Fate

Recomeço


"Please tell me what is taking place cause I can't seem to find a trace, guess it must've got erased somehow"

Acordei assustada de um sonho esquisito, envolvendo a Ana Maria Braga e o Loro José dançando Conga la Conga num Corvette com o Vin Diesel. Eu hein...

Peguei o celular para checar as horas e percebi que havia uma mensagem lá, motivo de eu ter acordado.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Bom dia! Mil desculpas, mas não poderei te encontrar antes da aula. Na saída eu dou um jeito de te encontrar. Até lá!”

Riko me deixando na mão... Sem desespero, Ina, fica de boa. Fala sério, você tem um mapa, pernas pra andar e sorriso no rosto, não tem erro! Mas não posso negar que estava extremamente ansiosa. E como não tinha abastecido a casa com mantimentos, tive que ir pra escola com pouca gasolina no tanque, ê laia.

Faltavam 10 minutos para o começo da aula e já estava entrando na instituição. Seirin. Fui entrando e indo no fluxo, afinal de contas nessas horas é só seguir a multidão, né? Comecei a suar nervoso. Fruta que partiu, minhas mãos estão tremendo! E pra melhorar, as pessoas ficam me olhando.

Ah, qual que foi parças, me ajudem aí! Não bastava eu provavelmente estar com uma cara de tacho, suando frio e com tremedeira, eu tinha que ser alta! Tudo bem, já sabia que era maior que a maioria das meninas, mas não a ponto de ser encarada desse tanto.

Ok, foco. Cadê essa maldita sala? Por que eu não acho nada nessa pocilga? Melhor pedir ajuda pra alguém.

– É... Olá! Hm... Tranquilo? – sorri forçada pra uma menina, parando em sua frente repentinamente para que ela pudesse me notar.

– Que assombração, credo! – disse a menina, ao se recuperar do susto e começar a me encarar feio da cabeça aos pés. – Vai achar seu lugar, aberração! – deu as costas, se juntando a mais duas meninas, que julguei serem suas amigas.

– Volta pra água, piranha ridícula – balbuciei, vendo elas se afastarem. Revirei os olhos e continuei andando – Eita caralho – murmurei depois de ter trombado em um cara que eu não tinha visto. – Desculpa! – pedi, notando que o papel tinha caído de minhas mãos.

Gomen – ele disse, aí que eu reparei que havia me desculpado em português e ele provavelmente não teria entendido nada. Comecei a ficar nervosa e ele parecia perceber, porque juntou o papel pra mim e, ao ver que era um mapa da escola, tentou me ajudar – É nova aqui? Fala japonês?

Acenei afirmativamente. Mas que palhaçada é essa, onde meu japonês foi parar? Eu entendia o que ele dizia, mas parecia que o disco japonês havia furado no meu cérebro. Desde quando eu ficava tão nervosa assim?

– Venha, eu te levo até a sala. – disse me olhando com a mesma expressão. Esse guri não tinha outra cara não? Parece que se eu tivesse dançando Valeska Popozuda aqui ele continuaria com essa várzea. Percebendo que minha mente estava longe, e que também eu não tinha saído do lugar, ele se apresentou – A propósito, Kuroko Tetsuya – disse fazendo um leve aceno de cabeça.

– Watanabe Ina – respondi, me posicionando ao seu lado para que fossemos até minha sala. Ao chegar, fiquei um pouco surpresa quando percebi que ele estava entrando junto – Somos da mesma turma?

– Aham. Pode se sentar aqui. – apontou para a cadeira ao seu lado.

Sem ter tempo de pensar mais sobre o assunto, coloquei minhas coisas sobre a mesa e avistei o professor entrando. Achei melhor eu ir até lá falar com ele e já colocar a cara no sol, torcendo pra não ter que fazer aquelas apresentações vergonhosas.

Alguns minutos depois

– Bom dia! Chamo-me Watanabe Ina – agora aquela piranha de mais cedo poderia estar certa, porque eu realmente estava parecendo uma aberração falando japonês daquele jeito gringo de ser. Que vergonha!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Seja bem vinda, Watanabe. Pelo que vi já conheceu alguém da sala então a deixo em suas mãos, Kuroko. – disse o professor, olhando pro cara de cabelos azuis. Enquanto isso, a porta se abriu sorrateiramente, com um ruivo alto emburrado tentando ser discreto, o que não aconteceu – Pensando bem, Kagami, ajude seu amigo com a aluna nova, visto que perdeu a apresentação dela. Quem sabe assim aprende a respeitar mais os horários – terminou, fazendo um sinal para que eu voltasse para minha carteira, sendo seguida pelo arranha-céu ruivo.

– Sim senhor – murmurou ao passar por ele, logo em seguida se desmontando na mesa atrás de Kuroko. – Como você não está morrendo depois do treino de ontem? – sussurrou, recebendo um ângulo de 15 graus nos lábios do amigo, o que, considerando o mínimo contato que tive, deveria ser um sorriso.

