Filhos da Magia

Capítulo 20 - Nossa última saída


Vejo o belo dia ensolarado. Sinto o calor da enorme estrela me esquentar. Escuto os sopros do vento em meus ouvidos e uma voz melodiosa cantarolando. Reconheço a canção. A voz feminina cantava Technicolour Beat, umas das minhas músicas favoritas. Não sei como essa pessoa sabia desse fato, mas aproveitei até o último segundo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Sinto as lágrimas ameaçarem a cair. A serenidade me encheu. Senti-me agradecida pelo pleno momento de paz. Foi o suficiente para que minha mente voltasse ao lugar. Ela começa a tocar a música novamente, porém eu estranho. Um arrepio me percorre. Tão familiar esse tom. Mãos acariciam meus cabelos levemente. Mordo os lábios contendendo um soluço, em vão.

And I feel life for the very first time. Love in my arms, and the sun in my eyes — a voz de minha mãe agrada meus ouvidos.

Sorrio, confusa e feliz.

Feel safe in the 5am light. You carry my fears as the heavens set fire —completo com a voz quebradiça.

Estava fraca e isso não me importava, pois estava diante de minha mãe, a mulher mais corajosa que já conheci e aquela que não se abala diante meus medos e erros, e sim me guia para que possa superá-los. Ela era o que eu mais precisava.

Abraçou-me no momento em que me sentei. O mundo girava ao meu redor. Ela estava aqui! Após tantos problemas que enfrentei, aqui estava me verdadeiro descanso. Paraíso, talvez, mesmo sabendo que esse não seria meu destino após a morte. Talvez seja uma recompensa da vida. Finalmente algo bom.

— Senti sua falta, minha filha. — ela disse fraca, suas lágrimas caíram em meu ombro enquanto me abraçava forte.

— Diga-me aonde está e não sentirá mais saudade. — respondo no mesmo tom.

— E como você escapará de onde está? — afastou do abraço e me olhou chorosa — Oh, está tão linda!

Sorrio com a mudança repentina, mas logo se desfaz.

— Mãe... há quanto tempo não te vejo?

— Cinco anos, eu acho... — olhou me com pena — Sinto muito, Akemi. Eu e seu pai tínhamos bons motivos para não estar presentes por todo esse tempo.

— Posso saber ou é um dos segredos de Fátima? — ela revira os olhos, sorrindo boba — Falo sério.

— Aliados. — respondeu — Locais seguros, armamentos...

Meu cérebro travou na parte de aliados.

— Laurents não são tão confiáveis assim —disse e ela franziu a sobrancelha, desentendida — Tyler... ele não é bom...

Muito menos eu.

— A tribo dele prometeu te proteger. Caso o contrário, enfrentaria a fúria de seu pai.

— Por que somente eu? E Arisu? Não precisa de proteção?

— Ela é uma ótima feiticeira! Mas obviamente estava sendo protegida pelos feitiços de seu pai.

Decido me calar sobre o assunto "Arisu” pois lembro de que ela estava sobre meus cuidados e eu a perdi. Mamãe afaga minhas constar, me reconfortando.

— Sinto muito que tudo acabou assim, filha.

— Eu sei! —seguro em suas mãos — Mas ainda não acabou — enxugo as lágrimas que ameaçavam escapar — Mas aonde você estava?

— Fiquei perdida na escuridão — disse, me deixando confusa —Acho que cai em algum feitiço que me fez reviver um dia várias e várias vezes, mas finalmente consegui sair. E então, encontro você... não sei se quero que seja o paraíso ou não.

— Te entendo. Não quero ter morrido, mas quero te encontrar. Viva, de preferência.

— Como não sei o que aconteceu comigo, irei te ajudar a se livrar da sua escuridão.

— Já começo a sentir os dias repetitivos. —murmuro.

— Escute, Akemi.

