POV SILENA

-Mãe, já to indo, ta? Qualquer coisa ligue. – eu gritei da porta da frente, antes de sair.

-Ta bom. Juízo! – ela devolveu, mas não respondi. Claro que eu tinha juízo e claro que todos os dias minha mãe me dizia isso, então já era rotina.

Eu conferi a hora no meu celular mais uma vez. Faltavam trinta minutos para o horário que eu tinha marcado com o Bryan. Eu levaria uns vinte minutos para chegar até a livraria e detestava ser a última a chegar, então eu já estava indo. Tinha visto Bryan no colégio de manhã, mas não conseguimos conversar direito. Ele confirmou nossa saída com um sms na hora do almoço: Te espero lá Si!

A rua estava movimentada como sempre, mas não vi ninguém conhecido. Logo cheguei a MagicBooks , e entrei. Eu adorava essa livraria, pela imensa variedade e concentração em literatura juvenil. Tinham alguns clássicos também, mas não era o ponto forte da loja. Comecei distraidamente a olhar alguns títulos da prateleira mais próxima, e percebi que fora um ótimo dia pra vir até ali, afinal não estava cheia de pessoas. Fora as duas moças que atendiam a loja, tinha mais duas garotas, uma mulher e um rapaz. Bryan ainda não havia chegado, então eu continuei vagando por ali sem prestar muita atenção as coisas ao meu redor, até que uma voz linda disse as minhas costas:

-Desculpa a demora. – me virei e dei de cara com aqueles olhos escuros como a noite, e o sorriso que se confundia com as estrelas.

-Não demorou. Eu é que gosto de chegar cedo, ainda mais aqui. – ele sorriu mais amplamente.

-E então? Já encontrou algo de bom nessas prateleiras?

-Temo que eu já tenha comprado tudo o que há aqui do meu agrado. - nós rimos.

-Que tal descobrir algo do meu agrado? – ele sugeriu com um sorriso de canto.

-Certo Bryan. Você tem a tarde toda para me convencer a levar pelo menos um livro dos quais considera os “seus”.

-Desafio aceito. E, o que eu ganho se conseguir esse propósito?

Meu coração falhou uma batida. Droga. Isso não devia estar acontecendo. Eu não estava apaixonada pelo Bryan, de maneira alguma. Mas então por que aquele sorriso me fazia suspirar, e aqueles olhos me tiravam o fôlego? Por que eu estava amando cada minuto da sua companhia?

-Silena? – Bryan acenou em frente a meu rosto para me chamar a atenção. Eu corei.

-Desculpe. Bem, diga o que quer e se estiver a meu alcance, será seu.

Por um momento, eu jurei ver um vestígio de malicia naquele rosto.

-Venha!- ele disse me puxando pela mão até as prateleiras do fundo da loja.

Bryan era hilário tentando me convencer a comprar um livro. Ele tinha um gosto meio diferente do meu e detestava romances clichês. Então, ele estava tendo um certo trabalho comigo. Depois de algumas discussões, um livro me chamou a atenção. Era bem volumoso, porém me atraiu. A capa não revelava muita coisa e o título também não. Guerra dos Tronos.

-E esse? Já leu?

-Esse sim. É o primeiro de uma saga de cinco livros. Eu estou lendo o quarto.

-Parece ser bom. Sobre o que é?

-Jura? É ótimo, mas depois de toda essa discussão achei que você não gostasse de histórias medievais e coisas do tipo.

-Medieval?

-Reis, rainhas, cavaleiros, castelos, guerras, armaduras, acampamentos, enfim, tudo o que se costumava fazer há algum tempo atrás.

-Gostei. Vou levar.

-Sério?

-Sim. Se eu não gostar, vou ler até o final assim mesmo. Se eu gostar, compro os outros quatro.

Bryan ficou me olhando com uma expressão engraçada enquanto eu me dirigia ao caixa. Depois de tudo certo, me virei com a sacola e dei de cara com um Bryan todo sorridente.

-Que foi?

-Que foi que você comprou um livro que eu te indiquei. Isso quer dizer que você está me devendo algo.

-Não!

-Como não?