Ao ver que eu estava pescoçando a conversa deles, ele me soltou um cumprimento altamente complexo, engrossando a voz e dando um sorriso maroto.

– Eai.

É, realmente, estava muito bem arranjada até então. Primeiro as piranhas, depois o cara pálida e em seguida o recém-alfabetizado. Tá certo.

Virei para o quadro buscando algo mais interessante pra se fazer. De canto de olho, vi que o mais alto cutucou o da frente, apontando nada discretamente pra mim, como se perguntasse quem eu era freneticamente.

– Watanabe – respondi me virando rapidamente – Watanabe Ina – fui com a minha mão, involuntariamente, para cumprimentá-lo, esquecendo que não era assim que funcionava aqui. O que mais me surpreendeu, foi que o ruivo deu um sorriso um pouco debochado, apertando minha mão.

– Kagami Taiga – mas gente, que dedos musculosos são esses? – Estrangeira e bisbilhoteira, hein?

– Como é que... – comecei, soltando a mão dele aos poucos.

– Morei nos Estados Unidos por muito tempo, cheguei esse ano. – explicou – Você?

– Morei no Brasil por muito tempo, cheguei... Umas 12h atrás. – rimos, na medida do possível.

O professor estava começando a explicar a matéria. História do Japão. Revirei os olhos. Agora entendi o ânimo do tal do Kagami.

– Boa sorte – disse, abaixando a cabeça e entrando em um sono profundo quase que imediatamente. Até que é simpático...

A aula demorou a passar, e meu estômago vazio não ajudava. Podia jurar que as pessoas ao meu redor estavam começando a ouvi-lo também. Alguém. Me. Enterra. Com muita comida, de preferência.

O sinal que indicava horário do almoço veio, para a alegria geral da nação, ou só a minha mesmo. Entretanto, com ele, veio uma fila imensa no balcão que vendiam algo para comer. Fila não, aquilo ali era pior que fase de mata-mata na Copa do Mundo!

– Cê tá de brincadeira, Japão... – reclamei sentindo minha barriga roncar, sentando num banco mais afastado – Não me sacaneia desse tanto não, seja bonzinho... – minha barriga agora estava subindo o morro engatada na 1ª marcha – Prometo que tento comer de palito certinho, sem zoar com o arroz molhado de vocês e tudo mais... – o motor estava quase fundindo – Alguém cancela com a Ludmilla, porque não vai ser Hoje que eu vou comer – desisti, deitando no banco com uma mão na barriga e outra cobrindo os olhos.

Óbvio que o banco não me cabia inteira, então minhas pernas ficavam dobradas pra fora, a partir do joelho. Esse joelho... Ainda não pensei sobre o que fazer em relação a ele, mas estava há alguns dias sem aquelas crises de dor. Deve ser um bom sinal, né?

Meus pensamentos estavam longe, estava bem de boa até que percebi que alguém estava me cutucando na panturrilha com o pé. Tentei ignorar, achando que era uma daquelas piranhas de novo tentando tirar uma com a minha cara. Quando ficou mais forte, não consegui mais ignorar e me levantei abruptamente.

– Ô diabo, vai chutar a put... – Só não contava que ia ter uma cabeça no meu caminho – Ai!

– Mas que cabeça dura dos infernos! – gritou Kagami

– Desculpa, desculpa! – supliquei, enquanto me certificava de que a minha estava intacta.

– Você está bem? – perguntou, ainda apertando sua própria cabeça aonde havíamos chocado. Fiz que sim com a cabeça

– Viemos te chamar pra sentar com a gente, já que estava sozinha – comentou o de cabelos azuis, que estava sentado ao meu lado.

Peraí, Kuroko do meu lado?

– De onde veio esse garoto!? – dei um pulo, apontando pro rapaz que tinha acabado de aparecer no meu campo de visão.

– Eu estava aqui desde o começo, Watanabe. – disse.

– Me chame de Ina mesmo, por favor. – respondi.

Eu não estava acostumada com essa coisa de sobrenome pra chamar os outros. Pra mim, nome era nome e ponto final. Só então notei que o que estava sentado do meu lado comia um bolinho de não si o que lá. A imagem dessa comida me desconcertou imediatamente, do mundo físico. A única física que eu queria saber era do que era feita a massa daquele bolinho.

– Vamos então? – perguntou o ruivo, cortando minha viagem.

– Vocês nem me conhecem... – abaixei os olhos em direção ao chão, só pra desviar dos olhos daquele cara. Como ele conseguia ser tão direto e manter tanta intensidade no olhar?

