Roger me deixou em casa com Fernanda e foi à farmácia. Eu precisava do meu remédio para enxaqueca, que há tanto tempo eu não tomava, para que eu não voltasse a desmaiar.

- Suba e descanse. – minha mãe disse rudemente assim que entramos em casa. Eu senti um calafrio com o seu tom, mas assenti com a cabeça e subi sem questionar. Meus pais ainda pareciam brigados.

Meu quarto estava todo arrumado, com certeza a diarista havia passado por lá hoje. Os lençóis claros, que combinavam com a parede, estavam todos bem esticados e as almofadas todas colocadas em fileira. A luz escura, devido ao tempo fechado, deixou o verde do meu quarto mais escuro também. Eu gostava do meu quarto daquele jeito. O tempo era o que me fazia gostar dele assim, do jeito que estava nublado e frio. Sentei na cama pensando em Nick... Aquilo me trouxe lágrimas.

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Nick era especial pra mim. A gente se conhecia a tanto tempo, e eu sabia que ele fazia parte de mim, como se tivéssemos nascido juntos, irmãos realmente. Nós nunca havíamos brigado tanto, nem se quer discutido. Nunca nem mesmo havíamos tido motivos para fazer o outro chorar. Ele podia até me ver chorar por alguma coisa que tivesse acontecido – isso porque eu chorava por tudo -, mas ele não tinha nada a ver com o motivo. Nick nunca havia chorado na minha frente, nunca até as últimas semanas. Não podíamos brigar, nem nos separar. Não podíamos.

Um soluço alto saiu da minha boca. Eu estava aos prantos. E novamente minha mão tentava arrancar a dor insuportável do meu peito.

- Filha¿ - a voz da minha mãe era de preocupação. Fernanda apareceu na porta com um olhar assustado, diferente do sério a minutos atrás. – Por que está chorando¿ Sua cabeça dói¿

Não ergui a cabeça. Não queria encará-la, eu estava frágil demais. Como sempre.

- Nick... – sussurrei. Minha garganta ardia ao pronunciar seu nome.

- O que tem ele Katy¿ - Fernanda se aproximava de mim. Eu ergui uma mão para impedi-la. – O que houve Katy¿

- Q-q-quero ficar sozinha... – disse entre soluços, gaguejando.

- Não. Não até me dizer o que houve. – mesmo longe Fernanda se agachou para olhar em meu rosto. – Ele te disse algo¿ Algo que te magoou¿

Eu hesitei. Nick havia dito realmente algo que havia me magoado, mas não foi por querer, quer dizer, quem sabe. Fernanda me encarava esperando minha resposta.

- Não quero falar sobre isso. Pode ser mamãe¿ - pedi levantando o rosto.

- Não, me diga o que houve agora Katylin. – seu olhar sustentava o meu. – Por favor...

- Eu que lhe peço... – minha expressão ficou séria. – Saia, por favor. Saia.

Minha mãe me olhou perplexa por um segundo e depois se levantou de vagar, me deixando sozinha. Fui até a porta e a tranquei, pois assim ninguém me incomodaria. Deitei na cama com lágrimas nos olhos, com certeza eu dormiria em poucos minutos.

Quando abri os olhos percebi que eu dormi bastante, pois já era noite. Fitei o teto esperando ter coragem pra levantar da cama. Eu sabia que estava com fome, mas não queria comer, parecia uma dúvida entre o meu estômago e minha mente. Não sabia explicar. Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do telefone, que eu não fiz questão de atender. Alguém lá em baixo havia atendido, esperei um tempo para ver se era pra mim. E era.

- Katy¿ - minha mãe chamou na porta. – Está acordada¿

Respirei fundo e passei a mão no rosto, depois fui até a porta e destranquei. Fernanda estava vestida para dormir, seu cabelo castanho estava preso em um coque frouxo e seu rosto estava pálido. Já devia ser tarde, conclui.

- Quem é¿ - perguntei abrindo a porta e estendendo a mão para o telefone. Fernanda revirou os olhos e me deu o telefone, depois saiu sem responder. – Pronto. – falei no telefone sem vontade.

- Katy¿ - uma voz conhecida perguntou. – Sou eu, Roy.

