Fique Comigo

Tantas lágrimas


Não agüentei e me agachei, só para não cair ou desmaiar.

Eu estava aos prantos quando percebi a densidade da força que eu fazia com as unhas ao agarrar minha blusa. Meu peito estava tão dolorido.

Não conseguia parar de chorar. Eu sentia como se em baixo de mim não houvesse chão. Não houvesse nada para me sustentar. Uma sensação horrível.

Com muita força consegui me levantar e fui me aproximando. Cheguei à cama onde Roy estava e comecei a acariciá-lo. Precisava de tempo com ele.

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- Eu amo você, Roy. – eu cochichei em seu ouvido – Eu vou te esperar. Quando você sair dessa vou dizer o quanto eu te amo e o quanto você é especial pra mim em tão pouco tempo. Roy, eu amo você, me encantei profundamente por você. Eu amo você.

Eu repetia e repetia o “eu te amo” com a pequena e impossível esperança dele chegar a escutar. Foi doloroso demais, mas fiquei ali, do lado dele, por horas. Sem pensar em outra coisa a não ser seus olhos.

Até que sentiram minha falta. Não queria deixá-lo. Lembro que me debati contra as enfermeiras e depois disso apenas um borrão; o rosto perfeito do meu Roy estava borrado na minha mente. Rosto esse que talvez nunca mais voltasse a se iluminar com os olhos cor de céu mais lindos do mundo. Eu acabei adormecendo de tanta dor ou me adormeceram.

Acordei agitada e fiquei mais ainda quando percebi que estava amarrada. Uma ira enorme passou pelo meu corpo. Parecia coisa de outro mundo.

- FERNANDA! – eu gritei com toda força que tinha, mas, pra falar a verdade ela era bem pouca por causa dos últimos acontecimentos – ME SOLTA! MAS QUE DROGA! FERNANDA!

- Katylin. Pare já com isso. O que está havendo com você¿ - minha mãe perguntou ao entrar assustada no quarto, acompanhada de dois enfermeiros.

- Não acredito que fez isso comigo. – eu estava muito nervosa.

- Kay, por favor. Eu sou estou...

- Não. – eu a interrompi – Não quero saber de nada. Seja lá o que for dizer não é justificativa para isso. – eu olhei rapidamente paras as correias de couro que me prendiam - Quero apenas que você saiba. Eu estava apenas visitando-o. E, mais uma coisa, você perdeu minha confiança, meu respeito.

- Mas, você não devia ter reagido daquele modo. Katy, a mamãe te ama, é pro seu bem. Você bateu a cabeça, não pode fazer isso...

- Eu nem sei o que eu fiz pra me deixarem assim. Mãe, eu estava apenas visitando-o, não ia fugir. – eu comecei a chorar – Droga! Sai daqui mãe! Sai Fernanda! Sai!

- Katylin... – ela estava nervosa, mas não iria brigar comigo. Eu sabia que não.

- Sai. Sai, por favor. – eu disse entre os dentes e deitei, fechando bem fortes os meus olhos. Eu não falaria mais nada.

Ela saiu, mas eu não ouvi a porta se fechar. As lágrimas já sabiam o caminho e elas saiam sozinhas. Sem ao menos eu notar mais isso. Era como um hábito já.

Fiquei um bom tempo acordada, porém, devido a tanto remédio, eu acabei adormecendo. Quando acordei tive uma surpresa: eu não estava presa. Ri ao festejar e sentir minha alegria por estar solta. Até parecia que eu nunca havia sentido como é ser livre. Parei de rir quando percebi que havia uma pessoa no meu quarto.

- Escute primeiro. – ele pediu com os olhos profundos no meu.

Eu não consegui dizer nada, apenas assenti com a cabeça. Nick entendeu e então se sentou no pé da cama.

- Você está melhor¿ - ele perguntou preocupado.

- Acho que vou ter alta amanhã ou hoje só que mais tarde.

