco! – Félix exclamou.

— Ciumento! – Fabrício respondeu.

— Parem vocês dois. Não disputem minha atenção. – Niko interrompeu rindo.

Fabrício deu uma risadinha. – Então... Vocês estavam sozinhos em casa... Se quiserem eu vou embora para deixá-los a sós.

Niko interferiu. – Não, filho. Imagina. Vem cá. – Levantou e o chamou para um abraço. – Vocês vão estudar no seu quarto?

— Você deixa?

— Oh, claro que deixo, meu amor. Não tem que me pedir. Vai lá ficar com seus amigos, vai.

Fabrício o abraçou. – Obrigado, papai. Você é demais! – E saiu chamando os amigos para seu quarto.

Niko voltou para perto de Félix que o encarava.

— Que foi?

— Carneirinho, eu não queria repetir como você é ingênuo, mas você realmente não ajuda.

— Por quê?

— Você acreditou mesmo que ele vai estudar?

— Não tenho por que não acreditar no nosso filho, Félix.

— Tá... Eu conheço os carneirinhos que tenho em casa.

— Você é desconfiado demais, Félix.

— E você mima demais o Fabrício. Ele estava com cara de quem está aprontando.

— Ai, Félix, ele já tem dezessete anos, deixa ele com os colegas. Que coisa!

— É justamente pela idade que ele tem que eu não confio. Mas, tudo bem. Depois não diga que eu não avisei.

...

No quarto de Fabrício...

Ele e mais três garotos viam entusiasmados algo no computador.

— E aí? E aí?

— Calma, tá quase...

— A gente vai conseguir, galera!

— Vamos ver agora... Isso!

Uma janela com uma lista se abriu.

— Procura os nomes, procura!

— Aqui... Aqui... Conseguimos! – Comemoraram aos gritos.

...

No quarto de Félix e Niko...

— Ouviu isso? – Félix indagou. – Eu disse que eles não iam estudar coisíssima nenhuma.

— Parece que comemoraram alguma coisa. O que será?

— Eu não sei, mas vou saber agora. – Levantou da cama apressado.

— Félix! – O loiro lhe segurou a mão antes que ele partisse. – Você não vai não. Não seja curioso.

— Carneirinho, eu quero saber!

— Félix! Às vezes você parece ter a idade do Fabrício. Não combina em nada com esses fios grisalhos aí, sabia?

— O quê?! – Félix levou as mãos à cintura e começou a bater o pé freneticamente no chão. – Era só o que me faltava, Niko! Será que eu fiz uma peruca com os cabelos de Sansão pra você vir falar dos meus fios grisalhos agora?! Devo lhe lembrar que eu só deixei assim porque o senhor disse que achava sexy? Pois isso vai acabar agora. – Foi saindo.

— Ei! Aonde você vai?

— Ao cabeleireiro mais próximo e só voltarei com o meu cabelo preto de novo.

— Não, Félix!... Você fica lindo assim... – Levantou.

— Pelas contas do rosário, Niko, para de mudar de opinião!

— Eu não mudei de opinião!... – Começou a rir e o abraçou. – Meu amor... Você perde a paciência muito fácil, sabia? Eu só quis dizer que às vezes você parece um adolescente e não combina em nada com o homem maduro, elegante e charmoso que você é.

Félix tentou se fazer de forte, mas logo amoleceu.

— Você sabe como me ganhar.

— Eu sempre soube. – Deu um selinho. – Agora vem, vamos saber o que tanto esses meninos comemoraram.

— Ah! Depois o curioso sou eu.

Os dois foram e bateram na porta do quarto de Fabrício que foi abrir.

— Filho...

— Sim, pai?

— O que houve aí? A gente ouviu os gritos de vocês. – Niko falou.

— Ah... É... Nós...

— Fabrício, para de enrolar e fala. – Félix mandou.

— Tá bom... Vocês vão ter que saber mesmo.

— Saber o quê, moço?

— Eu vou contar. Deixa eu só me despedir deles. Vão lá pra sala que eu conto.

Os dois foram enquanto Fabrício entrou de novo no quarto.

— Eu avisei, não avisei, carneirinho?

— Félix, vamos esperar ele nos dizer o que é. Pode ser?

Félix fez sinal de zíper na boca.

...

Depois...

— Então... Vocês sabem que eu estou indo muito bem nas aulas de surf né?... – Fabrício conversava com os pais.

— Sim, filho. – Niko respondeu enquanto Félix só escutava. – Acho ótimo que você tenha se interessado por algum esporte.

— Papai, há vários esportes pelos quais me interesso, mas... Enfim... A gente ficou sabendo que um dos ex-colegas do nosso professor está fazendo o maior sucesso pegando onda no Havaí.

— Que bom! E?

— E aí, papai, que esse cara é um super profissional e está dando aulas de graça no Havaí e ele abriu uma turma para começar daqui a alguns dias, mas só para poucos alunos selecionados, e é só durante quatro dias, é um minicurso.

— E? – Niko indagou.

— E... Bom... Meus colegas e eu nos inscrevemos.

— E?

— Adivinha?

— Eu não vou nem tentar. – Félix comentou, mas Fabrício deu a notícia.

— Eu passei!

Niko olhou para Félix e voltou para o filho. – Passou?... Como assim?

— Papai, eu passei, fui escolhido, vou fazer o curso no Havaí!

Niko se pôs de pé a sua frente. – Você vai o quê?

— Fazer o curso no Havaí.

— Vai nada!

— Mas, pai...

— Mas, nada, moço! Que invenção é essa?

— O que é que tem?

— O que tem é que você é menor de idade. – Pôs as mãos na cintura e bateu o pé no chão.

— E daí? – Repetiu o movimento do pai.

— E daí? Ele perguntou e daí, Félix?

— Perguntou. – Félix respondeu calmamente.

Niko voltou a encarar o filho. – E daí que você não vai viajar pra tão longe sozinho, Fabrício. Que tipo de professor é esse que dá essa ideia maluca a pessoas da idade de vocês...

— Até parece que eu ainda sou criança.

— Ah! Falou o ancião. – Félix comentou.

— Papi... Papai... Olha, pra começar o professor não nos deu ideia nenhuma, ele só comentou, mas disse que só os alunos maiores de idade poderiam se inscrever ou se... – Fabrício parou quando percebeu que tinha falado mais do que devia.

Ambos os pais o encaravam com uma expressão séria. Ele completou:

—... Ou se fosse menor de idade, só com autorização de algum responsável maior de idade.

Niko e Félix se olharam.

— Félix, você deu alguma autorização para ele?

— Não que eu me lembre, carneirinho, e olha que minha memória é fantástica.

— Sabe que eu também não... – Virou para o filho. – Podemos saber quem te deu autorização, Fabrício?

Ele deu uma risadinha sapeca e respondeu:

— Tecnicamente... O Jayme.

...