- Ah. Oi Roy... – eu estava surpresa pra falar a verdade. Fechei a porta do quarto e voltei pra cama.

- E ai, tudo bom¿ - ele perguntou tímido.

- É. Tudo sim. – menti - E você¿

- Tudo também... – Roy ficou em silêncio por alguns segundos, eu fiz o mesmo. – Fiquei sabendo que você passou mal e foi embora...

- É verdade. Mas... Como você soube¿ - perguntei.

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- Eu fui atrás de você na saída, daí não te encontrei. Quando eu estava indo embora uma amiga sua me chamou e disse que você havia passado mal...

- Você sabe quem...¿ Como ela é¿ - perguntei, pensando em quem das minhas amigas, ou ex-amigas, poderia ter dito isso a Roy, sem nenhum problema.

- Ah... Num sei quem é... Ela tinha o cabelo vermelho... Uma ruiva, bem ruiva mesmo. Era quase da sua altura...

- Nessa. – conclui interrompendo-o.

- Deve ser... – Roy voltou a ficar em silêncio.

- Por que ligou¿ - perguntei corada.

- Queria ouvir sua voz e... – Roy hesitou por um segundo. – Meu Deus! Desculpa, desculpa! Eu me esqueci... Quer dizer... O horário... – ele se desesperou.

- Está tudo bem Roy... Não é tão tarde assim... – disse indo até a escrivaninha ver no relógio. Ele marcava 23h37min. Realmente estava um pouco tarde.

- Sério¿ Olha, amanhã tem escola e você passou mal, é melhor eu desligar. Amanhã eu te vejo e a gente conversa. Pode ser¿ - Roy propôs, com um tom de voz chateado.

- Não Roy... Eu preciso conversar... – confessei. Eu havia ficado com o Roy, nós não éramos namorados ainda, então eu não sabia se devia me abrir com ele como amigo... Não sabia se podia contar com ele. Mas, lembrei dos momentos na fazenda, da confiança que ele me passou em tão pouco tempo. E também ele tinha me ligado, então tinha interesse pelo menos.

- O que houve¿ - ele perguntou parecendo preocupado. – Eu sabia! – Roy explodiu no telefone – Sabia que tinha acontecido algo... Você estava com a voz tão triste... Eu sabia, só não queria me antecipar...

- Que bom que você já consegue me decifrar... – brinquei. – Eu realmente estou muito triste... Eu...

Senti uma ardência no meu nariz, e logo depois lágrimas escorreram dos meus olhos, que mantinham agora a imagem de Nick chorando.

- Fala Katy... Eu não vou falar a ninguém... Confia em mim. – ele disse calmo. Respirei fundo.

- Quando você e eu estávamos no hospital, Nick foi me visitar... Nós brigamos, não só por você, mas também por ele não confiar em mim... Argh! Esse segredo me deu motivos para brigar com Nick, coisa que nunca acontecia... Nunca até agora... – comecei, resumindo os fatos.

Eu fiquei em silêncio. Minha cabeça estava começando a doer novamente.

- Então, foi isso¿ Vocês... Brigaram¿ - ele perguntou com a voz baixa e cautelosa.

- Não... Quer dizer, sim... É que depois a gente acabou fazendo as pazes. Aí ficou tudo bem... Mesmo ele não gostando da ideia de eu gostar de você... – confessei ficando sem graça. – Só que teve uma conversa aí de que ele havia falado mal de mim, o que na verdade não aconteceu, mas antes de saber que era mentira eu fui lá e briguei com ele, de novo. Eu explodo muito fácil, sabe. Parecia que haviam jogado praga na gente, pra gente não se entender... – minha voz estava fraca. Talvez por causa do choro. Roy apenas escutava.

- Katy... Conversa com ele, explica que você não quis fazer o que fez e que se precipitou...

- Não! – eu gritei aos prantos. – Não! Agora não adianta mais... Agora já está feito...

- Por que não¿ - ele perguntou sem entender. – Ele não pode ser ignorante ao ponto de não te perdoar. – Roy falou nervoso.

- Não é isso... E-ele vai embora... O Nick vai embora... – levei minha mão na boca, o choro estava cada vez mais intenso. Não conseguia me controlar.

- Por que¿ Os pais dele vão se mudar¿ Hey Katy, para, não chora. Por favo, não chora. – ele pediu.

