Filhos da Lua e a Ascensão dos Corajosos.

Os que não resistentem declaram.


O Estado- Dukan:

Após algumas horas, a porta da cela de Kan desliza e se abre. Ele acorda com a voz de uma mulher de um tom perturbadoramente autoritário, e ele vê um soldado na porta o encarando.

–Vista isso. -diz novamente a mulher jogando uma peça de roupa dobrada. –E rápido. Não quero ter que te de desmaiar e...

–Certo. – cortou Kan não queria saber do que ela teria que fazer.

A porta se fechou e ele vestiu o estranho macacão que não tinha botões ou zíperes e, enquanto ele dava seu jeito de se vestir, se esticava bastante. Por fim se viu todo coberto com uma roupa branca perola, de tecido estranho e desconhecido, com partes no ombro e nas costas em vermelho fluorescente. Uma peça única que incluía um tipo de bota de sola grossa preta. E logo depois a porta se abriu novamente, a mesma soldado entrou acompanhada de outros dois, ela buscou alguma coisa no cinto e o movimento fez Kan recuar rapidamente antes de perceber que era um simples tubo do tamanho e forma de uma caneta, a mulher riu dele e se aproximou ate um metro dele. Apertando um botão uma luz se acendeu na ponta da caneta e ela o apontou o laser para o peito de Kan e indicou alguns pontos na área em um movimento coordenado, quando ela se abaixou o mecanismo a roupa se ajustou nas medidas dele perfeitamente. A soldado apenas virou as costas e saiu andando, Dukan sentiu um pressão nos pés e corpo e começou a caminhara seguindo involuntariamente. Os outros dois seguiram atrás dele pelo corredor.

Entraram em uma sala que tinha duas cadeiras desconfortáveis de tubo cromado e almofadas de couro vermelho escuro no assento e apoio de cabeça. Kan localizou Alec acomodado em uma delas com o mesmo tipo de roupa e eles se olharam espantados de se encontrarem. O outro estava imóvel, um pouco tremulo e tenso, além dos ferimentos da batalha havia um novo e recente no pescoço que deixava o sangue escorrer e pingar para o chão.

–Mande-o sentar-se ali. -disse um homem magro com óculos de alto grau que já estava na sala

Então Kan notou e estranhou sua veste, que além das conhecidas azul clara tinha um avental da mesma cor que o couro vermelho da cadeira.

–Não Kan!- gritou Alec quando ele deu o primeiro passo em direção à cadeira.

O loiro parou bruscamente sem entender o que estava acontecendo, lutando contra a pressão da roupa que o fazia se mover. Um soldado deu um empurrão e ele andou até a cadeira e se sentou sendo seguido pelo olhar tenso de Alec. Então a roupa começou a unir-se a cadeira nas partes que ele encostava como um velcro.

O estranho homem se aproximou de Kan com uma prancheta de vidro e letras brilhantes nas mãos e a lia em silencio com certa atenção, dizendo de vez em quando um “Hum” ou “interessante”.

–Então este é o Dukan... Você andou agitando as coisas por aqui com as suas aventuras junto de seus amigos. Sabia?-o homem o olhou de perto com sua expressão sádica congelada em rugas na pele pálida e sua careca com alguns poucos fios sobrevivente e sem vida.

As portas se abriram de repente, fazendo um som no silencio que tomava a sala, e todos prestaram atenção nas três pessoas vestidas de jaleco que entraram. Um homem, um garoto e uma garota. O menino tinha olhos caídos, inexpressivos e com olheiras e seus cabelos eram amarelos e curtos, ele seguiu indiferente para uma pequena mesa de metal atrás do estranho que falava com Dukan. Logo depois o homem de pelo menos trinta anos o seguiu e a garota,que tinha franja e os cabelos compridos e muito claros em um coque alto, pareceu espantada ao olhar os dois jovens na cadeira e chacoalhou a cabeça para espantar pensamentos e seguiu atrás dos outros dois.

–Está preparado Dukan?- o senhor de avental lhe chamou a atenção novamente segurando seu queixo e o analisando. -Quando não quiser mais “brincar” conosco, é só dizer que vai nos dar todas as respostas que queremos. E depois quem sabe você não encontra seus amigos “heróis” que ficaram lá embaixo. -O sorriso que ele deu a seguir fez Kan sentir um arrepio na nuca.

Um grito surgiu do outro lado e Kan se virou para ver que era Alec. O homem recém-chegado estava sentado em um banco ao lado dele, sendo auxiliado pelo garoto, e ele terminava de injetar um liquido amarelo no braço de Alec onde o tecido do macacão estava sem uma tira retangular. Enquanto o rapaz suportava algo terrível ele o estimulava com palavras calmas para que ele os ajudasse e falasse dos outros combatentes.

Dukan quis ajuda-lo e lutou para sair da cadeira, mas escutou um estar de língua em um gesto negativo, se virou para o homem de avental que tinha um bisturi nas mãos enluvadas e o olhava com um sorriso fino de dentes tortos. A garota estava ao lado do homem e puxou uma mascara sobre nariz e boca. Ela olhava Dukan diferente de todos os outros na sala e suas sobrancelhas claras tinham uma curva que indicava desagrado.

