Quando Nia e Dukan chegaram ao saguão do complexo das pesquisas em cobaias, a maior parte das luzes estava apagada. Mas com os movimentos deles elas se acenderam para iluminar o caminho. Nia seguiu a frente, guiando Dukan nos corredores vazios até chegarem à porta de um deposito.

–O que vocês estão fazendo ai?- um dos guardas, que vigiavam os corredores, surgiu não muito longe deles e questionou.

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–A doutora pediu algumas coisas antes de ter que ir ao festival. Algum problema com isso?- respondeu Nia sem muita expressão.

–Não. -respondeu o homem á ela ainda com um olhar de estranheza. Então se aproximou alguns passos encarando desconfiado o rapaz. - E você recruta?

Dukan o olhou tenso por um momento.

–E-eu... hãm... estava... - gaguejando ele tentou responder, mas não sabia o que seria uma coisa aceitável para o guarda.

Nia riu um pouco alto para o guarda nota-la e olhando a expressão de Dukan confusa disse:

–Ele estava tentando me convencer a ir ao festival para acompanha-lo. Mas eu já disse que regulamento é claro quanto a essas coisas.

Kan olhou de Nia para o guarda, vendo se a resposta dela foi aceita. Um sorriso fino surgiu no rosto do outro, e Dukan repetiu o sorriso tentando se fazer de sem jeito pela situação. O soldado não falou mais nada e avançou para o outro lado do corredor os deixando em paz.

A seguir Nia abriu a porta com uns códigos no painel da fechadura.

Na frente deles varias estantes que chegavam até o teto, estavam em um corredor que ia pra direita e esquerda, mostrando as laterais das estantes que pareciam colunas enfileiradas. O tamanho daquele deposito não podia ser medido dali. Nia seguiu para um dos corredores entre as estantes e desapareceu, Dukan foi até lá e esse novo corredor era longo e mergulhava na escuridão dos fundos do lugar. Seguindo-a lhe pareceu que percorreriam vários metros e então ela parou.

–É aqui. - disse ela olhando o alto da estante. Uma altura que nem mesmo Kan podia alcançar.

Depois Nia puxou um aparelho retangular do bolso sob o jaleco e o fez funcionar com um toque, digitou algumas coisas, e logo uma garra percorreu o teto do corredor acompanhado do som de engrenagens, vindo do lado escuro do deposito, e parou quase sobre eles. As garras desceram alguns centímetros, depois apontaram para uma das prateleiras e avançaram para pegar um dos baús de metal numerado, então o abaixou até o lado de Nia.

–Tudo o que pude conseguir. - disse ela se agachando até a altura do baú para abri-lo, e começou a retirar os objetos enquanto narrava o que era entregando-a á Dukan. - Uma bolsa para as armas e facas, kit de primeiro socorros, manuais de algumas coisas... Hãm, comida, que é sempre bom ter... Ah! Isso aqui também.

Ela se levantou com um pacotinho de veludo mostrando para Dukan, abriu-o puxando o cordão e tirou de dentro pequenas peças. Uma a uma colocou no espaço vazio de distintivos da roupa de Kan.

–Assim ninguém vai te parar para fazer perguntas ou te chamar de recruta. - completou o espaço com os diversos distintivos coloridos e outros que tinham brilho ou um efeito neon. - Se encontrar alguém com metade dessa área completa, você é superior. Aja como tal. Entendeu?- ele concordou. – E os que são de posição alta costumam ser sérios e ás vezes até rabugentos...

Nia Revier voltou a mexer no baú. Do fundo tirou uma maleta quadrada metálica dizendo que eram as coisas dela. Dukan jogou as armas na bolsa e arrumou duas facas pequenas escondidas próximas do cinto junto com uma arma. Depois estendeu uma faca para Nia.

–Eu não uso isso... -disse ela se afastando da lamina e ele insistiu. - Eu não sou de lutar Dukan. Só será útil se eu for pega e queira acabar com tudo de uma vez... - Então ele desistiu e jogou a faca na bolsa. – Mantenha uma postura. É praticamente um Dirigente - aconselhou ela dando um tapinha na barriga dele e foi em direção à porta.

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Não havia pessoas nos corredores, pois odos já estavam se preparando para o festejo raro que acontecia todo ano. Então logo eles estavam de volta à porta dos elevadores no saguão.

–Espera Revier. - Kan estava pensativo ao olhar a garota. – Preciso resolver o assunto com aquele que veio comigo.

–O quê? Agora?- ele concordou. – Esse seu amigo teve o seu ultimo estagio hoje... Nem sei se ele vai estar na cela dele. É melhor deixar isso pra lá.

–Não Nia. É importante demais pra deixar pra trás.

–Você não pode salva-lo Dukan. A química é agressiva demais, será apenas um peso para chegarmos ao hangar e depois para mantê-lo na terra... ou onde você vive.

