Minha cabeça dói e gira como se tivesse levado uma bela de uma pancada bem no meio dela. Levanto-me devagar, e me deparo com um quarto praticamente vazio. Havia ali apenas uma cama, na qual eu estava deitada, um armário extremamente pequeno e uma janela, a qual não era grande coisa, mas dava para uma vista deslumbrante: pastagens verdes com poucas flores espalhadas quase uniformemente pelo enorme tapete de grama.

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As lembranças da noite passada começam a ficar mais claras na minha mente: um homem de roupas muito estranha me parou na entrada da cidade, acho que era um guarda ou algo assim, e me fez uma série de perguntas.

– De onde vem, senhorita?

– Venho do oeste meu caro senhor, estou a procura de oportunidades novas.

– Não perguntei de que direção tu vens, mas sim de onde. De que cidade tu vens, senhorita?- meu sangue gelou com a pergunta, por que diabos ele quer saber de onde eu venho?

– Venho de longe, senhor, já passei por varias cidades - menti desesperada para que ele caísse em minha falsa vida jornada - e não sei de onde venho, venho de todos os lugares a oeste, de onde vim desde nascida, senhor.

O homem alto e robusto me olhou de cima em baixo e acho que não gostou muito do que viu, então continuou o interrogatório.

– Qual o seu nome?- e, completando da forma mais dura e ríspida possivel - Completo.

– Alisha, senhor. Alisha Daskomins Fortsman. - meus musculos estavam todos contraídos pelo medo, eu estava suando frio com o interminável interrogatorio em que me meti.

O homem olhou para trás, para um outro guarda e murmurou algo indescifrável e logo se virou e se preparou para atacar, mas ficou apenas em posiçao de ameaça e, eu de defesa. Assim como meu pai havia me ensinado quando pequenina ainda.

– Quais são suas intenções aqui?- ele quase gritou, e acho que reconheceu minhas origens, não sei como, meu povo se esconde tao bem que achei que fosse impossível que alguém nos conhecessem. - Vamos, me diga quais são suas intenções.

– Já disse, meu senhor. Estou a procura de oportunidades novas. - tentei fazer com que ele acreditasse em mim, e acho que dessa vez deu certo, mais ou menos.

– Por que esta aqui? Quem te mandou? É uma das defensoras?O que o seu povo quer conosco?- acho que nós, agora eles, tem uma reputação não muito boa em relação à democracia, mas não posso afirmar nada. Só fazemos o que é preciso, pensei comigo, nunca o que nos agrada mais.

– Não fui mandada por ninguém, senhor, juro. E não sou nenhuma das defensoras de meu povo. Estou aqui para tentar escapar de meu destino. Sei que esta tudo confuso para o senhor mas, se me der uma chance, posso explicar tudo ao senhor.

Tentei explicar tudo o que se passava, mas quado cheguei no ponto crítico da historia, ele mandou dois guardas me levarem para dentro. Não sei para onde. Mas eles estavam com cara de quem não esta a fim de conversar. Me levaram pelos braços, um de cada lado, os segurando fortemente, para que eu não fugisse ou algo assim, acho. Os dois homens monstruosos me deixaram em uma ruazinha estreita e escura, onde outro homem apareceu, mais magro e baixo que os dois, não pude ver seu rosto, que estava escondido na escuridão. As duas muralhas que me trouxeram até aqui sussurravam algo para ele, que apenas acenava com a cabeça e os mandava ir, não sei para onde, com apenas uma palavra. Quando ele me dirigiu a palavra pela primeira vez em, acho eu, cinco minutos, todo o meu corpo ficou rígido, tenso. Sua voz era uma calmaria que amedrontava a qualquer um, inclusive aqueles dois brutamontes que me arrastaram até aqui.

– Muito bem, o que estava fazendo na entrada de nossa cidade? Acho que nos deve explicações, mocinha. - com quem ele acha que esta falando? Sua irmãzinha caçula? - Por que rondas nossos territórios? Tu e teu povo não estão satisfeitos com o que já tens?

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Percebo, então, um tom de desconfiança e, acho que ele deixou escapar, de medo, também. Então, quando não respondi nada, ele continuou, um pouco menos paciente, desta vez.

– Será que além de gananciosos, são surdos? Ande menina, me responda! Não estou com muito tempo para ficar aqui tentando falar com você, tenho coisas a fazer. Então seja boazinha- eu virei um bebê de novo e não sabia? Sério, quem ele pensa que é?- e me responda, o que vocês querem?