- Não Roy... Ele simplesmente quer sumir por um tempo... – falei ainda admirada.

- Ele vai embora porque brigou com você duas vezes¿ - Roy perguntou incrédulo. – Não acredito que seja só por isso...

- E não é... Eu sei que tem outro motivo, e mesmo que eu tente entender qual é, eu não consigo. – ou talvez não queira entender, conclui em pensamento.

- Eu... Talvez seja eu o motivo... – Roy falou baixo.

- Não. Fica quieto, não tem nada a vê! – disse nervosa. Roy podia estar até certo – totalmente certo-, mas eu não deixaria que ele soubesse que estava. – Nick é difícil às vezes... E ele está super magoado, não parece ser só pelas brigas ou por outro motivo qualquer, sendo você ou não, parece uma coisa mais séria, mais triste... – suspirei.

- Você deve estar exausta, vá dormir. Amanhã, no final das aulas, me encontre na praça, aí perto da sua casa, para você me contar mais e desabafar também. – Roy disse animado.

Hesitei por um segundo, eu estava confusa. Roy queria mesmo me ouvir¿ Me ajudar¿

- Você... A gente não... – tentei, ficando extremamente sem graça – Nós não somos amigos... Nem namorados...

Roy ficou em silêncio, e eu só ouvia sua respiração calma.

- O.K. – ele disse por fim – Mas podemos ser qualquer um dos dois ou até os dois juntos. Certo¿ - Roy perguntou dando risada.

- C-claro. – respondi gaguejando surpresa. – A gente se vê amanhã então e obrigada!

- É, por nada. Boa noite Katy. – sua voz fez eco na minha cabeça pela primeira vez. Isso era sinal de sono.

- Boa noite... – disse sorrindo ao desligar o telefone, colocando-o em cima da escrivaninha.

Eu não sabia bem se era um sonho, mas, se fosse, seria o mais estranho de todos. Estava tudo embaraçado, não se podia nem definir a silhueta de alguém ou de alguma coisa. Eu só via o borrão. Ele se afastava de mim.

- Katy! Acorda Katy! – os gritos altos me acordaram, fazendo o borrão desaparecer da minha vista.

- O... O que foi¿ - perguntei sonolenta.

- Nossa. Que coisa. Você é difícil de acordar... Credo. – a voz continuava alta.

Abri os olhos tentando entender o porquê de alguém estar gritando comigo logo de manhã. Olhei em volta e não vi ninguém até que entendi, fui até a porta e a destranquei.

- Desculpe Holanda. Eu esqueci que havia a trancado. – disse indo para o banheiro.

- Percebi. Só não comecei a bater porque te assustaria. – ela riu – Olha, seus pais pediram pra avisar que hoje você não vai a escola e...

- Como é¿ - perguntei nervosa. Não queria faltar, se eu tivesse sorte, talvez o Nick ainda estivesse na escola. – Eu tenho que ir!

- Ei, garota. Seus pais ordenaram que ficasse em casa, disseram pra você não se preocupar, pois eles falarão com os responsáveis na escola! – Holanda disse irritada. – Agora vou descer e fazer meu trabalho, por favor, nada de teimosia! É típico de adolescentes...

Estava nervosa, mas ri ao ouvir o comentário de Holanda. Tomei banho bem de vagar. Deixei que a água quente escorresse pelo meu corpo mais do que o necessário.

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Sai do banho e me troquei. Lá embaixo a música extremamente lenta e triste tocava baixo. E de novo, a imagem triste de Nick invadia a minha mente. Fiquei pensando até quando iria ter que rever essa imagem e chorar pela mesma...

Desci correndo as escadas, precisava sair dali e fazer alguma coisa de útil. Ou que pelo menos ocupasse minha cabeça.

- Aonde você vai menina¿ - Holanda perguntou. Eu parei de correr e segurei a fechadura da porta da frente.

- Eu vou dar uma volta, só isso. – sorri tentando convencê-la.

- Está bem... Eu vou indo também. – ela falou desconfiada. – Diga para seus pais que tive que ir embora mais cedo, mas que, quarta e sexta-feira, eu estarei de volta. E leve a sua chave!

