Embate


– Pensou errado, Gintoki. Eu não resisto a uma boa luta, quando ela se mostra muito interessante. Você sabe disso, afinal fomos companheiros na guerra.

– Quem vive de passado é museu. – Gintoki sentenciou a Takasugi.

– Pare de desprezar tanto o passado. – o líder do Kiheitai disse. – Se você o odeia tanto, por que não matou o Zura, ou o Sakamoto?

– Do passado, só mantenho o que me convém.

– Nota-se muito bem. Será uma pena que terei que destruir uma parte do meu passado. – Takasugi disse, no mesmo instante em que desembainhava sua espada.

– Posso entender isso como uma ameaça? – Gintoki novamente empunhava a sua espada de madeira.

– Entenda como quiser. – o líder do Kiheitai deu um sorriso cruel e partiu para o ataque.

Gintoki já se posicionou para esperar o ataque. Assim que se posicionou, recebeu o golpe e sentiu um forte impacto contra sua espada, seguido de uma lufada de vento. Um impacto tão forte que fazia com que seus pulsos doessem. Mas isso não importava muito, visto que já estava habituado a esse tipo de dor em uma batalha.

Pela primeira vez enfrentava um ex-companheiro de guerra. E pela primeira vez enfrentava Takasugi diretamente. Que ironia! Um “amigo” de infância tentando matar outro. Esse era o destino de um samurai, e Gintoki sabia disso muito bem. Até amigos de infância eram capazes de trair uns aos outros em nome de seu código de honra e de seus ideais.

Gintoki conhecia muito bem esse meio.

Os demais que estavam ali não deixaram que Hijikata e os outros assistissem ao embate entre os dois veteranos de guerra. Pelo contrário, partiram ao ataque e mergulharam de cabeça em uma luta bastante feroz.

Tsukuyo duelava com Matako em uma luta que exigia bastante agilidade de ambas, para poderem se esquivar de balas e kunais. Era como se fosse um jogo de “tiro ao alvo” entre as duas loiras. Simultaneamente, outros combates se desenrolavam, um contra um. Katsura enfrentava Henpeita, que se mostrava bastante inseguro ao manejar sua katana – visto ser “inimigo” da violência. Mesmo assim, o líder Joui não tinha muita facilidade em vencer seu adversário.

A dupla do Shinsengumi também não tinha moleza. Okita enfrentava Bansai, que também se mostrava um exímio espadachim, assim como ele. O combate estava bem equilibrado. O mesmo equilíbrio aparecia no confronto entre Hijikata e Yamada. O Vice-Comandante encontrava dificuldade em furar a defesa de sua rival, e agora sabia muito bem a razão de ela ser tão difícil de enfrentar em um confronto direto.

Ninguém ali tinha facilidade naquele grande embate. Não era possível saber de começo quem venceria.


*


Kagura partiu ao ataque contra Kamui, efetuando disparos da metralhadora embutida em seu guarda-chuva. Este se esquivou do primeiro ataque da garota e contra-atacou tentando acertar nela um chute, prontamente bloqueado. Ela aplicou um contragolpe, com um soco cruzado de direita contra o rosto do irmão. Com a potência empregada, Kamui foi parar longe, porém conseguira chegar ao chão em pé.

Kamui passou a mão no rosto, aquele golpe fora bem forte e conseguira esfolar sua bochecha. Sorriu. Sua irmãzinha já não era aquela menininha fraca e chorona de anos atrás. Pelo contrário, estava bem mais forte. E talvez bem mais do que quando a encontrou em Yoshiwara. Seu sangue Yato gritava por luta. Mas o sangue Yato de Kagura também gritava o mesmo.

Mais uma vez, os dois se impulsionaram em um salto e Kagura desferiu contra Kamui um poderoso golpe com seu guarda-chuva. Ele conseguiu bloquear o golpe usando o seu guarda-chuva, e o impacto estremeceu todo o quartel-general do Shinsengumi.

– Nada mal, Kagura-chan. Quando você quer, consegue lutar muito bem.

A garota da Yorozuya exibiu seu sorriso mais confiante:

– Eu só estou me contendo. Mas a partir de agora vou lutar pra valer!

