*
É uma sala grande. Vazia. Parece como um cômodo de uma casa, um quarto talvez. Eu estou sozinha, caída no meio do local. Ao meu lado, há uma folha, que de começo penso estar em branco. Sento-me, e pego a folha, desvirando-a. E então largo a folha com repulsa, sentindo indignação, medo e surpresa.
Uma foto, que eu não entendi bem. Mostra Armin, beijando uma garota que eu nunca vi na vida. De pele morena, cabelos longos e da cor de chocolate, a garota que Armin beijava na foto parece bonita e feliz, tanto quanto ele. Parecem estar em uma feira ou parque de diversões.
Eu me arrepio toda ao olhar para tal imagem novamente, e sinto uma lágrima escorrendo de meu rosto.
–Porque eu estou chorando? -pergunto-me, confusa. Mas não resolveu em nada, pois continuo a chorar, agora ainda mais, quase soluçando. Com raiva, pego a imagem e a rasgo no meio, rasgando-a então continuadamente, com as mãos trêmulas e chorando aos soluços. Até alguém por as mãos em meus ombros.
–Amy! Para! -pela voz, logo soube quem é, mesmo antes de me virar para dar de cara com Alexy, se ajoelhando atrás de mim.
–Alexy! Por que ele fez isso? Por que!? -abraço meu melhor amigo, com força, chorando em seu ombro. Ele me conforta, me abraçando de volta.
–Ele não fez isso Amy... Ele... Não fez...
Então Alexy se cala, e tudo que se pode ouvir na sala vazia são meus soluços desesperados, cheios de tristeza, medo, ciúme e ódio da garota que o beijava.
*
–AMY! -alguém pula em cima de mim, me acordando de meu sonho estranho. Mesmo ainda abrindo os olhos e com visão embaçada, reconheço a cabeleira azulada de meu amigo, e seu brilhante sorriso. -Acorda! Sua irmã fez café pra gente! Ah, o Armin está aqui também, veio pra ir pra escola conosco!
–Ah, ta, sim, ok. Eu já vou. -começo a me sentar, enquanto ele sai de cima de mim e se senta na ponta da cama. -Depois a gente precisa conversar agora. Pera, que? -eu bocejo, e percebo as besteiras que eu estou falando. -Desculpa, acabei de acordar...
–Relaxa! Depois a gente tem que conversar mesmo! Você tava murmurando umas coisas esquisitas enquanto dormia, e eu trocava de roupa... Algo como -ele se levanta, preparando-se para uma imitação minha de modo exaregado. -"Por que ele fez isso? Por queeeeee!!???"
–Ta, ta bom Alexy! -eu rio, meio abobada de sono, e levanto para trocar de roupa.
Alexy havia dormido em casa ontem, já que ele ficou até tarde aqui estudando comigo e fazendo tarefa, e não quis voltar pra casa em tal horário, aí ligou pro irmão avisando que passaria a noite comigo e pedindo para ele vir de manhã para irmos para aula. Bem, na verdade isso é bem comum, se você estiver achando estranho. Isso acontece praticamente todo dia.
De roupa trocada, cabelo trançado e mochila no ombro, sigo com Alexy para a cozinha, onde encontro minha irmã ainda de pijama servindo café com panquecas para ela mesma e Armin, que estava sentado na bancada, conversando com Myrella.
–Bom dia, maninha! Acordei antes de você hehe! Achei que isso merecia uma comemoração e fiz algumas panquecas! Vem cá, sentem-se! -Myr chamou a mim e Alexy para sentarmos na bancada da cozinha e comer. Largo a mochila em cima do sofá e sento-me ali então, ao lado de Armin de um lado, e Alexy sentando do outro lado com minha irmã.
–Bom dia, Amy. Dormiram? -Armin me abraça pelo ombro e beija minha bochecha, de modo amigável. Eu sorri, beijando sua bochecha.
–Bom dia Armin, e sim, dormimos. Relaxa. -eu digo, rindo. Geralmente eu e Alexy não dormíamos direito quando ele passava a noite aqui. Mas fazer o que, coisa de melhor amigo.
Após um maravilhoso café da manhã, seguimos juntos para a escola. Armin e Alexy tagarelaram o caminho todo sobre Alexy não poder ficar dormindo o tempo todo em meu apartamento, que seus pais ficavam irritados com isso, enquanto o próprio ficava resmungando que se ele não podia, que Armin então que deveria dormir comigo.
Eu sabia que ele tinha que fazer uma piadinha sobre nós dois um momento ou outro. Ele sempre faz isso.