-Oras, eu encontrei esse livro sozinha. Só perguntei se você já tinha lido. Não foi uma indicação sua. Até porque você duvidou que eu gostasse da história.

Bryan ficou estático me encarando.

-Você tem uma mente maléfica Silena.

-Eu?

-Sim. Se você fosse uma garota bondosa, não contestaria. Apenas perguntaria o que quero em troca dessa indicação.

-Mas, esta é a questão. Não foi uma indicação. Não de verdade.

Ele negou com a cabeça e disse indo em direção a porta:

-Vamos dar uma volta. Quem sabe até lá eu te convenço a me dar minha recompensa.

POV CHARLES

Jake não tinha jeito mesmo. Saímos da pista de skate e decidimos tomar um sorvete. Até aí tudo bem. O problema é que a criatura não queria qualquer sorvete. Queria o da barraquinha do Central Park. E o melhor disso tudo, era que o Central Park era longe. Mas, e eu podia fazer alguma coisa? Não. Jake queria ir, e aí fomos.

Depois do que me pareceram horas, nós finalmente chegamos lá. Havia uma pequena fila na barraquinha, então entramos nela. Enquanto eu mexia distraidamente em meu celular, Jake me batia impaciente:

-Cara, ei olha ali. Não é a sua irmã?

-Onde?

-Ali. Com um cara do cabelo escuro. Ali, no banco. – Jake apontou pra um banco perto de onde estávamos. Eles também tomavam sorvete e conversavam animadamente.

-Esse é o tal do Bryan?

-Não sei. Nunca vi. Mas, vamos lá que já descobrimos.

-Ta maluco Jake? Você me fez vir até aqui por causa desse bendito sorvete. Agora a gente vai comprar.

-Mas, eles podem sair dali.

-Não vão sair. E Saírem a gente segue eles. E aliás, por que você tá tão interessado em conhecer esse Bryan? Não vai me dizer que você...

-O que? Não! Não Charlie! Eu, eu só quero ir ver se é ele mesmo e se o cara parece ser legal.

-Sei.

-Sério. Silena é minha amiga, não quero ver ela por aí com qualquer um.

-Continuo te achando maluco.

-Ela é sua irmã, você devia ter mais cuidado com os amigos dela.

Jake e suas estranhezas. Mas, decidi não discutir. Pegamos os sorvetes e fomos indo calmamente até o banco onde Silena estava. Quando chegamos mais perto, eu notei que ela e o garoto estavam perto demais um do outro. Não gostei disso. Era minha irmãzinha, não era qualquer mané que ia chegando nela assim não. Adiantei o passo e junto com Jake disse:

-Oi Silena. – ela deu um pulo no banco e olhou sobressaltada para nós dois.

O garoto parecia confuso, e aos poucos a expressão dela foi se alterando para raiva.

-O que vocês estão fazendo aqui? – ela perguntou.

-Ué, viemos encontrar você. – Jake disse se sentando entre ela e o garoto na maior cara de pau e continuou tomando seu sorvete.

-Não vai apresentar seu amigo pra nós Si? – eu perguntei me sentando ao lado do garoto.

Ela deu um longo suspiro e disse:

-Bryan, esse são Jake e Charlie.

-Sou irmão dela. – eu disse.

-Isso, e eu sou... Sou... Amigo dela! – Jake disse confuso.

-Oi. – Bryan disse baixo.

Depois de alguns segundos em silencio, Silena levantou:

-Vocês não vão embora, não?

-Não. Viemos a mando da sua mãe. Vamos te esperar e te levar pra casa.

-Piraram?

-Não. Jake tá certo.- eu disse percebendo que cada vez mais ela ficava brava.

-Bem, eu acho que já vou indo. Tchau Si. Tchau meninos. – Bryan falou se levantando.

-O que? Não! Tá cedo ainda, por que você... – Silena começou, mas ele interrompeu:

-Melhor eu ir embora Si. Nos vemos no colégio depois. – ele disse saindo.

Silena estava incrédula, com tudo aquilo. Assim que o garoto se afastou, ela se virou para nós dois e disse:

-Eu vou matar vocês!