- Ainda está com raiva de mim Katylin¿ - ele abaixou a cabeça. Pude ver as lágrimas acumular em seus olhos novamente e não consegui responder, ele tentava escondê-las – Eu sei que os meninos falaram com você hoje de manhã. Eles não iriam me contar, mas, eles não agüentaram. Katylin, eu sinto muito. Não pedi pra eles fazerem isso, eu queria te explicar mais ou menos tudo que eles explicaram. Queria contar a merda do segredo até. Eu apenas não tive nem tenho como. Eu te amo demais Katylin, se você quer ter amigos como o Roy, então tenha, não vou te impedir. Eu apenas não quero que esse amigo acabe com a nossa amizade ou que te prejudique. No começo eu não queria você perto dele, ainda não quero, mas não vou te negar a felicidade. Sei que você o ama. – ele respirou um pouco depois continuou – Ser amigo é não ter segredo, mas, me perdoe, só que essa parte eu não posso cumprir por inteiro. Eu fiz uma promessa. Só que não se esqueça Katylin, que eu sempre te amei. Eu ainda te amo, eu te amo muito. – ele repetia ao enxugar as lágrimas que caiam. Eu ainda não tinha palavras. – É errado estar aqui te enchendo, eu sei, mas preciso que me perdoe. Sei das minhas culpas e já me arrependi. Se estou dizendo que eu te amo é porque é verdade, e quando eu digo é como se fosse uma maneira de dizer desculpa por tudo. Katylin, eu te amo. – ele repetiu novamente dessa vez olhando nos meus olhos.

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Nick havia falado em disparado. Acredito que era tudo que ele queria falar desde o começo de todo esse desespero. Eu não sabia como reagir e o que falar. Mas, arrisquei-me.

- Nick, me chama de Kay! – eu disse chorando de novo e me jogando aos seus braços.

Ele se assustou, mas depois pude sentir o seu alivio diante da minha reação.

- Eu já te perdoei Nick, eu já te perdoei. – eu sorri pra ele – Eu te amo muito também. Não quero perder ninguém, nem você! Perdoe-me também por magoá-lo, eu não sabia de nada. Agora, agora eu já sei dos seus motivos e dos do Roy. Quer dizer, não sei ao certo, mas que se dane esse segredo. Quero apenas que todos fiquem bem, nós e ele também. Você está certo, eu o amo. Não vou mais querer saber desse segredo, vamos esquecer isso. Sei que vai ser difícil, mas, vamos passar por isso. Eu te amo Nick. Eu te amo.

Nesse momento eu pude sentir também a diferença do amor que eu sentia pelo Nick e do amor que eu sentia pelo Roy. Nick era irmão, Roy era o menino pelo qual eu havia me encantado, que havia me deixado boba. Senti-me uma idiota ao concluir isso só agora...

- Minha pequena Kay. – ele sorriu ao, desta vez, limpar as minhas lágrimas e não as dele.

Ficamos abraçados na cama durante horas. Entre nós dois nunca havia malícia. Era coisa de irmãos mesmo. Nós dois conversamos bastante, mas o horário de visita já havia terminado há muito tempo.

- Tenho que ir Katy. – Nick disse ao se levantar.

- Quero ir pra casa. – choraminguei.

- É. Eu também quero que você vá para casa. Você irá ter alta logo caso você não apronte mais uma dessas que me contou. Que doideira.

- Eu precisava vê-lo... – assim que falei, ele ficou sério.

- Eu já vou Katy, já são 20hrs. – Nick tentou disfarçar dando um leve sorriso – Venho te ver amanhã caso você não saia.

- Desculpa Nick.

- Esquece. Não é por isso. Eu já te disse que não vou te negar nada, muito menos proibir você de algo ou de algum amigo... Ou simplesmente me chatear com isso... – ele continuava sem graça – Até mais Kay. Eu te amo, e, obrigado por tudo.

- Eu que te agradeço... – eu disse baixinho.

Ele saiu após sorrir sem graça pra mim. Eu levantei, também sem graça, e fui até a porta para vê-lo ir embora. Um médico trombou comigo. Era o meu médico na verdade.

- Ainda está acordada, Sra. Hendrikus¿ Os remédios não fazem mais efeitos ou foi visita demais¿ - perguntou o médico sorrindo e olhando na direção do corredor que o Nick passara.

- Os dois. Vai me dar alta¿ - eu respondi e no mesmo momento perguntei ansiosa. Só podia ser isso, há essa hora.

- Arrume suas coisas.

- Sério doutor¿ - não acreditei.

- Acha mesmo que eu brincaria com isso¿ - ele ficou com uma expressão de dúvida.

- Oh. Caramba. Nem acredito! – eu estava exaltada – Vou arrumar minhas coisas. Agora mesmo eu vou fazer isso.

- O.K., mas vai com calma, vou até a lanchonete conversar com a sua mãe.

Eu sorri e balancei a cabeça.

Depois de arrumar minhas coisas fui me arrumar. Eu poderia apostar o que for que, muitas pessoas, estariam me esperando assim que, a exagerada da minha mãe, ligasse avisando a novidade.