–Revier, podemos começar?- disse o homem para garota distraída.

–S-sim, senhor Cooper.

E amoça se aproximou agitada do braço de Kan com um curto bastão, parecido com a do soldado, e deslizou o foco de luz sobre a malha do macacão a partir da dobra do cotovelo. Dukan reagiu contra, mas a luz não o machucava e ele parou apenas observando-a abrir um retângulo que ia até pouco antes do pulso, exibindo seu antebraço.

Alec gritou alguma resposta para o homem que o perturbava e parecia se esforçar para continuar a resistir à dor terrível.

–Então já quer nos falar alguma coisa?-Kan apenas o encarou irritado Cooper. -Olhe Revier, como os olhos dele falam. Esta vendo? –sorriu. -Ele esta determinado... Vamos ver se continua assim daqui a algumas horas.

O homem estranho usou o bisturi sem qualquer hesitação cortando o braço de Kan, fazendo o desenho que bem entendia enquanto ele resistia e tentava sair daquela cadeira.

Os dois ao lado de Dukan se afastaram e o observaram sangrar sujando o chão.

–Agora o pó.-disse Cooper assistindo a expressão de Kan e Revier foi até a bancada trazendo um pote pequeno, e o homem jogou sobre os cortes como se fosse sal sobre um bife.

Dukan não gostou nada, o pó o deixou angustiado quando fez seu efeito de ardência e irritou a pele. Ele queria muito, e desesperadamente, coçar o braço, era insano a ânsia para fazer isso, mas ele estava preso e se fizesse isso os cortes iriam se abrir mais e seria bem pior. Foi a primeira vez que ele gritou de dor e frustração sem poder fazer nada.

Cooper riu se contendo para não gargalhar, enquanto Revier lhe lançava um olhar aflito. Talvez fosse a primeira vez da menina com um sádico louco fazendo tortura, pensava vagamente Kan. O homem fez novamente a pergunta se ele iria os ajudar e Kan não respondeu.

–Então vamos para o próximo. A agulhinha.

Ele abriu a mão para Revier que entregou lentamente uma seringa, que não tinha uma “agulhinha”, com um liquido igual a que foi usada em Alec, que até o momento estava resistindo ao efeito com suas veias saltadas, face avermelhada e corpo super tenso.

O sádico careca e estranho injetou a agulha e Kan logo sentiu o liquido se espalhar, trazendo junto à sensação de milhares de minis agulhas surgindo de dentro pra fora na corrente sanguínea e músculos. Em pouco segundo sentia chegar e contaminar a sua cabeça, a pior dor que sentiu em toda a sua vida até o momento.

–O que é isso?- perguntou Cooper, que pouco antes observa sua reação, e ajeitou os óculos se aproximando dos ferimentos no antebraço de Kan.- Revier pegue um pano ou qualquer coisa.

Depois que recebeu alguns papéis descartáveis, Cooper passou sobre o ferimento de Kan com atenção e um sorriso surgiu.

–Isso sim é interessante. – disse o homem para Kan e a auxiliar se aproximou levemente para ver que o sangue parou de escorrer e os cortes estavam menores e continuavam se fechando. -Pensei que com a nossa amizade já me contaria seus segredos meu jovem. Isso aqui é bem conveniente...

Ele foi interrompido por Alec, que gritou e desistiu:

–Parem! Eu digo! Faço tudo que quiserem! Só parem com isso!

–Não! Não Alec!- gritou Kan de volta, mas o outro não ligava. -Não faça isso!

Calmante o homem que estava perto de Alec disse:

–Você tem certeza disso, se mudar de ideia depois vai voltar para cá e temos coisas piores para usar.

Alec concordou desesperado e o garoto passou uma injeção menor com o antidoto. Quando toda a aparência de dor sumiu de Alec, ele suspirou aliviado e continuou ignorando Kan que o encarava embora ainda lutasse contra a dor que sentia.

–Podemos negociar mais alguma coisa, além de não voltar para cá?

Kan não acreditou no que Alec perguntou e quis xinga-lo e espanca-lo.

O homem perto dele sorriu e riu junto com os soldados que estava na sala assistindo e respondeu:

–Podemos pensar em alguma coisa.

–Isso é chato, sempre tem alguém que estraga a melhor parte.- comentou Cooper ao aplicar o antidoto em Dukan que o sentiu fazer efeito rapidamente.

Subitamente Dukan conseguiu superar a força do macacão que o ligava à cadeira e foi para cima de Alec que estava sendo conduzido para fora. Primeiro deu um soco pesado pegando todos de surpresa e depois que Alec caiu o atacou no chão com outros golpes zangados. Até que um dos soldados usou um comando para o macacão o fazendo congelar em uma posição, impedindo que Kan conseguisse destruir Alec. O loiro encarava raivosamente Alec ainda desejando mata-lo.

–Desculpe Kan. -disse o outro sem emitir voz e sem nada que indicasse que ele sentia algum arrependimento do que estava fazendo.