Sai do banheiro após me arrumar, pronta para retocar a maquiagem. A essa altura, Sydney desfilava pelo quarto tentando conseguir equilíbrio sobre o salto que eu a havia feito usar.

-- E não é que você ficou bonita? – Cruzei os braços, encarando seus movimentos desengonçados. – Se não arrumar um namorado essa noite, pode esquecer.

-- Se eu arrumar um namorado nessa noite é porque fiquei bêbada ou você me drogou. – Ela rebateu.

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Ela usava um vestido vermelho – o mesmo que eu havia escolhido para ela – curto, justo até a cintura, e logo após com um caimento livre, porém suave, se estendendo até um pouco acima do joelho, e com bojo, cujo tinha uma renda preta na região dos ombros. Por insistência dela havíamos ajustado um fino cinto em sua cintura, para esconder eu não sei o quê, já que o corpo dela era tão bonito quanto o meu, se tirarmos o fato da magreza e palidez dela. Seu cabelo loiro estava preso em um coque elaborado, que havia demorado cerca de quarenta minutos para ser feito e um pote de gel para que ficasse em perfeito estado. Eu a havia obrigado a usar um salto fino, um dos meus scarpins preto – assim como um par de brincos dourados e uma bolsa de festa, vermelha.

Ao ver meu olhar atento, examinador, ela fez uma careta.

-- Não sei como fui concordar com você. – Ela resmungou.

-- Que mau humor é esse? – Descruzei os braços, indo até o espelho e pegando um delineador para retocar o meu. – Pensei que eu era a chata da história.

-- Não, Rose, eu sou a chata. Você é a rebelde, encrenqueira... – Revirei os olhos.

-- Impulsiva. – Completei, dando de ombros.

Fechei o delineador e o guardei na mesma bolsa de maquiagem de onde havia o retirado: a de Sydney. Examinei meu reflexo por um tempo, decidindo que eu realmente teria que fazer isso. O vestido preto e justo tomara que caia, modelo “tubinho” realçava minhas curvas acentuadas, e isso era, mesmo que estúpido, extremamente importante. Havia um desenho cruzado de ouro no corpete, e uma espécie de fita montada por lantejoulas do mesmo tom do desenho na cintura, acentuando-a. Eu usava um salto de plataforma, também fino, dourado – assim como a bolsa que tinha o modelo similar ao de Sydney, Peep Toe – e completando o look havia um conjunto: brinco e cordão, ambos originais, um presente de Adrian enquanto vagávamos pelo mundo. Ele era extremamente delicado, com pedras que poderiam ser consideradas diamantes, e eu não duvidava que fossem, uma vez que ele comprou em uma própria joalheria e eu estava perto dele na época.

Havia deixado meu cabelo solto, escondendo as marcas – e evitando olhares que poderia receber de humanos que visitassem o local. Blush, batom, sombra, delineador, lápis e rimel formavam a maquiagem, destacando meus olhos e meus lábios de uma forma neutra.

-- Já se acostumou com o salto? – Perguntei, andando com suavidade até a minha bolsa, que estava jogada na cama em que eu ficaria.

-- Exibida. – Ela murmurou, erguendo a cabeça e caminhando confiantemente.

-- É isso ai. – Elogiei, pendurando a bolsa em um ombro. – Agora vamos!

Ela sorriu com satisfação e então pegou sua bolsa, me seguindo até o carro. Ditei as coordenadas que havia recebido para ela, e logo estávamos em frente a uma boate. O nome estava escrito com letras em neon vermelho de tal forma que se era impossível identificar – mas assim que passamos pela porta, notamos outra faixa com o nome: “Balada Boa – Got You”.

“Brasileiros e suas manias de misturarem português com inglês.” – Pensei, e logo estávamos passando pela pista de dança.

-- Pronta para dançar, Syd? – Perguntei, gesticulando para o modo energético e desenfreado que todos se balançavam, assim como a música que tocava. Eu a reconhecia, por ser um hit nos Estados Unidos. Tik Tok.

-- Nem morta. – Ela fez uma carranca. – Isso não estava no combinado.

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-- Certo. – Concordei com um aceno de cabeça. – Então vamos para o bar. – Não a deixei falar, passando na sua frente. Logo me sentei em uma banqueta e coloquei as mãos sobre a madeira do balcão, examinando todo o local.

Logo meus olhos pousaram em um homem esguio, pálido, com cabelo castanho claro e olhos da mesma cor. Ele tinha um sorriso galanteador nos lábios, enquanto flertava descaradamente com uma garçonete. Havia adquirido alguns músculos desde a última vez que eu o havia visto, e agora, enquanto usava uma camisa de gola V preta, eles ficavam ainda mais bem identificados.

-- Droga. – murmurei, desviando a visão imediatamente e me concentrando no barmen que se aproximava. Sydney me lançou um olhar confuso. – Jared. – Gesticulei para o homem, e ela logo sorriu.

-- Vamos adivinhar... Um ex seu?

Lancei um olhar questionador em sua direção.

-- Em todos os lugares aonde vamos há algum cara que você já ficou ou namorou, Rose. E então, qual foi a sua história com ele?

-- Apenas alguns beijos. – Revirei os olhos. – Ele é o tipo de cara insuportável. – Resmunguei.

-- E está por aqui. Poderia nos ser útil. – Ela deu uma piscadela. Eu estava pronta para protestar quando ela gritou pelo nome de Jared e gesticulou para que ele se aproximasse.

