O conversível ia a toda velocidade pela estrada mas Logan mal conseguia manter os olhos abertos. Sua cabeça doía bastante mas ao menos estava relativamente perto; era o que a tela do celular mostrava: o ponto vermelho devia estar a mais ou menos uns 3 quilômetros de distância e continuava a se mover. O único problema foi que Logan não conseguiu ativar a função silenciosa do celular e provavelmente o rastreamento estava fazendo o aparelho vibrar, o que não era nada bom já que tornava fácil para Paul descobri-lo. Se ao menos Dayla estivesse acordada ele tinha uma chance.

Não importava. Nada importava agora. Ele não ia perder outra cliente… Não tão cedo. O ponto vermelho desviou e começou a seguir para o norte por alguns minutos antes de parar completamente e a única coisa que fez Logan não respirar aliviado foi o local onde ele parou. As coordenadas indicavam um lugar muito conhecido.

(…)

Paul saiu do carro e arrumou as coisas na capota do carro. Uma mochila preta, uma prancha curta de madeira, uma espécie de cooler móvel… Quando terminou parecia um carro de passeio qualquer que seguia para o litoral. Durante todo o tempo em que Paul esteve arrumando essas coisas Dayla se remexia no banco de trás tentando soltar as cordas dos punhos e até conseguira afrouxá-las mas o movimento das cordas roçando em seu punho causava um ardor tão grande que ela não conseguia continuar com aquilo. Precisava de uma faca ou algo bem pontiagudo para cortar as amarras. Olhou em volta procurando alguma coisa mas só conseguia ver o couro do banco da frente e algumas cordas espalhadas pelo chão do carro.

Ao menos o celular parou de vibrar.

Foi quando Paul voltou e ela conseguiu enfiar o celular de novo no bolso antes que ele a retirasse do carro arrastando-a pelo cabelo. Ao cair quase de cara no chão poeirento ela precisou de alguns segundos para assimilar onde estava. Estavam em um estacionamento e havia um armazém logo a frente, e depois dele parecia o fim do mundo. Ela só conseguia enxergar a lua ao longe e as estrelas, não era como um horizonte normal… Parecia recortado, irregular, foi quando ela percebeu que havia um desfiladeiro logo a frente.

_ Você vai me obrigar a fazer o que eu menos queria na vida. Mas tudo bem… Esse carro está velho e não é prático.

_ O que vai fazer?

_ Ah não se preocupe, já tenho outro carro. Você pode ficar com esse.

Com um sorriso maldoso ele apenas se encaminhou para o armazém deixando Dayla sozinha no local fracamente iluminado. Era uma oportunidade e ela agarrou com unhas e dentes: se levantou com grande dificuldade e, sem pensar muito no que fazia, começou a correr. A estrada não devia estar muito distante e ela sempre fora boa corredora. Claro que a dor causada pela explosão limitava um pouco sua velocidade, mas ela não pensava nisso. Correu até sentir que as costelas iam explodir, então correu mais um pouco. Já estava começando a se sentir livre quando um carro pequeno e completamente preto com a mesma flor de lótus desenhada na lateral igualou sua velocidade com a dela, e quando os vidros desceram Paul colocou um dos braços apoiado na janela.

_ Moça estou gastando mais gasolina do que queria com você. Todas as mulheres da sua família são tão determinadas a viver? Que droga…

Sem que Dayla percebesse as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto de forma torrencial. Não tinha mais forças mas não queria parar de correr, e foi quando Paul jogou o carro em cima dela e a fez cair para trás na tentativa de não ser atropelada. Com uma calma sobre-humana ele saiu do carro e a jogou no banco de trás. Em menos de dois minutos estavam de volta ao estacionamento.

(…)

Logan estava escondido não muito longe de onde um homem alto com uma faca na mão conversava com uma ruiva que tinha as mãos amarradas para trás. Conseguia enxergá-los com clareza por causa do binóculo, mas não fora fácil chegar até ali sem ser notado. Tinha conseguido retirar parte da gasolina do carro estacionado quando Paul saíra com o outro carro preto mas ele voltou rápido demais para esvaziar o tanque. Ao menos agora ele tinha um pouco de gasolina e conseguira jogá-la no armazém.

Ele se lembrava muito bem de tudo o que aprendera sobre incêndios no ensino fundamental, cada palavra grudava em sua mente e nunca mais era esquecida. Era isso que fazia dele um guardião tão bom. Era por isso que a Purple lhe dava os casos mais complicados. Memória eidética combinada com um variado leque de conhecimento. Era a hora de colocar em prática outra de suas melhores habilidades.

(…)

Paul sentia o cheiro de gasolina que estava no ar mas a maldita ruiva não parecia querer colaborar com o interrogatório. Era óbvio que ela tinha feito alguma coisa no carro. Mas a ideia de que aquela garota tinha feito algo sumiu no momento em que ele ouviu passos e conseguiu enxergar Logan vindo por trás do carro. Ele tinha as mãos erguidas em rendição, mas aquilo não cheirava bem…

_ Você venceu Paul… Solte a menina.