Deu um berro selvagem e desfechou um fortíssimo chute na altura do estômago de Kamui, que acabou se colidindo contra uma das paredes e fazendo um grande buraco ali. Kagura atravessou o buraco, que dava para o pátio principal e ali encontrou seu irmão já em pé e tirando o pó das roupas, como se nada tivesse acontecido. Era algo assombroso, pois um golpe daqueles poderia ser letal para um humano comum.

Aproveitando-se do assombro de sua irmã caçula, Kamui não perdeu tempo e disparou uma rajada de tiros contra ela, que se esquivou por muito pouco, recebendo apenas tiros de raspão. Enquanto ela se distraía com o ardor dos ferimentos recebidos, o jovem Yato desferiu um potente soco contra seu rosto.

Nem deu tempo de ela se refazer da pancada. Kamui, em fração de segundos, já saltara por cima dela e já desferia um potente chute contra a sua cabeça, sem chance de defesa. Com o impacto do golpe, ela foi lançada violentamente contra o chão, onde havia um buraco. Mas não terminou aí. Ela foi impiedosamente golpeada novamente, mesmo caída. O mais velho deu um forte pisão em sua barriga, fazendo com que ela urrasse de dor e cuspisse sangue.

Kagura não se deu por vencida. Mesmo sentindo muita dor, agarrou o pé de Kamui com muita força, apertando, de forma que dava a entender que estava tentando quebrar os ossos do tornozelo dele. Com a outra mão, apontou seu inseparável guarda-chuva para o rosto de seu irmão.

– Você ainda está se contendo, Kagura-chan. – Kamui observou. – Você tem uma força de vontade surpreendente! Por que ainda faz isso?

Kagura logo se lembrou do confronto contra Abuto em Yoshiwara, onde perdera completamente o controle sobre seus instintos Yato. Só conseguira voltar a si graças a Shinpachi naquela ocasião. Não iria fazer a mesma besteira. Desta vez, seria capaz de dominar seus instintos mais ferozes. Estava decidida a isso.

– Eu faço isso porque sou diferente de você. – ela disse com total convicção, sem tirar os olhos dele, e sem tirá-lo da mira de seu guarda-chuva. – Não sou uma assassina, sou uma Yorozuya, e com orgulho!


*


Quem não conhecesse aqueles dois, com certeza diria que aquele embate era injusto, por ser uma katana contra uma simples espada de madeira. Mas, em se tratando de Gintoki empunhando essa espada de madeira, a história era completamente diferente. Mesmo anos depois de deixar de ser o temido Shiroyasha dos campos de guerra, o albino ainda mantinha seu repertório de técnicas de ataque e defesa em dia. Eram golpes potentes a cada ataque e a cada bloqueio dos ataques de Takasugi e sua katana. Aliás, Takasugi teria que suar muito para furar a defesa do ex-companheiro, mesmo conhecendo a fundo seu adversário. Outro detalhe era que Gintoki também conhecia suas técnicas de ataque e defesa, o que fazia com que o duelo ficasse bem equilibrado.

Até então, nenhum dos dois cedia. O equilíbrio acabou persistindo por muito tempo. Porém, Takasugi viu uma brecha, mesmo que pequena, na defesa de Gintoki. Era a oportunidade perfeita para desestabilizá-lo. Sorriu ante a chance que vislumbrava à sua frente. Avançou à esquerda de Gintoki, com a katana ainda em punho, porém, em sua mão esquerda.

O Yorozuya também passou sua espada para a mão esquerda, a fim de bloquear o ataque do líder do Kiheitai. A força empregada por ambos produziu um estrondo descomunal quando as duas espadas se encontraram. Isso, mesmo ambos usando a mão esquerda, já que eram destros.

Após o ataque, cada um parou em um lado oposto. Ambos ofegavam pelo evidente desgaste inicial da batalha travada. Takasugi olhou para trás, para onde Gintoki estava. Mais especificamente, fixou seus olhos para uma certa área do quimono branco do ex-Shiroyasha. Uma área manchada de vermelho. Mais especificamente, de vermelho-sangue. Ao ver o albino levando a mão ao ferimento, deixou escapar um sorriso de triunfo.

Agora Takasugi se sentia em vantagem.