- Com certeza. – abri a porta e sai. Ótimo, Holanda era uma diarista e só voltaria na outra quarta-feira, com certeza não se lembraria de contar aos meus pais que sai, quando na verdade, era pra eu estar descansando.

Fui até a garagem e peguei minha bicicleta. Fazia um bom tempo que eu não a usava.

- Katy... – uma voz rouca sussurrou meu nome. Eu me virei para ver quem era.

- Oi. – respondi ao ver que não reconhecia a pessoa parada em frente ao meu portão. – Quem é você¿

- Sou primo do Nickey, ele me pediu pra lhe trazer isso. – o menino baixinho e ruivo estendeu o pequeno braço através da grade, me aproximei para pegar o envelope. – Até logo...

O menino se virou e pegou sua bicicleta azul, assim que entregou o envelope em minhas mãos. Olhei o pacote; era grosso e por isso estava pesado. Minhas mãos tremiam e meus olhos já estavam marejados, não me importei... Eu sabia o que me esperava... Me sentia no clímax de algum filme ou história, onde eu era a protagonista. Eu sabia que hora era aquela, era a hora da despedida.

Uma onda de ódio e fúria se fez presente em mim.

- Não. Não. Não. – negava descontrolada, sem acreditar. A ficha havia caído, Nick foi mesmo embora. – Você não pode fazer isso comigo! Não pode!

Eu gritava como se ele estivesse ali, na minha frente. Eu não queria, mas era impossível não chorar, eu perdia uma parte de mim. Andei umas duas vezes do portão até a bicicleta. Eu não sabia o que fazer. Chutei a bicicleta – me arrependendo depois – e corri para o portão, decidindo ir até a casa de Nick.

O portão da casa dele estava aberto, não sei o que me deu ou onde estava minha educação, só sei que entrei sem permissão. Abri a porta da sala e não havia ninguém, subi as escadas o mais rápido que pude. Atrás de mim, alguém perguntava algo. Eu fingi não escutar.

Seu quarto estava arrumado. Tudo como sempre, como eu me lembrava. Olhei para o guarda roupa, sentindo uma forte náusea. Fui andando em direção ao guarda roupa, minhas pernas tremiam feito vara verde, como minha mãe dizia. Elas não agüentaram e eu me vi cair no chão, de joelhos. Depois disso um grito saiu da minha garganta e então mãos pousaram em meu ombro. Minha mente estava quase que desconectada.

- Shiii. – uma voz me acalmou, me abraçando. – Ele vai voltar... Querida, sente-se aqui.

A pessoa me puxava com calma e muito carinho, acho que era a mãe de Nick. Não vi onde ela me levava, eu apenas encarava o guarda roupa. Era a única prova concreta que aquilo não era um pesadelo.

- Dora, chame já os pais delas. Alguém por favor! – Kelly gritava para alguém por ali. – Querida, o que...¿

Ela não terminou a pergunta. Talvez tivesse percebido o que eu encarava. Minha vista estava embaçada, mas nem piscar eu piscava.

- Quer que eu abra o guarda roupa¿ Quer alguma roupa dele¿ De lembrança, claro. – ela falou, sua voz me acalmava. – Vou abrir está bem¿

A Sra. Kintsu foi em direção ao guarda roupa, abrindo-o, dando a prova que eu esperava, mas não queria. Minhas mãos levaram o envelope ao meu peito. Senti uma pontada no meu coração, e então, depois me senti anestesiada. Não havia dor, lágrimas, tristeza, vontades, não havia nada. Apenas uma imagem sendo apagada. A imagem do meu Nick, do meu amigo.

- Hey, o que houve¿ - sua voz era extremamente fraca, Sra. Kelly tentava me chamar à atenção. – Kate!

Eu me voltei para o envelope. Eu teria que o ler, independente da hora, sendo agora ou depois. Eu teria que enfrentar.

Me levantei saindo do quarto de Nick, indo para minha casa, meu canto secreto; o meu quarto.

- Kate! – as vozes eram cada vez mais irritantes na minha cabeça. Eu comecei a correr.

Entrei no meu quarto, sentando no pé da cama, onde Nick tivera pela última vez que ele dormiu aqui. E então, respirei fundo, começando a ler. Eu já não tinha mais medo de nada.