Sentei na cama e respirei fundo. Roy foi quem me veio à cabeça. Ele ficaria aqui, sabe-se lá por quanto tempo. Isso era tão chato. Comecei a imaginar o dia em que ele acordaria; em como eu reagiria diante disso, em como ele reagiria também. Senti uma felicidade um tanto exagerada por causa dessa esperança, exagerada já que ela era tão pequena. Sorri ao pensar na possibilidade de rever o sorriso e os olhos brilhantes e perfeitos do Roy novamente. Eu estava com saudades. Já.

A tal diferença que eu havia percebido do amor que eu tinha pelo Roy não saiu da minha cabeça. Mais perguntas acumularam-se na minha cabeça. Todos haviam percebido bem antes de mim mesma, principalmente Nick. Eu sentia a tonalidade de sua voz quando ele dizia que eu amava o Roy. Ele sabia como eu amava o Roy na verdade, tinha certeza disso.

- Idiota. Idiota. – repetia para mim mesma. Eu me sentia uma inútil. – Você nem sabe se ele te ama. Nem sabe com certeza se você o ama... Meu Deus. Amor a primeira vista não existe... E ele pode ficar assim pra...

Recusei-me a completar a minha frase e a minha linha de pensamento. Era doloroso demais. Bobo também. Só que mais doloroso.

Tarde demais. Eu já o amava. E teria que sobreviver com tudo isso. Roy me amando ou não, meu coração estava apaixonado por ele. Mais que apaixonado, encantado. Enfeitiçado.

- Pronta¿ - minha mãe perguntou cautelosa ao entrar no quarto.

- Desculpa mãe. Eu não queria... – comecei.

- Não. – ela me interrompeu. – Eu fiz tudo errado, desculpa.

- O.K., está tudo bem. – eu sorri e olhei pro quarto todo branco – Vamos embora¿ Estou pronta.

- Vamos meu bem.

Esperamos Roger na recepção do hospital. Fazia algum tempo já que eu não via meu pai, talvez por causa do trabalho, quem sabe.

Roger estava feliz por eu ir pra casa, dentro do carro mesmo ele explicou porque não ia muito ao hospital, eu havia acertado, era por causa do trabalho dele. Papai era muito ocupado. Quando chegamos não havia o tanto de visitas que eu pensei que haveria, mas minhas tias por parte de mãe - Andressa e Angélica – estranhamente sem os seus consecutivos maridos – Carlos e Helio – estavam lá me esperando, e já era o bastante, aliás, já estava tarde. A tia Dressa tinha um casal de filhos – Vinicius, de 16 anos, e a Donna, de 15 -; a tia Angel tinha uma filha – a Lara, de 10 anos -.

Não me dava muito bem com a Donna, aliás, pra falar bem a verdade, eu não me dava bem com quase ninguém da parte da minha mãe. Não mantínhamos muito contato, além disso, os dois primos que eu tinha quase da mesma idade, eram muitas vezes uns metidos a ricos. Eu odiava isso.

- Kay! – Lara gritou assim que eu desci do carro e veio me abraçar. – Senti sua falta.

- Eu também fofa, eu também. – Lara era a prima que eu mais me dava bem na verdade, quase que a única. – Oi tia Angel, oi tia Dressa. – sorri para minhas tias que estavam paradas na porta da sala.

- Bem vinda querida. – tia Angel sorriu de volta.

- Olá meu bem, como se sente¿ - tia Dressa perguntou ao me dar um abraço.

- Ótima. Obrigada tia. Cadê o Vini e a Donna¿ - não estava vendo-os em lugar algum, imaginei se poderia ser o caso de que eles não tivessem vindo.

-Passaram aqui, mas depois foram embora com Carlos. Estavam impacientes. – ela se virou pra minha mãe e pro meu pai. – Minha irmã! Já passou, seu neném está em casa. – ela gargalhou.

- E o tio Helio, tia Angel¿ - virei para minha outra tia ainda encostada na porta esperando para depois abraçar minha mãe após me soltar.

- Ficou em casa também meu bem, mas prometeu vir te ver amanhã. – ela sorriu.

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Subi correndo pro meu quarto, estava sentindo falta dele. Muita falta. Joguei a bolsa na cadeira da escrivaninha e pulei na cama. Minha cabeça doeu um pouco com o meu exagero, mas passou logo. Fitei o teto pensando na escola; pensando que na próxima segunda-feira eu teria que enfrentá-la. Estava desanimada pra isso.

