Foi numa segunda

Conselhos


Poucas pessoas achavam a cena estranha. A grande maioria estava apenas caminhando até a porta da saída, sem desgrudar os olhos dos seus smartphones.

Ele me levou até o lado de fora do colégio, e então parou perto de uma laranjeira que ficava no gramado que rodeava a escola. Olhou ao redor, não sei muito bem por quê. Então finalmente soltou meu pulso, que àquela altura já latejava.

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– Posso saber o que foi isso tudo? – Eu o fitei, indignada, cruzando os braços.

Ele suspirou.

– Princesa... – Ele começou, tirando o boné habitual e passando uma mão pelos cabelos.

– Não me chama assim, por favor. – Foi o que eu disse. Mas ouvi-lo me chamar do jeito de quando namorávamos me deixou muito balançada. Tentei ao máximo não demonstrar.

– Ju – Pegou na minha mão. – Sinto sua falta. – Disse depois de alguns segundos.

Fiquei sem ação.

– Eu... – Consegui falar depois de um tempo. – Preciso ir. – Puxei minha mão e saí andando a passos largos, tentando não olhar pra trás. Felizmente – ou não –, não ouvi passos atrás de mim.

Já havia passado algum tempo desde que eu tinha deixado Caio plantado, sem dar-lhe resposta alguma. Quando dei por mim já estava a caminho da casa da Thaís. Liguei pra ver se ela já tinha chegado lá, mas, pra variar, ela não atendeu. Eu já estava bem perto, e ninguém daria conta da minha falta, então continuei andando. Precisava desabafar com alguém.

Cheguei na casa dela, que não era tão longe da escola, mas dava pra cansar. Tia Nanda abriu a porta, e se deparou com uma garota respirando acelerado, com a mão apoiada a parede e levemente suada.

Amaldiçoei a mim mesma por fazer tão pouco exercício a ponto de quase morrer por andar alguns quilômetros.

Ela perguntou o que eu fazia ali, surpresa. Eu disse que precisava falar com Thaís. Ela assentiu, beijando-me o rosto e me avisou que Thaís estava tomando banho. Agradeci e subi até o quarto dela. Abri a porta do banheiro que havia em seu quarto, sem cerimônia. Ela deu um pulo, assustada.

– Menina! – Gritou com uma mão no coração.

Eu soltei um risinho.

Após recuperar-se do susto, começou a se explicar.

– Eu ia te esperar quando aquele louco te levou sabe-se Deus pra onde, mas a mamãe chegou bem na hora pra me buscar e eu não sabia que horas vocês iam terminar aquela DR¹.

– Não tem problema. – Falei encostada à porta. – É sobre isso mesmo que eu quero falar contigo.

– Tá bom, espera só eu terminar aqui. – Disse virando-se. – Vem cá, você veio a pé? – Perguntou divertida, já de costas.

– Sim. – Respondi rindo. Fechei a porta do banheiro e fiquei esperando por ela no quarto.

Depois de alguns minutos ela saiu, então contei a ela o que aconteceu.

– Humm – Murmurou. Parecia pensativa após ouvir tudo. – Você ainda gosta dele né? –Perguntou finalmente, balançando a cabeça em desaprovação.

– A pergunta é por que Thaís, por que eu ainda gosto daquela coisa? – Suspirei. – Só posso ser muito idiota mesmo.

– E eu que sei? – Ela riu. – Idiota é ele, e não você amiga. Aliás, você sabe o que eu penso sobre isso. Você sofreu muito quando estavam juntos, não quero que passe por isso de novo.

– Eu sei... Tem razão. – Concordei. – Vamos deixar isso pra lá. – Por enquanto, meu cérebro teimosamente fez questão de avisar.

Mudamos de assunto, sem ver o tempo passar. Até que lembrei de que precisava voltar pra casa. Peguei o celular pra conferir a hora, e já era quase sete da noite.

Agoniada, liguei pra casa da titia. Matt atendeu.

– Alô? – Ele disse com a voz rouca de sempre.

– Matt? – Perguntei tolamente, pois estava óbvio que a voz era a dele.

Ele murmurou qualquer coisa em afirmação.

– Preciso que você venha me buscar. – Falei quase sussurrando. Ele pareceu entender, já que gritou meu nome.

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– Jully?! Onde você está? – A voz dele passou de surpresa à preocupada.

– Na casa da Thaís. – Respondi num fio de voz, sentindo um pouco de culpa.

Ele definitivamente parecia preocupado...

– Por que você não ligou pra avisar? – Bufou.

...Ou só estava com raiva. Demorei alguns segundos pra responder.

– Que diferença iria fazer? – Falei em tom de desafio.

– Que diferença...? Ora, sua... – Ele se calou. – Fique aí, estou indo.

– Tá... – Voltei a falar baixo. Ele me assustava de vez em quando.

Esperei por uma resposta, mas ela não veio.

– Desligou na minha cara! – Falei pra Thaís e ela riu.

¹ DR: Discussão de relacionamento.