Eu vou, mas volto Katylin. Não estou te abandonando, é só que eu preciso de um tempo, não é fácil o que nós estamos passando. Sou fraco, e acho que preciso fazer isso pra fugir das conseqüências, das lágrimas, do amor. Não sei como encarar tudo isso, e sei que vai ser doloroso se eu tentar, afinal esse negócio de amor, de gostar, de sofrer é tudo muito novo pra mim. E mesmo que alguém me diga que passa, que nada é pra sempre, eu não acredito... A dor do amor é irrecuperável.

Foi tudo uma idiotice... Eu deveria ter me declarado para você, quem sabe assim você pudesse ter escolhas, quer dizer, você teria escolhas! Eu te amo desde os meus dez anos Kate, sei que pode ser difícil de acreditar, mas dar um beijo em uma ou outra menina não quer dizer que eu não tenha ou esteja apaixonado por alguém. E eu estava, por você. Kate, eu te amo demais, e depois que o Roy apareceu, minha vida acabou, desmoronou literalmente. Tudo ficou mais evidente, desde meu amor por você até o fato de que você não era e nunca seria minha. Eu não tinha consciência desse sentimento. Sei que você não teve culpa... Eu que mereci por ser tão besta, mesmo sendo muito pra qualquer pessoa merecer.

Sei lá, mas pra mim, as palavras que saem de nossas bocas nunca mais devem e nem podem ser apagadas. Por isso, quando estávamos lá no rancho e eu perguntei se você me amava, daí você me disse: “Sim, pra sempre vou te amar, meu príncipe encantado.”, eu simplesmente cravei você e suas palavras em meu peito, e desde então esse sentimento tomou conta dele e cresceu junto comigo, só que silenciosamente... Foi horrível no outro dia, depois do acontecimento no rancho, mesmo que eu te querendo tanto não conseguia ficar perto de você, era estranho. Afinal, éramos crianças. E foi assim que ficou por um tempo, camuflado em nossa amizade...

Eu não quero que você fique mal por mim. Eu vou voltar, por favor, não chore por mim. Olha, não vou mentir, então não espere que eu diga: “Ah, vá ser feliz com o Roy. Você merece!” Porque eu não vou dizer, não pela parte de você merecer, pois é lógico que você merece ser feliz, mas pela parte de ser com o Roy, o que não vai acontecer. Sobre o tal segredo... esqueça, você não é desse mundo. Posso morrer por isso, mas fique sabendo que o segredo envolve o imbecil do Felipe Marques, por isso prefiro e lhe imploro que não procure mais nada sobre o mesmo, você vai se machucar. Eles vão te machucar! Queria ficar por isso também, mas como um dia você mesmo disse, não sou seu pai para ficar lhe protegendo de tudo e todos. É só que... Faz parte de mim lhe tirar tudo que não faz bem.

Escrevi essa carta porque dizer na sua frente me deixaria ainda pior... Faria com que eu desistisse, o que eu não posso fazer. Desculpe, me perdoe, sei que você vai sofrer, sei que fiz uma promessa... Não é egoísmo, mas, é que eu estou muito machucado, preciso desse tempo.Perdão.

Ah, e falando em promessas, esqueça sobre o que eu lhe acusei ontem. Você era uma criança, sei que não podia levar aquela simples frase a sério, como uma promessa a ser cumprida...

Não me esqueça, apenas não chores por mim.

Estarei para sempre aí, no seu coração, pertinho de você, te aquecendo e quando você menos esperar estarei de volta te protegendo.

Eu te amo.

Assinado: Nickey.


Fechei o papel, eu estava tremendo muito, mas não sentia nada; nem dor nem tristeza. Eu estava mesmo anestesiada. Não sentia nem a minha própria vida. Alguém me abraçava sem dizer nada. O ambiente era silencioso, calmo e ao mesmo tempo negro, triste e pesado. Fechei os olhos, a pessoa me abraçou mais forte ainda. Era uma mulher.

- Querida... Não fique assim... – eu ouvia sua voz ao longe. Eu podia jurar que estava flutuando, dormindo ou até sumindo do meu corpo, me desconectando. – Kate... Olha pra mim... – a voz suave pediu ao longe, e então tudo ficou escuro, como um dia atrás, eu havia desmaiado.