O cafajeste logo dispensou a garçonete, provavelmente dizendo que as acompanhantes chegaram ou algo assim, mas não antes de lançar uma última cantada e entregar a ela um bolo de notas. Imprestável.

E então seu sorriso se alargou ainda mais enquanto caminhava na nossa direção – mantendo seus olhos em mim.

-- Rose Hathaway! – Ele saudou. – Como é bom vê-la novamente. – Comemorou acendendo um cigarro. Me controlei para não revirar os olhos. – Posso pagar às damas uma bebida?

-- Mas é claro. – Sydney respondeu antes que eu pudesse abrir a boca. – Estamos ansiosas por diversão.

-- Perfeito. – Ele sorriu ainda mais. – Três caipirinhas, por favor. – Ele pediu ao garçom, virando-se novamente para nós. – É a especialidade da casa. – Acrescentou com mais uma piscadela.

-- Então... Rose me falou sobre você. – Sydney quebrou o silêncio, já que eu me recusava a falar com ele. – O que está fazendo por aqui?

-- Tenho negócios aqui no Brasil. Fui convocado para ajudar na administração da Academia Saint Miguel. – Ele apagou aquele cigarro, e então acendeu outro. – Mas e você, Rose? Esteve tão sumida após fugir da Academia com Vasilisa.

-- Nós estamos extremamente bem. – Forcei um sorriso, e então Sydney chutou minha canela.

-- Pelo visto não mudou nada. – Ele riu amargamente, segurando meu queixo com a mão. – Até o rostinho é o mesmo. Sabe Rose... Nunca encontrei alguém como você depois que fugiu.

-- Que bom. – Sorri sarcasticamente. – Porque depois que eu voltei para a Academia encontrei homens de verdade.

-- Ela está de mau humor. – Syd sussurrou, como se contasse um segredo. Ele assentiu.

-- Eu já esperava isso dela. – Fez uma pausa, me devorando com o olhar. – É excitante.

-- Eu acho que vou vomitar. – Resmunguei me levantando ao mesmo tempo em que as bebidas chegaram. – Esperem por mim. – Murmurei, e acrescentei um olhar significativo para Sydney, mandando que ela terminasse o que havia começado.

Fui para o banheiro, me trancando dentro do cubículo.

Instintivamente, tirei o celular de dentro da bolsa e liguei para Ian. Enquanto chamava, pensei em que diabos estava fazendo – ele deveria estar dormindo, e não era meu direito poupá-lo do sono. Mas ele me disse para ligar a qualquer hora, e, bem, essa era uma das que eu precisava dele.

Antes que caísse em caixa postal ele atendeu, ainda com a voz embriagada pelo sono.

-- Rose?

-- Eu não deveria ter te acordado, foi mal, mas é que eu preciso urgentemente falar com alguém ou vou voltar para aquele bar e chutar o traseiro do Jared da primeira oportunidade que surgir! Sydney estava louca quando o chamou, eu nem mesmo queria que ele estivesse por perto, só queria conseguir as informações e cair fora.

-- Calma. Acalme-se. Quem é Jared? Aquele ex nojentinho?

-- Pelo amor, ele não é meu ex, eu só fiquei com ele. Meu ex é o Adrian, Dimitri... Esses são meus ex. – Explodi, mordendo o lábio em seguida. – Desculpa.

-- Tudo bem. – Ele suspirou. – Você só está irritada. Por Deus, como eu queria estar ai nesse exato momento para chutá-lo para fora de você.

-- Ian.

-- Uhm?

-- Ele teve a audácia de dizer que o meu “mau humor” é excitante.

-- Infeliz! – Ian gritou. – Rose você não quer que eu encontre com você, não? Eu posso deixar toda a investigação nas mãos do Mark e pegar o primeiro avião que me leve ao Brasil.

-- Não. Ian, não. Nós combinamos.

-- Me lembre de nunca mais fazer uma promessa a você. – Ele murmurou. – Como está sendo a busca?

-- Nada. – Admiti. – Mas é a primeira noite, ainda há esperanças.

-- Então volte para lá e arrase, garota. Você sabe do que é capaz.

-- Ian.

-- Sim?

-- Você não me disse o que fazer com ele.

-- Faça o que você faz de melhor. – Eu podia ver o sorriso provocador surgindo nos lábios dele. – Chute a bunda dele. – E com isso desligamos.

Me avaliei no espelho por mais alguns segundos, antes de abrir a torneira que jorrava água gelada e, após encher a mão com o formato de concha, jogar no meu rosto cuidadosamente para não acabar com a maquiagem. Sai do banheiro, destrancando a porta e desligando a luz, e em seguida encontrei Syd conversando com Jared como se estivesse implorando por socorro – como se estivesse implorando pelo meu socorro para tirá-lo dali.

-- Vamos, Syd. – Chamei quando me aproximei deles, virando o meu copo que havia restado de uma só vez. – Não há nada para fazer aqui. – Me virei para sair, quando ele agarrou meu braço.

-- Acabamos de chegar. – Seu hálito cheirava a nicotina e álcool, embrulhando o meu estômago. Jared.

-- E já estamos saindo. – Avisei, soltando meu braço. Ele tentou colocar as mãos em mim novamente, mas desviei. Olhei para os lados buscando apoio quando ele avançou novamente, tentando colar seu corpo ao meu e então resolvi seguir o conselho de Ian. Fechei a mão em punho e dei um soco em seu nariz, o fazendo cambalear.

Nesse instante duas dhampirs apareceram.

-- Droga. – Murmurei para Sydney. -- Estamos encrencadas.