Família Hatake - MenmaNG

Usagi Hatake - Parte 3 de 3


Os pensamentos de Kakashi estavam distantes aquele dia. Por mais que fizesse força para manter-se concentrado no trabalho, a menos que uma guerra estourasse, não havia problema em Konoha que superasse as preocupações que tinha com a própria vida. Saber que Usagi estava em boas mãos não bastava para aliviar a ansiedade crescente que vinha tendo nos últimos dias.

Pensava que chegar em casa o faria se sentir melhor, porém ao abrir a porta e encontrar as luzes apagadas, teve de agradecer por seus anos de treinamento o manterem com sangue frio. Pela primeira vez em anos, o silêncio lhe parecia assustador.

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No quarto, a criança dormia tranquilamente em seu berço. Ele afagou os cabelinhos brancos e observou o peito subir e descer com a respiração. Gostava de procurar seus traços no rostinho do bebê, embora quase sempre acabasse se convencendo que parecia mais com a mãe.

— Teimoso! — Iruka dormia novamente no futon improvisado, o que arrancou a reclamação do Hatake. — Já falei pra não ficar aí. Podia usar o meu quarto.

Sacudiu o ombro do homem com certa culpa. Já era bem ruim ter de abusar da boa vontade dele, quem diria acorda-lo quando estava exausto por cuidar de um recém-nascido que chorou a noite toda, só que tirá-lo do chão frio parecia mais importante naquele momento.

— Ei, Iruka! Vai dormir na cama.

— Que horas são? — Gemeu e cobriu o rosto com a coberta.

— Ainda são seis da tarde, cheguei cedo hoje. — Voltou a sacudi-lo, encorajando-o a levantar. — Sai desse chão ou vai ficar doente.

— Eu quis aproveitar que o Coelhinho sossegou um pouquinho.

Algo simples como sentar foi terrivelmente custoso para o Umino. Tinha olheiras profundas, o corpo todo dolorido e fome, muita fome. Foram muitas as necessidades da criança e faltou tempo para cuidar de si mesmo.

— Vou fazer um pouco de macarrão, você quer?

— Deixa que eu faço. — Permitiu que Iruka o usasse como apoio para o se erguer. — Você tem que ir para cama. Já está fazendo demais.

— Eu gosto de crianças, Kakashi. — Deu uma espiadinha no berço e sorriu. — Além de que deve estar sendo difícil pra você.

— E está, mas quem decidiu criar uma criança fui eu, então tenho que lidar com isso. — Coçou os cabelos acinzentados enquanto procurava as palavras certas para o que gostaria de dizer. — Não pense que não sou grato pela ajuda, só não exagere, está bem?

— Você venceu, estou morrendo de cansaço.

Seguiu Kakashi até o outro quarto, um pouco sem jeito de ocupar a cama alheia, o que não o impediu de se esparramar ali. Já se preparava para mergulhar em um novo cochilo quando uma dúvida surgiu:

— Onde você vai dormir?

— É uma ótima pergunta. — Kakashi ergueu uma sobrancelha pensando a respeito.

Como não costumava ter convidados, não tinha um futon reserva. Agora essa seria mais uma coisa com a qual se preocupar. — Tirou a máscara e jogou-a de qualquer jeito para dentro do guarda-roupas. Também trocou a blusa por uma camiseta mais confortável. — Não podia ser muito difícil achar quem emprestasse um, se preocuparia com isso depois de preparar o que comer.

— Eu não pensei nisso ainda. — Apagou a luz ao chegar à porta. — Só descansa. Eu te chamo quando a comida ficar pronta.

Revirava a prateleira dos temperos, procurando por qualquer coisa que pudesse dar uma cara mais caprichada para a comida sem graça que preparava, quando ouviu o choro do bebê. Correu para o quarto antes que Usagi acordasse Iruka. Rezou pra que não fosse a fralda, porque ainda não tinha aprendido a trocar direito, fora que dependendo do que visse perderia completamente o apetite.

— Que susto você deu no seu pai. Mas se não é cocô deve ser fome. — Caminhou com o bebê de volta à cozinha.

O colo podia ser quentinho e confortável, mas a barriga roncando fazia com que Usagi não parasse de chorar a plenos pulmões. Tinha um apetite voraz a criaturinha.

— Agora tenho que preparar um leitinho e... — Ao abria a geladeira se deparou com três mamadeiras prontas. — Olha só como o tio Iruka é esperto. Desse jeito, ele que deveria ser o Hokage no lugar do papai, não é Usagi.

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Não deve ser surpresa que o Hatake se atrapalhou todo para aquecer a mamadeira, tendo grande dificuldade de fazer tudo com o Coelhinho nos braços. Com um pouco de empenho, entretanto, conseguiu alimentar a cria e também terminar o jantar.

Tentava comer um pouco, quando Usagi resolveu abrir o berreiro outra vez. Nem teve oportunidade de fazer algo, Iruka surgiu na entrada, parecendo um sonambulo, caminhando com os olhos quase fechados, tirou a criança do colo do pai como se fosse dele também.