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[Alexy: Isso não é verdade, não é sempre...
Amy: é sim, você sabe bem disso
Alexy: Mas vocês dois se amam, da nada.
Amy: Só me deixa continuar a narrar, agonia]

Chegando na escola, me despeço dos gêmeos, seguindo para uma aula diferente. No caminho, encontro Lysandre com seu bloco de notas, cantarolando algo. Chego perto dele, devagar, planejando dar um susto. Dou um pulo pronta para assustá-lo, mas ele se vira antes que eu possa fazer qualquer coisa, e me abraça, pegando-me no ar.
–Isso não funciona comigo, garota. Já lhe disse para parar de tentar me assustar. -ele diz, sorrindo, enquanto me coloca no chão, sem me soltar. Eu rio, largando-me de seus braços.
–Oi para você também, Lys! -digo ironicamente. -E não, eu nunca vou parar de tentar. Quero vingança ainda por causa daquele lance do fantasma!
–Ai, você é difícil... -Lysandre ri, me pegando pela mão para irmos à sala da nossa aula.
–Mas enfim, escutei você murmurando uma música. É alguma nova? -pergunto, com interesse. Eu adoro o fato dele e Castiel cantarem juntos. Ainda mais quando eles deixam você os ver ensaiando.
–Oh, sim. É algo no qual estou trabalhando ainda, mas pretendo terminar em breve, para mostrar ao Cas. Por enquanto, não o conte que tenho uma música nova, quero surpreendê-lo! -ele fala, todo animado, quando entramos na sala.
–Eu prometo! -concordo, e ele sorri, satisfeito, agradecendo com um aceno de cabeça e beijando delicadamente minha mão. Seguimos para as mesas do fundo, onde Castiel já está em seu lugar, do lado da janela, observando o céu. Ponho minhas coisas na carteira na frente da de Cassy, e Lysandre senta ao seu lado.
–Bom dia Castiel, tudo bem? -Lys tenta chamar atenção do melhor amigo, que ainda parecia alheio a vida. Ele dá um pulinho, como se acabasse de acordar.
–Hm? Que? Ah, oi Lys. Eu to bem, obrigada. Imagino que você também. -ele diz, ainda meio viajando na maionese. Parece que alguém dormiu bem tarde e só acordou agora.
–Sim, estou. Obrigada. -Lysandre ri, acostumado com o jeito duro de seu amigo. Eu os observo conversando, e sorrio. E então finalmente Castiel me repara por perto e dá um sorriso sarcástico.
–E aí, tábua? Beleza? -ele se inclina para perto de mim sobre sua mesa e aperta minhas bochechas. Tiro sua mão do meu rosto e rio, debochadamente. Eu odeio quando ele me chama de tábua.
–Estou bem, cabeça de tomate. E eu já sei que você também. -respondi, sorrindo ironicamente. Ele faz uma careta, logo depois aproxima seu rosto do meu e beija a ponta do meu nariz, voltando a se sentar normalmente, com o rosto corado.
O sinal toca, o professor entra, e mais uma sessão de conversa na sala começa.

Quando finalmente o sinal do intervalo toca, saio da sala apressadamente para encontrar Alexy, para conversar sobre meu sonho. Ele estava no pátio, sentado debaixo de uma árvore, com os fones de ouvido escutando música e comendo um sanduíche. Chego perto dele silenciosamente e sento ao seu lado, e o cutuco.
–Ei, Terra chamando Alexy! Tem alguém aí? -o chamo, e ele finalmente me percebe do seu lado. Ele tira o fone do ouvido e volta a colocá-lo no pescoço, e me abraça.
–Amy! Desculpa! Eu estava ocupado pensando na vida... E no meu "encontro" com o Ken esse fim de semana. -ele suspira, dando outra mordida em seu sanduíche, enquanto eu desembrulho o meu, começando a comê-lo. -Ai, eu estou tão nervoso! Será que foi uma boa ideia chamá-lo para sair? Meu Deus do céu o que eu estou fazendo da minha vida?
–Alexy, para! Vai dar tudo certo! Vocês só vão pra cafeteria estudar juntos né? Não tem nada demais nisso! Anime-se! -dou um soquinho amigável em seu ombro, e ele dá um pesado suspiro.
–Você tem razão. Estou me preocupando atoa... Eu acho. -ele balança a cabeça, esquecendo desse assunto, e se vira de frente para mim, mais curioso agora. -Mas e aí, me conta esse negócio do sonho agora! Não parece ter sido nada bom...