Sento cara a cara com minha mãe. Ela estava linda como sempre. Pequenas cicatrizes e pés de galinha não diminuíam sua aparência jovial. Mesmo sendo uma kitsune com sei lá quantos anos. Parecia que saiu de uma pintura japonesa. Usava um quimono rosa detalhado com flores douradas e um adereço na cabeça, igual à uma gueixa, porém sem a maquiagem tradicional.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Feitiçaria é com seu pai, mas séculos de casamento me ensinaram algumas coisas — sorriu amarelo — Eles usam flores em rituais poderosos. A mais conhecida e poderosa é a flor de cerejeira.

—Oh — ofego surpresa — Francis tem uma na sala dele.

—Ele usa para abrir portais em outras dimensões e outras coisas. Seu pai fez isso para que chegássemos a terra há 700 anos atrás.

— Não nasceu na terra?

— Não! Cruzes! Nasci em no Planeta Taka, no universo de Ma'g — ela ignorou minha cara de confusão — Esquece sobre isso. Entendeu sobre as flores?

— Sim, li algo relacionado a isso no livro de Arthuro. Como preparar poções, rituais e afins.

— Ótimo! Isso facilita meu trabalho — ela não escondeu a carranca quando citei meu avô — Bem, você basicamente tem tudo que precisa. Tem ser forte. Não sei o que passará e não poderei te defender, filha, mas faça o possível e impossível para sair viva. Todos precisam de você.

— Não diga isso! — seus olhos brilhavam com as lágrimas — Todos, você diz, mas quem exatamente? Diz isso por causa da profecia? — ela me olhou surpresa — Não é como se eu fosse a única kitsune, quero dizer... Francis se gabou sobre ter extinto essa raça... isso é verdade? — minhas mãos tremeram quando minha mãe assentiu confirmando — Mas ainda resta você e Arisu!

— Ela é apenas uma feiticeira, como seu pai. — me cortou.

—Mas... você está viva, não é? — ela se levantou suspirando, sem olhar em meus olhos. Senti as lágrimas brotarem em meus olhos


Por isso eu queria que esse momento não fosse real.

— Você morreu, mãe? — meu corpo e voz tremeram. Ela começou a andar pra longe de mim e eu não pude acompanhar. Meu corpo rejeito qualquer tentativa de movimento. Me senti fraca, dolorida, quase desmaiando — Mãe, por favor!

— Essa dor que você está sentindo é porque você está acordando. Não esqueça do que falamos aqui. — sua roupa e corpo começara a se fundir com o cenário até que tudo sumiu e somente sua voz permaneceu — Eu sempre te amarei, Akemi. — ela disse em um sussurro.

O brilho do sol me cega. Aos poucos, ainda com a lembrança e o calor de minha mãe ao meu lado, fui me entregando a realidade que me puxava.

Desperto desesperada. Ofegante, como se tivesse ficado por debaixo d’agua por minutos e finalmente consegui ar. Minha roupa estava colada em meu corpo suado, as mãos estavam irritadas com a imundice do chão, as pequenas pedras misturadas na água davam uma sensação horrível. A dor que sentia se espalhar pelo meu corpo aumentava, lembrando-me de que estava viva.

Estremeço sob o toque suava de mãos em minha testa. Então, a memória de minha mãe me atingi, mas dessa vez o toque era real. Um pano molhado foi usada para limpar meu rosto, o que fez-me sentir menos suja. Meu coração começa a bater rápido. Quem seria o ser que cuidava de mim?

— Obrigada... — digo baixo.

— Eu que agradeço por estar viva — aquela voz, eu a conhecia — Pensei no pior quando te vi inconsciente. — toco a mão daquele que falava. Estava fria e molhada, ele apertou levemente nossas mãos.

— Idas... o que aconteceu? — minha voz estava rouca e minha cabeça latejava, nem sei se pronunciei as palavras certamente.

— Não vai gostar do que vou falar, mas você é sortuda.

— Você tem razão — abro os olhos para encara-lo — Eu não gostei.