— Eu ia te chamar. — A boca estava cheia, as mãos erguidas em sinal remorso por ter comido sozinho. — Só queria te deixar dormir mais.

— Choro de fome? — Notou a louça suja na pia e descartou a ideia, depois checou e viu que era a fralda. — Vamos ter mais uma lição.

A temida hora havia chegado. Kakashi engoliu tudo que pode e depois suspirou lamentando o que teria de fazer.

— Está vendo o que eu disse? Não é difícil, só dá muito trabalho. — Iruka ria ao lembrar do desespero do outro.

— Como você aprendeu tanto sobre bebês? Na academia já são crianças maiores. É diferente, não é?

O riso sessou e um certo desanimo se apossou da expressão de Iruka. Esse assunto despertava memórias de uma fase muito dolorosa de sua vida, algo de que raramente falava.

— Antes de trabalhar na academia, fui voluntário para cuidar dos órfãos da vila. Foi uma das coisas que me deu forças quando perdi meus pais e também um dos motivos para eu ter decido ser professor.

— Você é muito bom no que faz. Dá para saber só de ver como o Naruto fala de você.

— O Naruto foi o que me deu mais trabalho, quase é como um irmão caçula pra mim. — O riso era um pouco forçado, tentando esconder a vergonha e alegria pelo elogio. — Ele também gosta muito de você. Fez um bom trabalho com ele.

— Sempre pensei que você tivesse raiva de mim por ter te substituído como sensei dele, afinal muitas vezes discutimos por causa dos meus métodos.

— Você achava isso? — Ficou surpreso ao ouvir aquilo. — Eu discordo de muita coisa em relação a formação de novos ninjas. A vila sempre parece esquecer que ainda são crianças e, muitas com vidas complicadas. Isso é meu trabalho, nunca tive nada de pessoal contra você.

— Acho que percebi isso esses dois dias.

— É estranho ter alguém assim em casa, não é? Pra mim também é ficar fora de casa e todas essas coisas que vamos conversando...

— Não sou do tipo que se abre, mas foi realmente bom te contar aquilo mais cedo. Só peço que não comente com ninguém.

— Nem precisa pedir. Eu te falei que consigo imaginar o que está passando, não deve ser nada fácil, mas admiro sua coragem. Você vai ser um grande pai.

— Até que estou gostando, menos das fraldas. — Olhou para o bebê no colo do outro homem. — Não vejo a hora de ensinar a usar o penico.

Os dois riram. Aos poucos o clima estranho que havia entre eles diminuia. A única coisa que não mudou era que vez ou outra Umino era flagrado encarando a pinta do Hatake, contudo isso já não os incomodava mais.

Na hora de dormir, só depois de muita discussão, os dois concordaram que durante aquela semana, revezariam as noites para cuidar do Coelhinho. A cama, por outro lado, continuava a ser um problema.

— Você não tem um futon na sua casa? — Quando todas as suas ideias haviam falhado, Kakashi perguntou.

— Não, só uma cama. Se é você que vai ficar com o bebê hoje, posso ir pra casa e voltar amanhã. — Uma solução simples, mas com tanta coisa acontecendo demorou pra pensar nisso. — Quando voltar já arrumo um emprestado com um amigo.

Como não precisava fazer mais nada, se dirigiu para a sala, acreditava que ter tudo resolvido. Só que Kakashi não pareceu concordar ao se aproximar com Usagi e entregar a criança nos braços dele.

— Quer que eu leve comigo? — Iruka perguntou sem entender.

— Claro que não! Só que é muito tarde e já abusamos demais... E Usagi não quer ficar sem você ainda... — Kakashi esfregou os cabelos, constrangido. — Se não se importar de ficar, acho que vai ser menos cansativo do que ir e voltar depois.

— Usagi não quer que eu vá ainda? — Se segurava pra não rir. Estava óbvio que Kakashi se sentia inseguro de ficar sozinho. — E qual é seu plano então?

— A cama é de casal, porque sou espaçoso. É só colocar uns travesseiros aqui no meio que vira duas camas. Podemos deixar o berço aqui do lado o que facilita quando chorar de noite.

Foi tentador sair correndo com Usagi no colo e tudo, pois sabia que para o Hatake seria só dividir uma cama com um colega, já para ele era uma intimidade a mais com o homem que alimentava suas fantasias a tempos. Porém como negaria aquele pedido? Ele parecia pedir socorro com os olhos. Teria de respirar fundo e colocar na cabeça que nada de aconteceria entre eles. Era só pelo recém-nascido.

Quando a primeira semana chegou ao fim, Iruka não voltou para casa, pois ele insistia que era solteiro e que não se incomodava em ficar mais um tempo, até que tudo estivesse sob controle. No fundo estava se apegando aos Hatake e sentia como se aquela criança fosse sua também.

Por mais que não gostasse de incomodar, Kakashi admitia que se sentia muito mais tranquilo com ajuda. Também passou a enxergar o Umino como seu melhor amigo, até mesmo se acostumou com a presença frequente do outro, estranhava quando não o encontrava perambulando pela casa.

Logo as semanas viraram meses...