Levantei e depois de tirar a bolsa da cadeira me sentei. O computador era rápido para ligar, mas mesmo assim me deixou impaciente. Eu não queria esperar. Minha mãe odiaria o fato de eu estar indo mexer no computador minutos depois de chegar do hospital, mas nem liguei. Meus dedos começaram a baterem sem ritmo na escrivaninha de madeira. Parei ao perceber que havia um papel pendurado no “prendedor de avisos e bilhetes”. Peguei o pequeno papel amarelo reconhecendo a letra caprichada.

Oi priminha querida, imagino que já tenha chegado. É claro. Resolvi deixar uma grande novidade para você... Seu time jogou hoje, um pouco mais cedo. Adivinha! Ele perdeu querida prima, perdeu... Eu realmente sinto muito.

Beijos, da sua priminha linda Donna.


Senti meu corpo tremer de raiva. Eu torcia loucamente por um time, na verdade eu era bem fanática pelo Corinthians. Totalmente fanática, chegava até a chorar quando ele perdia ou quando discutia com alguém sobre ele. Donna por sua vez torcia por um time diferente, o pior de todos, ou melhor, o que eu mais odiava; para o São Paulo. Na maioria das vezes nossas brigas começavam por causa disso. Ela me pirraçava muito e eu não deixava barato. Nunca chegamos a nos pegar em tapas por isso, mas bem que já tentamos.

Naquele momento após ler tudo aquilo, toda aquela falsidade de Donna, eu queria quebrar a sua cara. Eu estava queimando de raiva. Queria também, naquele momento, chorar, mas, me controlei. Já havia chorado demais; soltado lágrimas demais. Era o bastante por não sei quanto tempo.

Amassei o pequeno bilhete e me virei para o computador, que agora já estava ligado e também conectado na internet. Verifiquei meus emails e respondi todos. Minhas amigas haviam mandado um monte, já que, praticamente, desde que fui internada, elas não me viram muito e nem falaram comigo. Ninguém havia tocado no assunto Roy, e eu fiquei agradecida por isso. Nick não havia mandado nenhum, Gi me explicou o porquê disso mandando um email, minutos atrás.

Amiga olha, preciso te contar uma coisa que é importante.

Sei depois daquela nossa visita, na quarta de manhã, o Nick apareceu lá à noite, já que a Kimi havia contado tudo pra ele, pensando ser essa a melhor coisa a fazer. Ele não sabe guardar nada e precisava desabafar, e Nick escolheu logo nós - Kimi, eu e Luck -. Eram as pessoas que ele devia escolher mesmo; os verdadeiros amigos dele. Nick sofreu muito depois da primeira visita, amiga, sei que você sofre também ao saber disso, mas é necessário. Mesmo antes da primeira visita dele a você, ele já estava mal, não dormiu, nem comeu, nem se quer bebeu uma gota de água. Todos, inclusive a sua família, ficamos preocupados com ele. Nick ficou fora de si após o acidente.

Respirei fundo; podia sentir meu rosto quente, aviso de que as lágrimas estavam por vir. Continuei lendo.

Mas, na verdade o que eu queria te contar é que ele passou o tempo todo no hospital com você. Ele realmente se arrependeu.

Nick te ama amiga, te ama e muito. Ele não teve coragem de te mandar nada, foi difícil pra ele tomar a decisão de ir falar com você, mas ele precisava. Aliás, nem tempo ele teve já que a maior parte do tempo ele passava sentado em um banco lá na frente do hospital, a andares e mais andares longe de você. Estou te contando tudo isso para você ficar a par de tudo... Beijos e desculpa o assunto desagradável de novo, eu te amo.

Gi.


O assunto era realmente desagradável. Eu estava ao mesmo tempo triste, novamente, e nervosa. Triste por tudo que eu fiz Nick passar; e nervosa pelo simples fato de perceber que todos protegiam Nick – protegendo exageradamente, querendo detalhar tudo como se fosse para eu me sentir culpada cada vez mais -, e o Roy não tinha ninguém ao seu lado além de mim, que, na verdade, estava dividida...

Não agüentei. Abaixei minha cabeça, grudando os meus dedos com força a mesa. Estava tentando controlar as lágrimas e a mim mesma. Uma mão levantou meu rosto, com um toque suave e frio.

- Não chore pequena. – ele disse ao levantar meu rosto com sua mão. – Eu estou aqui com você.

- N-nick... – seu nome saiu sufocado e em um tom aliviado. Que bom era sentir e ter o Nick perto de mim.