_ Por que deveria? Ela viu um assassinato.

_ Ela não vai procurar a polícia, e você sabe que eu também não então largue-a. Não precisa acabar assim.

_ Assim como guardiãozinho de merda? Com mais um dos seus malditos clientes morrendo? Cada derrota da Purple é um prazer para mim.

Paul era rápido. Muito rápido. Ele agarrou Logan pela camisa e deu dois socos em seu rosto antes que Dayla sequer pensasse que ele iria se mover. Quando Logan caiu ela viu sangue na mão de Paul, mas ele não se incomodou em nada com isso e logo estava chutando-o com força. Mil coisas passaram pela mente de Dayla quando ela se jogou em cima de Paul para afastá-lo de Logan, mas em nenhum momento pareceu perceber que ele era muito maior e mais forte que ela e que jamais venceria uma luta corporal – mesmo se suas mãos estivessem livres.

A surpresa fez Paul cambalear para trás mas logo ele agarrou a moça e a jogou para o lado sem se dar ao trabalho de usar muita força, afinal ela não teria como fazer nada… Sem se importar com nada Paul avançou para cima de logan novamente e por pouco não acertou outro soco no rapaz, que conseguiu ser um pouco mais rápido desta vez e desviou um segundo antes de ser atingido. A força do soco fez Paul se inclinar todo para a frente e então Logan socou a boca do estômago dele, fazendo-o se curvar.

_ Maldito… Dane-se os tratados, você vai morrer com ela!

E desta vez Logan não conseguiu desviar a tempo. Dayla só conseguia gritar e puxar as mãos tentando soltar as cordas enquanto Paul parecia determinado a matar Logan, mas algo chamou sua atenção no meio daquilo tudo. A faca que Paul trazia consigo… Ele a tinha enfiado no bolso da calça, e sem pensar duas vezes Dayla se jogou sobre ele quase de costas e a agarrou. Conseguiu soltar as amarras com a ajuda da faca e, embora sempre tivesse julgado que não era capaz de algo assim, enfiou-a nas costas de Paul com o máximo de força que possuía.

Paul urrou de dor e saiu de cima de Logan enquanto tentava alcançar a faca e a tirar dali, então Dayla correu até Logan e o ajudou a ficar de pé. Ele cuspiu uma grande quantidade de sangue no chão e respirou fundo algumas vezes, mas não conseguiu fazer mais nada. Paul era muito forte para ele. Nunca ganharia uma luta contra ele, mas também não precisava. Tinha outros planos.

_ Corre para o armazém. Lá dentro ainda tem uma lata de gasolina, derrama o máximo que conseguir nas paredes. - Falou entre uma arfada e outra enquanto empurrava Dayla na direção do armazém.

Mesmo sem entender ela correu para lá e alcançou a porta bem na hora que Paul alcançou a faca e a retirou com um grito de dor. Entrou e logo encontrou o galão com pouco mais do que ¼ de gasolina. Enquanto encharcava o lugar em diferentes pontos ela ouviu Paul gritar de novo e um barulho estranho como se algo fosse jogado sobre o carro, depois ouviu passos chegando mais perto e entrou em desespero. Paul vinha atrás dela com certeza.

_ DAYLA SAI DAÍ!

Era Logan. Correndo o mais rápido que podia ela saiu por uma porta lateral e correu para os fundos, se escondeu ali e ficou olhando pelo espaço entre as tábuas do armazem enquanto Logan entrava lá dentro coberto de sangue e pouco depois Paul, com um olho completamente destruído por um golpe de faca.

_ Já chega Mitchel.

_ Andrew sabe que você planeja me matar Paul?

_ Ele vai entender… Acidentes acontecem, guardião. - Mesmo estando em um estado lastimável e o olho esquerdo praticamente inexistente Paul sorria exibindo dentes cobertos de sangue. Logan não estava muito melhor, tinha um corte extenso na testa que banhava de sangue seu rosto quase todo e o braço parecia machucado ou quebrado.

_ Não importa, Dayla vai voltar para o carro e fugir. - A frase foi quase como uma ordem secreta e Dayla compreendeu que era o que ele queria que fizesse. Então saiu do esconderijo e voltou para o carro preto em que Paul a recapturara.

Ela não entendia metade da história que se passava entre eles, mas o que importava para ela era sobreviver e a chave estava na ignição. Só tinha um problema… Ela não sabia dirigir. Desesperada, olhou no carro inteiro atrás de algo para ajudar Logan e encontrou um esqueiro no porta-luvas, então voltou para o armazém e entrou surpreendendo ambos os homens que já estavam ali dentro.

_ O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ PENSANDO? - Logan parecia realmente irritado com aquilo, seja lá o que estivesse pensando ela tinha mudado os planos e isso não o agradava em nada.

_ Em você Logan. Estou pensando em você.

Sem que Paul pudesse impedir, Dayla acendeu o esqueiro e o jogou em uma poça de gasolina perto da parede.