– Ué, como assim? – Kagami tentava explicar – Não dá pra deixar uma garota sozinha e com fome na hora do almoço, sem fazer nada – deu de ombros rapidamente, virando para o lado do pátio que estavam sentados. – Além disso, o barulho do seu estômago roncando não deixava a gente conversar em paz. – ria baixinho

– Junte-se a nós, Ina – Kuroko convidou em um tom... Na verdade, no mesmo tom de sempre. Essa criatura não é desse mundo.

Assenti e segui os dois, que estavam indo de encontro a mais três rapazes, apresentados como Furihata, Kawahara e Fukuda. Fiquei ali, no meio deles quieta, enquanto eles conversavam sobre treinos e não sei mais o que dos seus senpais estarem ocupados.

Sinceramente? Não dava pra prestar atenção com a compota de bolinhos de Kuroko sendo oferecida a mim assim, sem cordialidade.

– Ei, Ina – levantei a cabeça com metade do bolinho na mão e a outra metade na boca, quando o tal do Furihata me chamou a atenção – Você... É bem atlética até – tá ficando vermelho por que, queridinho? – Você deve jogar algum esporte...

– É mesmo? Que avaliação rápida hein – disse, fazendo certo deboche. Na verdade só queria que o assunto morresse ali mesmo, e deu certo. Eles começaram a fazer brincadeiras uns com os outros e esqueceram-se de mim.

Pra minha sorte, não me perguntaram mais nada até o sinal tocar.

Todos se levantaram rapidamente enquanto eu mudava as pernas de lugar insistentemente, procurando uma posição boa para me afirmar. Não podia forçar o joelho desse jeito e aquilo era normal pra mim, mas não para os meninos que havia conhecido hoje.

Percebendo que tinha algo de errado, uma mão musculosa familiar apareceu me oferecendo apoio. Prontamente a segurei firme, e notei que isso não passou despercebido para o ruivo, que forçou a mão para me ajudar sem que os outros reparassem.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Obrigada – disse em voz baixa assim que levantei, olhando naquele par de chamas circulares como se agradecesse por ele não fazer alarde disso.

– Sem problemas – respondeu sério, reprovando mentalmente minha atitude de esconder a dor, mas com certa compreensão, como se já tivesse passado por isso também. Kuroko apenas nos observava, em silêncio, e assim voltamos para a sala de aula.

Não me entendam mal, eu realmente sou um livro aberto, só não queria estragar meu primeiro contato com a rapeize contando meus acontecimentos recentes.

A verdade é que não queria que as pessoas sentissem pena de mim. Ser olhada com cara de dor e sofrimento? Só quero viver minha nova vida aqui e ponto. Sem drama e sem complicação. Simples!

Ao final da aula, arrumei minhas coisas e me despedi da dupla, que se retirou apressada. Estava prestes a sair, quando senti o celular vibrar com uma mensagem de Riko.

“Acha que consegue se chegar até a quadra pra me encontrar?”

“Dou meus pulos.”

Respondi a mensagem correndo a tempo de ver os dois gente fina saindo da minha visão.

Ótimo.

Não pedi informação a ninguém, depois do fiasco de hoje mais cedo. Fiz o famoso jeitinho brasileiro e, após alguma caminhada já avistei uma grande quadra coberta.

Encontrei uma muretinha que circundava algumas árvores e sentei por ali mesmo. Achei estranho Riko não me mandar nenhuma mensagem, afinal demorei um tempo razoável para chegar até ali.

Fiquei ponderando o que seria melhor fazer por alguns minutos, mas decidi por entrar naquela quadra iluminada. Ver uns gatinhos sem camisa, se eu tiver sorte... Deixei escapar um risinho malicioso. Além do mais, Riko era treinadora e poderia muito bem estar finalizando um treino.

Ok então, bora entrar!

Respirei fundo e empurrei a barra de metal da porta, me assustando logo em seguida. Mal deu tempo de processar alguma coisa quando todos os rostos se viraram pra mim.

– Surpresa!

O grito de mais ou menos uma dúzia de pessoas ecoou pela quadra, me fazendo tomar um susto tão grande que tenho certeza que minha expressão era o motivo da gargalhada do pessoal que ali estava.

Comecei a sorrir de orelha a orelha, tentando absorver tudo aquilo.

Na arquibancada pude ver alguns lanches embrulhados em embalagens térmicas, ao lado de bebidas e alguns balões. No centro da quadra estava um monte de gente desconhecida, mas alguns rostos familiares. Riko foi a primeira que prendi meus olhos, correndo e me abraçando forte, sorridente.

Atrás dela pude ver Kuroko e Kagami, trocando olhares confusos, juntamente com os outros três que havia encontrado no almoço. Além deles, mais um punhado de garotos, somados a uma menina de cabelo rosa e um cachorro de roupinha esportiva. Todos segurando uma faixa que fez uma única lágrima teimosa descer pelo meu rosto.

Bem-vinda a Seirin, seu novo lar!