–E não foi mesmo. -digo, suspirando. -Eu estava em um cômodo de casa vazio, só eu e a solidão, deitada. Levantei e sentei, quando vi uma folha branca do meu lado e resolvi ver se estava mesmo sem nada, e a virei. -pauso, dando uma profunda respirada. Ele me olha com um olhar interessado, me fazendo continuar a história. -Era uma foto. Seu irmão e outra garota desconhecida se beijando. Eu fiquei abalada e surpresa, sem saber como reagir. Comecei a chorar loucamente, rasgei a foto morrendo de ódio, e aí você chegou atrás de mim, me dando consolo. Me abraçou, disse que aqui não era culpa do Armin, me acalmou... Como você sempre fez.
–Eita, que viagem. -Alexy me olha surpreso, e me abraça novamente, de modo protetor. -Olha, não manjo de significado de sonhos, mas tenho certeza de duas coisas sobre esse seu sonho. Uma é que meu irmão jamais beijaria uma garota cujo o nome não fosse Ametist Kuy, porque ele ama essa garota. E a outra é que não importa o que aconteça, eu realmente vou estar do seu lado e te fazer ficar bem, por mais grande que seja a merda que tenha te acontecido, eu juro. Esse é meu dever como seu melhor amigo, não é mesmo, Amy?
–Sim, com certeza. E eu só digo o mesmo, Alexy. -eu me aconchego em seus braços, agora mais aliviada. -Obrigada por ser meu amigo.
–Eu te amo, criatura.
–Eu também te amo, criança.
Nós dois rimos, felizes com a companhia um do outro.
Ficamos o resto do intervalo juntos, debaixo da árvore, conversando e rindo, como dois bons amigos.
O sinal do fim do intervalo bate de repente, nos assustando. Levanto, ajudando Alexy. Ele dá um grunhido esquisito.
–Ai, eu não quero aula! Quero o fim de semana logo. -insira aqui uma cara no maior estilo "pokerface" possível, já que a expressão dele é literalmente indescritível. Esse menino é indescritível na verdade.
–Sei, pra poder sair com altos crush né? -o provoco, o cutucando com o cotovelo, enquanto andamos de volta para a escola. Ele dá de língua, rindo.
–Nheee, como se você não fosse sair com o crush também. -andamos no corredor juntos, já que a nossa próxima aula era igual. -Armin me contou que vocês vão no fliperama enquanto eu estiver na cafeteria com o Ken. Ai ai, vocês dois viu!
–Ah, deixa disso, Alexy. -nós entramos na sala, nos dirigindo até o fundão da sala, sentando nas últimas cadeiras. -Sabe o que eu penso sobre isso.
–Sei sei. -ele suspira, se preparando para uma imitação exagerada minha. -"Ai eu não quero namorar agora ai eu não quero nada sério agora ai eu nem sei se gosto mesmo dele ai ai ai".
–Idiota. -cruzo os braços, com um ar de irritação, mas com um sorriso no rosto. -Sabe que eu prefiro vocês dois como meus melhores amigos né? Eu não consigo me ver sem vocês.
–Aw, que meiga! -ele faz uma cara fofa, apertando as bochechas, me fazendo rachar de rir.
A professora entra na sala do nada, com sua cara amarrada de cachorro buldogue de sempre, mandando os alunos abrirem livros e cadernos. E mais duas aulas estão começando.

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Fim do dia. Por volta de 18 horas já. Eu estou esparramada no sofá, fazendo tarefa/conversando com Alexy pelo celular enquanto ele tem ataques do coração por causa da série que está vendo com o irmão, e com a TV ligada, assistindo Doctor Who. Eu faço um monte de coisa ao mesmo tempo mesmo, normal. Eu tenho meus probleminhas.
Está tudo tranquilo, de boa. Até minha irmã aparecer de repente, correndo do seu quarto, gritando o meu nome.
–AMY AMY AMY AMYYYYY!
–QUE QUE VOCÊ QUER AGONIA?! NÃO TA VENDO QUE EU TO OCUPADA?! -grito em resposta, quando do nada ela aparece na sala e pula em cima de mim no sofá. -SAI DE CIMA CACETE!
–CALMA CALMA! -ela sai lentamente de cima de mim e eu me sento como uma pessoa normal, mas ainda meio assustada. Myrella senta do meu lado, com um ar eufórico. -Então, eu ouvi dizer que uma garota nova vai entrar na escola.