– Não fale assim comigo, não sou nenhum bebezinho para ficar sendo chamada de mocinha, menina e muito menos boazinha. Já disse que não estou aqui por meu povo, vim de lá, sim, mas não em uma busca deles, e sim a minha.

Por um instante, achei que ele tinha ficado paralisado, mas então ele começou a se aproximar, muito devagar para o meu gosto. Ele ficou frente a frente comigo, então pude ver seu rosto um pouco melhor. Ele era mais alto que eu, mas não tanto quanto seus guardas. Seus olhos, de um preto profundo e interminável, fitavam os meus. Suas feições eram retas, a pele muito clara, parecia que tinha ficado por anos dentro de um único quarto sem nunca ter tomado sol, o que fazia com que ela brilhasse com a luz da lua. Seus cabelos, na altura dos ombros, eram negros e pareciam uma nuvem de fumaça densa e pesada, que fazia com que seus olhos se destacassem ainda mais em meio a pele clara. Sua boca, por fim, formava um traço fino e rosado por estar entre abeta, mostrando dentes perfeitamente brancos e alinhados. Até que ele conseguiu reunir letras para falar por si próprio.

– Quem é você?- disse ele vagarosamente, como se estivesse hipnotizado.

– Sou Alisha, já disse isso. - pela primeira vez, pude notar sua voz com clareza: era aveludada e grave, seus ombros largos estavam instáveis, juntamente com a sua voz. Ele parecia ter entrado em sintonia com a minha voz, cada palavra que eu dizia ele acompanhava todas as letras. - Será que daria para pararem de me perguntar quem sou e o que quero?

– Alisha. - ele repetiu meu nome como se fosse um mantra, o que me deixou constrangida e ao mesmo tempo orgulhosa de mim mesma, não sei por que.

– Sim, Alisha. E o senhor?- perguntei lentamente, encantada com a mudança drástica em seu comportamento apenas em ouvir a minha voz. Sei que pareço uma idiota falando assim, mas não encontrei palavras a não ser estas para descrever o que estou sentindo neste momento.

–Nathan, senhorita, Nathan Reinhard Stevens. -ele me referia a palavra como que quem esta sem palavras, e me senti corar. Não seja boba, não caia em mais uma dessas, Alisha. Não deixe seu coração te levar de novo. Seja centrada. Mas, como? Com ele, Nathan Reinhard Stevens, falando assim comigo? Deste jeito eu não sei se aguentaria. Ele se aproximava cada vez mais de mim, até que alguém gritou de longe.

– Esta tudo bem por ai, senhor? - um daqueles guardas gritava preocupado de um canto pequeno, pude perceber, poi o som vinha de lá abafado.

– Sim, esta sim.- gritou ele como resposta, ainda olhando para mim, sem desviar o olhar, e prossegui - O de sempre. Um interrogatório chato em que ela me diz tudo o que quero ouvir. - mas, o que ele queria ouvir na verdade? De onde venho ele já sabe. Meu nome, igualmente. Minhas intenções por aqui, também. Então, o que ele ainda quer que eu responda? Que podem me prender que eu nem ligo ou, então, que podem me mandar direto novamente para o meu povo? Nunca, não fiz tudo isso para desistir agora.

– Desculpe-me, senhor, mas o que quer ouvir de mim ainda?- perguntei descaradamente, tentando disfarçar o fogo que subia pela minha boca, o calor interno que me fazia querer me jogar em uma banheira de gelo e hortelã. Tentando disfarçar o que eu não conseguia. Tentando disfarçar o que até agora eu escondi de mim mesma. Tentando apagar um sentimento inapagável. Até agora, desde o momento em que ouvi a voz dele pela primeira vez, eu venho me retraindo e tentando me tornar uma pedra: sem sentimentos, coração, dura e indestrutível. Mas agora não aguento mais. Não consigo mais segurar as rédeas das minhas emoções, nem da minha força de vontade. Não tenho mais o controle de mim mesma.

Comecei a andar para trás quando ele se aproximava cada vez mais, e me avisando assustado sobre algo. Até que começo a andar mais rápido, e dou com a cabeça em algo rígido. Fico tonta e caio em seus braços, depois disso, só me lembro de ser carregada no colo por alguém, ele para falar a verdade.

Tenho sonhos horríveis a noite, com minha família e, estranho eu, com ele também. Mas sei que é apenas saudades de casa e, talvez, algum sentimento estranho que me invade dele.

Não me estranha que eu esteja tao assustada assim, também pudera. Não consigo parar de olhar para a janela com aquela vista daquele campo que tanto me lembra meu povo. Não consigo tirar da cabeça a imagem da noite passada, a ultima para ser mais exata. A dele me segurando firmemente em seus braços.