Ele me surpreendeu. Já era tarde e não havia tanto tempo desde a nossa última conversa, na verdade, fazia umas duas horas ou até menos.

O meu loiro preferido puxou-me para junto dele e beijou o alto da minha testa antes de colocar seu queixo em meus cabelos. Eu solucei chorando em seu peito.

- Não quero mais lágrimas suas... – disse ele com uma voz dolorida.

- E-e-u... – não conseguia parar de chorar e comecei a gaguejar.

- Shiiii. Não se explique. Está sendo difícil pra você, eu sei. Mas, não suporto mais ver lágrimas em seus olhos tão perfeitos. Sei que fui o culpado de muitas delas, mas, é inexplicável o tamanho de meu arrependimento. Katy...

- Escute-me... – eu pedi suplicante interrompendo-o – Eu te amo Nick, e quero muito desabafar. Não quero te magoar, mas preciso me abrir, preciso por tudo pra fora antes que eu não suporte mais... Eu imploro que seja meu amigo agora...

- Katylin Hendrikus, está louca¿ Quando foi que não te escutei¿ Quando foi que eu deixei de ser seu amigo¿ Nunca Kay, nunca. Desabafe minha pequena, eu estou aqui. – ele sorriu.

- Ai, Nick. – choraminguei ao derramar mais lágrimas.

Ele me liberou do abraço e segurou a minha mão, apenas para alcançar a porta e a fechou. Sentou-se no chão, encostando-se à cama e me puxando para perto dele. Deitei a cabeça em seu colo e me agarrei a sua mão. Lágrimas escorreram por meu rosto enquanto Nick tentava limpar a todas antes que rolassem mais por meu rosto.

- Eu não entendo como o coração pode se apaixonar tão rápido ou como eu posso gostar tanto dele. Não entendo como eu posso estar sofrendo tanto pelo Roy... É como se o mundo estivesse acabando. Nick, eu não entendo. – solucei novamente.

- Katy, você ainda não é adulta, tem que se apaixonar muito ainda, mesmo que isso a faça sofrer como agora. O seu coração é bobinho e frágil, minha pequena. – Nick disse suavemente em meu ouvido, destacando o novo apelido que ele havia me atribuído. Ele falava como se já tivesse experiência nisso ou como se simplesmente soubesse.

- Não queria sofrer mais por isso... É tudo tão bobo, me sinto como uma criança. Antes, quando eu era mais nova, não sentia essas coisas. Era só um desejo, pequeno. – Senti-me envergonhada ao conversar sobre isso com Nick, mas logo lembrei que ele era o meu Nick, o meu irmão. – Nada é comparado com isso... Nada se compara com o amor que sinto por ele... Ou pelo menos assim eu penso... É confuso. – tive a impressão de que Nick engoliu em seco, como se alguma palavra minha o abalasse. Era só impressão, pensei comigo mesma.

- Você é apenas criança ainda Kay, é assim. Vai passar te prometo que vai. – ele beijou minha testa novamente.

- Não quero que passe. – eu o corrigi.

- Ah. – foi sua única palavra.

- É que, eu queria apenas que não doesse tanto assim.

- Só está tão dolorido por que houve o acidente Kay, só por isso. Essa situação vai passar, e enquanto não passa, vou ficar a todo o momento ao seu lado.

- Eu te amo. – eu disse ao olhar pra ele, essas foram minhas palavras em agradecimentos e ele as aceitou.

- Eu também. – ele sorriu.

Continuei deitada em seu colo, recebendo o seu carinho e compreensão. Conversei bastante com ele, na maior parte do tempo, de coisas alegres, eu não queria chorar. Mas, mesmo assim, teve os assuntos chatos, dolorosos. Eu estava com raiva de mim mesma por ser tão sensível e frágil. Estava com raiva por ter me apaixonado pelo Roy, mesmo que se não tivesse acontecido tudo isso seria bom amá-lo; estava com raiva por ser a culpada de um estar no hospital e o outro estar aqui, ocupando seu tempo comigo. Se eu não tivesse ido à praça àquela hora, se eu não tivesse insistido pra saber o tal do segredo, se eu não tivesse feito nada disso, todos, inclusive eu, não teria lágrimas para derramar agora.

Lágrimas de raiva e lágrimas de tristeza se misturavam junto com os mais diversos motivos; aquilo era tudo tão dramático, aquele momento era tão chato de se viver. Desejei não passar mais por isso. Eu queria apenas pular, nem precisava apagar essa parte do meu destino, queria poder clicar no “avançar”.

Adormeci no colo do meu eterno amigo.