–Acho que você já me disse isso, Nia. Não pensei em salva-lo. Já entendi da primeira vez que me falou. Onde ele pode estar?

A menina refletiu a ideia, o encarando seriamente e com um brilho de impaciência na expressão que não poderia ser atribuído a ela até aquele momento. Depois eles se meteram em outros corredores e caminharam um pouco até que Dukan reconheceu onde estavam chegando, a antiga cela dele também ficava naquele lugar. Revier puxou o mesmo objeto retangular do bolso e consultou-o andando um trecho, depois parou e voltou até uma porta que eles tinha passado.

–Acho que é aqui. - Novamente ela se adiantou até o painel próximo da tranca e pareceu por um momento tentar lembrar o código para abri-la.

–Aqui também tem câmeras?

–Não... - ela tentou outro código depois que o primeiro não deu certo. - Eles tinham mais interesse em você. Não tem porque vigiarem alguém na condição do seu amigo.

A porta se abriu e ela se afastou deixando Dukan entrar primeiro. Alec estava em uma maca centralizada na sala, imovel e de olhos fechados. A volta dele havia suportes com seis recipientes com líquidos de cores chamativas e diferentes, com tubos finos ligando-os a alguma parte do garoto. Dukan não perdeu muito tempo admirando os cortes costurados na cabeça de Alec ou o seu corpo meio magro, apenas se aproximou, puxou a pistola do cinto, colou-a na testa do outro e atirou. Nia não reagiu ao mesmo tempo, pois foi muito rápido, e o seu grito de espanto, abafado por suas mãos, soou um pouco depois, quando Kan começava a afastar a arma, ainda de olhos fechados para não ver o que fez. Depois Dukan seguiu para a porta e empurrou a garota, que ainda não acreditava que ele tinha feito aquilo, para o corredor. Alguns alarmes dispararam, pois foram avisados pelos aparelhos que monitoravam a vida de Alec. Kan, sério e frio, indagou indicando a porta atrás deles:

–Isso precisa ser trancado?

–S-se tranca ao fechar...

–Certo. – começou a andar pelo corredor dando um pequeno impulso para Nia andar. - Tem mais uma coisa...

–O que? Vai querer matar mais alguém antes de ir?

–Não. – disse Kan dando um suspiro, como se o assunto consumisse sua energia. – O que aconteceu com 177 depois do duelo?

–Você tá pensan...

–Responda Nia. Eles provavelmente vão vir ver o que aconteceu com Alec em breve.

–Ele foi o vencedor. Os vencedores apenas ficam vivos até a próxima luta, e assim por diante. Até que morra em uma derrota, como você fez com o ultimo vencedor.

–Já teve outra luta?

–Não que eu saiba.

–Então vamos atrás dele. – a menina o olhou. - Se ele ficar aqui não vai vencer a próxima e ele me disse que já terminaram o que queriam com ele. Se 177 quiser continuar vivo, acho que vai vir com a gente.

Revier consultou novamente seu aparelho e guiou Dukan para um segundo corredor, não muito longe, até que pararam em uma porta - que se Dukan não soubesse que andaram e viraram em outra direção, diria que era a mesma. A menina não demorou muito pra abrir está porta e se afastou da mesma forma para o outro entrar.

177 estava sentado na cama, olhando o espaço a frente, e era assim que passava as horas que ficou ali. Ninguém veio até ele, nem nada aconteceu além da entrega de alimento em algum momento do dia pela passagem na parede. Depois que saiu arrastado por soldados da arena, foi informado da regra que ele que confirmava que ele voltaria para lutar contra outras duas cobaias sem utilidade em um próximo duelo; e tendo tido tanto tempo para refletir sobre isso, se assustou quando a porta abriu e Dukan apareceu e entrou. 177 encarou-o sério e se endireitou na cama. Não o tinha reconhecido, já que até aquele momento acreditava que o Kan tinha morrido, e a única coisa que viu naquele momento foi que era um soldado de alta patente, pela quantidade de distintivos, e que era um loiro, mas a maioria dos moradores da nave eram, então isso deixou de ser algo que importasse rapidamente.

–177? – falou Dukan e o menino o encarou tenso por um tempo. – Quer vir comigo?

–Senhor, e-eu não quero ir para... para aquele duelo de novo. - o rapaz se levantou e se afastou para longe da porta.

Dukan não entendeu sua reação, até que se viu nas paredes espelhadas e notou sua aparência de soldado.

–Ei, sou eu o... o 3...- ele se confundia com os últimos números.

–351. – Nia terminou a fala dele entrando no cômodo. -Temos que ir logo.

–Este morreu, eu vi. - contrapôs o garoto cobaia ainda afastado. - Vocês estão tentando me enganar, isso sim.

–É uma historia longa... Sou eu mesmo. Vamos!