–E...? -encaro ela, confusa. O que que minha irmã achou de tão interessante nisso? Que bobagem.
–E eu queria saber se é verdade. -ela resmunga, indignada com minha cara de deboche. Dou uma risadinha e soco seu braço de modo amigável.
–Bobona. -ela dá de língua para mim, e eu continuo a falar. -Bem, sim, parece que é verdade. Ao menos foi o que Nath disse.
–Interessante, interessante. -ela sorri de modo sarcástico, me assustando.
–O que é tão interessante assim, maninha?
–Nada, nada. Só estou com a impressão... De que algo está para acontecer. -ela sorri, e me cutuca na barriga, me implicando. Começo a rir, pedindo para ela parar. Myrella me solta e levanta do sofá. -Relaxa, Amy. Não vai acontecer nada demais.
–Só desejo do fundo do meu coração que isso seja verdade. -suspiro. Ela dá um sorriso de apoio moral.
–Se você está com medo de perdê-los, para com isso. Aqueles garotos amam você, fique tranquila. É só uma novata. -Myr vem até mim e me beija na testa. -Vou dormir, boa noite.
–Boa noite, maninha.
Ela some no corredor, me deixando pensativa. Não querendo me preocupar demais, largo esses pensamentos e pego de volta o celular.
"Alexy, acha que a garota nova vai mudar alguma coisa na escola?"
"Que pergunta aleatória, Amy. Mas não, não acho. É só uma novata, não uma bruxa. Relaxa"
"Só estou com medo de que ela pegue vocês de mim. Eu não aguentaria isso"
"Ela não vai. Pelo menos, não vai ME tirar de você. Sou só seu e do Ken, somente de vocês. Não se preocupe"
"Valeu, Lexy. Te amo, viu?"
"Também te amo, boba"
Começo a rir sozinha dele, feliz. Só esse garoto pra falar essas coisas.
Após um tempo se passar, decido ir dormir, e me despeço de Alexy por mensagem. Ele fica chateado, mas me deixa ir. Sigo então para meu quarto, meio com preguiça.
Me deixo cair na cama, com sono. Largo o celular em cima da cômoda do lado da cama e suspiro. Aula, aula, aula. Algum dia eu ia acabar morrendo por causa disso, mas tudo bem, faz parte da vida.
Viro para o lado na cama, agarro o travesseiro e o abraço. Já deitada em uma posição confortável, fecho os olhos, e então ouço um miado familiar. Chino, minha gata preta, está arranhando a lateral da minha cama, pedindo para subir. Pego-a no colo e a ponho em frente à minha cabeça, a abraçando junto do travesseiro. Começo a fazer carinho atrás de suas orelhas e ela ronrona, feliz, e adormece.
Sempre que olho Chino, me lembro do dia que a adotei, meses atrás, junto de Nath. Era uma tarde depois da aula, que nem Armin ou Alexy podiam voltar pra casa comigo, pois o Alexy estava doente e ficara em casa, e seu irmão ficou junto dele. Então, sem companhia, sai da escola sozinha, até Nathaniel aparecer e me perguntar se queria companhia. Aceitei, feliz, e fomos caminhando juntos.
A algumas quadras depois, encontramos uma feira de adoção de filhotes. Apaixonado por gatos, ele saiu em direção à feira, me puxando pela mão. Mesmo que meio contrariada, eu andei com ele a feira toda. Até que vi essa gatinha, pequena, indefesa, peluda e fofa. Me apaixonei por ela a primeira vista e, com uma ajuda de Nath, eu acabei adotando-a. Agora, sempre que olho os olhos clarinhos de Chino, me lembro dos olhos de Nathaniel, feliz por me ver adotando um filhotinho.
Lembrar do representante me deixa desconfortável, de repente. Lembro-me sobre a nova aluna que iria chegar em breve. Tal situação não saía da minha cabeça, desde que Myrella comentara disso comigo. E se os meninos me deixarem de lado para dar atenção a ela? Eu não sei. Eu estou tão confusa e com tanto medo... Não quero que eles me deixem, nunca. Eles são meus melhores amigos.
Então minha respiração para por um segundo.
"E se aquela garota que o Armin estava beijando em meu sonho, for essa tal de Priya?"
Minha pulsação acelera, e logo tiro isso da minha cabeça. Não dá para saber. Eu só tenho que... Esperar. Só esperar para ver o que acontece.
Dou outro suspiro e fecho os olhos, cansada. E em poucos caio no sono.
E, a graças a Deus, dessa vez eu não sonhei.