Ele esboça um pequeno sorriso.

— Eles retiraram toda sua magia. Você deveria ter morrido. Um dos guardas te jogou igual a um lixo aqui, dizendo que seu coração parou no meio do processo. E acredite, seria melhor você ter morrido.

— Como assim? — começo a me erguer para encostar as costas na parede — Eu sei que aqui é horrível mas ...

— Nem ao menos é o lugar. Pelo o que eu sei, Francis está criando um exército de quimeras.

— Quimeras? — perguntei exaltada — As pessoas que passaram por aqui foram transformadas em quimeras?

— Quase todas. Algumas morreram quando a magia foi retirada ou no meio do processo de transmutação. Apenas os mais fortes sobrevivem, mas se tornam serem irracionais sob o comando de Francis. Você sobreviveu, logo, chegara na próxima etapa.

— Como sabe disso tudo? — arqueio a sobrancelha

— Cortez me contou. E enquanto você estava desmaiada, eu bolei um plano em minha mente... — o interrompi.

— Ele escuta tudo. — sussurro, mesmo sabendo que não causaria muita diferença.

— Então... como? — ele parou no meio da frase — Feche os olhos.

— Pra quê?

— Anda logo! — faço que pediu, desconfiada.

Segundos depois, Idas solta um guincho de dor e o olho alerta. Sua mão esquerda e sua boca sagrava. Ele pressionou mais o ferimento para que o sangue escorresse, ele se levantou e andou até a parte mais clara da minha cela, o corredor, e lá escreveu, com os dedos sangrentos, em tópicos, palavras chaves do nosso plano.

Eu o segui e tentei completar o quebra cabeça que ele tinha me deixado.

— Caldeirão;

— Cor;

— Objeto da Terra;

— Magia.

A última palavra já fez o plano ir água abaixo. Olho meio desolada para meu amigo que me devolve o mesmo olhar.

— Precisamos disso. De qualquer forma.

Me atrevo o pegar um pouco de seu sangue para escrever.

“Entrar e não morrer” escrevo.

Afinal, para executar esse plano preciso estar viva a todo momento. Então como entra no covil de Francis, averiguar o local e fazer o tal feitiço?

“Você. Doente” Idas se levantou com um ar confiante e me deixou com um ponto de interrogação na cabeça. Voltou para pegar o pano que antes me limpava e o usou para tirar qualquer prova de nosso plano de fuga.

Eu deveria ficar doente?” pergunto mentalmente “Verdade, Francis precisa de quimeras fortes, e eu sobrevivi a uma parte do experimento, então sou indispensável. Ficar doente adiantaria o dia da transformação. Assim eu poderia procurar todos os ingredientes necessários.

— Pegue — ele me entregou uma tigela de sopa nada convidativa — Vai precisar.

Deu a entender que o plano começava hoje mesmo. Pego a tigela e aos poucos engulo o liquido nada apetitoso. Tinha gosto de água com lama. Faço uma careta dolorida. Idas dá um riso fraco com a minha reação. Consegui, no máximo, ingerir sete colheradas daquilo.

— É água com terra. — ele confessa, e eu engasgo.

Olho soslaio, mortalmente, e deixo o liquido nojento cair da minha boca. Meu estomago começa a se revoltar de raiva e desgosto. Idas afaga minhas constas, tentando amenizar o desconforto, mas não muda nada.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Vem dormir. Você vai precisar — disse ao perceber que pare de tentar vomitar o chão —Guarde seus esforços, Akemi.

Filho da mãe.

Volta para onde estava deitada, sobre os panos e o travesseiro feito de roupas. Fecho os olhas me esforçando para não me lembrar do que acabou de acontecer. Minha mente estava sobrecarregada. Estava quase me entregando ao sono quando ouvi a voz de Idas sussurrar em meu ouvido.

“Faça o que fizer, mas, quando chegar na hora, pense somente na nossa saída. Se não, tudo poderá mudar.”