177 manteve-se longe quando Kan deu um passo em sua direção. Nia chamou Kan de novo com um olhar de “anda logo”, então ele se lembrou da marcação do seu numero no braço, teve que tirar parte do uniforme para mostrar a tatuagem prateada e numérica do braço. 177 se espantou, pois se lembrava que Dukan levou um tiro na cabeça, não tinha como ele estar ali. Mas a marca confirmava que era ele.

–Como?- ainda chocado questionou com uma voz embargada.

–Chamam de regeneração, causada por um Difusor. Agora temos que ir, se quer sair desse lugar. Estamos no meio de um plano de fuga neste exato momento.

177 concordou e ia segui-los pela porta, mas Nia parou o garoto recebendo um olhar um pouco aborrecido dele.

–Tem um sensor que evita que saia da cela com o traje desativado. - puxou a caneta de um dos muitos bolsos de sua roupa branca. - Tenho que liga-lo por enquanto, se você não quiser virar suco de cobaia bem exprimida.

A menina não sorriu de sua fala, apenas pegou uma folha de papel em outra parte de sua roupa e começou a analisar os quadros e imagens impressas.

–O que é isso?- perguntou Kan sobre a folha de papel.

–São os pontos dos trajes que preciso memorizar... - ela ainda olhava o papel procurando pelo certo. - Ainda não decorei tudo... Aqui, este.

Nia ligou a caneta com laser e olhando as instruções do papel apontou pra alguns lugares do peito de 177, logo ele pode sentir a pressão da roupa ativada.

–Vamos ter que nos livrar desse traje antes de chegar ao hangar. - Nia saiu pela porta acompanhada dos dois. – Sorte que tem um deposito no meio do caminho, então podemos encontrar algo para substitui-lo sem correr riscos... Se encontrarmos alguém até lá, você - olhou o garoto - faça-se de cobaia indo para algo ruim e sem poder fazer nada. Dukan, você ficar serio e se disserem alguma coisa diga que é um teste de categoria A, sem parada de cronograma.

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Enquanto andavam, subitamente as luzes se reduziram até apagar e escuridão tomar conta. Os passos de Dukan pararam no mesmo momento, fazendo os outros dois fazerem o mesmo. Porém a luminosidade voltou poucos monutos depois.

–O que foi isso?- perguntou 177 à Nia sobre o apagão.

–Devemos estar na sombra da lua agora. A energia vem de painéis solares, devem ter mudado para as reservadas. Mas Dukan você...

–Eu estou bem. - ele voltou a andar os alcançando alguns passos mais a frente. - Vamos logo.

No caminho pararam no deposito, onde Nia encontrou roupas iguais a dlea e fez o garoto se trocar, colocando até mesmo o chapéu. Depois seguiram para o elevador, aonde eles iriam para cima e não para baixo como da ultima vez. Dukan carregava sua bolsa cheia de coisa e Nia sua maleta prata, 177 não tinha nada em mãos, apenas uma faca que Kan passou para ele escondida.

O elevador e o saguão estavam vazios. Eles não tiveram problemas até ali, mas, quando a porta larga do transporte se fechava, eles viram um grupo de soldados de níveis mistos passando pelo saguão, supostamente indo ver o que houve com Alec. Um deles era o colega de quarto de Dukan, que o reconheceu dentro do elevador e se perturbou de vê-lo ali, depois olhou o marcador sobre as portas e notou que os tres não iam para baixo. Então rapidamente o soldado puxou a pistola, apontou para Kan e atirou, chamando a atenção dos outros. Os três se esconderam atrás das portas meio-fechadas e para a sorte deles, o elevador não deu muito tempo para o soldado continuar a mira-los e começou a subir já de portas fechadas.

–O que foi isso?! - perguntou Nia tensa. – Um recruta não ia fazer isso com a gente!

–Ele não é um recruta. - disse 177.

–Não? Ele é sim. Era o meu colega de quarto.

–Não, Dukan - insistiu o garoto estranhando os dois que o olhavam sem acreditar. – Esse ai é um dos soldados que foram para um ultimo treinamento na seção onde eu estava. Um dos melhores, descobrindo as minhas estratégias e a dos outros, narrando para o supervisor do treinamento e me fazendo perder. Lembro-me dele.

Dukan e Nia finalmente acreditaram com um pouco de espanto.

–Claro, - disse ela - devíamos ter percebido. Jess não ia te jogar no meio do treinamento sem uma supervisão constante. Provavelmente agora esse soldado está indo correndo informar o que aconteceu para todos. - uma expressão de preocupação se formou no rosto pálido de Nia. -Não vamos sair daqui tão escondidos como o plano.

Dukan, Nia e 177 seguiram em direção ao hangar nos pisos superiores, esperando que desse tempo deles saírem antes que um grupo de soldados viesse os impedir.